A brisa da tarde já começava a esfriar a planície quando um vulto veloz atravessou o verde. Atravessando a floresta com vários saltos compassados, Daisuke começou a ver o telhado de um sobrado, de onde vinha o som de gargalhadas e gritos de festa. -
Deve ser o local. - Sussurrou, decidido a interromper sua jornada. Já era hora dos preparativos. Aterrissando num galho mais grosso, ele varreu sua mão na mochila e sacou um pequeno pergaminho com adornos vermelhos. Com mãos ágeis, ele abriu o objeto e juntou chakra na mão direita para ativar os seis selos contidos de onde saltaram seis marionetes. Os bonecos-samurais acenderam os olhos e começaram a se levantar no momento em que começaram a receber os sinais de comando dos transmissores presos ao pulso do rapaz. Seu exército pessoal estava pronto. Agora a ação poderia começar. Levando suas marionetes à frente, formando uma linha, Daisuke começou a saltar pelas árvores até que finalmente teve uma visão do que iria atacar. O prédio era uma pequena fortaleza. Grossas muradas de rocha cercavam as residências principais que margeavam a proteção, deixando apenas o centro livre onde uma grande fogueira iluminava uma longa mesa lotada de homens e mulheres a beber e cantar.
Apenas uma passagem. - Estranhou o nukenin, pensando nas possíveis rotas de fuga. Por mais que o ninja não fosse inteligente, não precisaria pensar muito para saber que construir uma fortificação daquela com apenas uma única passagem seria burrice. Foi então que teve uma ideia. Saltando de volta ao chão, enquanto enviava chakra para suas marionetes para que elas se escondessem, o jovem uniu as mãos numa rápida cadência de selos e moldou seu chakra doton às mãos, atirando-as contra o solo.
Seu chakra se espalhou pelo subsolo, não demorando muito até que percebeu a existência de um túnel de fuga próximo de onde estava. Era espaçoso e certamente seria por onde todos fugiriam quando a matança começasse. -
Isso mesmo. - Comemorou sua descoberta. Levantando-se novamente, o loiro começou a caminhar pela floresta tomando cuidado para não ser visto pelos olheiros que vigiavam o alto da muralha quando ouviu o som de uma cachoeira se aproximando. Saltando numa ágil pirueta de volta às copas das árvores, Daisuke aproximou seus lacaios sem alma para o local, quando percebeu que a passagem secreta ficava por trás do véu de uma linda cachoeira. Seus olhos treinados logo encontraram quatro homens fazendo vigília no local, dois em cada lado da margem. Aquele seria um ótimo local para começar. Com movimentos rápidos, o nukenin aproveitou uma nuvem que encobria a lua cheia para disparar contra os homens da margem mais distante, ziguezagueando pela superfície do rio após a cachoeira antes mesmo que os inimigos notassem sua presença. Muito rápido. E enquanto o ninja elevava a perna com toda força num chute lateral contra o primeiro de sua margem, ele enviava seu chakra para os receptores de suas marionetes, comandando-as a sacarem suas espadas e saltarem das árvores até os outros dois vigias. As lâminas brilharam com o retorno da luz da lua, e logo quatro samurais giravam lateralmente para fatiar os dois vigias com facilidade. Agora só restava um. Vendo que estavam sob um ataque, o último vigia tentou recuar e buscar um apito preso a um colar, mas antes mesmo que pudesse soprar o objeto para avisar os outros, seus pulmões perderam o ar, pois Daisuke já ressurgia de um veloz shunshin, desferindo um grande soco embebido com chakra contra suas costelas.
O homem deitou sobre o punho enrijecido do nukenin, cuspindo muito sangue antes de perder a consciência. Nesse momento Daisuke usou a força de seus braços para girá-lo em seu eixo, terminando por agarrar seu queixo, girando com brutalidade num giro antinatural. O estalo indicou que o quebrara o pescoço do último vivente no local. Até agora tudo estava dando certo. -
Terminemos aqui. Vamos entrar. - Sussurrou a seus comandados. Saltando na direção da cachoeira, o grupo lavou o sangue de seus corpos durante a invasão da entrada secreta que nada era do que uma grande gruta que fora escavada para engenhosamente alcançar as vísceras do castelo. A escuridão era quase total quando o loiro adentrou no corredor. O silêncio fúnebre e o eco de seus passos não o impediram de começar a invocar algumas tarjas explosivas para afixá-las nas paredes presas a alguns fios shinobi no corredor, com intuito de explodir quem quer que tentasse passar por lá. E por alguns minutos a comitiva se aproximou do final do túnel, já conseguindo ouvir o eco de festa vindo do final da passagem. -
Vamos ver se podemos animar a festa. - Sorriu, aproximando-se de uma velha escada de metal que subia até uma espécie de alçapão. Não foi difícil desprendê-lo e logo a luz do lado de fora iluminou a estreita fresta por onde ele observava onde daria aquela passagem. Iluminado por alguns castiçais presos às paredes envernizadas, o grande quarto parecia ser a suíte principal. Um assoalho de madeira de lei cobria o piso até grande cama desarrumada. Parecia que o cômodo estava vazio.
