Flores de Fogo
4 anos atrás.
— Quem é você? — Questionou o jovem de cabelos curtos azuis e olhos de igual cor, em um tom escuro que com a pouca luz pareciam negros. Rikao encontrava-se em cima de um prédio de quatro andares em uma das ruas menos movimentadas do dia, estava a esperar seus amigos para que pudessem ir para o Festival quando foi surpreendido por um homem encapuzado escondido pela baixa luminosidade do local.
O outro lado da cidade encontrava-se movimentado, com luzes por toda parte, ruas lotadas e diversas barracas das mais variadas comidas e brincadeiras. Era incomum ver a cidade cheia daquela forma, mas o Festival das Flores de Fogo era um lindo espetáculo que realmente atraia o publico. Uma série de luzes eram lançadas ao céu, balões em formado de flores de Lotús subiam o sol enquanto fumegavam. Era uma bela dança de chamas flutuando em contraste com a branca luz do luar.
O homem nas sombras deu um passo para frente demonstrando apenas parte de sua barba rala e cicatrizes em seu queixo. O capuz em sua cabeça criava uma penumbra forte o suficiente para esconder o resto de seu rosto. Limpou a garganta brevemente, ergueu as mãos de dentro do manto negro para demonstrar que encontrava-se desarmado e deu mais um passo para frente, revelando seu corpo grande portando um colete parecido com o de um Jounnin exceto por detalhes sutis no tecido, bolsos e que não possuía um símbolo de vila.
— Eu sou Ero. Venho em nome da Punho Dourado lhe oferecer um trato. — A voz era rouca e grave, quase como se suas cordas vocais estivessem machucadas de alguma forma. — Sabemos quem você é e tudo sobre sua vida, achamos que um talento em potencial como você não pode ser desperdiçado neste local.
— Punho Dourado…. — Repetiu o rapaz como se tentasse entender o que o homem estava querendo dizer. — Sabem tudo sobre mim… Talento em potencial… Do que está falando? Não conheço ninguém chamado Ero e muito menos alguma organização chamada Punho Dourado. Aliás que diabos de nome é este? — Rikao processava todas as informações possível que acabara de receber, tentando ligar os pontos em sua mente e chegar a uma conclusão lógica que o fizesse identificar se aquilo seria ou não perigoso para ele. Sinceramente ele esperava que não fosse, pois pela analise corporal que fizera do homem, usando seu Kashikogan, ele seria massacrado em instantes sem tentativa de fuga.
— Olha rapaz, eu não tenho muito tempo. Terá as respostas que precisar se aceitar o trato. — Ero parecia já impaciente. — Sabemos que gosta deste local e de seus amigos, porém a sabedoria e estudos lhe são de maior agrado. Podem lhe dar isto. Imagine bibliotecas com os mais diversos livros de todas as partes do mundo de diferentes épocas. Livros estes que nem mesmo os herdeiros do nome se lembram que foi escrito. Pense no poder que pode adquirir com esse conhecimento.
O Fukeru hesitou em dizer algo a respeito, por mais que tentasse argumentar contra sabia que aquilo era verdade. O seu fascínio pelo conhecimento superava as barreiras de qualquer vida social que lhe fosse oferecida, entretanto não era isto que mais o preocupava e sim como aquele homem tinha informações tão intimas sobre ele. Aquele homem estava dizendo algo que ele lutara anos para não deixar transparecer, aprendera a lidar com as pessoas e fazer amigos ao invés de enterrar-se na solidão de seus livros, mas no fundo ele não havia mudado tanto assim. Tinha apenas 14 anos e era tão ganancioso por essa arma tão poderosa que era o saber.
Sua mente era racional e clara, mas por algum motivo estava relutando contra a imbecil ideia de seguir um homem desconhecido que provavelmente o mataria na primeira oportunidade. O motivo daquela duvida latente era o que lhe assustava em seu interior, será mesmo que era tão frio a ponto de abandonar tudo e todos apenas por um punhado de livros?
