- Quem é vivo sempre aparece! - Exclamou uma voz grossa por detrás da nuvem de poeira, levantada pelo estrondo na parede - Katsu Imagawa, The Nightmare, aparece em nome dos Imagawa para conquistar o que sempre lhes pertenceu, Kusagakure!
O líder dos Fukeru, incrédulo, trocou um olhar rápido com a sua filha, fitando posteriormente a nova figura. A poeira amainava, dando a conhecer a expressão séria do mercenário com a qual encarava os seus inimigos. A aura negra, presente ao longo do seu corpo, depressa se espalhou pelo local, tornando o ar mais pesado e enchendo o coração dos que o respiravam de mágoa e sofrimento.
A cauda de Kimera contraiu-se e envolveu-se em redor das pernas, pousando o ferrão sobre o ombro da loira. Esta que olhou rapidamente para o corpo do seu parceiro, calculando cada parte do seu corpo e, prioritariamente, tentando perceber alguma razão pelo seu comportamento tão estranho (porém familiar).
- Katsu! - Chamou a princesa num tom sério e repreendedor - Porque estás a usar essas técnicas que o teu próprio clã te proibiu de usar?
- Digamos que… - Interrompeu-se por uns momentos, como se moderasse minuciosamente cada palavra que lhe queria dirigir. Após uns segundos, continuou - Sou um temporário líder do clã e que permiti a mim mesmo de usá-las. Alguma objeção, Fukeru?
Kimera ergueu a sobrancelha, ligeiramente ofendida pelo tratamento que o amigo lhe fazia. Deu um passo em frente, sem uma amostra de medo, e colocou a mão sobre a anca.
- Meteram-te macacos na cabeça, aqueles hippies desgraçados… - Proferiu a adolescente, olhando discretamente para Tadao para ter a certificação que ele não se aproveitaria da distração para um ataque.
- É por causa dessas merdas que nós estamos descontentes e não te queremos como líder! - Respondeu de imediato, deixando que a aura negra fluísse dos seu pulsos e se estendesse pelas mãos, ganhando forma até formar uma extensão dos seus braços - E não estou a brincar…
- “Nós”? - Perguntou Kimera, disfarçando o seu desconforto para com a nova técnica.
- Sempre cumpri as ordens do clã. Tu e o líder de Kusa são os inimigos, a vossa morte é o meu objetivo… - Limitou-se a dizer, dando um passo em frente e agitando ambas as garras.
Tadao, que se encontrava calado e atento, analisou os braços negros do Nightmare, que, de acordo com o seu tamanho e preciso cálculo do Kashikogan, eram capazes de chegar a qualquer ponto daquela sala. Tal alcance assustou-o, pois aqueles membros eram capazes de nulificar os seus Taijutsus, e da filha, e ainda causar danos. Assim, permaneceu ainda mais alerta, não percebendo se aquela conversa era para enganar, resultando num ataque em equipa para derrotá-lo, ou se existira um terceiro membro nesta luta pela conquista da vila.
Kimera apertou a mão contra o peito quando Katsu pronunciou aquelas palavras num tom gélido. Fechou os olhos, sentindo as próprias veias e sangue à volta do coração a gelar, levando a que cada batida se assemelhasse a um espasmo, extremamente doloroso e sem cura. Mordeu o lábio, nervosa, e reabriu os olhos, vendo que o Imagawa já não estava à sua frente.
- Não devias de fechar os olhos à frente do inimigo… - Sentiu a mesma frieza de há pouco a entrar agora pelos seus ouvidos. Estremeceu ao reconhecer a voz de Katsu e percebeu que ambas as garras estavam esticadas para trás, movimentando-se para a frente para um provável corte cruzado.
- Sabes que sou a única que posso dar-me a esse luxo - Respondeu secamente, embora com algumas emoções a transbordar, agachando-se de imediato e sentindo a aura sombria de uma das garras a rasar pelos seus cabelos loiros - Tu és um idiota por te aproximares tanto de mim!
Rodopiou velozmente, conseguindo virar-se para o oponente e encontrando nele uma abertura, pois a segunda garra ainda estava esticada para trás. Em movimentos rápidos e calculados, o dorso de Katsu sofreu sucessivos socos e pontapés, todos eles com uma técnica e brilho esplendorosos. O Imagawa reconheceu a superioridade, recuando alguns passos para trás e contraindo as extensões dos braços para assim. Kimera levantou-se, recuando também para criar alguma distância.
- Vocês são algum casal? - Por fim, Tadao fez-se ouvir, desejoso de matar a sua curiosidade que lhe atormentava enquanto os adolescentes lutavam entre si.
