Pergaminho III
Sombras geladas
A noite estava escura em Kiri mas algo se movia no escuro. Vultos misteriosos saltavam de casa em casa em silêncio. Zef dormia pacificamente em sua casa mas algo de anormal o fez acordar, estava nu quando se levantou da cama vestiu os calções e pegou numa kunai que mantinha sempre perto dele e deslizou pelo corredor de casa. A sua sombra projetava-se contra as paredes do corredor, sombra essa estranha devido aos músculos que veio a desenvolver através dos treinos rigorosos do pai. Deslizou através da parede mas algo captou-lhe a atenção, vozes estranhas à casa e o mais estranho é ter visitas a esta hora da noite, talvez assuntos do pai, um ANBU devia estar sempre preparado para servir. Esgueirou-se para as sombras que estavam ao lado do quarto do pai. Estavam três homens dentro desse quarto e todos vestiam o uniforme ANBU, mas o mais estranho foi a conversa entre eles.
-Estas a falhar, o projeto já devia estar pronto para entrega. Sabes muito bem que ele não é um homem de muita paciência para estas coisas.
-Eu sei, ele vai estar pronto quando eu disser, ainda tenho algum trabalho que fazer mas já está tudo encaminhado, já tenho alguém dentro do terreno de que ninguém desconfia.
-Não podes estar a falar daquele idiota, nem estofo tem para lutar. Mas tu é que sabes a missão é tua faz como quiseres mas sabes muito bem que se falhares ele vem atras de ti.
-Eu sei, não preciso que me lembres sempre que me vês.
-Tu é que sabes, mas se falhares sabes bem que não podes contar connosco, estas nesta missão sozinho.
-Eu sei o que acontece se falhar. Nunca falhei numa missão antes e não vai ser agora que vou falhar.
-Ok.
Disseram os três homens enquanto desapareciam pela janela aberta. O pai de Zef voltou a dormir e ele também voltou para a cama mas sempre com aquela conversa na cabeça, qual era a missão do pai. Não é que morre-se de amores pelo pai depois de tudo o que o fez passar e faz, mas todo aquele secretismo com ausência de nomes tinha-o deixado intrigado. A manhã tinha chegado com um ceu limpo e sol agradável que salpicava a terra com um agradável calor ameno. Zef já estava de pé desde a madrugada, não tinha dormido muito desde a conversa que ouviu na noite anterior, por isso tinha ido ate ao pequeno jardim treinar com a sua katana. Hoje tinha a sua primeira missão com a sua nova equipa. Izuda tinha-lhe pedido para comparecer na entrada do edifício do Mizukage, parece que havia uma espécie de tarefa especial para ele que os outros membros não podiam saber. Ao fim de preparar a sua mochila de viagem dirigiu-se ao local indicado. Ao fim de cinco minutos Izuda dignou-se a aparecer, trazia o seu sorriso habitual e vinha a acender um cigarro, mas também trazia com ele uma coisa estranha. Por baixo do seu sovaco direito trazia um grande pergaminho de tom azul-escuro selado por um símbolo esquisito. Um arabesco prateado que simulava uma caveira partida em quatro partes.
-Bem Zef, esta é a nossa missão. Temos de entregar este pergaminho secreto a um posto avançado de Kiri no Norte daqui. Vai ser relativamente fácil, não esperamos encontrar grandes obstáculos.
-Entendido, mas onde esta o resto da equipa?
-Eles já estão no portão da vila, eu tenho uma tarefa especial para ti.
Disse Izuda enquanto o seu cigarro queimava.
-Tu vais ser o portador do pergaminho, das duas raparigas acho que tu és o mais capaz desta tarefa.
Izuda lançou o pergaminho na direção de Zef e este apanhou-o, olhando mais uma vez para o selo esquisito.
-Não vou falhar.
-Eu sei que não. Então vamos?
Disse Izuda com o seu habitual sorriso. Quando começaram a andar uma figura apareceu de um beco escuro, trazia uma mascara ANBU que Zef já conhecia muito bem.
“Pai”
O homem aproximou-se de Zef para apenas dizer.
-Não falhes.
