Texto de Orochi (Kimura Endo)
O jovem ainda se recuperava do duelo anterior. A kunoichi de Konoha o havia ajudado bastante a se recuperar, porém, seus ferimentos estranhamente ainda o incomodavam. Talvez fosse a impressão deixada quando se sara muito mais rápido do que o organismo estava acostumado, pois as vezes sentia uma dor aguda na região da perfuração, mas quando passava a mão à procura da ferida, nada existia além de uma cicatriz quase imperceptível. E foi isso que aconteceu quando estava vestindo - concentrado e sério - a última peça de seu quimono. Kimura olhou em volta tentando esconder o que sentira, mas todos os genins restantes ainda aguardavam a vez de lutar, preocupados com o duelo, quase ninguém havia percebido seu espasmo, exceto por uma estranha pessoa que lhe fitava sorridente através da densa cabeleira branca que lhe caía aos olhos. -
Será garoto ou garota? - Perguntava para si, incomodado com a indiscrição de seu futuro adversário. Então, quando se perdia em pensamentos sobre o gênero da pálida criança, os dois foram chamados à arena sob a ensurdecedora torcida dos expectadores. Perfilados, Kimura tomou a iniciativa e subiu vagarosamente os degraus esperando que o estranho o acompanhasse. Mas isso não aconteceu.
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Kuwabara-chan, me empresta uma granada de fumaça? - Disse Mo inocentemente na presença de Kimura.
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Claro, toma estas três. Você vai para a final! - Respondeu o gordo emo, estendendo a mão com as esferas.
Kimura não se incomodou com a conversa e continuou a subir, chegando à arena já parcialmente destruída sob as palmas da multidão. A jounin já os aguardava, até que todos silenciaram quando granadas de fumaça estourraram na escadaria dos vestiários, sufocando a todos lá de dentro. Surpreso com o estouro às costas, Kimura efetuou ágeis piruetas para aterrizar ao lado da jounin, onde sacou rapidamente uma kunai à espera de um possível ataque. Entretanto, Mo ascendeu da fumaça com rápidos shunshins, terminando por posicionar-se na outra lateral da jounin, perfazendo uma posição estranha. A criatura estava com os braços estirados para frente, dedos em forma de pinça e uma das pernas levantada ao máximo, formando uma espécie de escorpião bizarro. -
Shhhhh... Sentirás todo o poder de meu ferrão! - Gritou Mo. A multidão o ovacionou por mais uma entrada triunfante, enquanto Sasame e os outros genins, que aguardavam a vez, subiam pelos degraus do vestiário esfumaçado. Desesperados em busca de ar, tossiam insistentemente de joelhos na entrada da arena. -
Mo! Seu idiota! Cof... cof.. Vais se ver comigo! - Gritou Sasame fechando o punho, levantando-se em ameaça. A jounin balançou a cabeça em desaprovação, enquanto Kimura ficou sem entender o que ocorreu.
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Ele deve ter gostado da minha entrada triunfal? - Perguntou Mo para o vazio.
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Melhor você se concentrar ou perderá. - Respondeu Kimura, calmamente.
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Ha, ha, ha! Ele bateu a cabeça?! Jamais! - Retrucou com um sorriso sinistro.
Logo os dois estavam frente a frente, e mais uma vez Kimura sentiu um calafrio sobre seu ferimento. -
Comecem! - Gritou a árbitra acompanhada por milhares de berros extasiados. Sem perder tempo, Kimura sacou uma kunai de sua mochila e avançou ziguezagueando em um veloz sunshin, até que girou a curta lâmina em direção ao peito de Mo num corte lateral. Sem parecer surpreso, ainda com um sorriso irônico no rosto, o ser indefinido efetuou um salto lateral, apoiando as mãos no chão, o que fez com que seu agasalho descesse com a gravidade, mostrando que usava uma minúscula calcinha vermelha por cima de sua calça do uniforme. A população caiu em gargalhada enquanto uma kunoichi se remexia na arquibancada, sendo segura por mais dois ninjas de Kumo impedindo-a de entrar na arena e matar seu aluno. -
Sua cabeça... Nos teus intestinos! - Gritou a garota enfurecida. Kimura parou por um momento sem entender o que acontecia com aquela figura, mas resolveu não cair na chacota e o perseguiu, desviando a trajetória, brandindo sua kunai novamente. Permanecendo na defensiva, Mo se inclinava de um lado a outro, dando pequenas piruetas em fuga. Enquanto isso, Kimura tentava socá-lo com o punho esquerdo, e quando viu que Mo havia esquivado, girou rapidamente em seu próprio eixo, levantando a perna direita num rápido chute.
