1 – Saudade
A neve caía intensivamente naquela fria manhã de Kirigakure. Yukiko, pela janela, observava os pequenos flocos que caíam e cobriam o chão, escondendo a abundante erva que animava o jardim interior da grande casa onde viva a maior parte dos Sukai Hokousha. Gostava de ver a neve tomar conta, sem pedir autorização, das propriedades de toda a gente daquela população. Era algo pacífico: apoderava-se das casas de todos, embelezando-as gratuitamente e sem pedir e nunca ninguém ficava chateado com isso. Se calhar a beleza daquela rara precipitação de Inverno tinha mesmo a capacidade de enfeitiçar as pessoas.
Sentada, tentava arranjar forças para sair dali; mas era totalmente incapaz. Estes dias frios traziam-lhe demasiadas lembranças de Syaoran, e embora recordá-las lhe desse uma certa ponta de melancolia (ao fim de contas não sabia nada do irmão à mais de cinco anos!) sentia-se realizada e ainda conseguia esboçar um sorriso, feliz por não as ter esquecido.
- Yukiko-chan!
Alguém a chamara, de fora, nos jardins exteriores. Rapidamente vestira a sua capa e se dirigira a origem do chamamento. Felizmente a neve ainda não cobrira a porta, parecia pouca, mas rápido a rapariga se apercebeu que teria andado ali alguém a limpar a entrada de sua casa. Dos lados, a neve amontoava-se em pequenos cumes por todo o caminho.
Poucos passos depois conseguira chegar e falar a quem tinha chamado por si.
- Pai…
Abraçara-o. Não era assim que seria suposto tratar o seu Sensei, quanto mais um Mestre do conselho, porém só a pouco tempo conseguira fazer tal e Qui-Gon, de certo modo, orgulhava-se de que a sua filha reagisse assim quando o visse. Porém, tal cumprimento ocorria apenas dentro das portas da casa do clã, lá fora, a jovem ninja preferia manter-se reservada. Externamente olhando, era como se fora das paredes dos Sukai Hokousha Qui-Gon deixasse de ser seu pai, pois ela caminhava a seu lado admirando-o, olhando-o, falando-lhe como se fosse apenas seu mestre, aparentemente esquecendo a sua afiliação. Também, era assim que devia ser.
Yukiko seguira Qui-Gon, que pelo caminho lhe contava alguns detalhes da sua última missão ao País do Fogo. Dirigiram-se à sala de chá da grande casa. Yuki preparara o seu e Qui-Gon fizera o mesmo. Em dias como aquele a água quente do chá era o mais reconfortante que poderiam ter, além do mais, aquelas eram folhas de chá genuínas, trazidas da Vila do Chá por um membro da sua família que lá fora em missão.
- Mestre…
Qui-Gon estranhara o facto da rapariga, assim de repente, ter esquecido a afiliação. Sentia que ela tinha algo sério a dizer, embora estivesse instável.
- Yukiko – dissera Qui-Gon, um pouco relutante – Tenho uma nova proposta para ti.
- Qui-Gon – interrompera a rapariga – Deixa me primeiro dizer o que te tenho a pedir. Na próxima missão a um país estrangeiro que possas ter, poderei ir contigo?
O senhor, já com uma certa idade, permanecia sentado, incrédulo. “Como é que ela conseguira? Tão nova e já usara a Força para isto?”
- Era precisamente isso que te ia perguntar, se quererias vir comigo na minha próxima missão.
Yukiko levantara-se, vestira a sua capa e, dirigindo-se à sua habitação, pegara no seu sabre de luz; saíra de casa, precisava de ir a um sítio em especial.
A neve caía já com muito mais escassez, visto que já era possível caminhar nas ruas da cidade, que, mesmo assim, estavam quase vazias. Não se ouviam crianças, os merceeiros estavam fechados, não se ouviam zaragatas nem veículos descontrolados. Nada mais aparentava existir para além do bruto e pouco simpático silêncio que se espalhava por todo o lado.
Andara um pouco, cortara caminho pela floresta até que finalmente atingira o seu objectivo: O Lago. Estava gelado e a vegetação de montanha, os altos pinheiros, apresentavam se cheios de neve, como se alguém superior tivesse despejado um pacotinho de açúcar sobre cada uma das grandes árvores e estas tivessem ficado assim, branquinhas.
Sentara-se debaixo de uma e fitara o lago. Não conseguia conter as lágrimas: Umas de saudade, esse sentimento tão cheio de melancolia e tão negro, do seu espelho e outras de alegria – Iria começar a procurá-lo fora do seu pequeno país. O seu coraçãozinho enchera-se de súbito com a terna esperança. Sorrira, entre lágrimas. E assim, sem querer, adormecera.
A noite caíra, e o pequeno ser começava agora a abrir os seus olhos.
- Usa a Força – Ouvira Yukiko
Num sobressalto levantara-se.
- Syaoran?
Olhara em volta. Não estava lá ninguém.
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