Kristea sabia que, se desistisse naquele momento, a sua consciência atormentá-la-ia. E, no entanto, sabia que estava desarmada. Sem as suas espadas, não conseguiria utilizar qualquer jutsu de vento e pouco conseguiria fazer se se metesse em problemas.
E se fosse mesmo o seu irmão? Perderia aquela oportunidade de o ver, de o conhecer? O seu irmão gémeo, que nunca conhecera e que estava no mundo do seu pai… Seria possível ele estar ali? Eram tantas as dúvidas que a percorriam…
Um vulto passou por entre umas árvores adiante.
Sem pensar duas vezes, correu naquela direcção. Estava ali, tão perto… Era só mais um bocadinho…
- … umas cinco horas, talvez. Mas foi bastante fácil assaltar aqueles mercadores. E então com aquele ouro todo…
Kristea parou repentinamente.
- “Assaltantes! Não, no que eu me fui meter… É melhor voltar… Não tenho hipóteses…” – pensava, assustada.
Voltou-se para trás para voltar e foi surpreendida por um dos assaltantes, que se posicionara atrás de si, sem ela se ter apercebido.
- O que temos aqui? Uma jovem ninja, hã? – dizia ele.
Não sabendo o que fazer, inconscientemente ergueu as mãos para fazer o selo de um dos seus jutsus, sendo detectada pelo bandido.
- Não vais, não…
Dizendo isto, o ladrão puxou de uma pequena faca e rasgou-lhe os pulsos com uma velocidade enorme.
- É um ninja… Nenhuma pessoa conseguiria ter essa velocidade sem o ser! – reparou ela.
- Bem, sim, já fui – respondeu ele, rodando a faca ensanguentada entre os dedos.
- E nós também – disseram quatro vozes em uníssono, cercando-a.
Kristea sentiu-se uma fraca. Como é que uma genin poderia vencer 5 ex-ninjas armados não tendo sequer uma arma e estando ferida?
- Ela ouviu alguma coisa?
- Sim, parece que sim – comentavam entre si.
- Então não temos escolha.
Num instante, Kristea foi mandada contra uma árvore. Aguentava bem as dores, mas será que aguentaria muito mais. Tinha que admitir que estava com medo do que poderia acontecer. Não conseguia usar jutsus, as suas mãos não se mexiam. Tinham cortado tendões e ligamentos, de certeza.
- Não vamos estragar esta cara tão linda. Que tal selarmos as memórias dela, para que não se recorde de nada? Poderíamos até fazer mais do que isso… - opinou o que tinha rasgado os seus pulsos.
- Sim. Porque não? Eu posso fazer isso, sou bom nisso. – concordava o outro.
- Força – encorajavam os restantes.
Perder as memórias? Não, não lhe podia estar a acontecer aquilo. O quanto se arrependeu de não ter seguido o que Ryu propusera. Fora insensata e ingénua. E isso sair-lhe-ia caro.
Uma rajada de vento repentina fê-la olhar para o lado, Ouvira uma murmúrio. Voltou a olhar para a frente e enfrentou o olhar do grupo de assaltantes. Foi então que viu uma espécie de sombra a aproximar-se velozmente e a atacar por trás o que se preparava para lhe selar as memórias. O assaltante caiu no chão, completamente inconsciente.
Antes que ela conseguisse ver a cara do seu salvador, já este atacava os restantes assaltantes, que caíam por terra. Estariam mortos? Ele atacava-os tão rapidamente que Kristea mal via o que ele fazia.
Assim que acabou de atacar, parou por uns segundos e Kristea viu-lhe o rosto. Era moreno, de olhos claros e cabelos escuros. Parecia-lhe tão perfeito e ao mesmo tempo tão familiar…
- Desculpa – disse ele, aproximando-se dela e tocando-a. Naquele preciso instante, ela desmaiou. Vira mais do que era suposto.
O som de alguém a aproximar-se fê-lo ficar alerta. Pôs algo sobre o colo de Kristea, que estava sentada, num sono sereno, e desapareceu.
