O olhar profundo marejando na escuridão, a respiração calma, o semblante despreocupado e um sentimento de alivio. Era isto que acontecia com Lisandra naquele momento, ela havia dado um passo a frente, adentrado a mansão com coragem e convicção de que aquilo era o que deveria ser feito. Algo estava acontecendo e seu anseio por novas descobertas, por aventuras que a instiguem, é quase insaciável. Apesar disto tudo ainda estava hesitante em passear em um lugar como aquele, não sabia ao certo o que poderia encontrar, mesmo que na sua cabeça nada muito perigoso iria acontecer caso adentrasse em uma simples mansão abandonada em meio a floresta, as crianças deviam ir por aquelas bandas o tempo todo, indagando se a casa é ou não mal-assombrada e desafiando umas as outras a adentrarem o local. Se crianças tem a vontade e coragem suficiente para isto como uma adolescente graduada na academia ninja não o faria?
Algum motivo a levou a olhar para trás pela ultima vez antes de começar a aventurar-se no local. Estava certificando-se que não havia ninguém a segui-la ou algo do tipo. Voltou a encarar a caliginosa escuridão da mansão, suspirou brevemente e seguiu caminho a dentro em passos curtos e cautelosos olhando de um lado para outro observando os cantos que a luz ainda iluminava.
Levou alguns segundos para que a sua visão conseguisse adaptar-se ao ambiente mais escuro, fora deveras complicado andar sem tropeçar em nenhuma planta ou em pedras no chão. Ela adentrou os primeiros cômodos que viu, todas as portas que avistava adentrava para ver se encontrava algo, mas estão tão vazios como aqueles corredores que os ligavam. Desejou por muito ser uma usuária de Katon, pois assim poderia ascender uma tocha e iluminar melhor o seu caminho do que com aqueles pequenos feixes de luz que traspassavam as cortinas escuras e velhas e os buracos nas paredes provavelmente causados pelo tempo.
— Este lugar é deveras assustador, como permitiram que uma mansão como esta fosse abandonada em meio ao nada desta forma? — Disse Lis para si mesma enquanto andava observando a magnitude do local.
De repente ela viu-se parada em frente a uma porta de madeira velha e ferro enferrujado, uma porta dupla e grande. Parecia a entrada para alguma espécie de salão, ela ousou empurrar a porta. Ela movimentou-se com um pouco de dificuldade, o ranger agudo do metal velho ecoou por toda a mansão e aquilo nada agradara a garota. O que menos importava naquele momento eram os barulhos, pois ela se deparou com algo magnifico. Este lugar não pode ter sido abandonada a tanto tempo assim, olha como está o estado deste cômodo, fora o que passara na mente da jovem quando deparou-se com um imenso salão. Colunas cheias de gravuras se espalhavam para mais as laterais do salão. No teto havia uma imensa imagem desbotada do céu estrelado, e também um grande lustre de cristais. No centro havia uma imensa mesa de mármore e madeira negra, com cadeiras dispostas ao longo dela, ainda havia alguns recipientes para depositas velas, ainda estavam alguns pratos e talheres empoeirados jogados sobre a mesa. Lisandra andou pela sala, passando a mão sobre a mesa admirando a beleza da mesma, observou cada canto, curiosa para saber das coisas que aquele local guardava. Era, até o momento, o lugar mais bem iluminado da casa, devido ao imenso vitral que havia ao fundo da sala. Ela podia ver com nitidez tudo e a cada instante achava que aquele lugar fora uma casa de pessoas muito ricas e também ficara cada vez mais surpresa por nada daquilo ter sido roubado até o presente momento.
