-
Vamos Shinuka. Já está na hora de voltar. - Comentou a menina ao seu cachorrinho de raça indefinida. Era uma linda e fresca manhã em Suna graças à última tempestade que molhara a areia do deserto na noite passada. Nina tinha acordado logo cedo para passear com seu companheiro de brincadeiras, prometendo sua mãe que não sairia do quarteirão. Prometeu e cumpriu, pois a jovem caminhou de esquina a esquina e resistiu os constantes apelos do animal em seguir em frente. -
Mamãe não deixou. - Explicou ao amigo, sentando-se na beirada da estrada. O cachorro reclamou, mas quando recebeu o afago da dona, acabou por se sentar ao seu lado. Suspirando, os dois amigos observavam a rua deserta quando uma frenética movimentação chamou sua atenção. Algo acontecia na esquina de sua rua.
Vamos ver o que é. Sempre curiosa, Nina se levantou sob o olhar matreiro de seu cão e se adiantou com passos rápidos até a origem da confusão com Shinuka preso à rédea. Inocentemente os dois ouviam a confusão cada vez mais perto quando finalmente olharam o acontecido com a beirada do olho. Sem entender, ela e seu cão viram um grupo de dois meninos e uma menina que suplicavam ao tiozinho da quitanda para que este autorizasse a afixação de um cartaz na porta de seu comércio. A princípio parecia que o comerciante se negara, e por causa disso, as crianças reclamavam quando por fim, o velho acenou e os ajudou a colocar o papel. Aquilo atiçou ainda mais sua curiosidade, mas quando percebeu que o grupo agora se aproximava, disparou para o outro lado da rua.
-
Esse muro aqui. - Comandou a única menina do grupo, indicando o muro da residência de Nina. Rapidamente os garotos pincelaram a parede com cola e afixaram outro dos cartazes com uma perícia incrível. Shinuka latiu para eles, mas apenas balançou o rabo. As crianças então acenaram e partiram para a próxima esquina.
Que cartaz é esse? Ansiosa, Nina puxou o cão na direção do cartaz e à medida que se aproximava, começava a enxergar a foto de três gatos com o título de "desaparecidos". A garota suspirou profundamente como que padecesse da dor dos garotos e acariciou o cão, agradecendo pela sorte daquela amizade nunca ter sido interrompida. -
Cuidado, viu Shinuka? - Sussurrou na orelha do cão que a lambeu no rosto. Eram muito fofos. A garota sorriu e puxou a coleira na direção da porta de sua casa quando alguém passou por ela de forma estabanada e apressada. Com vários livros sob o braço, a figura quase trombou no ombro de Nina que tomou um grande susto com a passagem repentina. Ela ainda esperou um pedido de desculpas, mas parecia que o apressado sequer a tinha notado. Acenando negativamente, a garota se recompôs, mas quando abriu a mão para se limpar por um milésimo de segundo, Shinuka latiu e avançou contra o moço que já começava a atravessar a rua. Nina não conseguiu gritar em tempo que seu companheiro abocanhasse a perna postiça do mal-educado. -
Shinuka feio! Shinuka feio! - Repreendia a moça, correndo até o local o mais rápido possível para puxar seu amigo de volta. Ele nunca tinha feito isso em sua breve vida.
-
Desculpa moço. Foi sem querer! - Desesperava-se a garota.
Sem responder, Daisuke a olhou com seu rosto pálido, quase doentio. Com as olheiras profundas de quem não dormia há alguns dias, ele levantou a lateral do lábio numa careta ameaçadora e impaciente que fez Nina e seu cão recuarem com receio de ainda ficarem perto daquele estranho. E enquanto se afastavam, mesmo sob protesto do cão, Nina o viu levantar a calça do uniforme rasgada, mostrando sua perna mecânica lustrosa. Era uma visão que tinha certeza que nunca esqueceria. -
Vamos Shinuka! - Concluiu, terminando de puxar o animal para dentro de casa. A porta então se fechou. Apavorada, Nina soltou a correia e libertou seu cão rapidamente, correndo para dentro de casa na direção da cozinha. Quase atropelando seu pai que saía para o trabalho, a garota ofegante contou a mãe o que havia acontecido. -
Não se preocupe Nina. Ninjas são estranhos. - Acalmou a mãe, enquanto lavava as louças na pia. Mesmo assim, a garota só se acalmou depois de abrir a geladeira e tomar alguns goles d´água.
Sujeito assustador. A garota então correu para seu quarto, abrindo a janela do primeiro andar tentando observa para onde o estranho tinha ido, mas não conseguiu vê-lo. Agora estava aliviada. Ela ainda se perguntava por que Shinuka havia atacado o moço, quando uma brisa gelada entrou pela janela, causando-lhe calafrio. Parecia que a tempestade ainda havia deixado resquícios. Lembrando-se disso, Nina buscou um casaquinho guardado no armário e desceu para agasalhar seu cão. -
Shinuka? Shinuka? - Perguntou. Mas para seu pavor, o cão não estava mais em seu quintal.
*****
O sol machucava seus olhos graças a mais uma noite em claro. Daisuke cambaleava pelas ruas até chegar no quarteirão em que sua mansão fora construída para então encontrar o ponto cego que existia entre uma grande árvore frutífera e a casa de hóspedes. -
Aqui. - Sussurrou, saltando para o alto muro, parando por um momento, e só desceu quando teve certeza que não havia ninguém no quintal. Com livros embaixo do braço esquerdo, ele trazia um saco de lixo preto às costas recém-adquirido para ajudá-lo na sua pesquisa. Furtivamente ele caminhou até os fundos da área de serviço, onde começou a escutar os passos da criada que varria a cozinha e caminha perigosamente na direção dele.
Não tenho muito tempo. Levantando a tampa do exaustor, o jovem escorregou pela passagem até conseguir alcançar seu antigo esconderijo de infância. Na verdade era o espaço por onde toda a tubulação de aquecimento da residência passava, originada da caldeira que existia por trás da parede de gesso. Suspirando, o jounin acendeu o ponto de luz que havia instalado para iluminar o cômodo longo e estreito, mostrando algumas pilhas de pergaminhos, além de algumas vasilhas de vidro cheios de líquido embalsamador. Presos à parede, alguns
hacks onde várias peças de marionetes eram penduradas, além de dezenas de ferramentas e projetos, desenhados nas paredes. -
Mais um para testar minha teoria. - Sussurrou, deixando o corpo de Shinuka em cima da bancada. Daisuke então puxou o banco e acendeu outra luminária. Era hora de voltar ao trabalho.
CONTINUA...