Levantámo-nos ao mesmo tempo, olhando para o corpo do outro e analisando-o. O lagarto dispunha de algumas feridas no peito, onde as mas profundas deixavam algum sangue pingar, e hematomas ao longo dos braços e pernas nuas. O meu caso não se encontrava melhor. Mesmo que o Suika absorva o estrago dos meus danos (lamento por também não absorver a dor), a pele não consegue esconder as pancadas que sofre e os meus músculos não se esquecem do esforço que lhes obrigo a exceder.
A invocação sibilou esquecendo, tal como eu começara a fazer, as feridas que o perturbavam. Rodou o alfange direito sobre a mão, soltando um fedorento grunhido na minha direção, abrindo a sua boca ao máximo e revelando a gigante língua e os dentes pontiagudos, e bem afiados por sinal, que se espalhavam ao longo dos maxilares. E avançou…
A investida começou com uma estocada que me obrigava a dar um passo para o lado como esquiva. Continuou ao rodopiar sobre si, esticando ambos os alfanges para criar um pequeno remoinho mortal, rasgando-me o casaco e um pouco de água da minha barriga, obrigando-me a tomar distância com um salto para trás. O lagarto soltava outro grito, parando de rodopiar e saltando contra mim de armas em riste. Parei-o de imediato, segurando, estrategicamente, os alfanges pelos cabos e impedindo-os de avançar. Frente-a-frente com o réptil, este move-se nervosamente, respirando com o seu mau hálito para cima de mim. Pressionava fortemente com os alfanges, tentando acabar a trajetória que me cortaria a cabeça, impondo-se à força que eu exercia nos braços, na tentativa de impedir a minha morte.
- Ele não é só rápido, é forte! - Pensava ao sentir as afiadas lâminas cada vez mais próximas do meu rosto - Tenho de improvisar! Futton: Sesshouku no Takai! - Aglomero chakra ao longo das minhas mãos, adquirindo-lhe de imediato uma tonalidade verde e propriedades acídicas.
O suor ácido das minhas mãos entra logo em contacto com os cabos dos alfanges, corroendo-os sem dó até separá-los da lâmina. O lagarto, confuso e assustado pela perda das suas armas, atinge-me na barriga com a sua cauda, fazendo-me cuspir sangue para o solo enquanto sentia o meu corpo a ser projetado para perto das armas sem cabo. O animal dá saltos para trás, recuando temporariamente.
Volto a cuspir algum do sangue, apoiando-me sobre o cotovelo para ver a invocação a bramir contra mim, mas sem tentar ataque algum. Levantei-me, algo exausto, e invoquei de imediato cinco kunai`s, que eram de imediato arremessadas contra o réptil como forma de distração, enquanto me levanto.
De pé, olho em frente, vendo o lagarto a saltar na minha direção, com uma kunai na boca e outras duas em cada mão. Suspiro:
- Boa Katsu, dá-lhe armas!
Em movimentos limpos e objetivos, o meu oponente manipula as pequenas facas com grande perícia quase acertando, se não fossem as minhas ágeis esquivas, em pontos vitais como o crânio ou coração. Sabia que o Suika me impedia de morrer dessa forma, mas a dor era, mesmo assim, insuportável e preferia evitá-la. A ponta de uma kunai acabou por rasgar-me a manga do casaco, sentindo de imediato a dor do metal frio a rasgar-me a água, atingindo na invocação com um pontapé na barriga, obrigando-a a dar passos para trás.
Realizei rapidamente alguns selos, focalizando de imediato um pouco de chakra na minha saliva, cuspindo-a de imediato em forma de pequenos projéteis verdes - Futton: Satsuei Fushoku! - Vociferei, correndo um pouco para trás para adquirir distância, invocando as Fuuma Shuriken dos meus pulsos.
A invocação tentava, estupidamente, defender-se da saliva ácida com as suas kunais, percebendo de imediato que era inútil pois o metal das facas via-se ineficaz com a “fome” do meu ácido. O animal urgiu de dor ao sentir alguma da saliva a corroer-lhe, superficialmente, as escamas e a deixar que algum sangue azul fluísse para a atmosfera. Fitou-me, louco de raiva…
Aproximou-se de mim e tentou, pela primeira vez, morder-me a cara. Coloquei o braço à frente, por reflexo, sentindo os dentes afiados a perfurar-me a carne de forma violenta, desfazendo-me o membro em água e deixando uma das Fuuma Shuriken cair. Temporariamente desmembrado, vejo-me desesperado ao ponto de recorrer ao outro braço para atingir na criatura com um Lariat, perfeitamente encaixado no pescoço e que o arremessa para longe de mim. Agacho-me depois para a poça de água ao lado dos meus pés, absorvendo-a para reaver o meu braço e depois voltar a pegar na shuriken gigante.
- A mordidela dele… É dolorosa! - Pensei, relembrando-me de há segundos atrás, quando a sua dentada me desfazia o braço sem grandes problemas. Lembrei-me da dor, da alucinante dor que me levara a afastá-lo de imediato. Lá vinha ele, outra vez…
Avançou, sem medo, tentando iniciar o confronto ao rodopiar a sua cauda, que desliza pelo chão, visando desequilibrar-me ao atingir-me nos gémeos. Saltei por instinto, ripostando ao arremessar ambas as Fuuma ao mesmo tempo, fazendo a invocação recuar de imediato com um espantoso salto à retaguarda. Pouso no solo e de imediato ajoelho-me sobre ele, cansado…
- Está na hora de terminar com isto… - Pensei, levantando-me e juntando ambas as mãos numa rápida união de selos combinada com a dose de chakra certa - Suiton: Bakusui Shōha! - Uma pequena porção de água abaixo dos meus pés começa a elevar-se, em sucessivas ascensões que se assemelham a uma fonte, soltando-se depois numa pequena onda de água que infesta a sala, empurrando fortemente o lagarto contra a parede, que se via sem escapatória. Não espere muito mais tempo pois já aglomerava mais chakra na boca e fazia os últimos selos - Futton: Suppai Bakuhatsusei no Jutsu! - Gritei, cuspindo pequenas porções de ácido altamente diluído que, mal entravam em contacto com o corpo molhado do meu adversário, reagiam, originando sucessivas explosões…
Atirei-me para o chão, muito cansado e cheio de dores ao longo do corpo. Senti, mais uma vez, o Futton a apoderar-se do meu corpo, tentando corroer-me, mas desta vez com menos intensidade. Olhei para o local das explosões, o corpo do lagarto ainda lá estava, inconsciente e em mau estado, mas inteiro. Posteriormente, olhei para as palmas das minhas mãos… intactas…
Okashii-sama surgia à minha frente de um Sunshin, sorrindo-me por ter completado o teste, chamando de imediato a médica que curaria das minhas feridas. E, pelo que parece, da metade da minha perna.
- O Futton parece estar a ganhar estabilidade. Só não acredito que não tenhas reparado que ficaste sem metade de uma perna a meio da luta… - Murmurou-me no meio de gargalhadas, fazendo-me sorrir de leve…