E a sombra do homem voltou a desaparecer no beco escuro. Quando chegaram ao portão da vila as duas ninjas já se encontravam prontas para partir. Ambas traziam uma pequena mochila às costas. Inoue correu para os dois ninjas a correr como uma garotinha assustada, enquanto se debatia com as longas mangas do seu casaco.
-Bom dia!
Izuda fez um pequeno aceno com a mão como resposta e logo depois se juntaram todos para discutir a missão.
-Yosh! Bom dia a todos. Hoje vamos ter a nossa primeira missão em equipa. Vou passar já aos detalhes. A nossa missão é entregar uns documentos no posto avançado de Kiri a Norte. Devemos passar por uma vila algures na floresta onde vamos parar para descansar e pernoitar. A viagem também deve correr na maior das calmas, mas se encontraremos problemas temos de agir como equipa e resolve-los como tal.
Todos concordaram e a equipa dez estava oficialmente em missão. Zef tinha o pergaminho guardado na sua mochila, e parece que ninguém questionou o que era suposto entregar. Melhor para ele, pois não iriam haver discordâncias e discriminação. No início da viagem tiveram de passar um grande canal que rodeava Kiri de barco. Inoue estava cheia de entusiasmo, era a primeira vez que saia de Kiri e tudo era novidade para todos eles, mas para ela era ainda mais, não parava de fazer perguntas a Izuda a Zef e a Oroi. Por estranho que parecesse Inoue parecia nutrir algo por Zef, como se ele fosse um grande ninja com feitos lendários pois não parava de o admirar de alto a baixo. Uma das vezes Inoue caiu nos braços de Zef quando tentou ver um peixe que tinha saltado da água, caindo nos braços de Zef com uma risada. Oroi permanecia calada e só respondia a Inoue e a Izuda quando este colocava algumas perguntas, mas parecia estar sempre de olhos em Zef, talvez devido á sua ultima conversa com ele.
“Esperam de mim uma amizade mas será que serei capaz de isso?”
Rabiscava Zef quando Inoue se precipitou para ele numa tentativa de ver o que ele estava a escrever.
-O que estas a escrever? Isso é um diário? Posso ver?
Sempre no seu ritmo frenético de ser fazendo o barco oscilar nas águas calmas.
-N-não é nada de especial, é só um hábito que ganhei ao longo do tempo.
Respondeu Zef guardando o pequeno caderno na sua mochila.
-Podias-me deixar ver.
Dizia Inoue fazendo beicinho.
O pequeno barco fez um “poc” quando bateu na margem, os ninjas pegaram nas suas coisas e dirigiram-se para terra. A imensa floresta que rodeava Kiri estendia-se por quilómetros havendo apenas uma pequena brecha que se estendia num caminho de terra batida e que se prolongava para o interior da floresta sombria. Várias nuvens juntavam-se agora no céu tapando o sol e ameaçando chover. Oroi olhou par ao céu e depois colocou a sua mochila às costas.
-Parece que ainda vai chover.
Izuda também olhou e afirmou com um aceno com a cabeça, puxou de um cigarro acendeu-o e apontou para o caminho.
-Temos de seguir este trilho. Daqui a algumas horas estaremos na vila.
E assim começaram a andar pela floresta. Uma imensidão silenciosa de árvores de especto sombrio. Inoue corria de um lado para o outro apanhando flores, olhando para um qualquer bicho que se encontrava no chão. Oroi continuava silenciosa, mas algo nesse silêncio prendia a atenção de Zef até certo ponto que este se decidiu aproximar da rapariga. Havia qualquer coisa nela, que lhe prendia o olhar, algo familiar. Tão familiar que ganhou coragem para lhe falar.
-Então tens estado muito calada.
Ela olhou para Zef e este desviou o olhar para o chão.
-Não sabes mesmo começar uma conversa.
Disse dando um pequeno murro no ombro do rapaz e esboçando um pequeno sorriso. Zef olhou para ela e os seus olhos também mostraram um sorriso, já que tinha a boca tapada com as ligaduras.
-Já vi que a Inoue se dá muito contigo, acho que é das ligaduras.
-N-não sei.
Respondeu ele desviando o olhar.
-Acho que te fazem parecer misterioso, há raparigas que gostam disso. Mas não consigo entender porque as usas?
-N-não sei, desde sempre que me lembro de as usar.