Nightmare riu-se para a sua parceira, fitando-a com seriedade. Devido à relação profunda entre ambos, Kimera “leu-lhe” o pensamento como se tratasse de comunicação mental entre ambos, precisando simplesmente de uma simples troca de olhares.
- Não, mesmo que eu quisesse - Respondeu a loira ainda com secura na voz, apagando e criando novas dúvidas na mente de Tadao - Mas não estamos aqui para falar… - Avançou com um perna, deixando que o chakra verde do seu exosqueleto se tornasse mais intenso - Desta reunião só quero a minha vila, mais nada!
Katsu e Tadao acompanharam a determinação na voz da princesa com um sorriso, intensificando cada um a tonalidade das suas técnicas. O verde e negro ficaram mais fortes e o próprio solo, frágil ante tanto poder combinado, começava a formar fraturas à volta do embate entre ambos, até que se ouviu o primeiro estalo.
Todos se entreolharam.
O chão estalou e depressa os três sentiram-se leve como penas. Pedaços gigantes de pedra separaram-se mediante as crescentes fraturas por lá passavam, deslizando e caindo na direção do rés-do-chão. Kimera percebeu a situação de imediato, desativando o seu exosqueleto para não sofrer uma queda demasiado dolorosa. Tadao viu e imitou, percebendo o raciocínio da sua filha. Surgiu um pequeno tremor de terra que levava a pequenos pedaços do teto a também começarem a separar-se, colidindo com o já fraco solo do primeiro andar e acelerando a sua destruição. Depressa os três caíram com as rochas, cada um sobre um pedaço e tentando encontrar um ponto de equilíbrio para se agarrarem e evitarem o colapso.

- Mas que… - Arata ouviu barulhos estranhos acima de si, virando o seu olhar para a direção do som e tentando perceber do que se tratava - A torre está a cair?
A sua resposta foi um pedregulho a embater violentamente ao seu lado, fazendo o chão das redondezas tremer com o embate. Uma gota de suor escorreu pela face do Jounnin, levando a que o desespero ganhasse terreno na sua mente. Outro pedaço de rocha embateu, não muito longe da sua posição. Assustado, agarrou no corpo da sua aluna, ainda inconsciente, colocando-a aos ombros e apressando-se a sair da área de embate.

Em pleno ar, Katsu esticou a garra negra na direção de Kimera tentando rasgar-lhe o corpo. A adolescente, sem o peso do exosqueleto, voltava a ser ágil como uma felina, apoiando-se sobre a sua plataforma em queda para saltar e agarrar-se na berma de outra, deixando que a anterior fosse destruída pelo seu inimigo. Depressa subiu para esta nova rocha, olhando e vendo que se aproximavam do solo. Tadao e Katsu também se aperceberam.
Todos estremeceram quando as rochas colidiram com os outros amontoados, sentindo as pernas a tremerem pelo choque e os dentes magoados por se terem esbarrado entre si. Acima de tudo, estavam aliviados pelo pior já ter passado e por voltarem a encontrar-se em solo firme, prontos para continuar a disputa. Até que ouviram o mesmo som: rocha a fraturar.
- O teto… - Suspirou Tadao, olhando para o céu e vendo mais fraturas a ganharem forma na superfície do teto, notando que algumas pedras pequeninas começaram a cair - O que é que vocês fizeram ao meu escritório!
Depressa cedeu, deixando que mais pedregulhos batem-se entre si e se apressassem a chegar ao solo, arrastando com eles pedaços das paredes que ainda conseguiram manter-se de pé depois do primeiro colapso.
O Kage depressa se ajoelhou no solo, ativando o Namanurui Sasori e esperando que o teto colidisse com as suas resistentes placas, esperando absorver o dano da colisão. Katsu pôs as suas garras negras em riste, esperando partir cada pedra que ameaçasse a sua vida. Kimera, irritada com as palavras dele, não se preocupou com a “avalancha”, correndo velozmente na direção do Nightmare, com a cólera a conduzir-lhe cada passo.
- Ela vai atacar-me? - Espantou-se o mercenário, relaxando a sua posição e abaixando as suas garras para irem de encontro à rapariga - Nesta situação?
Num corte duplo, os braços de Katsu moveram-se na horizontal visando rasgar, caso rasassem com as unhas, ou empurrar o corpo dela contra o obstáculo mais próximo. Como esperado, a loira esquiva-se com mortal, deixando que a aura negra tocasse friamente na sua lisa pele. Pousou no solo e continuou a corrida até estar relativamente perto do seu companheiro, se ainda se podia considerar assim.
