Os dois jovens já adentravam o País do Fogo, e não tardaria muito para chegarem a Konoha. Tora insistia que poderia ir sozinha, afinal sem ajuda alguma chegara a Ame, mas Kyoichi fazia questão de acompanhá-la. Aceitava sua companhia a contragosto, mas acabava perdida em seus próprios pensamentos; teria muito que explicar quando chegasse a sua vila, principalmente a Nobuo. Suspirava longamente só de lembrar o sermão que seu pai dar-lhe-ia, acabando por desequilibrar-se e quase cair de um galho:
- Ei, melhor prestares mais atenção! – Kyoichi dizia, aproximando-se da Nara para ver se havia algum machucado.
- Gomen – ela respondia sem graça, e com alguma dor no pé direito. – Não parece ser nada grave, podemos continuar e... Ai! – Reclamava, ao tentar pôr-se de pé, novamente quase caindo do galho.
- Pareces ter torcido o pé... – o jounin concluía, após uma breve olhada. – É bom não estares sozinha neste momento, terias dificuldades para chegar, ainda estamos relativamente longe – dizia, enquanto colocava-a em suas costas.
- Nã... Não precisa, Kyoichi-san, posso... – a kunoichi era interrompida com um breve “psiu” por parte do Chinmoku, que indicava com gestos que não estavam sozinhos.
Em silêncio, o rapaz corria com a garota às costas, procurando pelas presenças que havia sentido e algum lugar onde pudessem esconder-se. Chakra a nível jounin, em número de dois ao que podia perceber. Estavam em desvantagem, afinal a garota ainda era uma inexperiente gennin, além de estar machucada. Tora perguntava-lhe o que estava acontecendo, enquanto os chakras aproximavam-se:
- Quem és? – uma voz ecoava ao longe, em direção a Kyoichi.
- Esta voz... Não acredito – a Nara parecia chocada.
- Ei, você, por que foges? – uma segunda voz ecoava, já mais próximo.
- Não... Não acredito! Shi... Shikamaru? - perguntava ao vento.
- To... Tora, és tu? – perguntava a voz.
- Kyoichi-san, por favor, pode parar. Não são inimigos.
O Chinmoku parou, todavia sem baixar a sua guarda. Dois vultos aproximaram-se dele, logo reconhecendo a pequena silhueta às suas costas. Esta dava um sorriso e um pequeno aceno de mão, pedindo de seguida para descer. Era prontamente atendida por um jounin bastante desconfiado, e ainda com a guarda fechada:
- Quem é este, Tora? – Shikamaru perguntava, também desconfiado.
- Não se preocupe, Shikamaru, esta é uma longa história. Mas bem, como posso dizer... Ele também é um primo meu.
- Tora-chan então descobriu mais sobre sua família? – Raiden perguntava, encostado a uma árvore.
- Hai, Raiden-senpai. Mas bem, por que estão aqui? Vocês foram até Ame procurar por mim?
- Sabes que estás bem encrencada, certo? – o Nara desconversava.
- Parece que ela estará bem de agora em diante, então posso retornar a Ame sem grandes preocupações. Creio que ela torceu o pé direito, então levem-na ao atendimento médico imediatamente.
- Não eras tu que estavas há dizer há cinco minutos que ia levar-me à Konoha, Kyoichi,san? – a kunoichi perguntava, provocando-o.
- Não se faz necessário, afinal conheces estes shinobis.
Conversaram durante mais alguns minutos, Tora explicando brevemente como conhecera Kyoichi e o porquê de não terem encontrado-se anteriormente. O Chinmoku então despedia-se, correndo em direção contrária a que anteriormente dirigia-se, deixando a kunoichi com os demais konohanins. Shikamaru colocava-a em suas costas, enquanto tomavam o caminho de volta para a vila da Folha, já dando algumas lições de moral na gennin, que ouvia tudo calada por saber que não estava certa. Raiden mantinha-se calado, e a garota perguntava-se sinceramente o porquê dele ter vindo procurá-la junto a seu primo, que avisava-lhe sobre o torneio que iria acontecer em Kiri dali a mais uns dias. Tora animava-se com a notícia, mas o cansaço acabava por fazê-la adormecer antes de chegar a Konoha.