— Você disse que é um trato, logo eu tenho uma parte nisto também. O que é? — Perguntou curioso enquanto ainda raciocinava as possibilidades infinitas do desencadear de suas decisões.
— Na verdade você é a sua parte. Queremos que trabalhe para nós, um jovem com habilidade tão incrível não pode ignorado. — O homem parecia cada vez menos paciente com as perguntas do rapaz, como se algo estivesse errado e a resistência do mesmo não fosse ser desta forma.
— Existem diversos outro jovens do meu Clã, todos com a mesma habilidade do que eu. O que tenho de tão especial? — Questionou novamente gerando um ranger de dentes por parte de Ero.
— Você possui uma marca, algo especial que lhe faz único. Entretanto esta marca não é visível e não sou eu que poderei explicar, apenas você mesmo. Terá de buscar auto-conhecimento e treino para aprender aquilo que vive dentro de você. — A voz pareceu mais calma, talvez porquê Rikao ficou interessando no que o homem falava, talvez insinuando a sua propensão a aceitar a proposta. — Serei claro. Somos uma organização que visa acumular conhecimento e um dia dissemina-lo para o mundo. Você é ávido por conhecimento e ainda carrega duas características especiais que nós ajudaram muito. Nosso conselho decidiu que seria você, então vim apenas lhe entregar o recado.
— E se eu recusar o que acontece?
— Bem, por enquanto nada, não sei quando eu entregar a noticia para os líderes. Talvez mandem mata-lo ou a sua família e amigos, ou até mesmo o deixem inútil sobre uma cama enquanto vê toda a vida passar e você viver em dor e agonia. — Ero pareceu satisfeito com a descrição como se as palavras lhe trouxessem prazer.
A feição do jovem Gennin era fechada e séria, não demonstrava medo ou insegurança, mas por dentro encontrava-se em choque. Ele desejava o conhecimento tamanho que tinham a lhe oferecer, porém quais seriam as consequências de tais atos. O que realmente aconteceria dali para frente, será que ele teria esse acesso a todos os livros. E como ficaria os seus amigos, até mesmo seus país não estariam bem em saber que seu único filho havia desaparecido.
Por um instante pensou em dizer sim, pelo bem de sua própria vida e daqueles que amava, também por seus objetivos pessoais, todavia algo lhe percorreu como um raio a mente.
— Se sou tão especial dentre todos as pessoas que poderiam escolher, qual séria o motivo para me matarem? — Perguntou com um tom quase triunfante como se tivesse encontrado uma brecha nas palavras do homem e caminhasse em direção a verdade.
— Os meus líderes são pacientes. Eles aguardaram muitos anos até que alguém como você nascesse e ainda esperaram mais quatorze anos para que crescesse. Tenho a certeza que irão esperar o próximo. — Ero pôs um sorriso no rosto como um cheque mate.
O homem encapuzado virou a cabeça como se ouvisse algo distante aproximando-se. Retornou andando levemente para as sombras enquanto mantinha o rosto virado. Então quando apenas podia ser visto uma silhueta em meio das sombras Rikao percebeu o que ocorria. Viu ao longe os gêmeos aproximando-se, saltando juntos pelos telhados e terraços dos prédios.
— Eu serei bondoso e te darei até o fim da noite. Se decidir aceitar estarei no portão leste esperando, apenas até meia noite. Na ultima badalada do relógio eu irei partir com ou sem você. — Após suas ultimas palavras o shinobi misterioso sumiu de repente.
Em seguida de ouvir o que o tal de Ero tinha a dizer os dois irmãos, melhores amigos e companheiros de equipe de Rikao aterrissam ao lado dele. Ayuri logo vai em sua direção e se joga no pescoço do rapaz de cabelos azuis, dando-lhe um beijo um pouco longo que o mesmo não respondeu com a mesma intensidade devido ao ocorrido de instantes atrás.
— Aconteceu algo? — Perguntou a garota de cabelos rosados percebendo que algo estava diferente no seu namorado.
— Não foi nada. Vocês só demoraram! — Mentiu nervosamente.
