Era o que dizia o bilhete que Daisuke encontrou na bancada de seu pai. Dobrado milimetricamente, aquele papel poderia ser sua porta de saída da academia. Ao deixar uma caixa de fósforos caír no banheiro feminino o incriminou pela primeira vez depois de dois anos se safando. Agora parecia que chegara a hora de pagar pelo que fizera. "Não vou desistir" - Tentava se convencer enquanto terminava de recolher centenas de aranhas que se moviam freneticamente no saco de cetim especialmente comprado para a surpresa final. Makoto também terminou sua parte. Apressado para retornar a casa e começar a se arrumar, sua mãe sempre levava horas para vestir o menino. - Preciso ir, antes que minha mãe reclame. - Justificou o magro antes de se despedir e sumir na penumbra até a saída.

O menino agora estava sozinho em seu plano. Amarrando bem a elegante bolsa pulsante, ele estremeceu ao levar aquilo junto ao corpo e passar pela fraca segurança daquele dia especial. Afinal, a maioria do corpo de ninjas de Sunagakure estava se arrumando neste momento para prestigiar seus filhos que se ternariam ninjas. Ele sabia que se o velho passasse mal por causa de sua fobia, ele certamente perderia a reunião e o loiro finalmente se formaria, deixando as consequências para depois que se tornasse um gennin. "Boa formatura." - Despedia-se o chuunin que ficara responsável pela segurança do local. Daisuke acenou com pressa e caminhou à passos largos sob o ruído de alguns fogos de artifício que indicavam que a festa começaria em breve.
 
- A essa hora meus pais já estão terminando de se arrumar. - Confidenciou para si mesmo ao atravessar os prédios de maneira veloz em direção à academia. Não demorou muito para alcançar o objetivo. O garoto olhou em volta para confirmar que não havia qualquer testemunha e escalou o prédio com agilidade que nem ele sabia que tinha. Talvez a ânsia de aterrorizar o velho lhe dava forças. "Já chego e armo tudo." - Comemorou ao ver que a janela da sala de reuniões estava entreaberta. Cuidadosamente terminando de abri-la, Daisuke mergulhou na sala vazia. Era uma sala de reuniões comum. Com o teto sustentado por grandes vigas de madeira, a sala tinha suas paredes cobertas por quadros de aviso e metas.

No centro, uma mesa redonda de mogno parecia destoar de todos os outros móveis da sala por sua elegância. Outra coisa que chamava a atenção na sala era o grande quadro negro afixado à parede onde um grande birô descansava com pilhas de papel nas laterais. "Onde colocar minhas amiguinhas?" - Pensou o garoto ao retirar a mochila de cetim pulsante do quimono quando estremeceu ao ouvir alguém se aproximar pelo corredor, obrigando-o a esconder-se embaixo do birô com dificuldade. Logo a porta corrediça se abriu e passos apressados atravessaram a sala de reuniões até o birô, abrindo algumas gavetas com nervosismo para então balbuciar algumas palavras que o loiro não ouviu, mas a voz certamente era de seu professor.
 
- Nossa, esqueci a bebida. - Sussurrou Toshio, ao fechar a gaveta e retornar com passos apressados de volta à saída. Daisuke ainda o ouviu fechar a porta corrediça quando sentiu o cheiro de comida que vinha da bancada. "Isso." - Pensou ao sorrir maquiavelicamente, esgueirando-se entre o móvel e a cadeira para sair do esconderijo. Confirmando sua suposição, seu professor havia deixado seu jantar desprotegido. Era uma caixinha fechada contendo um sanduíche de uma dos restaurantes de fastfood de sua família. Que ironia. Apressado, o loiro abriu cuidadosamente o embrulho e abriu a sacola de cetim por cima. Não demorou muito até que as aranhas descessem às pressas até a comida em dezenas de fios de teia que brilhavam com a luz dos fogos de artifício do início da festa.

