Já eram 10 horas e eu ainda não tinha encontrado o que comer, a cidade parecia conspirar contra mim, a cada loja uma fila que parecia se estender por quilômetros. Cada uma daquelas pessoas parecia rir de mim com suas refeições em mãos tão felizes e satisfeitas, eu não sou de desejar mal a ninguém, mas como eu queria que um meteoro atingisse cada uma das malditas filas para que eu pudesse passar a frente. Ok, você pode até dizer “Espere na fila como uma pessoa normal”, mas eu não tenho paciência pra isso e meu estomago também não, portanto eu tinha que achar um lugar sem fila se não quisesse morrer de fome. A cada passo meu estomago reclamava a um tom diferente, e eu juro que ele estava recitando Beethoven, eu nunca gostei de beethoven. Foi então, ao fim da nona sinfonia que vi o que parecia impossível, uma loja sem fila alguma, quer dizer, não era bem uma loja, era apenas uma barraca com uma placa que dizia... Bem... Eu estava faminto não tinha tempo pra ler e não importa o que dizia a placa, era comida e eu só precisava saber disso. Então comecei a maior caminhada de minha vida, a loja estava tão próxima, más a fome a deixava cada vez mais distante.
Então meu jovem, o que vai ser? – perguntou a vendedora quando finalmente chegei a meu destino. Ela parecia comum, tinha cabelos castanhos e usava um pequeno vestido vermelho, nada de mais, o estranho era o homem ao seu lado. Só para começar ele tinha menos de um metro de altura e estava em uma gaiola, usava roupas verdes no mesmo tom que seu cabelo que era longo e bagunçado. Eu não intendi muito bem e também não me importava, eu não estava ali para julgar ninguém, cada um com suas loucuras.
Comida. Eu quero comida. – Disse quase como uma suplica.
Comida, Há! - Zombou o homem, ele olhava a volta e mexia os braços como se quisesse fugir, pensei por um segundo que a mulher poderia estar escravizando o pequeno homem, mas ele não parecia se importar muito, apenas olhava a volta e dizia “Há!”, parecia bem feliz pra mim.
Então deixando de lado aqueles pensamentos, peguei o saco que a mulher me entregou e deixei o dinheiro sobre o balcão, me afastando da pequena barraca. O meu estomago agora roncava loucamente suplicando que eu comesse logo, então quando fui abrir o saco prestes a saciar meu desejo, um vulto passou por mim o arrancando de minha mão e correndo em direção a um beco. A fome já estava me dominando, não conseguia raciocinar direito, apenas conseguia pensar em uma coisa, comida. Então parti em disparada atrás do ser sem alma que havia ousado tirar de mim a solução de todos os meus problemas, entrando então em um pequeno beco sem saída. Confesso que quando vi a cena a seguir senti um frio na barriga, estava agachado ao fundo do beco um idoso baixo e careca, que usava como roupa apenas um casaco de pele que cobria todo seu corpo(ainda bem que cobria tudo...). Ele tentava rasgar o embrulho usando seus dentes de um modo totalmente selvagem.
Não babe na minha comida, maldito! – Gritei concentrando chakra e liberando uma bola de fogo que foi em direção a uma parede próxima ao velho, que parecendo surpreso, recuou assustado.
Nesse instante, uma garota apareceu rapidamente a minha frente me atingiu com um forte chute na cabeça, que me fez cair quase inconsciente. Enquanto estava no chão pude vê-la abrindo o saco e retirando um pouco da comida, dando então ao velho que estava a sua frente que abocanhou agradecido a refeição. Ela veio então ao meu lado com o saco em mãos dizendo algo que não consegui decifrar, meu cérebro havia parado de funcionar e eu apenas ouvia zumbidos, mas ela parecia irritada. Não resistindo à fome avancei rapidamente arrancando o saco de sua mão num movimento rápido e devorando aos poucos tudo que havia ali. Meu sofrimento havia finalmente acabado, meu estomago estava satisfeito e eu podia dizer com toda a certeza, tinha um gosto horrível. Era húmido, macio e tinha um sabor de carne muito estranho, não parecia comida parecia até...
Ração de cachorro – Disse a garota confusa e com um pequeno sorriso– Por que está comendo Ração de cachorro?
O que? Eu não estou... – Foi então que eu vi, a maldita fome havia me iludido desde o inicio, agora com estomago satisfeito pude ver tudo com mais clareza. Eu não havia comprado comida numa loja qualquer, era um pet shop, a moça do balcão não tinha um escravo, era um papagaio. E o velho que havia me roubado era apenas um pobre cachorro de rua, que eu quase transformei em churrasco... – Ok, eu posso explicar...
[...]
Certo, então você estava realmente com fome? – Perguntou ela tentando conter a risada
Exatamente. – disse tentando não parecer mais idiota do que já estava, se é que isso era possivel.
Entendi. Bom, acho que vou indo, tenho que chegar em casa antes de escurecer. – quando ela disse isso notei que sol já não estava tão alto no céu, aquela historia havia durado certo tempo já deviam ser quase 5 horas. - foi bom te conhecer...
Genki, meu nome é Genki.
Eu sou Ryoko, muito prazer! – Então ela se virou e começou a caminhar, antes de sair do beco que ainda estávamos Ryoko se virou e acenou com um sorriso, desaparecendo então num shunshin. Fiquei a olhar para o vazio ainda por um momento, sendo arrancado de meus pensamentos por o barulho de meu estomago a roncar novamente, parece que ração de cachorro não é a melhor das refeições. Então corri para as ruas de iwa procurando novamente o que comer, e tentando dessa vez comprar algo que não tenha gosto de baba de cachorro.