Bem, lá reduzi o tamanho dos fillers. A começar neste. Estava escuro e frio. Parecia uma noite nevada de Inverno sem estrelas, num local inóspito. Por mais que andasse, por mais que olhasse em volta nada via para além da neve que lhe enterrava os pés. Era um brilho branco num ambiente impossível.
O frio parecia penetrar em todo o seu corpo, enregelando-a. Apesar de estar agasalhada, parecia que o vento gelado sabia como a manter completamente incapacitada. Nem a sua natureza quente conseguia fazer-se sentir perante tal situação. Os seus dedos estavam brancos e haviam perdido a sensibilidade. A sua mente já não raciocinava com coerência, vagueando pelos pensamentos, e o simples movimento do caminhar magoava-a profundamente. O desespero tomava conta do seu corpo. Sentia-se cega, apesar de ver nitidamente, abandonada para morrer…
Viu uma luz ao fundo. Embora pequena, fora o suficiente para acender uma réstia de esperança no seu debilitado coração. Não querendo ligar às dores que sentia, começou a correr. Não queria estar mais tempo sozinha…
Uma tempestade de neve surgiu do nada para a impedir de avançar tão rápido.
Alguém estava a controlar tudo aquilo? Tudo lhe dizia que sim, mas já não podia confiar nas suas próprias deduções. Aquele ambiente desesperante apoderava-se cada vez mais do seu coração. Frio, frio, frio… A solidão, a saudade e a aflição acorrentavam-lhe as pernas e não a queriam deixar avançar…
Os seus amigos, a sua família… O seu mundo, que tanto amava… Acabaria tudo assim?
A sua própria visão a enganava. Esticou os braços em direcção à luz e fechou os olhos por uns segundos, enquanto caminhava. Ao embater contra algo duro, abriu-os repentinamente.
Uma árvore de tronco escuro estava à sua frente. Os seus ramos estavam enfeitados com as mais belas flores rosa que tanto adorava. Uma cerejeira em flor no meio de um ambiente nevado? Só podia ser uma ilusão. Beliscou-se e sentiu a sua bochecha a arder. Afinal era verdade…
Deixou-se escorregar e sentou-se de costas para a árvore. Uma límpida lágrima deslizou pela sua face e ela sentiu-a cristalizar. O mesmo aconteceu à seguinte. E à seguinte… Até que percebeu que de nada lhe valia chorar. Não sabia como ali havia ido parar, não sabia onde estava… O seu coração era dominado pelo sofrimento e pela solidão. Nada mais importava. Acabava tudo ali.
Agora percebia o quanto desperdiçara, tudo aquilo a que não dera valor, tudo o que não fizera… Se apenas pudesse voltar atrás…
Um grito soltou-se da sua garganta, mas fora abafado por algo. A sua voz não saía… Levou uma das mãos ao pescoço. Viu que o gelo começara a cobri-la. Não havia mais nada a fazer… Apagando a sua mente, fechou os olhos e tudo ficou nublado.
Uma voz chamava ansiosamente por Kristea. Estava tão longe, mas ela ouvia-a tão claramente.
Foi então que regressou a si e abriu os olhos. A luz do dia ofuscava-lhe a visão, mas sabia que não estava junto da árvore. Aproximou uma mão da garganta. Estava normal.
Sentou-se rapidamente na cama, agarrando os lençóis desesperadamente. Teria sido um sonho ou realidade? Parecia tudo tão verdadeiro e tão nítido na sua cabeça…
- Kristea! – chamou a voz novamente com uma preocupação evidente, junto da porta do seu quarto.
- Ryu… - disse ela, mas a sua garganta seca transformou aquilo num murmúrio.
Ryu entrou no quarto repentinamente. A palidez e as lágrimas vermelhas que escorriam pela cara dela assustaram-no. Há muito que não a via sofrer tanto. Sentou-se ao lado dela na cama, para a tentar acalmar.
Kristea agarrou-se a ele, a chorar com sofreguidão. A força que aplicava inconscientemente deixava marcas no seu protector. Agarrava-o várias vezes, de modo a garantir que ele era mesmo real. Até que ele a parou e abraçou, colocando a sua face por entre os cabelos soltos da rapariga.
- Eu sei o que viste… Desculpa ter lido a tua mente, mas era melhor assim… Assustaste-me tanto com o teu grito… Não é verdade. Era só um pesadelo. Por favor, não fiques assim… - dizia ele, calmamente. – Eu sei que parecia tudo tão real e até fiquei com medo de te perder. Não fiques assim, pequenina… Eu estou aqui. Estarei aqui sempre que precisares.
A meiga voz de Ryu sossegou-a e ela tentou olhá-lo nos olhos. Nunca tinha sentido tanta necessidade de o ter ao seu lado. Ele era do que restava da sua família, o pai presente que nunca teve. Mais do que nunca, sentia falta de todos os que lhe eram queridos. Provara o amargo gosto da solidão com aquele pesadelo. Apenas desejava com todas as forças do seu ser que aquilo com que sonhara não fosse uma Visão…