Ótimo. Empurrando a tampa, Daisuke adentrou no local, quando ele viu através da cortina de seda as sombras de diversas pessoas que assistiam a uma apresentação de uma dançarina.
Daisuke não conseguia vê-la direito através do fino tecido, mas seus movimentos sinuosos, serpentinos e ágeis transformavam a mulher numa confusão de sombras e parecia entreter bastante os convidados. Tanto que as conversas paralelas começaram a cessar sob o som da cítara até que somente o seu ruído era audível naquela madrugada. -
Não tenho tempo a perder com isso. - Sussurrou para sim mesmo enquanto enviava chakra para os dedos por onde se projetaram linhas de energia capazes de trazer as marionetes para o quarto. Agora estava pronto para agir. Juntando os dedos num rápido selo, Daisuke espalhou seu chakra pelo corpo e logo se transformou num pequeno lagarto que se esgueirou pelas frestas da grande janela até o jardim, onde usou mais chakra para escalar o paredão esquerdo, onde o vigia dividia sua atenção com a apresentação da mulher seminua e o escuro da floresta ao redor da construção. De lá ele tinha uma visão privilegiada da grande mesa onde cerca de vinte homens bebiam e comiam à custa de seu contratante. Não foi muito difícil de encontrar o líder do clã. Com grande barba branca, um homem com idade avançada sentava-se numa cadeira mais alta, no centro da mesa, rodeado por outros seguranças que olhavam os arredores com cuidado. -
É hora do show. - Pensou o jovem, enviando pulsos de chakra através do par de transmissores que carregava nos punhos. Nesse momento, os seis samurais saltaram para fora do quarto, atravessando a fina parede de bambu. Demorou um segundo para que os homens notassem que estavam sendo atacados. -
Mas o que... - Gritou um deles, tendo a cabeça fatiada com o giro do par de lâminas. A gritaria foi geral.
As marionetes saltavam sobre os membros do clã com ferocidade, usando suas partes de titânio para quebrar ossos e rasgar pele. Enquanto isso, Daisuke vislumbrava tudo em forma de lagarto e percebeu que seu trabalho seria fácil. Os homens pareciam bêbados e quase não ofereceram nenhuma resistência no princípio. -
Salvem o líder! - Gritou um dos seguranças, jogando-se contra a marionete para receber os golpes mortais. Nesse momento, a dançarina parou de dançar e ao invés de esboçar pânico com a carnificina, ela movimentou as mãos de maneira rápida como numa dança mortal. Daisuke mal pôde ver os finos fios refletindo por instantes a luz da lua para agarrar uma de suas marionetes antes que o boneco assassinasse o líder do clã.
Interessante. Mas o loiro logo perdeu seu senso de humor quando a mulher arqueou o corpo em mais um movimento brusco e puxou seu boneco ao chão, costurando-o firmemente na rocha do jardim. -
Mas que espécie de técnica era aquela? - Pensou quando viu a mulher parar e girar sua cabeça para sua direção. Olhos frios de uma assassina. O lagarto acabara de ser descoberto e logo percebeu o brilho singelo de inúmeros fios que brotavam de seu cabelo tentando alcançá-lo. -
Merda! - Reclamou ao saltar lateralmente para não ser fatiado pelos fios que cortaram rapidamente a rocha em que ele se apoiava. O corpo do jovem rodopiou no ar e rolou até o chão. Já no solo, Daisuke sentiu um ardor característico em sua perna. Instintivamente levou a mão à ferida angular que o fio causou ao passar muito perto dele.
Essa foi por pouco. -
Muito bem, verme. Tratarei contigo! - Praguejou a mulher, acenando aos sobreviventes que usassem a passagem secreta no quarto.