Mo agachou-se assustado pela velocidade e tentou acompanhar com os olhos a trajetória da perna do kirinin que passava por cima, mas não percebeu que aqueles golpes eram simples engodos para o golpe principal. Logo a kunai na mão direita cortava o ar até o estranho ser, encoberta pelo corpo de Kimura que ainda girava com o chute. Longe de seus olhos vermelhos, a lâmina passou em diagonal no peito de Mo, que sumiu num fraco estouro de fumaça, deixando um profundo corte no velho tronco que ficara em seu lugar. Kimura rapidamente o procurou pela arena, até que o viu há cerca de trinta metros, próximo as árvores, terminando uma sequência de selos ainda com um sorriso macabro. Kimura iria persegui-lo, mas foi impedido por uma súbita e irresistível vontade de baixar as calças. Suas mãos chegaram a envolver-se na barra de sua cintura, foi então que percebeu que estava sob o efeito de um genjutsu. Mo gargalhava do constrangimento que causava ao tímido garoto que agora deixava à mostra sua cueca amarela bordada por sua mãe. -
A minha é mais bonita! - Gritava à distância, levantando o agasalho mais uma vez, mostrando a lingerie. Ultrajado, Kimura começou a sentir uma estranha fúria tomar conta de sua consciência fragilizada pelo combate anterior.
Concentrando chakra no peito e fazendo um rápido selo - com as calças já nos joelhos - Kimura enviou a energia acumulada para normalizar o fluxo em seu cérebro, libertando-se deste jutsu cruel num "kai" acuado. Só então percebeu que Mo havia posto as duas mãos na mochila e já arremessava várias kunais em sua direção. Kimura tinha pouco tempo para reagir. Tentou correr lateralmente, mas como ainda estava com as calças arriadas, caiu estatelado no chão, arranhando todo o rosto, sob as vaias dos expectadores. -
Ai, ai. Pelo menos escapei dos projéteis. - Pensou consigo enquanto rolava no chão tentando vestir-se ás pressas, escapando das outras kunais que eram arremessadas sucessivamente. Logo, uma delas enfiou-se no chão a seu lado e a tarja presa à arma começou a fumegar. Rapidamente o genin girou as pernas para trás, dando-lhe impulso para apoiar as mãos no chão para então usar toda sua força nos braços, empurrando o chão para afastar-se da explosão. Mas, para sua surpresa, no lugar da explosão, ele foi atingido por uma grande massa de água que a tarja selava, caindo com as costas no chão escorregadio, machucando-se. Ainda iria deslizar alguns metros se não tivesse concentrado chakra nas extremidades e se segurado. -
Agora nós duas estamos molhadinhas! - Caçoava Mo após fazer alguns selos e colocando a mão eletrificada na grama molhada.
Sem perder tempo, o kirinin usa mais uma vez os fortes braços para projetá-lo para cima, na tentativa de escapar do ataque elétrico momentâneo no solo úmido. Mo gargalhava, porque sabia que Kimura apenas atrasava o inevitável, pois assim que retornasse ao chão, seria eletrocutado. A multidão gritava em expectativa. Sacando sua katana em velocidade, Kimura a arremessou abaixo de si, enterrando-a o suficiente para que permanecesse em pé, e assim aprumou seu corpo com agilidade, aterrissando com apenas um pé na empunhadura de madeira de sua espada, protegendo-se da eletricidade. Com seu peso, a lâmina ainda enterrou-se pela metade, mas Kimura se manteve equilibrado com ajuda de seu chakra concentrado na sola do pé, para o delírio da grande plateia. Pela primeira vez no combate, Mo esboçou ter ficado surpreso logo cessando a eletrocussão. Assim, fazendo mais alguns selos, ele criou duas imagens suas que avançaram pelo campo molhado até onde o genin se pendurava. Vendo isso, Kimura pôs as duas mãos na mochila, retirando seis shurikens, arremessando-os com força em direção aos dois clones. Entretanto, errou todos os arremessos quando fez esforço com os músculos peitorais. A dormência em suas costelas foi seguida por uma dor aguda, o que o fez errar.
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Argh! - Gritou, levando a mão à cicatriz. Enquanto isso, os clones já se aproximavam com socos e pontapés. Kimura efetuou um salto mortal, recuando o quanto podia, mas, mesmo assim, ainda lutava na grama úmida. E quando chegou ao chão, já se esquivava do soco de uma das imagens de Mo. Inclinando-se para o lado, ele segurou o punho do outro clone e o puxou com toda força, lançando-o em direção ao outro. Logo os dois se chocaram, sumindo num grande zunido elétrico do qual Kimura recebeu toda energia que existia nos dois clones elétricos. Um grito estridente acalmou os ânimos de todos que assistiam. -
Ops... Esqueci-me de avisar a ele que eram clones elétricos... Estou "chocado"? Hã? Entendeu... Chocado? - Brincava Mo fitando o vazio novamente, ainda levantando o agasalho em provocação. Kimura cambaleava com as roupas fumegantes da evaporação d´água. Estava furioso. Aquela fúria que começara antes com as brincadeiras desrespeitosas do adversário, agora começava a engalfinhá-lo. -
Quem você pensa que é? - Sussurrou com uma voz grave e duplicada. Mo fez um gesto indicando que não escutara o que Kimura sussurrava. Isso só aumentou a fúria de Kimura, que levantou a cabeça com um olhar assassino que só pudera ser visto em seus clones.
