O céu estava encoberto e escuro. A chuva torrencial feria o solo com as gotas d´água, que de tão pesadas, faziam a relva curvar-se diante sua força. Os constantes flashes dos relâmpagos dificultavam sua visão na penumbra, enquanto o ensurdecedor som dos trovões a fazia tremer. Um pressentimento, talvez. Ran corria através da trilha que levava de volta à choupana que há cinco meses ela chamava de lar. Quase chegando, pôde ver que as lamparinas já estavam acesas e o fogareiro dava sinal de vida, pronunciado pela fumaça que saía da estreita chaminé. Não era um lar luxuoso, como sua antiga residência. Mas o conforto que nela existia, quase que de colo materno, sempre a confortava.

Totalmente encharcada, Ran entrou pela porta dos fundos, onde encontrou sua mãe. Ela fazia chá e à mesa, um luxuoso conjunto de porcelana destoava do local onde viviam. Pequenas fatias de seu passado. Levantando o olhar, sua mãe a examina com um sorriso no rosto, jogando-lhe uma toalha. Estranhando as luxuosas peças à mesa, Ran se enxuga e ao se dirigir a seu quarto, ela ouve seu pai e outra pessoa conversando. A voz que acompanhava seu pai não lhe era estranha. Tinha um timbre carinhoso e alegre. Somente uma pessoa que conhecia possuía tal combinação harmoniosa.

- Hoshö! - Exclamou a jovem ninja ao invadir a pequena e escura sala de estar. Abraçando-o logo em seguida.

- Jovem Ran! Quanto tempo! Cresceste bastante nestes dois anos! - Disse Hoshö emocionado.

Hoshö era um senhor com seus sessenta e seis anos. Quase que totalmente calvo, possuía o restante dos cabelos grisalhos. Tinha um corpo rijo e esbelto, mesmo para sua idade. Talvez graças a dura vida que levava como um ajudante na colheita da família Asakawa. Hoshö já havia estado com três gerações da família e costumava brincar com a pequena Ran, toda vez que ela lhe levava o almoço. O carinho fraternal que Ran sentia naquele senhor era imenso. A falta dos velhos e pacíficos tempos fê-la choramingar. - Trago notícias de Kirigakure para seu pai. Lamento que não sejam notícias boas. - Disse, ao ajeitar-se novamente na cadeira da mesa num tom solene.

- O que houve Hoshö? - Pergunta Minoru, acendendo o cachimbo que havia sido de seu pai, avô de Ran.
- Seu irmão, Mestre Minoru. Ele soube onde o senhor está. E mobiliza os seus para recuperar o pergaminho da família.

Ran estranhou esta informação. Nunca havia ouvido falar ou visto qualquer pergaminho do qual Hoshö comentara. O que sabia era que muitos diziam que todos os jutsus secretos da família estavam bem escondidos num grande pergaminho. Mas isso sempre foi tratado com incredulidade por ela e seus parentes mais jovens. Parece que estavam errados. Essa notícia parecia ter afetado seu pai de uma maneira inesperada. Suas feições haviam se tornado rígidas e as rugas na testa denunciavam sua preocupação. – Quanto tempo temos, velho amigo? - Perguntou. Levantando a cabeça para o teto, num olhar pensativo, o velho responde que havia saído assim que soubera, e respondeu que achava que teriam cerca de dois dias até que os ANBU chegassem.

- Posso ir com o senhor? - Perguntou - Agora que fugi, se voltar, serei morto.

Levantando-se da cadeira, Minoru põe a mão no ombro de seu velho amigo e acena com a cabeça. Sua atitude fez o velho suspirar num alívio. Atônita, só o que Ran podia fazer era esperar os comandos de seu pai. Neste momento, sua mãe entrou na sala, com uma bandeja de prata e quatro xícaras de chá. Oferecendo primeiro a Hoshö, ela olha em volta e como se adivinhasse as notícias perguntou quantos dias eles teriam para fugir. Tragando mais uma vez seu cachimbo, Minoru sinaliza o número dois levantando dois dedos da mão livre. Deixando apressadamente a bandeja sobre a mesa de madeira, ela chama Ran para ajudá-la na arrumação.

- Mãe, para onde iremos? - Perguntou sentindo um calafrio.
- Não sei Ran, mas não podemos ficar aqui. - Disse, ao começar a revirar as gavetas.