Deixando o passado para trás
Nasce um novo dia na vila de Konoha. Por entre as caras dos antigos Hokages, cravadas nas montanhas de Konoha, penetram umas pequenas e delicadas fixas de luz. A vila começa a acordar. O leite acabara agora de ser entregue na última casa de Konohagakure, o canto dos pássaros rompe por entre as janelas que ficaram abertas durante a noite quente da primavera. As flores de cerejeira começam também a acordar para serem mais uma vez contempladas pelos cidadãos. Entretanto, no portão da vila, uma pequena e frágil família se prepara para sair da vila.
- Hikari? Hikari! Onde estás? – Chama Megumi, procurando pelo seu filho, Hikari Shinta – Mas que coisa… Mesmo sabendo que temos de partir cedo… Hikari! Hikari!
- Bem… Está-lhe nos genes. Cinco anos já se passaram e cada vez mais se parece com o seu pai – Diz Angelus, único que se encontra ali para se despedir – Ah, é verdade… Os outros pediram desculpa por não poderem vir se despedir. Tiveram uma missão urgente e foram obrigados a partir ontem ao fim da tarde – Explica.
- Ah… Não faz mal. É melhor assim pois não sou muito boa para despedidas – Responde Megumi – Mas onde raio está aquele rapaz? Hikari! – Tenta mais uma vez chamar por Hikari.
- Não te preocupes, eu vou rápido procurar por ele. Penso que sei onde ele está – Diz Angelus, afastando-se de Megumi, em direcção ao parque – Eu volto logo com ele.
A vila já se movimentava. Podia-se ver os mercadores a entrar e a sair por entre os portões, os comerciantes gritavam as suas promoções e os ninjas quase que voavam, saltando pelos telhados das casas.
Chegando ao seu destino, Angelus sorri… Ao fundo podia-se ver um pequeno rapaz, com cabelo castanho frisado, olhando a montanha dos Hokages com o seu caderno e lápis de cera ao lado.
- Terminei! Yai! – Diz Hikari, esticando-se para trás, na relva.
- Então era aqui que estavas! – Diz Angelus, aproximando-se.
- Angelus-sensei – Diz Hikari, levantando-se.
- A tua mãe está à tua procura. Sabes que não deves preocupar a tua mãe, não sabes? – Pergunta Angelus.
- Hei sensei… Para onde eu e a minha mãe vamos? – Pergunta Hikari.
- Iwagakure… Uma vila pacífica muito distante daqui – Responde Angelus.
- Ah? Porquê? Porque tenho de me separar do sensei e deixar todos os meus amigos para trás? – Pergunta Hikari – Eu não quero!
- Sabes, considera isto como uma táctica ninja: uma retirada estratégica para vencer o inimigo – Diz Angelus, entusiasmando-se e fazendo alguns golpes de luta corpo a corpo.
- Sensei, seu idiota – Diz Hikari, rindo-se de Angelus.
- De qualquer maneira, vamos – Diz Angelus, reparando no caderno de Hikari – Oh! Que é isto? – Diz, pegando no caderno que continha um desenho feito por Hikari – Um desenho?
- Sou eu, o sensei e a mamã – Diz Hikari, sacudindo as calças, que continham pedacinhos de relva pegados.
- Mas aqui estão seis figuras… Quem são estas três aqui? – Pergunta Angelus.
- Não sei… Apenas tive vontade de desenhar esses aí, apesar de não saber quem são – Diz Hikari passando por Angelus a correr – Vamos! A mamã está à espera.
- Sim, sim, já vou. Hei, importaste que fique com este desenho como recordação? – Pergunta Angelus, guardando o desenho.
- Podes sim… Afinal era para te oferecer quando partíssemos – Diz Hikari que já se encontrava bem afastado de Angelus.
- Hei espera! – Diz Angelus, indo ao encontro de Hikari – Talvez esteja a pensar demais, mas tenho a sensação que já vi estas figuras em qualquer lado – Pensa.
A manhã já ia a metade, a temperatura estava bastante agradável e a passividade da vila formavam um conjunto de pequenos aspectos que criavam um ambiente propício ao desenvolvimento social de Konohagakure.
Ao se aproximarem do portão, podia-se avistar Megumi, a conversar com alguns conhecidos dela que, graças ao atraso de Hikari, conseguiram se despedir da jovem mãe.
- Mamã! – Grita Hikari, vendo a sua mãe ao longe.
- Hikari! – Responde Megumi – Onde estiveste? Raios… Sais mesmo ao teu pai, só me fazes ficar preocupada – Diz Megumi, colocando um chapéu com um bocado de tecido vermelho na cabeça de Hikari.
- Tive no parque a desenhar! – Diz Hikari com um sorriso.
Angelus aproxima-se, segurando algo na sua mão direita.
- Toma pequenote… Um pequeno livro e um pincel. Agora que estás quase a fazer seis anos e vais entrar numa fase nova na tua vida, como a entrada para a academia ninja, quero que apontes tudo o que achas interessante neste pequeno livro. Frases, tácticas, desabafos, tudo o que quiseres. Apenas imagina que estás a falar comigo e encontrarás a resposta a todas as tuas dúvidas – Diz Angelus.
- Posso também desenhar? – Pergunta Hikari.
- Sim, desenhar também é permitido. Apenas nunca, mas nunca, deves deixar de utilizar este livro. Como teu sensei, levarás um raspanete se sei que não conseguiste cuidar bem disto – Diz Angelus, pondo a mão na cabeça de Hikari.
- Obrigado Angelus-sensei – Diz Hikari, abraçando Angelus – Eu prometo que vou tratar bem destes presentes.
- Vamos, Hikari – Diz Megumi, pegando na mão de Hikari e partindo para fora da vila.
- Faz boa viagem! Toma conta da tua mãe! – Diz Angelus, abanando o braço, em sinal de adeus.
Hikari apenas olha para trás, vendo o seu sensei, e melhor amigo, ficar cada vez mais pequeno. Baixa a cabeça, suspira e olha para a frente com extrema dedicação. Mãe e filho, juntos, vão em direcção a um novo futuro, deixando o passado para trás.