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Você deve achar que ser ninja é algum tipo de brincadeira! - Kimura elevava sua voz enquanto fitava Mo.
De alguma forma, algo fez o estranho ninja recuar um passo. Mo parecia ter visto algo extremamente perturbador, pois sua postura mudou, recuando mais um passo. Kimura começava a avançar vagarosamente, arrastava os pés até que começou a ganhar velocidade. -
NÃO SE APROXIME DE MIM! - Gritou Mo desesperado. Fazendo rápidos selos à medida que concentrava chakra, Kimura colocava seu adversário num genjutsu enquanto corria pela grama molhada, aumentando as passadas para alcançar o adversário. Este, por sua vez, tentava interromper o avanço do inimigo enfurecido criando quatro esferas elétricas que saíram em perseguição. Kimura desviou-se rapidamente com vários shunshins, enquanto saltava no momento certo quando as esferas atingiam o solo para não receber as descargas e quando achou que tinha o caminho livre, viu seu adversário colocar as duas mãos no chão. O kirinin já sabia o que aconteceria. Efetuando mais um shunshin em direção a ele, a serpente agarrou e levou sua katana durante a rápida passagem, saltando velozmente sobre os troncos deixados por todos os kawarimis efetuados durante a luta, o que o isolou dos ataques elétricos. Mo, novamente surpreendido com a sagacidade do kirinin, tentou levantar-se, mas antes foi atingido por um forte pontapé no rosto, o que o projetou contra a parede da arena.
Atordoado com a força do golpe, Mo ainda abriu os olhos para ver apenas Kimura se aproximando velozmente com sua katana em punho visando sua barriga. A aberração ainda tentou defender-se, jogando-se para a esquerda num pequeno salto, só então percebeu que estava sob o efeito de um genjutsu que o fizera abrir a guarda. O golpe foi direto e o sangue espirrou. A lâmina atravessou o braço esquerdo do estranho genin, e entrou até a metade na murada de pedra, de tão grande a força que foi utilizada no golpe. Mo gritava tentando se desvencilhar levando a trêmula mão direita para a empunhadura, mas antes sua mão foi golpeada com um forte tapa que Kimura desferira, projetando-a brutalmente para o lado oposto. Então, outra lâmina surgiu e o sangue espirrou novamente. Kimura havia girado o corpo e cravado uma kunai que sacara na mão livre do menino(a). Mo agora esta gemendo de dor pendurado em posição de cruz. Ele ainda tentou abrir a boca para pedir desistência, mas foi calado por mais um forte soco direto na mandíbula, que num alto estalo, deslocou-se. Mo se debatia, e a jounin já se aproximava para terminar a luta, entretanto, Kimura parecia decidido a matar. Seus olhos diziam isso, mas Mo não o olhava diretamente. Ele fitava o vazio em desespero, como se visse algo aterrador. Recebia mais um fortíssimo soco no estômago, e cuspia sangue. -
Numa batalha real, você já estaria morto! - Gritava Kimura com a voz aguda e duplicada.
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Antes de tudo, somos assassinos! E não se brinca com assassinos! - Finalizou, virando de costas, agarrando a empunhadura da espada.
A multidão gritava pelo fim da luta, com remorso do franzino garoto(a) que sangrava. Mas o ódio de Kimura não amenizava, precisava matá-lo. E assim, utilizou toda sua força para retirar a espada do paredão. A lâmina libertou o braço com um esguicho de líquido vermelho. Só então ele girou velozmente e com toda fúria direcionou a katana para degolar seu oponente. O barulho de metal contra metal ecoou pela arena e as faíscas se espalharam. A jounin se punha entre eles dois, com a kunai em punho, ela impedira o assassinato no último momento. Kimura não aguardou o anúncio de sua vitória. Limpando sua espada na própria calça, ele caminhou até o vestiário sendo vaiado pela crueldade que demonstrou. -
Mo, você está bem?! - Gritava Kuwabara assim que se aproximou. A figura assexuada acenou positivamente, sem poder falar por causa da mandíbula partida e foi logo carregado para fora da arena pelos médicos. A multidão ainda estava chocada com o ocorrido. A fúria do garoto assustara a todos ali presentes. E nos vestiários, Sasame já aguardava seu pupilo tentando saber o que acontecera. Parecia que no final da luta, Mo avistara algo aterrador. Estava curiosa, principalmente. -
O que você viu nele? - Perguntou a sensei.
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Não me lembro... - Balbuciava com dor. Entretanto ele sabia que o que vira era algo que ninguém entenderia. Algo aterrador acompanhava aquele rapaz atormentado. Algo que mudará a vida dele se não receber ajuda logo... Aquela sombra a qual só conhecia nas histórias infantis para assustar os garotinhos inocentes... -
Shinigami. - Sussurrou Mo para si mesmo.
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