Dez dias tinham passado. Não estava totalmente recuperada, mas já me sentia bem melhor. O dia estava brilhante. O Sol encontrava-se radiante. Parece que tudo o que se tinha passado tinha sido só um sonho. Eu estava deitada na cama quando o médico entrou.
- Sentes-te melhor - Consultou um papel qualquer – Cho… Sentes-te melhor? – Sorriu-me.
- Sim, sinto-me. Posso ir-me embora? – Tentei levantar-me com alguma dificuldade.
- Não, ainda precisas de mais descanso. Daqui a uns dias poderás ir embora. Quando a Sr. Amaya te vier buscar.
Arregalei os olhos. Ela pensa que eu vou voltar para ali para ser torturada? Não, é que nem pensar. Eu tinha de fugir. E era antes de me darem alta para sair. Não poderia ser mais torturada. Tinha que salvar os meus pais.
- Não… Não! Ela não! – Comecei a entrar em pânico. – Socorro! Ajudem-me!
Dois senhores entraram e agarraram nos meus braços de modos a eu não me poder mexer na cama. Só ouvia o médico a dizer:
- Calma! Calma! Calma!
- Ajudem-me! Não quero aquela mulher perto de mim!
Quando me acalmei, eles largaram-me lentamente, para ver se eu não fugia. Claro que não ia fugir agora.
- Tenta acalmar-te. Eu já volto. – O médico saiu perturbado.
O tempo ia passando e eu estava cada vez mais sozinha. Ninguém queria saber de mim além daquela mulher.

A porta do meu quarto estava aberta. E foi quando vi um rapaz com o braço ao peito a passar. Parou mesmo à porta e semicerrou os olhos. As suas sobrancelhas juntaram-se. Parecia confuso. Fiz o mesmo. Acho que o conhecia de algum lado.
- Conheço-te? – Perguntei-lhe.
- Sim, talvez. Estive na tua festa de anos… - Suspirou.
- Tu! Eras aquele rapaz… - continuei – O que fazes aqui?
- Aquele rapaz? – Riu-se. – Como vez parti um braço, e tenho mais uns arranhões. Disseram que tinha de ficar de repouso dois dias. Estou no quarto ao lado.
- Sim, despertaste a minha atenção quando desci as escadas. Não sei se te lembras.. – Suspirei. – Eu preciso de sair daqui.
- Lembro-me bem desse dia. Enfim, a tua beleza desperta a atenção de qualquer rapaz. – Revirou os olhos. – Han? Sair daqui? Mas tu não podes nesse estado. – Aproximou-se.
Recuei um pouco para trás e disse:
- Ah, mentiroso. – Ri-me. - Eu tenho de sair daqui. Eu tenho de salvar os meus pais.
- O que aconteceu contigo? – Mudou de assunto.
Os seus olhos castanhos brilhavam.
- Isso agora não interessa. Tens de me ajudar a sair daqui. – Agarrei-lhe o braço. – Por favor.
- Como te chamas? – Soltou-se.
- Cho. E tu?
- Muito bem, Cho. Eu volto mais logo. – Começou a caminhar para a porta.
- Ao menos diz-me o teu nome! – Gritei.
Não me respondeu. Voltei a ficar sozinha naquele quarto branco que mais parecia um manicómio.

Passado um tempo, uma senhora trouxe-me comer. Ter fome tinha, mas não tinha apetite.
- Minha querida, tens aqui o almoço. – Meteu o tabuleiro em cima das minhas pernas. – Come, precisas.
- Obrigado. – Sorri-lhe.
Remexi o comer, mas não levei nada a boca. Nem um pouco de comer engoli. Não me apetecia e não me ia obrigar a tal coisa.
Dei por mim a pensar no rapaz. Não me tinha dito o nome. Ou seja não sabia nada sobre ele, mas acreditava que me ia ajudar. Sei lá, sentia-o.
Com fúria, por me relembrar também dos meus pais, mandei o tabuleiro para o chão. Os meus olhos começaram a ficar quentes, até que dei por mim a chorar. Como sempre. Porque é que tinha de chorar por tudo e por nada? Era assim tão fraca? Não me aguentava com nada… Cada vez chorava mais, e foi ai que dei por mim a fechar os olhos. Estava adormecer.


