-Muito obrigada pela cooperação… - Agradeceu Kimera colocando o cigarro à boca e inalando levemente enquanto encarava o líder Imagawa friamente.
-Nani? Já vais embora Kimera-san? – Perguntou o homem notando-se o leve chiar da sua poltrona devido ao inclinar das costas dele numa tentativa banal de se colocar mais confortável – Nós gostamos tanto de ter-te por cá…
-Pois e-
-Mas bem tens de ir, tens de ir. Aqui ninguém te vai impedir… - Interrompeu Yu dando uma ligeira volta com a sua poltrona ficando de costas para a Fukeru, esta que exalava mais um pouco de fumo e fitava as costas do líder Imagawa com grande rancor – Já tens tudo o que precisas?
-Sim, mas-
-Muito bem então, tens o passaporte e tudo o qu-
-IMPORTAS-TE DE PARAR DE INTERROMPER-ME CARALHO? – A voz da loira ecoou por toda a sala assustando até Yu, que virava a cadeira para poder encarar Kimera com uma cara ligeiramente assustada, esta que lhe retribuía com agressividade no olhar, mas com um semblante indiferente – Tudo bem, já estou a sair mesmo, já estou farta de todos estes hippies…
E estava dito, a rapariga limitava-se a virar as costas ao líder com muita classe desaparecendo-lhe da vista o mais rápido possível, mas sempre de forma elegante. Fora do casebre o calor arrebatava a pele clara dela. À medida que praguejava a tanto calor, Sol e como os malditos Imagawa se esqueceram de colocar árvores grandes para darem sombra, a Fukeru apressou-se a dirigir-se para o portão do Acampamento. À medida que esta passava por incontáveis Imagawa, aos quais cumprimentava com rancor, e alguns turistas, que eram totalmente ignorados mesmo quando tentavam abordá-la, finalmente conseguira chegar ao portão do Acampamento.
-Quero sair hippies de uma figa! – Gritou a Kunoichi virando-se para o guarda mais perto de si e que estivesse disponível para abrir-lhe o portão ao mesmo tempo que atirava para o chão a sua última beata – Que merda, acabaram-se os cigarros!
-Kimera-chan tem calma! Quando o Nightmare não está ficas mesmo brava, hein? – Troçou o vigia do portão em meio de uma gargalhada virtuosa e muito mal-encarada pela má-disposição da Fukeru.
-Olha lá amigo… - A rapariga aproximou-se do guarda apertando-lhe o queixo com bastante força à medida que o fitava sem igual – Vais abrir o portão ou preciso de sair daqui à chapada?
-Tudou-kun, esqueces-te do mau humor matinal da Fukeru? Deixa-a passar, é melhor, ahah! – Riu-se uma voz masculina do outro lado do portão sendo imediatamente interpretada por Kimera como sendo Takumi a cumprir o seu trabalho como guarda exterior.
-Estás a ver pedaço de lata? Até aquele inseto nojento percebe que não estou com disposição para as vossas piadas de merda… Abre lá este monte de terra para eu sair daqui logo! – Voltou a berrar a rapariga começando a ficar severamente irritada, devido também à falta de tabaco.
No meio de alguns resmungos e queixas, Tudou colocou a palma da mão por cima da superfície do portão. Uma leve onda sísmica passou pelo local e, aos poucos, o portão de terra começou a ser engolido pela terra até deixar uma abertura na imponente muralha Imagawa. Sem qualquer palavra de agradecimento, desculpa ou despedida, a Fukeru começa a correr para fora da área Imagawa a uma velocidade estonteante, o seu próximo destino estava claro…
-Aquela rapariga é mesmo incontrolável… Sem o Katsu por perto eu não sei como é que ela ainda não foi presa… - Suspirou Takumi batendo com a ponta da sua lança contra o solo recriando a onda sísmica que desta vez vomitava o portão de terra mais uma vez.

-Ida-kun, tem calma, acho que o veado foi por este lado! – Guinchou uma voz feminina em cima de um ramo de uma árvore com a palma da mão a cobrir-lhe os olhos enquanto estes olhavam para trás de uma rocha onde se encontravam dois cornos a remexerem-se – Eu não disse? Está mesmo ali!