Algumas permaneceram no local, enquanto outras começaram a se espalhar por todo o birô, enquanto outras já subiam nas mãos do loiro. Daisuke estava tão distraído em organizar sua pegadinha, que quase deixou de ouvir os passos do professor subindo as escadas. Dessa vez, o loiro fechou a caixa com zelo e saiu pela mesma janela que havia entrado, ficando escondido para testemunhar sua obra. Logo ele ouviu o ruído da porta corrediça e viu a sombra de Toshio ofegante levando a mão direita sob o lado esquerdo do peito. - Droga, estas escadas ainda me matam. - Reclamou o velho com a voz trêmula, dirigindo-se ao birô. O coração do loiro batia forte e ele escondia a boca na tentativa de segurar a gargalhada só pela ânsia em ver o que aconteceria.
 
Arrastando a cadeira para sentar-se, Toshio abriu a lata de refrigerante e deu um grande gole para se refrescar. - Itadakimasu! - Falou em bom som, juntando as mãos num cumprimento educado. A penumbra favoreceu os aracnídeos. O velho abriu a caixa e encheu a mão com seu suculento sanduíche, e o mordeu com grande vontade. "Urgh! Que gosto é esse?!" - Reclamou enquanto tentava mastigar ao crocante no tempero de seu jantar. Nesse momento, ele sentiu um "formigar" em suas pernas e na mão que segurava o sanduíche. Estranhando o que acontecia, apressou-se para pegar o guardanapo e cuspir o que havia mastigado. - Mas que merda é essa! - Gritou ofegante, enquanto tentava tirar o gosto do sanduíche da boca.

Nesse momento, os fogos estouraram e a escuridão da sala diminuiu o suficiente para que ele visse pequenos movimentos pelo seu corpo. "Meu Deus!" - Pensou ao levar a mão para a luminária do birô. Daisuke já não conseguia se controlar. "Click" - A luz se acendeu. E num grito descomunal, Toshio parecia se engasgar e arquejar, derrubando-se da cadeira ao rolar pelo chão em desespero. Olhando pela lateral da janela, ele gargalhava o mais baixo que conseguia, vendo o velho maldito de debater levando às mãos ao peito em agonia até parar de se mover. - Toma! Seu velho desgraçado! - Surgiu na janela em provocação, mas logo sua feição mudou ao ver seu desafeto com olhos injetados e inertes fitando o teto da sala de reuniões.
 
Entrando com uma calma zelosa, pronto para fugir se o velho retornar-se a se mover, o loiro chegou até o corpo e viu as aranhas andando sobre ele. "Putaquepariu, matei o velho!" - Pensou ao levar a mão à boca numa tentativa de conter o peso em sua consciência. "Agora que não vou me formar mesmo." - Concluiu quando começou a limpar o corpo do homem imóvel na tentativa de encobrir as pistas. Mas antes que pudesse sequer se aproximar da conclusão da queima de arquivo, Daisuke ouviu alguns passos subindo até a sala de reuniões. Olhando em volta, o futuro nukenin não teve alternativa senão fugir em disparada enquanto ainda tinha tempo. Saindo pela janela, ele saltou até a calha quando estremeceu novamente ao ouvir um grito feminino ao acender a luz principal do cômodo.

Lá do alto o garoto ainda conseguiu ver alguns chunnins entrando no prédio assim que ouviram aquilo. - Preciso fugir. Logo eles descobrirão que fui eu. - Desesperou-se com a ideia de que poderia ser condenado à prisão pelo resto de sua vida. Descendo num só salto, o loiro correu como nunca até sua casa. Seus pais já haviam saído e provavelmente já sabiam o que acontecera ao professor. O silêncio da residência era assustador. Rapidamente ele subiu as escadas e invadiu seu quarto, onde esparramou tudo o que poderia levar em sua cama. Arrumando sua mochila em poucos minutos, ele se despediu de sua residência com um olhar arrependido e partiu em direção à saída da vila. Tinha pouco tempo antes que eles fechassem as saídas.
 

"Putaquepariu, matei o velho!" - Ri alto . Foi muito bem apanhado no momento ahah. Mas gostei como ainda assim o Daisuke estava mais preocupado com a sua graduação.

Bom Filler, muito bem escrito como sempre. Vou já ler o próximo, a tua história está muito interessante.