Quando a garota sentou-se na primeira cadeira na ponta de mesa, virada para a porta ela imaginou a mesa com algumas pessoas estranhas sentadas a mesma. Elas eram tão diferentes, entretanto havia algo tão parecido neles, algo quase que familiar. Seus delírios foram interrompidos por um barulho na mansão, um vulto passou rapidamente pelo corredor, ela pode vê-lo quando movimentou-se mansão a dentro, para o local que ainda não havia sido explorado pela mesma. Automaticamente pulou de pé, enfiou a mão dentro a sua bolsa de equipamentos e retirou uma de suas Kunais, a empunhou com a mão direita. Cautelosamente foi chegando próximo a porta, com agilidade esgueirou a cabeça para o corredor e olhou para os dois lados, e nada viu. Deve ter sido algo da minha mente, pensou ela enquanto começava a retornar para o salão, porém quando virou-se tomou um grande susto. Saltou para trás e lançou a arma em sua mão, direcionada para o corpo que encontrava-se ali. Com o simples abano de mão a arma foi desviada, a jovem afastou-se mais um pouco para previnir-se e quando notou havia um homem, vestido em uma armadura de couro fervido e plaquetas de metal, corpulento e alto, cabelos ruivos encaracolados e olhos avermelhados como o sangue. O mesmo não se movera, apenas encarara a rapariga por alguns segundos.
— Realmente Sonho fez um belo trabalho, não sabe o quanto conturbado foi chegar aqui, sua mente tem muitos bloqueios, o que me deixa cada vez mais desconfiado dos motivos de ele ter feito isso com você. — O homem falara como se a conhece a anos, com uma naturalidade como se ela tivesse a obrigação de saber tudo sobre aquilo que ele estava a falar.
— Perdão, mas quem é você? — Questionou a jovem com um olhar desconfiado e atento a tudo.
— Não esperava que me reconhecesse, mesmo que me conhecesse não me reconheceria. — Disse o homem dando um passo à frente. — Sou conhecido como Destruição, mas você costumava chamar-me pelo nome, mas isso pouco importa agora. Finalmente consegui chegar ao nível do seu subconsciente onde você está presa e eu preciso leva-la de volta o mais rápido possível.
— Não estou entendendo nada do que está falando.
— Deixe-me tentar explicar um pouco das coisas.
O homem chamado de Destruição começou a contar diversas coisas, explicou-lhe quem ele era, o que havia acontecido com ela e quem era o tal de Sonho. As coisas pareciam muito malucas para serem verdade, porém algo na mente da garota apontava que o homem falava sério. Ele contou-lhe que este homem estava planejando algo, e tinha algo haver com a garota. Lisandra tinha uma linhagem poderosa em seu sangue, mas que fora reprimida de alguma forma por Sonho, e de alguma maneira que ainda não conhecia ele conseguira que a jovem despertasse uma espécie de linhagem secundaria, o seu Yume no Jigen.
— Se isso tudo é realmente verdade, como chegou aqui com todas essas barreiras? — Perguntou a garota indignada com toda a historia.
— Neste exato momento estou sendo ajudado pelos Irmãos do Silêncio. Eles são poderosos o suficiente para me manter aqui até eu te tirar, e além disto eles estão tentando descobrir uma forma de desbloquear o seu verdadeiro poder e suprimir o Yume no Jigen. — Respondeu o homem. — Existem suspeitas que o Sonho forjou o próprio desaparecimento, para dar inicio a algo maior. Não sabemos ao certo o que ele anda planejando, porém este Doujutsu que possui tem algo haver com isto. Pois quando te encontraram desmaiada ele estava ativo, e ainda permanece.
O homem falou mais um pouco sobre a situação, até que interrompeu a conversa abruptamente como se tivesse escutado algo.
— Precisamos ir, agora. — O ruivo puxou a garota pelo braço e dirigiu-se pelo corredor. — Confie em mim, tu logo verá a verdade.
A Lockhart não questionou, estava tão boquiaberta e não sabia o que pensar sobre o assunto que deixou ser puxada pelo homem. Ele parou diante de uma porta e tentou abri-la, entretanto estava trancada. Um rugido ensurdecedor ecoou no corredor, ambos olharam para trás, mas nada podia ser visto ainda.
— O que foi isso? — Perguntou a garota um pouco amedrontada.
— É uma das defesas preparadas para te deixar naquele estado de transe. — O ruivo sacou uma espada que estava presa a sua cintura, fez um movimento veloz e estacou contra a porta, a mesma caiu-se em pedaço abrindo o caminho. — Ative o Doujutsu e se olhe no espelho, eu sairei assim que você for.
