"Não devia ter contado a lenda!"

"Após anos de batalhas, vitórias e derrotas, sacrifícios heróicos para a sobrevivência da humanidade, o Rei do Mundo Antigo foi derrotado em conjunto com a sua maldição. Preso por correntes mais douradas que qualquer pepita de ouro puro, o Rei estrebuchou e tentou um último ataque devastador, com o desejo maligno de deixar uma última recordação antes de desaparecer uma vezmais nas areias do tempo. Mas a Heroína Ruiva era um obstáculo para os seus planos desvairados. Comandou toda a luz à sua volta para o atacar num feixe singular, que representava toda a bondade e esperança da Nação Shinobi que na Heroína depositava as suas esperanças. Esse ataque (mais tarde veio a ser apelidado de Ichidou Akage no Jutsu) foi a única técnica capaz de quebrar a defesa intransponível do escudo de sangue do Rei, consumindo o seu corpo com a pureza e força dos Shinobi. O corpo de Rei foi obliterado, impossível de ser recuperado, deixando para trás uma pesada nuvem de puro chakra vermelho.
E essa nuvem riu-se.
As correntes de chakra dourado da Heroína Ruiva não tremeram perante tamanha anormalidade. Depressa se moveram em torno da mancha vermelha, conseguindo prendê-la contra o chão arenoso e impedi-la de se libertar, por muito que se desesperasse a tentar. E então, lentamente, foram puxando a nuvem por entre os grãos de areia. Seria um esforço impossível para qualquer humano, mas a Heroína Ruiva conseguia fazê-lo sem o mínimo de hesitação. Quando apenas faltava um pouco do chakra vermelho para ser soterrado nas densas areias, uma voz profunda e malévola ecoou.
- Um dia, o meu passado será o vosso futuro.
E desapareceu num último urro de aflição, tão cruel e agonizante que foi capaz de gelar a espinha de qualquer presente. Os soldados demoraram a recuperar-se do susto, e, quando o fizeram, gritaram de alegria e satisfação. Finalmente, o Rei do Mundo Antigo derrotado! Celebraram e o nome da Heroína Ruiva ficou marcado permanentemente para a história como uma grandiosa salvadora.
E no entanto, ninguém reparou em algo desconcertante.
As areias daquele local ficaram tão impregnadas com o chakra vermelho corrompido que imediatamente ganharam a mesma coloração, criando ali o que um dia viria a ser uma montanha vermelha amaldiçoada, impedida de gerar e suster qualquer tipo de vida. É contado às gerações mais novas que se alguém se atrever a pisar o solo corrompido dessa montanha que alimentará a raiva do Rei do Mundo Antigo, ajudando-o a erguer-se novamente, mais forte que nunca, para devastar a Humanidade com o seu grito de guerra.
Esta é a lenda da Nai Yama, a Montanha Morta."
As pessoas aplaudiram quando a voz límpida do trovador se calou. As crianças eram as que batiam palmas com mais animação, pelo menos as que conseguiram ficar acordadas para ouvir a história até ao fim. O trovador sorriu para os presentes, deliciado, prestando-lhe duas consecutivas vénias antes de se retirar da beira da fogueira.
Era noite cerrada por cima daquele acampamento cuja única fonte de iluminação era a intensa fogueira. Variadas pessoas de traços físicos diferentes vestiam o mesmo tipo de roupas, respetivas ao seu clã. As mulheres usavam longos panos brancos por cima das cabeças, que cobriam tudo menos as belas caras. Escondiam o corpo com largos robes beje de mangas longas, apresentando, apenas aquelas com mais posses, certos padrões retangulares amarelos. Os homem eram mais desinibidos, não portando qualquer espécie de vestimenta na cabeça (excetuando aqueles que gostavam de ter um lenço ou qualquer outra peça leve). As suas roupas eram camisolas de manga larga, justas e amarelas, cobertas por coletes bejes de couro. As suas calças igualmente justas, variando entre os tons negros e azuis. Calçavam botas grossas, comuns entre os que necessitavam de atravessar terrenos montanhosos em viagens. Por sua vez, as crianças vestiam parcas e simples roupas, mas mesmo estas respeitavam o padrão de cores beje e amarelo, havendo apenas poucas que apresentavam algo diferente. Alguns membros do clã, principalmente os homens, mostravam pequenas bandoletes presas em partes do corpo com um símbolo incomum retratado. Um clã viajante de Moyagakure.