(...)
O dia amanhecia, e o sol entrava pela janela, lançando seus raios diretamente sobre o rosto da pequena kunoichi de cabelos azulados. Piscando os olhos, abria-os lentamente, notando o seu velho e conhecido quarto. Nada estava fora do lugar, embora poucos dias haviam-se passado desde que fugira. Fugir... Seu pai certamente estava chateado, mas ao menos não fora uma viagem de todo inútil. Levantou-se calçando suas pantufas, enquanto dirigia-se ao andar de baixo, pronta para receber uma punição por sua desobediência.
Ao chegar às escadas, a sala estava completamente vazia, mas um cheiro delicioso de panquecas invadia suas narinas. Desceu o mais silenciosamente que pôde, chegando à porta da cozinha, onde de costas para si, seu pai preparava suco de laranja. Na mesa, podia-se ver umas torradas e panquecas, frutas, pães doces e outras guloseimas que Tora adorava. Com os olhos marejados de lágrimas, sussurrava um quase inaudível “Gomenasai, Papai”, que Nobuo escutara. Sorrindo, respondia-lhe para não preocupar-se, e sentar-se à mesa, ao que a Nara prontamente obedecia-lhe:
- Gomen, Papai! – dizia uma vez mais, sem conseguir encarar o jounin à sua frente.
- Devias de dizer outras palavras além destas desculpas, Tora-chan. – ele dizia, servindo-se de um copo de suco, sentando-se em seguida. – Sim, eu fiquei chateado, mas... Sei que tinhas um motivo. Tenho que me acostumar, afinal queres ser uma ANBU. Por isso, inscrevi-te no torneio gennin que Kiri está a realizar.
- Nani?!
- Eu acredito que serás uma ótima kunoichi! – finalizava Nobuo, com um sorriso no rosto.
(...)
O torneio já havia acabado, enquanto Tora sofria uma profunda crise de identidade. Sabia que era uma kunoichi, e no início até estava empolgada em batalhar, mas depois não via mais sentido. Também preocupava-se com seu futuro, cedo ou tarde Aoshi procurar-lhe-ia. Estaria preparada? Era verdade, havia tornado-se uma chuunin, mas quão forte seu pai biológico seria? Pensamentos como estes eram interrompidos por Hana:
- Tora-san! Vais à minha festa, certo? Não aceito não como resposta! – dizia a também chuunin, entregando um convite à Tora.
- Hai, hai, não se preocupe, jamais faltarei a esta festa. Tenho até um presentinho especial para ti – retrucava a Nara, provocando a amiga.
- Presente? Que presente? – a Yamanaka perguntava, curiosa.
- Achas mesmo que direi? Espere até o dia da festa...
- Hai... Sua malvada! – respondia a loira, fazendo cara de triste.
(...)
Os dias passavam calmamente. Tora já havia realizado sua primeira missão como chuunin, mas algo inquietava-lhe, como se tratasse de um mau pressentimento. Respirava fundo, enquanto embalava ela mesma o presente de Hana, indo de seguida arrumar seu cabelo no salão. Por ter escolhido um penteado simples, e seus cabelos não serem muito compridos, acabou voltando cedo para arrumar-se, o que realmente não apetecia-lhe. Acabou perdida nos seus pensamentos, no que faria dali para a frente, caso Aoshi viesse em seu encalço:
- E se eu for atrás dele? Não acho justo, afinal já deixei meu pai preocupado por duas vezes... – pensava alto, dando um longo suspiro.
Percebeu que já eram horas de começar a arrumar-se, o que não demorou muito. Seu vestido tomara-que-caia longo, de cor azul claro, era simples e fácil de vestir; os saltos também eram descomplicados. Tora já havia terminado os último retoques em sua maquiagem, quando uma leve batida em sua porta fazia-se ouvir:
- Bem, hora de deixar as preocupações de lado, Nara Tora e Chimoku Amaya. Vamos divertir-nos! – dizia para sua imagem no espelho, enquanto apanhava o presente e saía para a festa.