Personagem secundária: Kamizuru Tibachi
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Um ténue cheiro a poeira invadia o quarto, motivado por uma brisa que forçava a sua entrada através de uma janela ligeiramente aberta. Um aroma que qualquer habitante do país da pedra sentiria falta noutra nação. O shinobi, ao despertar de um pensamento que o fez fitar a parede durante largos minutos, aproximou-se do envidraçado, deixando o vento dançar entre os seus fios de cabelo. Abrindo o resto da janela, de olhos fechados, inspirou fundo, mantendo o ar nos seus pulmões o máximo de tempo possível. Abrindo a sua visão e firmando as rochas no horizonte, expulsou tudo o que tinha num agradável suspiro.
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É hoje. – disse num tom confiante, não conseguindo conter um sorriso que rompeu do lado direito da sua face. –
A minha primeira missão ao serviço de Iwagakure no Sato!Num rápido movimento, saltou para o parapeito da janela e, verificando que levava tudo consigo, saltou para o telhado da casa mais próxima. Esta era a forma que usava para sair de casa, todos os vizinhos tinham boas relações e, mesmo que algum ladrão entrasse na sua casa, nada teria para roubar - kyou era um rapaz bastante humilde. As vestes pretas esvoaçavam à sua volta, deslocando-se no sentido oposto ao do seu movimento. O seu lenço, sempre presente, era a sua imagem de marca. Por onde passava, o rapaz deixava sempre um rasto bordô atras de si.
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Bzzzz… - uma sombra apoderou-se da área à sua volta, seguindo-o à mesma velocidade. O som que acompanhava a nuvem era bastante característico. Irritante, mas característico.
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Tibachi, quantas vezes preciso de te dizer que esse barulho é extremamente irritante? – questionou olhando, especificamente, para uma das abelhas que compunha o enxame. –
Eu percebo que esses insectos sejam importantes para a natureza mas… Chegar ao ponto de um clã viver e criar jutsus com elas? Nunca vou compreender… Se fosse eu, escolhia um cão ou um lobo. Esses animais sim, são animais criados para auxiliar um homem. Fieis, amigáveis, violentos e ferozes quando necessário… Exactamente como e--
Chega por favor. – retaliou o outro rapaz, bocejando, não deixando Kyou continuar o seu discurso. Tibachi era um shinobi do clã Kamizuru e, como tal, andava sempre acompanhado das suas abelhas. Sentado de pernas cruzadas, era natural deslocar-se em cima de uma nuvem feita destas, como se estivesse a voar numa pequena nave. De cabelo branco curto, era um rapaz simpático, divertido e um dos companheiros de equipa de Kyou. –
Sempre essa conversa da treta. Não sabes ser mais original? Logo hoje que tive que acordar cedo para esta missão, não me apetecia nada ouvir-te.Não falaram mais um com o outro o resto do caminho. De facto, ainda era muito cedo e o cérebro ainda não conseguia processar os acontecimentos correctamente. A missão também criava bastante ansiedade, dificultando o início de um tema de conversa.
Passado pouco tempo, chegaram finalmente ao destino. O centro da vila não ficava assim tão longe de suas casas. No início da ponte, um grupo de adultos encontrava-se sentado numas pedras redondas, em volta de uma cortada de forma cilíndrica, fazendo de mesa. Bebiam café de uma caneca gigante e comiam carne estufada de uma travessa metálica. Parecia um pequeno-almoço demasiado pesado mas, de facto, o trabalho não iria ser muito fácil. Da ponte, apenas restavam as duas cordas principais, que serviam de corrimão e estrutura. Faltavam todas as tábuas de madeira que compunham o chão do viaduto e reforçar grande parte do mesmo.
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Hey, hey, hey, rapazes. – disse uma voz grossa e rouca, vinda de uma silhueta que aparecia agora por trás de uma rocha grande, na periferia daquele penhasco. –
O meu nome é Hakikuri e sou o engenheiro desta obra. – agora mais perto, era possível decifrar os traços do homem. De óculos redondos, um chapéu de palha, uma roupa larga, castanha escura e umas botas pretas, fazia sinal com a mão para Kyou e Tibachi o seguirem. –
Já sei que a vossa colega não pode vir convosco, mas não se preocupem. Vocês os dois devem chegar… O trabalho não é muito complicado. Só preciso que arranjem blocos de madeira da floresta mais perto. Os meus homens e eu ficamos a reforçar a estrutura para depois aplicar o chão. Depois disso, logo se vê. Se ainda não forem horas de acabar o serviço, pode ser que ainda nos ajudem a colocar essas mesmas madeiras. Abanou o braço violentamente em direcção a zona da floresta e acabou ali a apresentação da missão. Dava a entender que aquilo tudo era para ser feito o mais rápido possível e os jovens compreenderam rápido a mensagem. Kyou foi o primeiro a correr em direcção ao destino, seguido mecanicamente por Kamizuru. Aproveitaram aquele momento para dizer piadas sobre o engenheiro, relaxando bastante o ambiente de toda a tarefa. Ainda a soltarem gargalhadas, agarram nos machados que tinham-lhes sido encarregues e desataram a atacar todas as árvores que apareceram a frente. Cada tacada era mais violenta que a anterior, mas mais cansativa. Se custava atirar a ferramenta em direcção à árvore, aguentar o choque era ainda mais desgastante. Um ângulo perfeito era necessário para a lâmina não ficar presa na madeira, para ser mais fácil continuar e repetir o movimento anterior. O corpo do shinobi de cabelos castanhos brilhava, suor escorria-lhe pela face. O seu lenço, com a badana da vila, agora enrolado a volta do braço direito, ajudava a dissipar as dores musculares e nos ossos que se apoderavam do seu corpo. As veias estavam mais salientes devido ao esforço e pulsavam como se estivessem prestes a explodir.