Esse clã estava sentado por cima de diversas pedras planas, minimamente confortáveis para servirem como cadeiras, criadas por Doton e dispostas em forma de um círculo à volta da fogueira. Era um ambiente animado em que muitos tinham acabado de comer se ocupavam a falar uns com os outros. No entanto, naquele cenário distinguiam-se duas pessoas muito diferentes, tanto entre si como do restante clã, sentadas juntas na mesma pedra.
Uma delas era uma jovem com uma imagem algo nobre. O cabelo, loiro, estava agarrado de formas muito peculiares, como a ondulação atrás da cabeça e nas pontas da frente ou a curta franja a cobrir a testa, e os seus olhos verdes misteriosos estavam presos a devorar o conteúdo de um livro. As suas roupas assemelhavam-se a um vestido, agarrado à cintura por um corpete negro, branco e rosa, cujas mangas estavam peculiarmente separadas da parte principal, alargando no antebraço e mãos para, provavelmente, lhes dar mais liberdade de movimento. O vestido terminava quase nos joelhos, deixando descoberto umas pernas bem delineadas e algo magras, dando de seguida lugar a umas botas invulgares. Negras e os fios que as apertavam  dourados como os do corpete, abertas no lugar dos pés, assemelhando-se a umas sandálias. Ao seu lado, estava outra adolescente, provavelmente de mesmas idades, que dava uma imagem contrária à nobreza da loira. Era muito mais animada e social, enquanto que a outra se mantinha focada a ler, mantendo um constante sorriso. O seu cabelo longo e ruivo esvoaçava sincronizado com as aleatórias brisas frias da noite. Os seus belíssimos olhos, castanhos como avelãs, colmatados com os lábios carnudos davam uma beleza incomparável à ruiva. As suas roupas eram muito mais simples que as da sua colega loira, tratando-se de uma camisola larga de mangas curtas com padrões entre o laranja e o branco. As suas calças, justas, eram negras e calçava umas botas azuis-escuras.
- Será que a Heroína Ruiva é a Yuumei? - Ouviu-se uma das crianças a perguntar para a sua mãe que a segurava no colo. Não esperou pela resposta, rindo-se e apontando com um indicador para a adolescente ruiva - Sim, tenho a certeza que é a Yuumei!
- Infelizmente, não sou! - Respondeu a ruiva entre sinceras gargalhadas, sorrindo carinhosamente para a criança - Mas também gostava de saber quem é a Heroína Ruiva!
- A Heroína Ruiva existe ou, pelo menos, têm nome, Furu? - Perguntou um dos membros do clã sentado numa das pedras a descascar pacientemente uma maça. Embora distraído, estava atento à cabeça.
O trovador, Furu o seu nome, esboçou um radiante sorriso branco a todos os presentes. Então olhou pensativamente para o escuro céu noturno, no qual apenas se distinguia o harmonioso luar. Quando ficou satisfeito com alguma coisa impercetível a quem o observava, desceu a cabeça e olhou para cada um dos participantes da conversa.
- Sim, ela existiu há muito tempo atrás. Afinal, foi a responsável por salvar-nos do imparável Rei do Antigo Mundo. Infelizmente, o verdadeiro nome nunca foi descoberto e não se sabe se desde então teve filhos. É um dos maiores mistérios da nossa nação, tanto ela como o grandioso Rei do Antigo Mundo e a Nai Yama. No entanto, é uma lenda pouco divulgada. Só as pessoas de Tsuchi e Kaze no Kuni, e alguns países menores vizinhos, a conhecem hoje em dia. - Respondeu o trovador com um certo desgosto na voz e semblante. O seu olhar perdeu-se por entre as chamas da fogueira e a mente alheou-se da conversa consequente à sua afirmação.
Os membros do clã de Moyagakure e Yuumei começaram uma animada discussão sobre a lenda, afastando-se, cada vez mais, do verdadeiro cerne do conto. De todos, a ruiva era a mais animada, apresentando teorias mais ridículas que as anteriores e divertindo-se bastante com isso. Quando deixou de falar, porque um dos membros queria expressar a sua opinião, olhou para o lado e notou que a loira à sua beira, que se juntara ao clã de Moya em conjunto com Furu, ainda não se pronunciara uma única vez, completamente imersa naquele livro consideravelmente grande. Não quis deixar a leitora isolada no seu mundo, pelo que tentou apresentar-se.