O rapaz de dezoito anos de cabelos negros e vestimentas castanhas e bastante simples, Ida Imagawa, apontava com o seu arco para os cornos por detrás do penedo. Analisava-os enquanto não desapareciam e, de acordo com a sua estética, eram mesmo de veado.
-Muito bem Miyamoto-chan, sempre com uma visão perfeita! – Elogiou o rapaz iniciando uma corrida veloz e silenciosa na direção do veado à procura da próxima refeição para alguns Imagawa.
A rapariga de catorze anos também com cabelos negros e vestimentas beges, Miyamoto Imagawa, começava a correr atrás do seu adorado irmão. Apesar de ser ainda uma rapariga nova, aprender desde cedo a caçar era uma arte que ela sempre adorara, e desde que o seu irmão se comprometera a ensinar-lhe a caçar que ambos passavam dias a fio no bosque caçando todo tipo de animais. Para ela era só uma diversão, mesmo que ainda não soubesse usar o arco e flecha, apesar de Ida levar o seu trabalho muito mais seriamente.
No meio de alguns saltos e leves corridas, o veado continuava no mesmo sítio a mordiscar aleatoriamente algumas ervas e outras plantas que cresciam naquele seu local eleito para a sua refeição. O Imagawa mais velho tinha tudo planeado, com uma boa visão do veado e bem disfarçado para que o animal não se assustasse antes que tivesse uma flecha a matá-lo. A sua irmã aparecia mesmo ao lado dele observando-o ao pormenor e sem perturbá-lo. Querendo ser uma arqueira exímia quando crescesse, uma das coisas mais importantes para ela seria observar o seu irmão mais velho ao pormenor. Daí aprenderia, com certeza, novos truques e, pelo menos, a segurar num arco e numa seta adequadamente.
-Aquele pequenina vai render-nos muito dinheiro… - Murmurou Ida para a sua irmã numa tentativa de matar o momento morto enquanto ajustava a precisão do seu arco – Aquela pele bela com certeza vai render bastante no Dia do Mercado de amanhã….
A rapariga queria concordar mas estava muito distraída a olhar para a sua pose e elegância com a arma, não querendo também perturbar a sua caça com barulhos que poderiam afugentar a presa. Mas pensar nisso era fútil…
Sem prévio aviso um ambiente tenso instalou-se naquela pequena parcela do bosque onde pássaros esvoaçaram do nada cantarolando numa sinfonia confusa e amedrontada. O veado parou de comer encarando o céu com preocupação. Depois olhou para um local onde ouvia barulho e rapidamente começou a correr para o meio de algumas árvores tentando refugiar-se. Miyamoto e Ida assustaram-se de igual forma olhando também para o céu.
-O que aconteceu? – Questionou-se Ida desviando o seu olhar para o da sua irmã mais nova.
O momento de leve silêncio fora interrompido quando uma figura mascarada descia do alto da árvore atingindo com um forte pontapé na cara de Ida atirando-a da árvore abaixo. Miyamoto soltara um leve guincho enquanto chamava pelo nome do seu irmão inconsciente. Ouvia risadas irónicas ao seu lado e virava-se para encarar duas figuras cobertas por mantos negros e com máscaras azuis a tapar-lhes cara, mas com uma hitaite na sua testa… Com o símbolo de…

-KUSAGAKURE! – Gritou Kimera totalmente animada após uma viagem de curtos dias sempre a correr e parando ocasionalmente para satisfazer as suas necessidades.
Sorria de satisfação e de felicidade. Não era de manhã, o que por si já era um grande catalisador de tamanha felicidade, quando a rapariga chegara à sua vila natal saboreando todas as novidades dela. Apesar das diferenças serem mínimas após três anos ausente, o cheio da doce vegetação em redor da vila e de todas as pessoas animadas era delicioso. Mesmo que, temporariamente, a sua terra natal estivesse numa fase bastante tensa, não deixava de ser adorável e um ótimo sitio para se viver.
-“Olhem, aquela não é?”… “Sim, sim, Kimera Fukeru a herdeira de Kusa!” … “A nossa ídolo voltou, que saudades!”… - Múltiplas pessoas começavam a parar para poderem olhar para Kimera com diferentes expressões. Algumas felizes, outras zangadas, surpresas e até apaixonadas.
