Uma brisa arrastava o pó da região rochosa de valéria rodeando os dois corpos imóveis frente a frente que davam vida ao inóspito bioma. Um deles muito recto, com uma postura correcta e firme, o outro já meio curvo e em agonia com dores. Ambos os cabelos tinham colorações encarnadas, o recto naturalmente, o curvo devido ao sangue das inúmeras feridas que lhe cobriam o corpo, soltando sangue por toda a sua pele e misturando-se com o cabelo negro do rapaz que se colava à sua face.
- Continuas a pensar demais, kohai. - falava Kari mantendo a sua postura recta ajeitando os óculos no seu nariz pequeno e recto.
Zehel respirava ofegante, curvando-se devido ao cansaço das sucessivas investidas sem sucesso. Havia feito um progresso no seu treino, os seus olhos habituaram-se à velocidade do seu senpai, porém ele continuava sem conseguir acompanhar os movimentos que via. Os seus olhos captavam tudo a acontecer mas o seu corpo não acompanhava com velocidade suficiente, facto que era ainda mais revoltante do que não ver os movimentos de todo.
- Nunca te irás conseguir defender dos meus ataques se continuares a pensar em defender, continuas a colocar a coleira de estrangulamento no teu cérebro sem necessidade, impedes o seu processamento instintivo na esperança fútil de controlares todas as coisas. Nem tudo é controlável meu caro kohai. Tens de te deixar libertar e mover-te como o vento, erraticamente, instintivamente, sem pensar por onde tem de ir, indo simplesmente. - falava o homem dando uma palestra inspiradora do que queria que o jovem chunnin aprendesse com ele.
Segundo o cientista uma vez que Zehel conseguisse quebrar essa corrente do seu cérebro tudo se tornaria muito mais facil para ele dominar o estado amaldiçoado. O seu cérebro reagiria sem pensar em coisas fúteis como "irei eu ter força para defender" e " sou forte o suficiente". Basicamente iria suprimir todas as duvidas que houvessem na mente do rapaz limpando-lhe a mente por completo, colocando-o num estado de tamanha concentração que nada importava mais do que o momento vivido em combate.
- Aff é mais difícil que parece senpai. - falou o rapaz endireitando-se concentrando uma enorme onda de chakra de modo a libertar todo o seu doujutsu curando por completo as feridas que tinha no seu corpo. - Uff, mais uma vez.
E esticando o seu corpo alongando os braços e a musculatura das costas, adoptou novamente uma posição de combate tentando limpar ao máximo a sua mente. Relaxando o seu corpo ao máximo, inspirava e expirava calmamente, deixando o seu chakra fluir livremente de modo a tensionar todos os seus músculos. A sua posição tinha-se vindo a tornar cada vez mais firme e o seu olhar tornara-se mais vazio, vazio de emoções mas não de espírito de combate, os olhos de alguém que não se deixa afectar por estímulos externos e muito menos de internos. Uma mente focada em mover-se para ganhar, focada em mover-se para cortar, focada em mover-se para matar!
- "Isso kohai, estás quase lá." - pensava Kari fitando os olhos focados e aterrorizantes de Zehel.
O foco espelhado nestes faria qualquer um tremer, um olhar atento como o de um animal que caça a sua presa, sem piscar, tenso, fixo, focado. Mortal!
Com um boom, o cientista moveu-se à velocidade do som investindo com um punho lateral direcionado à bochecha do rapaz. Os olhos dele moveram-se, focando o oponente à velocidade sónica, fitando a mão fechada e rija a aproximar-se cada vez mais da sua cara. Em outras tentativas a sua voz ressoava no cérebro dizendo "não penses, não podes pensar Zehel", mas não desta vez. Desta vez tudo estava em silencio, uma calma ensurdecedora apoderara-se da mente do rapaz que apenas recebia informação da aproximação dos nós dos dedos de Kari. Sem Zehel se dar conta, o seu corpo reagiu por instinto, tensionando as suas pernas a um grau intenso. Numa fração de segundo colocou-se atrás do seu atacante, investindo logo com o punho num contra ataque fluído à velocidade sónica, a sua mente estava limpa, sem qualquer entrave. A corrente que prendia o seu instinto nas profundezas da sua mente como um recluso perigoso estilhaçou-se numa bela explosão de fragmentos metálicos e brilhantes, revelando um lutador veloz e perigoso que enfrentava quem se colocava à sua frente com tudo o que tinha.
Kari sorriu, ao ver o punho do rapaz a aproximar-se saído de um sonido. A primeira vez que alguém usava a técnica era a mais bela, revelando o verdadeiro potencial daquele que o usava, como se fosse aberta uma porta que à muito estava fechada revelando os segredos que continha no seu interior. Para qualquer cientista, encontrar uma porta fechada que o impede de descobrir aquilo que lhe desperta a curiosidade é o pior que pode haver. Mas quando esta porta se abre, o sentimento é a maior felicidade que alguém pode ter, ver o fruto do seu trabalho ali exposto à sua frente, pronto a ser cultivado e dar flores. Era assim que Kari se sentia naquele momento e era esse sentimento que o fazia querer aproveitar aqueles primeiros momentos de luta sónica que iria ter com o rapaz, saboreando os primeiros passos do bebé que ajudara a levantar e equilibrar-se nas suas pernas.
Desaparecendo com um boom, os dois lutadores quebravam a barreira do som ao moverem-se um contra o outro novamente, com os punhos prontos a disferir um golpe. Ambos se esquivavam dos ataques um do outro à velocidade dos sonidos de cada um, tensionando as pernas com a convergência de chakra amaldiçoado, afastando-se e aproximando-se um do outro sempre em novas investidas e criando ondas de choque a cada impacto bem sucedido no corpo um do outro. Kari suportava bem a força de cada um dos impactos, já Zehel não estava habituado àquele tipo de luta, sendo repelido aquando de cada impacto.
Mesmo assim mantinha a sua mente bem limpa investindo sucessivamente.
- Ok vamos ficar por aqui. - falou Kari agarrando no punho do chunnin fazendo com que libertasse toda a energia para o braço dele.
- Ohh agora que me estava a divertir? - disse Zehel ficando triste e chutando uma pedra que encontrava ali ao pé de si.
- Repara bem para o teu corpo. - pediu Kari.
Nesse momento Zehel olhou para baixo e viu as suas pernas cobertas pela camada negra até ao joelho, apresentando os veios encarnados espalhados na zona negra da sua transformação. Sem se ter apercebido tinha entrado na segunda fase do seu cursed seal. Kari tinha razão, o que o impedia de libertar a transformação era o facto de não conseguir limpar a sua mente. Inconscientemente ia sempre buscar qualquer ponto de insegurança e não conseguia fazer aquilo que era suposto, aceitar o seu selo.
- Este local de facto ajuda bastante, a presença das invocações num local sempre foi um bom indicador de uma boa quantidade de chakra natural, é por isso que todos os shinobis que almejam chegar ao sennin mode treinam junto com os anciãos das suas invocações. - declarou ele. - Porém é cedo para parar-mos, ainda tens muito que aprender caro kohai.
- Hay senpai, mas depois do almoço, toda a luta abriu-me o apetite. - disse virando-se em direção ao palácio que se avistava bem ao fundo da linha do horizonte.
Continua