Afastei-me, em forma de poça de água, pelo curto beco deixado entre o corpo da invocação e do solo. Sentia indescritíveis dores, concentradas maioritariamente nas costas, mas optei por ignorá-las e limitei-me a derrotar o animal.
Moldei a água até formar o meu corpo de novo, fitando-lhe as órbitas negras com agressividade. O crustáceo ainda pingava sangue do seu abdómen, notando-se algum nervosismo pelo constante chocalhar das pinças.
- Não quero usá-lo… - Pensei focando um pouco de chakra acompanhado por uma rápida sequela de selos. O caranguejo percebe a minha preparação, atacando de imediato com a ponta da sua pinça que visava rasgar-me a meio, levando-me a saltar para o lado, esquivando o embate, e depois saltar de novo para o lado oposto, pousando em cima da própria pinça e assim permitindo-me soltar o chakra - Raigen Raikochu! - Vociferei cegando, mais uma vez, os pequenos olhos da invocação.
Criei a abertura perfeita, encurtando a distância em rápidas passadas. Mediante o crustáceo se mantinha ocupado com a sua falta de visão, aproveito e coloco-me debaixo do seu abdómen mais uma vez, já com a dose de chakra certa e com as lâminas de água formadas, preparando-me o corte.
Então, vi as pernas dele a preparem-se para dobrar. Numa escolha rápida entre o sofrimento ou a morte dele, optei por instinto a saltar fortemente para trás, batendo contra o solo mas esquivando o impacto do seu corpo a colidir contra o chão. Afinal, a invocação não era tão idiota quanto eu pensava pois já preverá que eu tinha o seu abdómen como alvo.
- Futton: Suppai Bunshin no Jutsu! - Pronunciei ao juntar um único selo de mão, espalhar chakra ao longo do meu corpo e criar duas cópias a meu lado, perfeitamente iguais – Vamos combinar esforços. Tu… - Aponto para a cópia à minha direita - … Vais usar o Mizu Kamikiri para desequilibra-lo. Tu e eu… - Aponto agora para a outra - … Vamos aparecer debaixo do seu abdómen e matá-lo de uma vez - Olho então para o crustáceo, que se aproximava, movendo freneticamente as suas dez patas e chocalhando cada vez mais as pinças - Agora!
Saltamos em direções separadas, esquivando da pinça que batia contra o solo onde estávamos, criando lá outra cratera e levantando uma cortina de poeira. Eu e o clone que cooperaria comigo para atacarmos o abdómen movemo-nos separadamente, cada um para um lado para assim combinarmos a investida. O terceiro clone moveu-se para a frente do crustáceo.
- Suiton: Mizu Kamikiri! - Gritou este após a união de selos e de aglomerar a quantidade certa de chakra que lhe havia proporcionado.
Um súbito feixe de água surge abaixo das patas da invocação, cortando solo e atingindo-lhe o abdómen com grande força, criando-lhe um corte onde mais sangue verde se jorrava e elevando-lhe as patas dianteiras para o ar, obrigando-lhe a manter-se em equilíbrio só com as quatro últimas patas traseiras.
Avançamos ao ver que o animal estava em desvantagem e o meu clone espalhou chakra ao longo dos braços para acompanhar-me com duas lâminas líquidas. Inesperadamente, a boca do caranguejo cuspe um potente fluxo de água que apanhava a minha cópia desprevenida, desfazendo-a de imediato em ácido que agora corroía o solo abaixo dela. Hesitei, vendo que o fluxo percorria agora um círculo, desfazendo-se do clone que levantara o crustáceo com Suiton, e dirigindo-me depois ante mim. Virei costas e preparei-me para uma rápida fuga, mas o fluxo de água já me havia atingido a espinha, empurrando-me de imediato contra a parede mais próxima e lá me prendendo como uma contínua corrente.
- Pode cuspir água? - Perguntava-me, estupefacto, espalhando mais chakra ao longo do corpo para transformar-me em água, “deslizando” para fora da corrente e depois voltar à forma original - O bicho é mais incrível do que parece…
Com uma extraordinária força nas patas traseiras, o crustáceo impulsionava o seu corpo para voltar a ganhar equilíbrio, pousando todos os membros no solo. Após isso, virou-se outra vez para mim, fitando-me com aqueles nojentos e minúsculos olhos negros. Não perdeu tempo em espernear na minha direção, investindo com as pinças em potentes dilacerações, às quais eu escapava com grande agilidade, em acrobacias e voltas, conseguindo, por fim, afastar-me alguns metros dele.
