O País da Lua crescente tinha uma beleza ímpar e Maru sabia disso. Na verdade, ele gradecia todos os dias pela dedicação que tivera com Nero, e como reconhecimento de seu trabalho, tinha ganhado aquelas "férias" que chamava de trabalho. Já fazia alguns meses que a organização criminosa conquistara seu espaço à força, sobre o cadáver do antigo senhorio da região. Os negócios estavam ganhando uma proporção tremenda e o dinheiro agora já não era problema para alavancar os negócios. Vantagens em se ter o controle do canal entre duas grandes rotas comerciais, o que garantia a passagem livre para os carregamentos de entorpecentes que se espalhavam por novas rotas através do mundo ninja. -
Senhor Maru, seu café-da-manhã está servido. - Comentou o criado, batendo duas vezes antes de entrar no escritório para retirar o homem de seu feliz torpor. Acenando com o lenço que sempre trazia na lapela, Maru deu uma última olhada na paisagem através de uma imensa janela que mandou abrir logo que tomou posse do escritório da mansão. -
Vamos lá. - Disse alegremente ao se levantar para apreciar mais um dia maravilhoso. Indo na frente, o criado mais uma vez abriu a porta para sua passagem quando finalmente chegou às escadas que foram elegantemente forradas com um carpete escarlate bordado à mão. Maru logo se animou quando começou a ouvir as conversas de seus convidados que já ocupavam a grande piscina para começar o dia de jogatina, bebida e fornicação. Um dia como outro qualquer na "Cidade do Pecado".
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Bom dia à todos! - Comemorou o anfitrião, ao receber a brisa marítima assim que passou pela porta de vidro que dividia os dois ambientes na direção da piscina. O lugar estava completamente arrumado. Várias mesas de plástico abarrotadas de comida para todos os gostos, cobertas com ricas toalhas de crochê tão alvas como as nuvens, além de bandeirolas multicoloridas que por capricho formavam as cores do arco-íris. Um luxo. Sem contar com as três esculturas de gelo que adornavam os três vértices da piscina em forma de concha.
Que bela manhã. Pensava ao olhar as dezenas de jovens seminus à beira da piscina enquanto se sentava à mesa de café-da-manhã enquanto o criado enchia sua taça de suco de maçã fresco. -
Saúde! - Disse o homem, sendo respondido por um coral de pessoas que já se esbaldavam com os vários coquetéis que eram servidos à vontade no bar flutuante. Maru estava no topo, e ele sabia disso. Olhando para os preparativos da banda sob um pequeno deck exclusivamente montado, ele recebeu a notícia que os integrantes ainda não haviam chegado, mas que estariam no local em alguns minutos. Um atraso aceitável. Nada que fizesse o humor do chefão da região. Suspirando mais uma vez o ar afrodisíaco, Maru começou a comer sua
croissant de chocolate da melhor confeitaria da cidade. Ele tinha tudo o que sempre quis. Comida, bebida, homens, mulheres, dinheiro... Tudo. O que mais poderia pedir? Foi quando o interfone tocou e ecoou pelo casarão à beira da encosta. A mesma que foi testemunha da chacina do mafioso anterior.
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Vá atender Kozuki. Deve ser a banda. - Concluiu Maru.
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Sim senhor. É para já, senhor. - Sussurrou.
Com passos ligeiros, o criado atravessou a área da piscina rapidamente na direção da sala-de-estar. -
Saiam da frente. - Comandou aos dois seguranças estacionados à beira do portal principal. Numa careta de desagrado, os homens da segurança abriram espaço e o deixaram passar com certa preguiça. Vendo a reação de contragosto, o criado abanou a cabeça em negação e sem sequer tomar qualquer cuidado - talvez acostumado com as inúmeras visitas que seu patrão recebia - abriu a porta da frente, inclinando-se com toda pompa que sua educação lhe permitia. A porta rangeu ao abrir para o lado de dentro, revelando três figuras estranhas que viraram suas cabeças sem rostos para os seguranças. O metal que cobria seus corpos reluziu à luz da manhã e com uma agilidade incrível invadiram a mansão e atacaram os dois seguranças, fazendo seus corpos rodopiarem para o alto para então se chocar contra duas cristaleiras à beira da escadaria. Assustado com a movimentação repentina no interior, o criado começou a gritar por um breve momento quando suas cordas vocais foram partidas por mais uma marionete que cuidava da retaguarda.
