Na noite sombria, escura como breu, ouviam-se passos largos de uma figura que corria numa floresta obscura. Ao parar, a sua silhueta tornou-se perceptível devido à luz da lua cheia que pairava atrás de si. As nuvens que a cobriam tinham-se dispersado devido à brisa que se formava naquele momento. A face da personagem escondia-se num capuz do manto que usava, esvoaçando ao sabor do vento. Apenas um sorriso maléfico e sombrio brotava daquela figura. Alstreim observava-a, à medida que a distância entre eles parecia diminuir a uma velocidade considerável, apesar de nenhum deles fazer qualquer movimento.
- Aho musuko. – uma voz rouca, grossa e pausada, saia da boca da figura misteriosa. Os lábios moviam-se lentamente, o sorriso desaparecia. Parecia de alguma forma chateado, ou simplesmente era uma maneira séria de se manifestar. De qualquer das maneiras, fitava hostilmente Alstreim.
O rapaz demorou a perceber que aquele adulto se dirigia para ele. Afinal de contas, apenas estavam ali os dois. Mas quem seria? E onde raio se encontravam? A última coisa de que se lembrava era de estar a treinar com Yomi. Yomi! Olhou para todos os lados, mas não a encontrou. Começou a ficar nervoso, sem saber o que fazer. Dentro de pouco tempo iria entrar em pânico. Estava a cumprir o treino nas traseiras do dojo, pelo menos antes de colapsar. Não havia maneira de ter ido ali parar. Tinha colapsado devido ao cansaço daquele treino, mas Yomi devia o ter levado para dentro de casa, para poder descansar. Se ela não se desse a esse trabalho, ao menos não o deixaria sair dali, mas conhecia Yomi bem demais. Então, porque raio estava ele naquela floresta?
- Qu-em és tu? – perguntou, tentando acalmar-se e obter alguma informação.
- Ninguém. – pelo tom de voz, não parecia estar a brincar. A corrente de ar intensificou-se, descobrindo a face da figura misteriosa. As suas feições continuaram imperceptíveis, devido a estar de costas para a intensa lua cheia, mas era possível verem-se fios de cabelo azul-escuro, que brilhavam ao luar. Eram parecidos aos de Alstreim, apesar de não serem espetados e descaírem numa fita branca que o outro usava na testa. – Ninguém, por agora. Ninguém que te interesse. Posso até não ser ninguém neste mundo, mas no futuro, serei algo para ti. Serei algo para toda a gente, se me ajudares, claro.
- A-judar? – aquela resposta deixava-o ainda mais confuso.
- Sim. Neste momento és capaz de ajudar tanto como uma pedra. Treina e até lá, iremo-nos encontrar mais cedo do que julgas. Afinal, existe algo especial em ti. - a figura desfez-se numa matéria negra, que se dispersou na direcção de Al.
A escuridão apoderou-se da sua vista. Abriu os olhos, que pelos vistos estavam fechados e enxergou uma divisão que se assemelhava ao quarto de Yomi. Ainda não acreditava no que tinha acontecido, mas pelos vistos, parecia ter sido tudo um sonho. A cabeça doía-lhe, o corpo dormente, movia com dificuldade os membros. Beliscou a bochecha para testar realmente se estava acordado, até ser interrompido por algo.
- Al! Já acordaste! – Yomi encontrava-se sentada à beira dele, agarrando a sua mão. Feliz, sorria de olhos fechados ao ver que o amigo tinha acordado. – Dormiste durante uns dois dias.
Dois dias? Não estava mesmo habituado a treinar… Com um simples treino daqueles, tinha ficado naquele estado. De certo que no futuro as coisas iriam ser diferentes. Estava completamente recuperado, teriam de continuar o seu treino. Perguntou o que iriam fazer a seguir, ao que Yomi respondeu com um sorriso enorme na cara.
- Torneio Genin! Estive a pensar e não há melhor sítio para testar a tua força do que no Torneio Genin que aí vem. – agarrava uma carta, com a inscrição de Alstreim preparada. – Apenas temos de ir até Kiri, já tratei da inscrição. Perder ou ganhar, o que interessa é participares e começares a habituar-te a estas coisas. Eu trato de ficar na plateia a torcer por ti.
Fantástico. Agora tinha que participar num torneio genin qualquer. No entanto, ela tinha razão, iria ser importante de uma maneira ou outra. Ver o quão forte são os Genins que andam por aí e aperceber-se em que nível estava. Pensou na ideia durante largos segundos, com a mão a segurar o queixo. Aceitou. Houve uma pequena festa naquela tarde no pátio de casa de Yomi. Afinal de contas, era sempre bom festejar por alguma sorte.
No próprio dia partiam para Kirigakure. Nunca tinham estado lá, sem dúvida que só a viagem seria enriquecedora. O percurso iria ser longo, teriam que cruzar o mar a seguir ao País do Fogo. A inscrição do torneio vinha com uma autorização para deixar a vila durante o período da competição, portanto não houve qualquer problema com os guardas da vila. A entrada em Kirigakure também estava garantida. O pior era mesmo o tempo que iam demorar. Enquanto caminhavam pelo exaustivo deserto do País do Vento, Alstreim pressentiu uma presença atrás de si.
- A-a-apollo?!? – gritou, ao ver o Inuzuka quando deu uma vista de olhos para trás. Apollo, sem saber o que fazer, atirou-se para trás de uma duna, ficando com um pouco dos cabelos escarlate de fora. O cão dele continuou sentado no mesmo sítio, à vista desarmada. - Sabes que continuamos a ver-te… Certo? E mesmo que não te víssemos, o teu cão denuncia-te... – suspirou pausadamente, ao assistir a uma coisa daquelas. Apollo fez um gesto com a mão e o cão veio ter com ele, ficando com a caude de fora da duna. Não obteve nenhuma resposta da parte deles.
- Não vejo ninguém, Al. De quem falas?
A sério, Yomi? Parecia que ela não sabia realmente de nada. Que criatura inocente, no fundo, uma das características que atraiam Alstreim. Mas bem, não se estava para chatear. Sabia que Apollo também ia para Kirigakure, agora tinha a certeza que não podia fazer má figura à frente do seu primeiro grande rival. No entanto, se as coisas corressem mal, preferia que ele não estivesse la para ver. Num instante, agarrou a mão de Yomi e desatou a correr deserto fora, numa última tentativa de despistar o Inuzuka. A caminho de Kirigakure.