Kimera adorava o seu povo e o seu clã. Era considerada a princesa de Kusagakure devido ao seu claro sangue Fukeru, que imediatamente lhe fornecia o direito de governar sobre Kusa, como também era bastante amável e simpática com todos os habitantes da sua vila (menos de manhã…). Ela gostava de cumprimentar algumas caras familiares e trocar algumas palavras amistosas com outras, tal como pôr a conversa em dia com as amigas que não via há tanto tempo. Mas ocorreu-lhe o seu propósito, o que a levara a voltar a esta terra. Logo esta observava como incontáveis guardas de mantos negros e máscaras verdes começavam a empurrar as pessoas para dispersarem, era uma das grandes regras de Kusagakure, “Não atrapalhar o funcionamento da cidade com grandes multidões!”
Sim, o seu grande propósito era destronar Tadao Fukeru, o atual Kage da vila e o terrível autor deste clima tenso e autoritário em Kusagakure. Ao longe já se reparava na torre onde Tadao estaria instalado apressando o seu passo ara lá chegar. À sua volta dava para notar como as pessoas de Kusagakure, menos os Fukeru, se sentiam infelizes. Uma das grandes medidas implementadas por Tadao fora a divisão entre pessoas ricas e pobres em Kusa. As pessoas pobres (não em dinheiro mas por não serem úteis em guerra, resumindo, não serem Shinobis ou guerreiros), viam as suas habitações encostadas forçosamente contra a muralha num sistema defensivo onde, caso ocorre um ataque, os elos mais fracos seriam os primeiros a morrer. Depois, mais no centro da cidade, fora instituído um perímetro cuidadosamente guardado pela tropa de elite do Kage, os Escorpiões, que guardavam o interior do perímetro onde residiam todas as pessoas que tinham capacidade de lutar numa guerra.
-Kimera-sama! – Anunciou um dos homens de manto negro e máscaras verdes, ou Escorpiões, enquanto se ajoelhava e pousava um punho fechado contra o solo – Finalmente a senhora voltou!
A Fukeru limitara-se a sorrir prosseguindo o seu caminho pelo perímetro que separava ambas as regiões de Kusa sem ter de ser revistada minuciosamente como eram todas as pessoas que tentavam passar por aquela área restrita. Isso devia-se ao facto daquela organização ter sido fundada pela própria Kimera sendo esta considerada a líder deles e aquém devem suprema lealdade, um fator importante para quando a Kunoichi destronasse Tadao. O seu avanço continuou incessante tal igual ao seu olhar decidido. Rapidamente as portas da torre eram abertas e a jovem era abordada por mais Escorpiões mas a sua passagem era sempre facilmente garantida até que, por fim, chegou ao escritório do seu inimigo...
-TADAO! – Berrou a rapariga chutando a porta para que esta se abrisse e adentrando no escritório do líder sem formalidades – Tiveste saudades de mim?
O homem estava encostando à sua secretária sorrindo para Kimera ironicamente enquanto ajeitava os óculos por cima do seu nariz para que estes não caíssem. Permaneceu calado fitando Kimera com grande ironia enquanto esta devolvia-lhe o olhar com uma forte agressividade sem reparar que, encostados às paredes laterais do escritório, encontravam-se homens de mantos negros e com máscaras azuis que, desde o início, começara a criar uma ligeira confusão na rapariga loira. Tadao é um homem de estatura média com pouco cabedal. Tem um cabelo espigado, castanho-claro que contrasta com os olhos verdes-claros escondidos pela invisibilidade das lentes dos seus óculos finos com hastes brancas. As suas vestimentas são simples típicas de Kusa, essencialmente uma combinação entre verde e castanho onde um manto cobre-lhe todo o corpo até ao joelho. Uma camisa preta é o que cobre o seu tronco a combinar com calças verdes que vão até os tornozelos, onde a partir daí as sandálias cobrem até aos pés.
A rapariga olhava-o de alto-a-baixo à espera de alguém reação. A presença daqueles homens encostados às paredes começava a deixá-la receosa e nervosa. Para piorar encontrava-se sozinha e, para ser sincera, não havia pensado muito bem em como iria abordar o líder de Kusa com as suas novas descobertas… Mas ela vai arranjar uma forma de dar a volta à situação…
-Afinal eu sou Kimera Fukeru! - Pensou…

CONTINUA