Fuumetsu Mangekyo Sharingan

- TAKESHI! – Gritou Katsu, olhando estupefacto para o corpo do seu pupilo com uma Fuuma Shuriken a trespassar-lhe o peito. O seu corpo frágil nem tivera as forças para um último grito de agonia, limitando-se a colapsar sobre a sua própria poça de sangue e aí desfalecer... – MAS QUE MERDA! TAKESHI!
O Imagawa tentou correr na sua direção, mas não lhe foi possível. Olhou para o lado e viu Tsutao, ainda com o controlo do corpo, a esmurrar a face de Hideyoshi com um ódio incontrolável. Os seus punhos, ocasionalmente cobertos por um líquido verde que Katsu sabia ser ácido, estavam ensanguentados de tanto bater na cara completamente desfeita do líder da Shin no San.
- TSUTAO, JÁ CHEGA! – Vociferou Katsu, tentando agarrar o colarinho do seu alter-ego, sentindo as mãos a ultrapassarem por ele como se fossem um fantasma – MATASTE O TAKESHI! ELE ERA UM ALIADO!
No entanto, o Uchiha não prestava atenção. O seu olhar, ainda com o Mangekyo Sharingan ativo, estava apenas focado nos de Hideyoshi (apesar destes já nem se abrirem devido aos diversos hematomas na cara do mesmo), abertos de uma forma louca e sedenta por mais sangue.
- Tsu... tao... – Ouviu-se a voz rouca e sem energia de Hideyoshi por debaixo daquele manto de sangue e carne esmagada – Meu... filho...
Aquelas palavras fizeram o olhar de Katsu estagnar, embora o de Tsutao apenas intensificasse a sua loucura e o ímpeto dos seus punhos. Então essa era a verdade? A mãe “deles” engravidara de Hideyoshi quando este a violara... “Eles” eram fruto de uma violação, um filho indesejado... Não podia ser verdade! Era provavelmente o último jogo psicológico de Hideyoshi, o seu némesis, antes do seu último momento de vida! Apesar de sentirem a mesma raiva e desprezo por aquela pessoa, as duas personalidades tinham diversas formas de expressar os seus sentimentos. Enquanto o Imagawa pensava na situação, Tsutao riu-se loucamente, invocando na mão direita uma kunai.
- Perfeito... – Sibilou, aproximando a pequena arma até que a sua ponta fria toca na pele escaldante da cara do seu pai – Os teus olhos tornaram-se ainda melhores!
O Akatsuki olhou estupefacto para os pensamentos que assolavam a mente de Tsutao, abrindo a boca por repugna e horror. O que ele pensava fazer era uma violação das leis dos Imagawa! Profanar assim um ser vivo, ainda por cima um tão débil quanto aquele! E não havia nada que pudesse fazer...
- Tsutao... Não o faças! – Pediu Katsu com uma voz solene. Não podia mesmo fazer nada para impedir a situação? Era assim tão impotente no estado de “espírito”? – Não te tornes pior que ele!
- És mesmo... meu... filho... – Grunhiu Hideyoshi por entre esgares de dor, cuspindo algum sangue e gargalhando roucamente – Faz... o que... tens a fazer...
O Uchiha riu loucamente, cravando insensivelmente a kunai por debaixo do olho de Hideyoshi, que gritou profundamente de dor. Katsu não conseguiu desviar a atenção da cena, dos cortes imperfeitos, dos gritos agonizantes e pedidos de uma pura morte rápida, o sangue desnecessariamente jorrado, a carne mal cortada... Ele apenas pedia para que o seu alter-ego parasse aquela loucura, mas recebia apenas como resposta risos de loucura. Tsutao havia perdido completamente a cabeça e isso notava-se a cada vez que a ponta da kunai vinha acima, trazendo consigo pedaços de carne, e voltava abaixo na vã tentativa de chegar aos nervos dos olhos. Hideyoshi apenas urrava e berrava, pensando como é que ainda não morrera ante tanta dor e amaldiçoando-se por ser tão resistente.