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AAAH! – gritavam em uníssono. O grito dava-lhes garra e uma falsa sensação de resistência.
Dezenas de árvores deitavam-se no chão. Enquanto um tratava de as separar da raiz, o outro cortava os troncos em pequenos blocos de madeira, com todas as medidas especificadas por Hakikuri. Quando o trabalho começava a ser demasiado cansativo, trocavam de posições, refrescando um pouco a mente com uma actividade diferente. Sem nunca pararem, a luz solar passou de um tom vivo e amarelado, para um calmo e alaranjado. Estiveram horas naquilo, horas de puro trabalho árduo.
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Já chega! Já chega! – gritou o colega, parando Kyou de começar uma série de machadadas numa nova árvore. –
Já temos tudo o que precisamos. Junta metade destes blocos todos com esta corda e vamos ao encontro dos outros.Finalmente! Já podiam sorrir. A felicidade apoderou-se deles como se nunca tivessem sido felizes antes. Já a caminho, transportar toda aquela madeira não era uma tarefa, de todo, fácil. Mas a dificuldade reduzida conferia uma satisfação tão grande, que era quase como se algo leve levassem. Aproveitaram esta boa disposição para fazerem uma corrida, para ver quem chegava mais depressa. O exercício era excelente para treinar força nas pernas e agilidade.
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Sejam bem aparecidos. Ia agora mesmo mandar alguém para vos ajudar. – disse, olhando-os de cima a baixo com ar de admiração. – T
enho que confessar que se comportaram melhor do que eu estava a espera. Até um adulto teria dificuldade em fazer esse trabalho. Os meus sinceros parabéns. – antes que os miúdos festejassem, o engenheiro continuou logo a sua fala o mais rápido que conseguiu, atrapalhando-se um pouco nas palavras. –
Ma- ma- mas ainda não acabou aqui. Só preciso que ajudem a colocar os blocos no sítio certo. Assim acabamos tudo hoje.-
Yosh! Pode contar connosco. – fogo ardia nos olhos de Kyou. O facto de se ter livre de cortar as árvores dava-lhe uma nova força para tudo o resto, já que tudo o resto parecia fácil em comparação.
Assim, com toda esta energia, a colocação do novo chão não demorou muito mais tempo. Acumulando cackra nos pés, Kyou e Tibachi caminhavam em lados opostos da ponte, por cima de uma corda, sem perder o equilíbrio. Agarrando cada um uma ponta da madeira, caminhavam ao comprido, largando os blocos no sítio ordenado. O peso, o equilíbrio necessário e o trabalho de equipa requeriam bastante concentração por parte de ambos. Os adultos faziam o mesmo trabalho em metade do tempo, mas nada que os rapazes se devessem envergonhar. Estavam a superar a espectativa de todos os presentes.
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Hehehe. – ria-se o velho, orgulhoso. –
Nem sabem as emoções que tenho quando acabo um trabalho destes e ainda por cima tão importante para a nossa vila. Estamos todos de parabéns, a sério. Iwagakure pode respirar fundo e com calma, o palácio do Kage encontra-se novamente acessível para toda a gente. Só tenho a desejar uma boa noite e depois tratamos de pagamentos. Descansem que bem precisam, que eu também não faço mais nada hoje. Fitando a lua, os companheiros de equipa nem precisaram de dizer nada um ao outro. Acenando em tom de despedida, saltaram para caminhos diferentes, seguindo cada um para sua casa. Aquele dia serviria para os relembrar de que o percurso que eles estavam prestes a seguir iria ser ainda mais difícil. Mas um caminho que honraria o seu País e todos os seus antepassados que lutaram pelo mesmo.
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A minha primeira missão como Genin… Que venham muitas outras, mas se forem tão fáceis como esta, vou ter que exigir missões para Chuunin! Quem sabe ate de Jounin! Haha… Sonha, literalmente, que bem precisas. – disse para si mesmo, caindo, já a dormir, da janela directamente para a sua cama. Nem teve tempo de comer ou vestir o pijama. Completamente enterrado nos confortáveis lençóis, a sua aventura acabava. Abrindo-se uma porta para um leque de muitas outras que o iriam marcar para sempre.