Kenji Shinta surgiu do interior da floresta.
- “Julgava ter ouvido vozes…” – pensava.
Olhou em volta e viu um grupo de pessoas no chão, incluindo uma ninja de Konoha, que reconheceu como sendo Kristea. Acercou-se deles e procurou ver se estavam vivos. Apenas Kristea tinha pulso. Reparou no mau estado em que estavam os pulsos dela:
- “Não admira que não tenha conseguido usar jutsus.”
Kenji pegou no objecto que ela tinha pousado no seu colo, pegando em seguida na jovem ninja e levando-a para o hospital.
Kristea acordou poucas horas depois. Sentiu-se presa, provavelmente tinha ligaduras em parte do seu corpo. Viu que estava no hospital e que tinha alguém do seu lado. Levantou-se de repente.
- Calma – aconselhou Kenji. – Foste ferida.
Ela pousou o olhar nas suas mãos, pousadas nas suas pernas, para evitar o olhar de Kenji. Sentia-se uma inútil.
- Vá, o que é que se passou? – perguntou ele, calmamente.
- Eu fui insensata. Muito insensata. E meti-me em sarilhos, sem querer… Estava completamente desarmada e ainda para mais rasgaram-se os pulsos…
Kenji reflectiu por um bocado as palavras dela:
- Foste tu quem atacou aqueles homens?
- Não. Alguém me protegeu e fez isso…
- Reconheces isto? – inquiriu ele, mostrando-lhe um colar com uma cruz de prata. – Estava pousado em cima de ti quando te encontrei.
Kristea pegou no colar para observar melhor.
- Não…
Imagens assaltaram-lhe a cabeça. Eram tantas. Flashbacks e imagens que desconhecia sobrecarregavam-lhe a mente. Um rapaz moreno… Penas brancas… Sangue… Uma rajada de folhas… Alguém… Morte…
As dores que a Visão lhe estava a causar eram insuportáveis. Não queria gritar, mas foi mais forte que ela. Até que parou e ela caiu para trás, deitando-se na cama.
Kenji observava, espantado. Reparou nos olhos dela, agora raiados de sangue, e nas lágrimas involuntárias que lhe escorriam pelo rosto.
- O que foi isso? – preocupou-se ele. Não era normal acontecer aquilo a uma pessoa assim tão de repente.
- Uma Visão… Acordada… Quando estou acordada, dói. Dói tanto. Desculpa… Não tens nada a ver com isto e eu estou a envolver-te… – dizia ela, acalmando-se aos poucos.
O silêncio reinou por uns momentos, sendo quebrado por Kristea,
- O Ryu? Onde está o Ryu?
- Estás a falar daquele rapaz moreno de olhos azuis ou verdes que também é ninja? – perguntou Kenji.
- Sim! Onde é que ele está?
- Foi lá fora um bocado… Encontrei-o enquanto vinha para o hospital contigo e ele seguiu-me. Esteve sempre aqui ao teu lado.
Ela levantou-se e pôs-se de pé normalmente. As ligaduras caíram, enquanto ela caminhava para a porta.
- Espera, não é suposto… – disse Kenji, calando-se assim que olhou para os pulsos onde dantes estavam as ligaduras. Estavam imaculados, sem um arranhão.
Kristea parou na porta do quarto, virou-se para trás e disse, com uma cara sorridente:
- Desculpa por qualquer incómodo… E obrigada! Obrigada por tudo!
Na sua pele clara não se via absolutamente nada, estava perfeita e imaculada, como dantes.
Kenji sorriu ao vê-la sair do quarto.
- “Uma rapariga estranha… Mas parece que ainda nos vamos dar muito bem.” – pensou. E saiu do hospital.
Kristea encontrou Ryu no corredor. Abraçando-o, disse:
- Desculpa… A sério, desculpa-me…
Ryu, ao ouvir aquelas palavras, retribuiu o abraço.
- O que importa é que estás bem…
Apesar de já se encontrar calma, aquelas imagens da Visão ainda a assombravam. O que significariam? E quem seria aquele que a protegera?