-Então é porque tens um bom motivo para isso.
Oroi voltou a sorrir para o rapaz. E depois distanciou-se para ir ter com Inoue. Mas a conversa perdurou na cabeça de Zef, repetiu-se diversas vezes. No fundo Zef queria continuar aquela conversa, queria que durasse para sempre, afinal de contas era a primeira vez que tinha iniciado uma conversa com outra pessoa e isso fazia-o sentir-se bem, diferente capaz de qualquer coisa, parecia mesmo que podia ter ali um início de uma verdadeira amizade com aquelas duas raparigas. Quando finalmente chegaram á pequena vila, o céu já se encontrava no crepúsculo. A vila estava a na beira de um rio e podiam-se ver pequenos barcos ancorados a margem, barcos de pesca na maioria. Naquela hora vários edifícios projetavam a sua luz interior para a rua e cheiros convidativos enchiam o ar e as bocas dos ninjas de água. Tinha andado quase uma eternidade sem pararem para comer. Depois de andarem mais um pouco pela vila pararam numa pequena albergaria onde decidiram ficar para pernoitar. Izuda pagou os dois quartos onde iriam ficar e também pagou o jantar. Depois do jantar Izuda saiu do albergue para ir comprar um novo maço de tabaco enquanto os três ninjas ficaram no albergue. Zef foi para o pequeno jardim onde se pós a afiar a sua katana com uma pedra de amolar enquanto olhava para o céu agora preenchido por nuvens. O som que a pedra fazia ao deslizar no aço era melancólico e repetitivo e preenchia o silencio daquele lugar. As árvores sussurravam com a pequena brisa que passava de tempo a tempo, todos aqueles sons faziam um concerto calmante e pacífico. Mas tudo foi interrompido quando Inoue entrou no jardim a gritar.
-Zef!
E depois se abraçou ao ninja. Zef começou a ficar nervoso com aquilo, nunca ninguém o tinha abraçado desde a sua mãe e já não sabia o que fazer.
-Então Inoue que se passa.
Respondeu ele, sem saber o que dizer.
-Nada, so me apeteceu fazer isto. Que estas a fazer?
Inoue não parava de surpreender Zef, apesar de os três ninjas terem a mesma idade Inoue não deixava de ser uma criança. Tudo nela era de criança, a voz, o modo de agir, tudo.
-Estou a amolar a minha katana.
-Amolar?
-Sim, ou afiar se preferires.
-Ah ok.
Logo depois Oroi entrou para os avisar de que Izuda já tinha regressado e já era tempo de irem dormir. Quando entraram no albergue Oroi voltou a sorrir para Zef, feito este que voltou a deliciar o ninja. Quando Zef entrou no quarto Izuda estava na janela a fumar.
-Então Zef, como te estas a dar com as tuas companheiras?
-Bem acho eu.
-Isso é bom quanto mais unida estiver a equipa melhor. Assim haverá mais confiança e as missões correm melhor.
-É acho que sim.
-Realmente a Oroi tem razão, tens de treinar as conversas.
E os dois ninjas começaram a rir. Quando izuda acabou de fumar fechou a janela e caíram os dois no sono. Mas algo nas sombras do quarto se movia, dois vultos desceram do teto sem fazer um qualquer barulho, dirigiram-se a Zef para ver se já dormia e depois foram em direção sua mochila onde estava o pergaminho. Quando um dos vultos colocou a mão dentro da mochila encontrou-a vazia e o que se ouviu depois foi uma grande explosão. O quarto tinha-se agora tornado num monte de escombros e sangue espalhado pelas paredes. A sombra que tinha colocado a mão dentro da mochila cambaleava enquanto do seu braço direito escorria sangue sem parar. A outra estava de pé um pouco desnorteada com a explosão e também tinha alguns ferimentos pelo corpo devido a lascas de madeira que voaram com a explosão. Enquanto isto Zef e Izuda apareceram do nada, Zef encostou a ponta da katana nas costas da sombra ferida preparado para a perfurar a qualquer momento e Izuda apareceu por trás da outra colocando uma kunai ao pescoço do inimigo.
-Já vos tínhamos descoberto desde que desembarcamos.
Dizia Izuda, mudando completamente o seu sorriso para uma cara rígida e fria.