Sabendo das armadilhas que plantara no túnel, o nukenin pensou rápido e na esperteza fingiu tentar persegui-los. Mas a mulher logo se posicionou à frente, impedindo sua passagem. -
Saia da frente mulher! - Comandava o jovem, fazendo com que suas marionetes se reagrupassem, formando um círculo ao redor da moça. E apesar dos gemidos funérios dos feridos no jardim, os dois ninjas se entreolharam com ferocidade e vontade de lutar. A mulher estava vestida apenas com um manto recortado nas coxas e busto, mostrando apenas o necessário para enlouquecer os homens afoitos. Com cabelos negros e bastante longos, seus olhos negros mantiveram sua visão na direção dele até que através de suas mangas alguns fios de cabelo dispararam contra o inimigo em grande velocidade. Quase sem tempo para reagir, Daisuke saltou lateralmente com um ágil salto, mas percebeu que outros fios de cabelo já brilhavam na sua trajetória, obrigando-o a usar seu chakra e trazer uma das marionetes à frente. O boneco foi atingido em cheio e enrolado num abraço que lhe seria mortal, prendendo-o firmemente. Mais uma marionete fora de combate. Isso não era bom. Já era hora de partir para o ataque. Então, usando a marionete presa como trampolim, Daisuke arqueou as pernas com toda força num rápido baunsubaunsu que o arremessou contra a mulher. Parecendo surpresa, ela recuou num salto curto e juntou os braços a frente para bloquear um forte chute que o loiro dera. O estalo dolorido arrancou um gemido da adversária, que logo se dissipou num emaranhado de linhas espalhadas, acabando por enrolar a perna do garoto. -
Essa não! - Gritou ao ser puxado com muita força. Seu corpo rodopiou no alto, mas ele ainda teve tempo usar chakra para manipular uma das marionetes para que tentasse cortar o fio, enquanto os outros atacavam a mulher.
Isso só atrasou o inevitável, já que o fio era tão resistente que a lâmina de seu lacaio não surtiu efeito. Tudo girou ao seu redor e logo seu corpo atingiu o paredão oposto, acabando por rachar a rocha. O impacto fez Daisuke se ajoelhar de volta ao chão e cuspir sangue, enquanto sua visão turva apenas via a mulher saltar para cima da murada para fugir das investidas imprecisas de seus comandados. O nukenin agora sabia que sua adversária seria dura, mas era só uma questão de tempo para...
BOOOMMM! - O som das explosões do túnel secreto fez o castelo todo tremer. A poeira logo eclodiu pelo quarto até o jardim, fazendo os adversários perderem de vista seus alvos. -
Preciso pensar num bom plano. - Sussurrou em meio à densa poeira, quando foi surpreendido pelos fios de cabelo que cortaram o ara sua frente. Daisuke reagiu e com um reflexo rápido, efetuou um ágil salto mortal antes que tivesse o corpo fatiado. Contudo, quando esticou os braços para conseguir apoio na aterrissagem, um dos fios atingiu sua mão e o nukenin acabou por perder dois de seus dedos. O sangue jorrou e a dor instintivamente o fez abrigar a mão no uniforme. -
Posso te sentir seu rato![b] - Gritava a mulher, enlouquecida por ter perdido sua fonte de renda. -[b] Podemos dividir o prêmio! - Negociou. Mas a mulher parecia indócil. Afinal, uma falha mancharia seu currículo. Então, enquanto a poeira baixava, Daisuke saltava com agilidade de um lado a outro sem saber o que fazer, tentando desesperadamente escapar dos fios que cortavam tudo como manteiga. -
você morrerá agora! - Amaldiçoou a mulher, movimentando todo seu cabelo negro contra o moribundo que já ofegava de cansaço, enrolando-o num abraço mortal. Os fios pressionaram as ancas e logo seu corpo foi despedaçado, sumindo num pequeno estouro de fumaça.
-
Um bunshin! - Concluiu a moça, percebendo que Daisuke havia efetuado um rápido selo para espalhar seu chakra irmãmente antes do próximo ataque, ficando exatamente atrás de sua cópia com o intuito de usar sua assinatura de chakra para perturbar os sentidos da ninja, pois esta pensaria que se tratava de apenas um. Era um plano arriscado, mas pelo menos dera certo, pois o verdadeiro ressurgiu atrás do antigo clone desfeito, atravessando como um foguete a fumaça deixada pelo clone para embeber seu punho com chakra e atingir a ninja com um fortíssimo soco no peito. Num estouro, a mulher foi projetada contra o paredão, onde o clone havia comandado às marionetes que restavam permanecerem a postos, parados com as lâminas em punho. A mulher não teve sequer tempo para aprumar o corpo e continuar a lutar, caindo por cima das lâminas que a trespassaram com brutalidade. O sangue espirrou nos vingadores vermelhos, e a mulher desfaleceu aos poucos até que, por fim, morreu. Seus cabelos agora estavam sem vida e ressequidos. Espalhados pelo chão numa mórbida lembrança do que já fora aquela ninja. Daisuke ainda estava atordoado com aquela ação e com a dor de ter perdido dois dedos. Contudo, quando a poeira baixou, apenas alguns membros do clã ainda viviam no local, soterrados por alguns entulhos da explosão. E num movimento de chakra, o ninja acabou com seu sofrimento. O clã estava morto. Missão cumprida. Levantando-se com dificuldade, o nuke abriu seu pergaminho novamente, fazendo alguns selos para transferir as marionetes de volta ao objeto, e quando tudo estava organizado, ele saiu pelo portão da frente, caminhando tranquilamente para se distanciar o suficiente para comandar a detonação das outras fuudas que implantara por todo o complexo. E num espetáculo pirotécnico, toda a propriedade foi ao chão. Agora poderia cobrar pelo serviço.
FIM