- Olá! - Saudou a ruiva, olhando fixamente para as esmeraldas da loira que, ao invés de devolver o contacto visual, estavam ocupadas a mover-se lateralmente com regularidade enquanto liam - Chamo-me Yuumei Rensa, prazer!
A loira notou que estavam a falar com ela, desviando os olhos esverdeados do livro para poder observar quem era. As duas fitaram-se por uns segundos, interrompidos quando a loira teve de piscar diversas vezes, como se os olhos tivessem de adaptar-se ao facto de não estarem mais a ver letras à frente. Só então é que dobrou o topo da página em que parou de ler, fechou o livro, pousou-o sobre as pernas e sorriu forçadamente para a ruiva.
- Olá, Sokei Fukeru. - Apresentou-se, tratando de ser o mais curta possível para dar a entender que queria continuar a ler , ao invés de falar. Yuumei até que se apresentou num momento oportuno, pois Sokei não estava em nenhuma parte importante do livro e, por isso, podia distrair-se um pouco. Caso o que tivesse a ler fosse verdadeiramente importante, ignoraria tudo à sua volta.
- Sokei! Gosto muito do teu nome! - Elogiou a ruiva, e Sokei estranhou já que nunca ouvira tal elogio anteriormente, sorrindo-lhe - Gostaste da Lenda da Nai Yama?
A loira não respondeu imediatamente. Não para pensar numa resposta, pois essa estava-lhe na ponta da língua, mas para pensar sobre a atitude da ruiva. Embora a Fukeru fosse capaz de prestar atenção tanto ao livro quanto à lenda (podia prestar mais atenção ao livro visto já conhecer a lenda, tendo até lido diversas versões da mesma quando estudara na biblioteca de Kusagakure), achou a pergunta estranha. Ninguém lhe iria perguntar se gostou ou não do que ouviram, pois ela esteve a ler quando foi contada. As pessoas assumiriam que ela não estava interessada e não a perturbariam com perguntas. No entanto, aquela Yuumei não estava a cumprir as expetativas...
- Seria interessante investigar a lenda e todo o seu passado, de facto. - Respondeu Sokei, colocando a mão debaixo do queixo e olhando pensativamente para nada nem ninguém em especial - É um dos maiores mistérios da nossa nação, já que se desconhecem muitas coisas. Sim, agora que penso, pode realmente ser interessante de se investigar!
- Investigar? - Perguntou-se Yuumei, confusa.
A Fukeru levantou-se, repentinamente, agarrando no livro com as mãos para que este não caísse do seu colo. O gesto brusco despertou Furu do seu devaneio.
- É isso! A Lenda da Nai Yama! Tenho de investigar isso agora que posso ir lá! - Proclamou Sokei, apanhando todos de surpresa que, até então, a julgaram uma rapariga pacata e tímida. - Finalmente, algo interessante!
Furu também se ergueu, apanhado de surpresa.
- Sokei! Tenho de levar-te a Iwa, tal como foi acordado entre as nossas duas vilas! Não vão haver desvios! - Protestou, tentando colocar o máximo de autoridade que a sua gentileza permitia no seu tom de voz. Infelizmente, foi ignorado pela sua protegida, que já estava a colocar o livro numa mochila pousada contra a rocha em que estivera sentada, alçando-a às costas - Sokei! Ouve-me! Eu não vou aderir a esta tua loucura!
A loira então olhou para o Jounin de Iwa encarregue de a proteger, sorrindo.
- E como pensas impedir-me, Furu? - Perguntou com um tom provocatório - Além disso, preciso de ti para descobrir onde fica a Nai Yama. É claro que vens comigo. - Quando o Jounin se preparou para argumentar, ela adiantou-se - Se me recordo, e confio plenamente na minha memória, vou citar exatamente as palavras de Kimera-sama: "Furu, não abandones a Sokei, independentemente do que acontecer. Espero que estejas consciente que a perda de um Fukeru irá comprometer as relações entre Kusaga e Iwa." - Após a citação, notou que o Jounin não transpunha mais a vontade de recusar a proposta, por muito que a abominasse, o que fez Sokei sorrir de triunfo - Iwa pode esperar! Quero descobrir mais sobre a Nai Yama!

CONTINUA...