Depois de muitos cortes, gritos, sangue e carne, o mundo pareceu parar. Apesar daquele processo ter demorado uns escassos minutos, para Katsu passara uma eternidade de sofrimento. Felizmente, Hideyoshi morrera durante a “cirurgia” rudimentar, não aguentando tamanha dor indescritível e a incontrolável perda de sangue. Afastando-se do moribundo, Tsutao ergueu-se, sorrindo insanamente, não se apercebendo da sua face ensanguentada nem da kunai com ainda pedaços de carne presos. O seu olhar estava preso na sua mão esquerda, nos dois pequenos olhos do seu pai que lhe “devolviam” o olhar.
- Tsutao, porra! – Voltou a gritar Katsu, a sua voz mais audível por já não ser abafada pela agonia de Hideyoshi – Vê o que fizeste, adolescente estúpido! Vai ver o Takeshi!
Por fim a sua loucura pareceu dar espaço para ouvir Katsu. Olhando para ele, conseguiu apenas sorrir. Conseguira a sua vingança após tantos anos e tanto descanso. Vingara a morte do seu padrasto (mesmo ainda não acreditando que é filho de Hideyoshi), a violação e morte da sua mãe, o seu desaparecimento e conseguinte do seu irmão... Tudo por culpa daquele pedaço de merda inútil. Felizmente conseguira matá-lo e ainda trouxe um prémio consigo!
O Imagawa abaixou o olhar com pena do seu alter-ego. Então ele não estava sequer arrependido do que fizera... A raiva e desejo de vingança estavam tão profundamente gravados na sua mente que não se controlou contra o assassino dos seus pais. No entanto, no final, não era apenas vingança. Era um desejo muito mais sinistro: o de simples e puramente... Matar!
A troca de personalidade foi tão súbita como anteriormente, pelo que ambos demoraram a perceber o que havia acontecido. Após alguns momentos, Katsu foi o primeiro a entender, ajoelhando-se e olhando para a mão que segurava os dois olhos que não lhe pertenciam. Balbuciou algumas palavras de arrependimento e susto e fechou a mão, tendo o cuidado para não os esmagar. Depois olhou para cima e viu que toda a guarda da organização estava quieta a olhar para a cena, os seus semblantes unidos numa demonstração de pavor. Com o líder morto e frente a um assassino impiedoso como aquele, o que poderiam fazer?! O Imagawa levantou-se. Não era assim que queria ser visto pelas pessoas! Ele não matava nem mutilava as pessoas por prazer! Olhou à sua volta, mas não viu Tsutao. O adolescente desaparecera após a troca de corpos, logo quando Katsu necessitava de justificações, quando precisava de saber que NÃO fora ele a fazer aquilo...
Mas no final... Fora ele e somente ele...

Mantendo a mão esquerda a segurar em ambos os olhos, Katsu cambaleou como um moribundo para perto do corpo branco de Takeshi. Ajoelhou-se e observou os seus olhos abertos e desprovidos de vida, o sangue a escorrer pelos cantos da boca e a expressão de uma horrenda dor antes da batida final do coração... Estaria realmente morto? E fora logo Katsu, o seu mestre, a fazer tal atrocidade? Quem era ele?! Era um Imagawa que protegia a Natureza e toda a sua vida, fosse ela qual fosse, ou um louco que adora matar os mais fracos e torturá-los com faces sorridentes?
A sua mão direita desceu para cima da cara e fechou as pálpebras. Contendo um choro para poupar o sofrimento, viu-se incapaz de largar os olhos do Hideyoshi. Reativando o Mangekyo Sharingan, que desaparecera aquando a troca de corpos, concentrou uma grande quantidade de chakra no olho direito. Dele surgiu um vórtice que começou a sugar tanto o seu corpo quanto o de Takeshi para o seu interior. Numa questão de segundos tudo à sua volta mudou. De um cenário depressivo e cheio de sangue, estava agora num quarto acolhedor e quente. Desviando a cara, o seu olhar confuso encontrou o de Gaina, que o fitou, surpresa.