Assustada a garota correu para frente do espelho, seus olhos deixaram de ser verdes e tornaram-se espirais em branco e preto. Quando o contato com olhos da imagem refletida no espelho fora efetuado tudo enegreceu-se.
Subitamente o ar entrou sobre seus pulmões, a visão ficou clara e ela pode enxergar o teto de algum lugar com luminosidade baixa. Estava deitada, sentiu uma forte pontada na cabeça e uma imensa quantidade de memórias e imagens invadissem sua cabeça. Seus olhos estavam transformados no Doujutsu, porém quando acordou ele desativou quase que automaticamente. Tentou sentar-se um pouco, e quando o fez notou que não estava sozinha naquele local. Havia algumas pessoas encapuzadas a tampar seus rostos, e também outras cinco pessoas. Aqueles de capuz eram os Irmãos do Silêncio, de alguma forma ela sabia disso, e os outros eram os Perpétuos, aqueles que a criavam a alguns anos. Sonho não estava ali.
— O que está acontecendo? — Perguntou a garota tentando levantar-se.
— Acho melhor não levantar, já faz uma semana que está neste estado, alimentara-se muito pouco neste período. — Disse o mesmo homem que a tirara do transito.
— Você está diferente... Na verdade todos vocês estão. — Falou Lisandra, levando a mão até a testa quando a sentiu latejar.
— Estamos em guerra. Por isso estamos assim. — Respondeu a pequena garota de cabelos coloridos e voz esganiçada.
— Guerra? Contra quem? — Questionou a garota, ainda sentada no chão.
— Contra o Sonho. — Completou o homem mais velho deles, com os olhos brancos e as mãos carregando um enorme livro.
Foi como um baque, Lisandra sentiu como se o ar saíssem de seus pulmões, os olhos arregalados de surpresa. Ela não podia acreditar que o homem que lhe treinara durante anos estava entrando em guerra contra seus próprios irmãos. Demorou alguns instantes para que voltasse a realidade.
— Descobrimos que ele montou um exercito portadores do Yume no Jigen. Ele tem este plano a muitos anos, e você era uma das peças chaves dele, mas quando ele viu que não conseguiria leva-la com ele decidiu coloca-la em transe para não poder nos ajudar. — Explicou Destruição. — Existe algo que o Sonho não contava com, você não tem o sangue puro do clã dele. Você possui outra linhagem que se sobre saí ao Yume no Jigen em seu corpo, não sabemos o real poder desta habilidade, porém ela pode ser nossa jogada contra ele. Afinal ele acha que você pode ser controlada pelo seu Doujutsu, mas se suprimirmos ele e libertarmos a sua linhagem predominante podemos fazer algo.
A ideia não soava tão ruim, porém ainda não estava conformada com a ideia de o seu mestre ser um traidor e estar tentando acabar com seus irmãos e tentou controla-la. O sentimento de fúria fora um pouco mais intenso do que o desapontamento. A simples ideia de toda a sua vida ter sido manipulada e traçada por alguém pelo simples motivo de criar um exercito e voltar-se contra seus irmãos a revoltava. Por tudo que passara fora culpa dele, a vida de desgraças e problemas que ela passara fora tudo arquitetado por ele.
— Precisamos saber se quer fazer isto mesmo. — Perguntou um dos homens de capuz.
— Sim, eu quero conhecer o meu verdadeiro poder e irei ajudar no combate naquilo que eu puder. — Confirmou Lisandra.
— Você não é forte, é só uma Gennin, mas sabe pensar e é inteligente o suficiente para nos ajudar a combater ele por dentro da sua organização. — Falou Destruição.
— Irei fingir que estou do lado dele, e com isto ajudarei de lá. Mas primeiro preciso libertar esse tal poder que dizem que eu tenho. — Apenas afirmou Lisandra, repassando o plano mentalmente.
— Iremos começar amanhã cedo. Vai ser algo muito trabalhoso, então coma bem e descanse pois terá um grande dia. — Disse o mesmo homem de capuz.