Com a distância criada, tive tempo suficiente de invocar, no meu pulso direito, duas kunais ligadas a Kibakuu fuuda. Dou um mortal para trás, ao mesmo tempo que as arremessava em direção aos seus olhos, invocando depois dezenas de shurikens que eram também arremessadas na direção das órbitas a uma velocidade estonteante. O caranguejo, incapaz de se desviar, limitou-se a colocar a pinça esquerda a intersetar o movimento, bloqueando sem problemas as explosões inicias e a dezena de projéteis que se seguiram.
Ajoelho-me no solo, exausto…
- Estou farto dele… - Penso, ofegante, olhando para a criatura que não mostrava grandes emoções e cansaço. Okashii havia criado uma máquina de guerra e estava a testa-la contra mim. Se eu devo de destrui-lo, não tenho a certeza… - Mas vivo não vai ficar! - Completo o pensamento ao gritar as últimas palavras para o caranguejo, que não parava de olhar para mim.
Levanto-me e depressa focalizo chakra na palma da mão até criar uma pequena esfera azul nela. Com os conhecimentos de Suiton: Mijin Supea, separo essa esfera em diversas gotículas, que se movem em altas velocidades na direção do crustáceo, atacando-o em diversas áreas da carapaça, mas sem conseguir causar um único arranhão.
-Futton: Suppai Bakuhatsusei no Jutsu! - Trovejo após mais chakra gasto e mais imagens com as mãos feitas, cuspindo pequenas porções de ácido diluído da minha boca, que rapidamente entram em contacto com a água ao longo da carapaça da invocação.
O meu objetivo, com o Suiton anterior, não era arranhar o meu adversário, mas simplesmente molhá-lo. São essas zonas molhadas que agora estão em reação com o ácido cuspido, criando ferozes explosões que nem a potente carapaça se via capaz de proteger, revelando então diversas zonas onde se distinguia a “carne” do animal. Criei diversos pontos fracos e, ao mesmo tempo, ainda tinha uma quantidade razoável de chakra para gastar.
- Futton: Kōmu no Jutsu! - Gritei agora o nome de outra técnica, focalizando chakra no peito e expelindo uma névoa acídica que infestava rapidamente a sala, fechada para que esta não escapasse, começando a corroer diversas zonas do caranguejo, este que tremelicava de dores ao longo do corpo, incapaz de defender-se - Não há defesa que me pare!
Brami partindo para cima do pobre crustáceo mediante este se via encurralado pela corrosão imparável. Crio as últimas lâminas de água, que agora espalhavam o pânico e dor ao longo da constituição da invocação, até que esta, após algum tempo, desaparecesse…
-Acabaste por corroê-la ate não sobrar nada… - Suspirou Okashii-sama, surgindo atrás de mim e olhando para o local onde estavam as duas últimas patas do seu caranguejo a serem “comidas” pelo ácido - Esqueci-me avisar-te que a queria viva…
Solto uma risada ouvindo as últimas palavras do Mizukage. Eu também não a queria matar, mas, a partir do momento que comecei a usar o Futton senti-me incapaz de parar. O elemento era, de certa forma, viciante e ao mesmo tempo assombroso.
Olho para trás e fito o meu amigo com um sorriso, este que também solta uma breve gargalhada apesar de nada ter feito para me ajudar. Sinto algo estranho na mão, um som não vulgar e então aproximo-as dos meus olhos, vendo a minha pele a corroer-se… Suspiro…
-Ainda não o controlas… - Suspirou Okashii-sama que fitava a pele da minha cara seriamente, levando-me a palmear a minha pele facial, sentindo enormes borbulhas a formarem-se e depois expelindo-se, corroendo-me a pele e causando-me dores - Senão fosse o Suika… Nem quero imaginar no estado em que estarias…
Desfaço-me rapidamente em água para evitar que o ácido ao longo do corpo corroesse o que não devia e assim fiquei, à espera que ela chegasse…