A atmosfera ficou pesada após a resposta ambígua de Mako. Hisao e Moana tinham revelado o que queriam fazer das suas vidas, mostrando alguma determinação e desembaraço que não era tão comum numa idade tão jovem, principalmente frente a estranhos como aqueles três (que, por si só, eram tão díspares). Quando chegou à vez de Mako, a diferença para com os anteriores foi tanta que acabou por, involuntariamente, desmotivar Kou a falar sobre si. Tal não escapou a Katsu (da equipa incumbida por tratar dos miúdos provavelmente o mais acostumado a lidar com todo o tipo de pessoas), que reparou como a criança começava a esconder-se na sombra dos seus colegas, tentando passar despercebido.
Sabia que insistir sobre o assunto não traria resultados e, sinceramente, a conversa sobre “sonhos e objetivos” era tão dispersa e infantil que o aborrecia. Ele, mais que ninguém, sabia isso. Sentiu-se na necessidade de intervir.
- Conversar sobre sonhos e tal parece-vos muito interessante e motivador, mas… - Começou a falar, ponderando bem as suas palavras para dar um discurso às crianças realista e ao mesmo tempo o mínimo desmotivador possível. O seu olhar também se incidiu especialmente sobre Mako e Kou. – Acho que não se deviam dedicar fielmente a isso.
As reações tanto das crianças dos Genin foram as esperadas: espanto.
- Há sonhos impossíveis e outros que, à medida que forem crescendo, vão reparar que não são realmente o que querem; e muito menos úteis para a sociedade em que vivem. – As crianças demonstravam semblantes de quem não estava a perceber por completo a conversa. – Por exemplo, o meu caso. Não vos vou contar qual é o meu objetivo, isso apenas vos ia influenciar a caminhos que ainda não pretendo que tomem, mas desde já vos digo que é impossível de se concretizar… E, ao contrário de vocês, estou mentalizado para isso.
O pessoal manteve-se calado e ponderante, refletindo sobre as palavras do Jounin. As crianças começavam a perceber aos poucos o que ele queria dizer, mas não se sentiam capazes de argumentar ou intervir com alguma opinião construtiva. Entravam em filosofias que transbordavam das suas capacidades intelectuais ainda tão infantis. Felizmente, Akimichi Aki estava lá para seguir o raciocínio.
- E não nos pode dizer qual é esse seu objetivo?
A rapariga havia-se esquecido por completo que, anteriormente, o Imagawa havia garantido que não revelaria o seu objetivo. E, com a sua pergunta, colocara as crianças num tom curioso e expectante. Katsu lembrou-se da curiosidade infantil da sua pequena filha adotiva, Sekima, e soube que não podia dececionar aqueles pequenos futuros ninjas.
- De uma forma generalizada: paz mundial. – A resposta foi inesperada e todos ficaram boquiabertos. Como é que paz mundial, algo tão nobre e glorioso, podia ser considerado impossível? O Jounin percebeu depressa as dúvidas estampadas nas caras dos infantes. Ergueu-se e sacudiu as suas calças na tentativa de retirar alguma da relva que nelas vinha agarrada – Vou tentar explicar-vos. Yoda, levanta-te e prepara-te.
O Kirinin não percebeu a súbita ordem, mas cumpriu-a cegamente. As crianças, cada vez mais intrigadas com a súbita intervenção do ninja mais velho e inimaginavelmente mais experiente, seguiu cada passo e gesto dos dois com voraz curiosidade.
Demasiado rápido para olhos não treinados, Katsu aproximou-se com um Sunshin do Genin e socou-o de leve no estômago, investindo algum chakra Fuuton no punho para causar uma pequena rajada que garantidamente atiraria o pobre infeliz para o chão. Obviamente, não soube controlar bem a força e acabou por colocar o rapaz a tossir um pouco de dor, mas nada demasiado grave. O gesto assustou os presentes, especialmente Yoda que nem sabia o que lhe tinha caído em cima, mas ninguém ousou criticar os métodos de ensino do Jounin.
- Como podem ver, acabei de atacar aqui o meu colega. O que é que isto vos parece? – Perguntou com um leve sorriso estampado na cara.
- Uma grande injustiça… - Cuspiu Yoda ainda estendido no chão agarrado ao seu tronco e a tossir. – Podia ter avisado…
Aki também quis dizer qualquer coisa quanto à violência, incerta se era correto mostrar aquilo a crianças, porém Hisao interveio.
- Errado. Num caso real, isso seria traição, certo? Atacar os amigos é errado.
Uma resposta infantil, como esperado por Katsu, que apenas sorriu mais.
- E se eu vos dissesse que o Yoda, num caso real, é que era o traidor e que almejava um ataque interno à nossa vila. Tive de ataca-lo para proteger a vila e consequentemente o meu objetivo de paz mundial. – Embora inicialmente reticentes, as crianças não demoraram muito a seguir a linha de raciocínio. – É por isso que é tão complicado. Nem tudo é preto ou branco, errado ou certo, mau ou bom. Tudo o que nos rodeia, tudo, é desconhecido até sermos capazes de os distinguir como preto ou branco. E, acreditem, nem todo esse desconhecido nos dará oportunidade de conhecê-lo o suficientemente bem para o categorizar. Alguns já te estão a espetar uma faca nas costas antes de o pudermos fazer! – Concluiu com uma pequena gargalhada, como se estivesse a relembrar de tempos antigos. Conseguiu captar a atenção de todos, até de Yoda que já se estava a recuperar do golpe, e isso seria perfeito para seguir à próxima etapa da lição. – Ser ninja requer inúmeras filosofias, pontos de vista, e, acima de tudo, saber que funções é que se tem de desempenhar e quando se tem de as desempenhar. Um dia assassino, outro espião e no outro apenas uma criança normal a entregar jornais. Mas, a função mais importante de todas: saber distinguir o preto do branco.
- Mas, e você, Katsu-sama… - Hinao intervia novamente, de todas as crianças a que parecia mais à vontade em fazê-lo – E você: é preto ou branco?