Senti-me a ser abanada por alguém. Abri os olhos com dificuldade. Costumava ficar mal humorada quando o faziam.
- Hm… - Sussurrei.
- Acorda! Cho! Acorda! – Ouvia alguém a sussurrar.
Era ele. Era o rapaz de há bocado.
- Tinhas mesmo de vir a estas horas? – Resmunguei.
- Eu disse que viria. Não disseste que querias a minha ajuda? – Revirou os olhos.
- Sim! E quero… Mas podes começar por dizer como te chamas. – Ri-me.
Sentou-se ao fundo da cama e respondeu:
- Yukio. O meu nome é Yukio. – Sorriu.
- Hm… Yukio. Então, eu preciso mesmo da tua ajuda… - Começei a brincar com as minhas mãos.
- Preciso de saber realmente o que se passa. – Insistiu.
- Mas…
- Tem de ser. Se não como queres que te ajude?
- Vou começar. Se quiseres que pare avisa. – Avisei. Ficou calado. – Então a minha irmã morreu à dois anos. Esfaqueada, violada e mutilada. E os meus pais desapareceram.
- Mas isso já eu sei. Novidades?
- Encontrei os meus pais. Preciso da tua ajuda para sair daqui.
- Oh. – Ficou sem resposta. – Eu ajudo-te. Amanhã voltarei aqui a mesma hora.
- Ok, obrigado. A sério. – Sorri.
- Não há nada que não faça por uma rapariga bonita. – Riu-se.
- Estupido. Se é por isso nem vale a pena. – Resmunguei.
- Vá, até amanha. – Sorri e ele saiu. Ouvi a porta do seu quarto a fechar.
Estava contente, finalmente ia poder ajudar os meus pais. Fechei os olhos e passado um tempo adormeci.

O dia passou tal e qual os outros. Cheio de lágrimas, ódio e tristeza. Enfim, o que um hospital pode dar. A Sr. Amaya veio-me visitar e ameaçou-me como sempre. Será que ela estava consciente que eu podia fugir? Ou ela acreditava que eu não tendo os meus pais e ela tendo-os e podendo tortura-los, eu faria tudo o que ela pedisse? Bem, sem resposta, como sempre.
Agora pela janela, só se via o pôr-do-sol. Era lindo. Tons laranja, vermelho e amarelos pintavam aquela parte do céu.
Estar ali já se tornava cansativo. Estava mesmo farta de ver as mesmas paredes, a mesma cama, o mesmo armário, as mesmas flores, vinte e quatro horas por dia. Estava entediada. Não sabia o que fazer. Como já me sentia melhor da facada que tinha levado na barriga, levantei-me e fui espreitar à porta se havia alguém nos corredores. Nada, ninguém. Sorri. Fui ao quarto ao lado. Bati a porta, e abria.
Fiquei confusa.
- O que estás a fazer, deitado, a olhar para o tecto? – Perguntei, sentando-me no pequeno sofá.
- Planos. – Continuou na mesma posição.
- Planos? – Olhei-o – Que planos?
- Logo verás. Porque vieste aqui? Eu disse que ia lá.
- Porque estou aborrecida. Estou farta de aqui estar. Vou dar em doida! Quero ir embora agora.Por favor?
- Não, teremos de ir aquela hora. Eu conheço este hospital melhor que tu, portanto volta para o teu quarto.
- Porque é que me estas a falar assim? – Levantei-me.
- Já! – Gritou.
- Vou fugir sozinha então. Adeus.
Andei devagar para ver se ele me impedia, mas não! Não saia da mesma posição. Fui ao meu quarto, calcei-me e saltei pela janela. Agora não sabia o que me esperava.