Um pé cruzou o cenário e o queixo de Katsu desviou-se por um triz. Os braços de Nightmare não relaxaram, recolhendo para si a aura negra enquanto tentavam agarrar nas pernas da loira. Esta cortou a ideia, atingindo com uma rápida patada num dos pulsos do Imagawa e outra no seu peito, arremessando-o para trás. Deitado, este via um pedregulho gigante a aproximar-se perigosamente. Kimera, que reparou na gigante sombra a formar-se à volta deles, olhou para cima curiosa, substituindo a curiosidade por um medo que lhe paralisara o corpo.
- Sai! - Gritou Katsu, mas a loira não lhe respondia, mantendo o olhar fixo na sua sentença - Que merda, sai Kimera!
A voz grossa, mas ainda do Katsu, acordou o transe que constringira a princesa. Esta piscou os olhos, ainda um pouco zonza, e relembrou-se da proximidade que já tinha com a pedra. O tempo para escapar era muito curto e o coração de ambos começou a entrar em êxtase, palpitando a uma velocidade inacreditável mediante a adrenalina começava a espalhar-se pelo corpo.
Por instinto, as garras negras dispararam-se dos braços de Nightmare, esvoaçando até colidirem violentamente contra o pedregulho. Sucedeu-se o som de um estrondo seguido por uma densa nuvem de poeiras e pequenas pedras que começavam a cair sobre o solo. A nuvem afastou-se, permitindo que duas pedras enormes, provenientes do pedregulho, passassem e continuassem a trajetória. Ainda com o corpo louco de adrenalina, Katsu agarrou Kimera pelo pescoço, puxando-a e abraçando-a para o seu corpo enquanto ambas as pedras colidiam contra o solo, levantando mais poeira, que desta vez cobriu todo o cenário. O resto da chuva de pedras seguiu-se, embatendo violentamente, qual chuva de meteoritos.
- Já acabou… - Tadao deixara de sentir a pressão que as rochas faziam nas suas costas. Concluiu que havia acabado, afastando o monte de pedras em torno do exosqueleto com um simples abanar da cauda - Eles morreram?
O seu olhar percorreu todo o cenário, sofrendo com o desastre em que se tornara a sua torre. Pensou, por momentos, que a sua filha e o intruso haviam morrido. Antes da felicidade pela conquista de Kusa, permitiu-se a um momento de sofrimento e luto pela perda. A imagem da mãe dela, tão bela quanto a filha, vagueou pela mente, e uma solitária lágrima desceu pelo seu rosto sujo, pendendo pelo queixo e caindo sobre a palma da sua mão, estendida de propósito para apanhá-la. Nunca pensou que choraria pela sua maior inimiga…
Os Fukeru, Imagawa`s e Shugo estacaram após a derrocada da torre. Todos ficaram a olhar para o desastre, sem saberem o que fazer e a pensarem no que acontecera aos seus respetivos líderes. Os Fukeru (menos os Escorpiões Verdes e Arata), após se aperceberem que só Tadao ficara de pé, gritaram pela vitória, ignorando o inimigo à sua volta que começava agora a ficar desmoralizado pela perda da princesa e do mais recente líder dos Imagawa.
- Lamento, filha. Tu traçaste o teu destino… - Disse brevemente, não permitindo mais lágrimas - É melhor dizer algumas palavras…
O líder virou costas ao colapso, virando-se para os semblantes felizes e tristes, preparando e escolhendo algumas palavras para proferir um discurso em improviso, anunciando a sua vitória e ainda liderança da vila. Foi interrompido quando se notou algum movimento debaixo de um monte de pedras. Todos olharam para as pequenas a saltitarem e a afastarem-se do monte, até que um exosqueleto se ergueu, afastando tudo ao seu redor, revelando Kimera. Os olhos curiosos transformaram-se em repreendedores ou abismados quando viam que, agarrado a ela, se encontrava Nightmare, num beijo inesperado e caloroso.
Tadao esqueceu-se que chorara por ela, irritando-se por ainda estar viva e por estar a beijar um estranho qualquer, e inimigo! Não tolerou e a sua cauda bateu, impacientemente, contra o solo, preparando-se para terminar com eles.
Os lábios de ambos descolaram-se, revelando um certo rubor a alastrar-se nas suas bochechas, mas não passou disso. Os olhares de ambos estavam cruzados, comunicando-se mais uma vez, e entenderam os sentimentos e objetivos do outro. A aura negra à volta do corpo de Katsu começou a substituir-se por uma branca, reluzente e com ainda mais presença do que a negra. O ar deixara de ser pesado, tornando-se agora ainda mais límpido, ao ponto de dar prazer de se respirar.
- Amo-te… - Foi o que Nightmare pronunciou, antes de uma das suas garras brancas se formar e avançar contra a face de uma Kimera inexpressiva.