O que está acontecendo? - Perguntava-se Maru, descansando seu jornal à mesa. Rapidamente os seguranças, que até agora se mesclavam com os convidados, convergiram para a fonte de todo o ruído e sumiram dentro do casarão, de onde mais gritos e estrondos começaram a assustar os convidados quando um jato de sangue manchou a vidraça principal. Essa cena encerrou qualquer dúvida quanto ao ataque.
Gritos e pânico se instalaram na festa. Encurralados entre o conflito sanguinário dentro da mansão e a beirada do precipício, onde o deck fora instalado, os convidados temiam por suas vidas e se espremiam no paredão da montanha, quando o anfitrião tomou a iniciativa e levantou seus olhos para a sacada. -
Quem são eles? - Sussurrou o homem curioso ao perceber que duas figuras estranhas o observavam. Vestidos por um grande chapéu de palha e pesadas capas de chuva, apesar do calor que fazia, os estranhos pareciam aguardar o término do combate dentro da mansão antes de iniciar qualquer outro movimento. Maru sentiu um profundo calafrio percorrer suas costas, mas mesmo assim resolveu agir. Agarrando a mesa do café-da-manhã, ele a rodopiou no alto e arremessou contra os estranhos que não se moveram, deixando algumas marionetes surgirem à sua frente protegê-los e absorverem todo o impacto do móvel de madeira. -
Saiam da minha casa! - Esbravejou quando, nesse instante, dezenas de marionetes saltaram através das janelas e vidraças quebradas na direção do deck onde o mafioso estava. Maru suspirou e amarrou seu longo cabelo com um elástico que sempre carregava no bolso. Arregaçando as mangas de seu hobby, ele levantou as mãos numa posição de luta.
Então será dessa forma. - Pensou ao perceber que apenas uma das marionetes que o cercavam arremeteu contra ele. Maru deu um passo para trás e com grande perícia tentou atingir o boneco com um chute lateral.
Seu coração batia forte e a emoção do combate novamente incitava Maru a se lembrar de sua infância sofrida e carente até encontrar a mão acolhedora de seu mandatário. Nero. Era um bom homem por trás daquela pose dura adquirida por suas tragédias. Aqueles pensamentos passavam por sua cabeça, enquanto ele já imaginava o próximo passo após o acerto na marionete, mas acabou errando o golpe. -
Como? - Indagou-se após a manobra perfeita do boneco que parecia conhecer seu estilo de luta. Mas não havia tempo para se perguntar, pois o adversário agarrou sua perna, jogando Maru contra o piso da piscina num grande estrondo. O homem quase perdeu a consciência e tentou se levantar, mas foi impedido por mais duas marionetes que agarraram seus braços enquanto a terceira envolvia suas mãos nas suas têmporas, mantendo sua cabeça na direção da maravilhosa vista da cidade que seguia a faixa da praia em forma de lua. O combate tinha terminado. Agora estava à mercê dos inimigos. Desesperados ao verem a derrota de seu anfitrião, os convidados aproveitaram a chance e dispararam casarão à dentro, onde perceberam que mais marionetes já cercavam as saídas. -
Vocês não sabem com quem estão se metendo?! - Gritou Maru, esforçando-se para escapar dos bonecos. Sem sucesso. Nesse momento, os dois estranhos desceram do telhado enquanto um deles movimentava as mãos para comandar os seus lacaios a se dirigir até a beirada do precipício, forçando o anfitrião a olhar para sua residência onde uma sombra se aproximava.
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O que vocês querem?! - Gritou mais uma vez, prevendo seu futuro.
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Eles querem o mesmo que eu quero. - Respondeu a voz que Maru conhecia bem.
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Não. Não acredito! Você?! Porque?! - Indagou, surpreso com o que seus olhos mostravam.
A figura sorriu e acenou comandando a execução. -
Espero que você saiba voar. - Terminou, quando o menor dos dois estranhos movimentou as mãos mais uma vez, conduzindo as marionetes a arremessar a vítima no ar. O grito de Maru em queda livre ecoou pela ilha, sob as gargalhadas doentias da sombra que acabara de chegar.
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E o que faremos com os outros? - Apontou o estranho mais corpulento, através da estreita passagem entre a capa de chuva e o sombreiro. Suspirando, o homem levantou o dedo e o balançou contra o próprio pescoço, indicando que não queria testemunhas.
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Agora essa será nossa base de operações. - Concluiu, sob o som dos gritos desesperados dos convidados que eram trucidados dentro da mansão. Uma cena que certamente mandaria um recado à Nero que agora a ilha estava sob nova direção.
CONTINUA...