- Por esta não estava à espera... – Confessou a poderosa líder da Akatsuki, pousando dois tubos-de-ensaio que a mantinham ocupada até a súbita aparição do seu subordinado – Vejo que conseguiste o que querias, meu querido – Percebeu esta, reconhecendo aquela habilidade como o Kamui e notando o Mangekyo Sharingan no olhar de Katsu. Só depois reparou no corpo de um ruivo às suas mãos. Estava morto... – Quem é esse?
- Gaina-sama... – A voz saiu-lhe a custo, mas Gaina depressa percebeu que o assunto era sério pelo simples facto do Imagawa ter usado o sufixo “-sama” – Tenho dois favores a pedir-lhe!
A líder observou atentamente. Pôde adivinhar o que seriam esses favores com apenas uma observação há mão ensanguentada de Katsu que segurava dois olhos e para o ruivo morto. Mesmo assim, quis que fosse ele a falar...
- Eu sei que o consegue reanimar! Ele não morreu há muito tempo, então, por favor, salve-o! – Pediu Katsu, pousando o corpo de Takeshi sobre os pés de Gaina, que o olhou lá do alto da sua magnificência com indiferença – Eu não o queria ter morto, juro que não...
- Ele parece ser tão inútil... – Disse a mulher com frieza, agachando-se e tocando-lhe no pescoço. O Imagawa pensou que era para sentir a pulsação, mas a líder estava a fazer algo completamente diferente. Estava a sentir cada parte do seu corpo, cada músculo, osso e célula, a estudar todo o seu corpo e a descobrir todo sobre o mesmo numa questão de segundos – Mas ele até parece ser interessante... Vou ver o que posso fazer por ele.
Seguro que apenas Gaina seria capaz de trazer energia ao seu pupilo, Katsu conseguiu deixar de preocupar-se com ele. O seu olhar, ainda cabisbaixo, fugiu do poderoso da deusa para encontrar os dois olhos de Hideyoshi. Algo na sua garganta o impediu de falar imediatamente, mas, após algum esforço, acabou por ceder ante a pressão de Tsutao.
- Eu quero... o Fuumetsu Mangekyo Sharingan...
A líder soltou um sorriso carinhoso para o seu subordinado. Era claro que queria, todo o ser humano procura pelo máximo de poder, mesmo quando foge dele. Ela sorria-lhe porque se deparara com tantos humanos iguais durante a sua longa vida, todos eles à procura daquele pedaço de poder que os fariam “invencíveis”. Ela matara-os a todos, obviamente. Apenas ela tinha o direito de se tornar numa deusa. No entanto, aquele Imagawa parecia ser diferente... Afastando-se de Takeshi, colocou uma mão confortante sobre o ombro do depressivo Katsu.
- Vai tudo correr bem, meu querido!

Três dias se passaram desde aqueles acontecimentos. Desde então Tsutao nunca mais apareceu, como se a sua sede por vingança tivesse sido finalmente saciada e assim pudesse descansar em paz para sempre. A operação do Fuumetsu Mangekyo Sharingan correu perfeitamente bem e Katsu tinha agora um Doujutsu incrivelmente poderoso, apesar de não gostar de o usar devido às memórias que trazia consigo. A líder da Akatsuki impedia-o de saber como correra a operação de Takeshi. Quando perguntava como estava o seu pupilo, ela apenas respondia que estava tudo bem e que não se precisava de preocupar, trancando-se de seguida no laboratório. Apesar de desejoso de saber o estado de Takeshi, não podia fazer nada ante a líder da organização, deixando o assunto morrer para aí.
Foram três dias de descanso, nos quais Katsu matou saudades da sua pequena Sekima. Esta ficou radiante quando viu o seu pai retornar a “casa”, abraçando-o efusivamente e enchendo-o de beijos e mimos. Fora a única a ficar feliz com a sua chegada, contrastando com Sasami que apenas o olhou com desprezo. Arami, a pessoa com quem Katsu ainda queria falar e exigir algumas explicações sobre o que aconteceu em Suna, ainda não chegara da sua longa missão...

FIM