— De graças a essa baixinha ai. — Provocou Ishito, o que fez sua irmã o olhar séria, mas de forma brincalhona. — Demorou mais de duas horas no banho e ainda mais duas para se arrumar. Acho que já perdemos muito tempo não é mesmo? Vamos antes que não consigamos fazer nada além de ver as flores.
A equipe seis partiu o mais rápido para o festival. A noite fora tranquila para o grupo, fizeram muitas coisas e comeram bastante. Rikao tentou fingir o melhor que conseguia para esconder a sua duvida cruel. Horas se passaram e o show de luzes teve inicio, os lindos balões de lotus com chamas subiam aos seus, era um espetáculo realmente bonito. Após o show de luzes a multidão foi se esvaindo aos poucos, pessoas voltando para suas casas e hotéis, no outro dia ainda teriam que levantar cedo para trabalhar. A equipe seis também tinha compromissos no dia seguinte e decidiu se retirar para os seus respectivos lares. Depois de uma longa despedida de beijos e alguns abraços mais intensos o jovem Fukeru partiu para sua casa após deixar Ayuri em casa, visto que Ishito decidira ir na frente para deixar o casal a sós.
Durante o caminho para casa Rikao pode avistar ao longe uma torre, não muito alta, porém maior que a maioria das construções a sua volta. Um relógio imenso estava nos quatro lados da torre e marcava que ainda faltavam cerca de cinco minutos para meia noite. Ainda havia tempo, ele pensava voltando com as ideias de fuga para a sua mente. Aterrissou na varanda de seu quarto e usou suas chaves para abrir a porta de vidro, adentrou o cômodo com um olhar vago. Olhou para todos os lados e observou cada detalhe daquele local, pensando que nunca mais veria aquilo se decidisse partir. Pegou uma foto dele com seus amigos e seu mestre, ao lado outro porta retrato com a foto de um casal - ele e Ayuri.
— Vocês sabem que eu amo vocês, mas eu sei que se permanecer neste lugar não conseguirei atingir o ponto que tanto almejo. Me desculpem. — Falou com a voz pesada e tristonha. Pegou sua mochila e jogou dentro dela uma série de objetos. Fotos, livros portáteis, rações de viagem e outros objetos pessoais que julgou importante. Pegou alguns de seus equipamentos e os colocou em sua perna e cintura como costumavam ficar.
Enquanto arrumava as coisas as pressas ouviu uma porta abrir e uma voz feminina gritar seu nome e chama-lo de filho. Espremeu os lábios e pensou no rosto de sua mãe e seu pai por um instante. Seu corpo estremeceu, mas não cogitou desistir. A mulher subiu a escada e estava entrando no corredor, podia ouvir seus passos aproximando-se, logo a sua sombra em baixo da porta e a maçaneta girando. Terminou de coletar tudo o que desejava e saltou pela porta de onde entrara.
Poucos instante depois, próximo a ultima badalada do relógio o rapaz aterrissou no portão leste. Ero encontrava-se recostado em uma parede e logo se endireitou quando o Fukeru chegou.
— Tomou a decisão certa garoto. Agora venha, vou lhe levar para sua nova casa.
Uma explosão ocorreu ao fundo, Rikao virou-se para verificar e viu as chamas e fumaça subirem. Pensou que algum problema com os balões pudesse ter ocorrido, mas quando olhou bem percebeu que aquela não era a região do festival e sim de moradias, em particular a moradia de um homem que lhe ensinou muito desde que tornara-se Gennin. Ero passou o braço pelo ombro do gennin e começou a puxa-lo em direção a saída enquanto os olhos do mesmo permaneciam fixados na fumaça. Após alguns metros já não se era capaz de ver a luz das chamas mas ainda sim a fumaça negra subindo aos céus. E aquela fora a ultima visão de que tivera de sua cidade natal. Agora seria um procurado, um Nukenin, mas para ele o que tinham a lhe oferecer pagaria por este fardo, tornando-o mais forte e inteligente como era o seu desejo primordial.