~Huugh~ - Queixou-se uma voz na escuridão absoluta de uma sala, contorcia o seu corpo enrolando-se nos lençóis brancos da cama onde repousava tornando a imaculada brancura dos lençóis tingida de um vermelho escuro.
- Al...guém... - gemeu em dor elevando a sua mão para o espaço negro na esperança inútil de que uma alma viesse em seu auxílio. Dentro da divisão o homem estava sozinho, não havia ninguém que o socorresse... A mão do homem que se esticava para o vazio negro caiu em cima do pano cobria a cama à medida que as lágrimas cristalinas do homem lhe abandonavam os olhos assim como a sua consciência.
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Mira repousava à sombra de um carvalho sentindo a brisa que corria na ilha dos Shinwa-jõ no ikimono, o suave ressoar das folhas a serem movidas pelo vento dava ao lugar um ambiente de paz, o que era de certo modo irónico devido à eminente ameaça de ataque por parte da Hantã no me. O sol tinha raiado à pouco tempo e apenas alguns centímetros se erguia no horizonte dando ao céu uma cor ligeiramente avermelhada condizendo com as folhagens cor do fogo que anunciavam a chegada do Outono.
- Está demasiado calmo... - afirmava a mulher trajada ainda com roupas que usara para a guerra, umas calças azuis e uma camisola de cor negra coberta com um colete de proteção. - Odeio a calma antes da tempestade.
Não muito longe da floresta, numa planície árida, Zehel encontrava-se no seu treino matinal fazendo flexões com velocidade acordando os seus músculos. Tinha muita coisa na sua mente, o facto de Akira se ter revelado seu pai e que tinha estado a usar até àquele momento o nome de sua mãe, a guerra que estoirara, a descoberta de Valeria, antiga cidade na ilha das invocações. Era muita coisa para a cabeça de Zehel e de alguma maneira precisava de libertar tudo e a melhor maneira que arranjara era ocupar o seu corpo até chegar ao limite, fletindo os seus braços em grande velocidade não demorava muito a sentir os seus músculos a pedirem descanso, porém este ignorava o chamamento dos seus tecidos e continuava sem parar, respirando com força fazendo o ar dos seus pulmões sair e entrar. No meio de toda a agitação um ligeiro brilho surgira no pulso do rapaz de kirigakure, debaixo da ligadura negra que este usava para esconder o seu selo maligno o chakra de Akira começava a intensificar-se tentando chamá-lo, ao princípio eram apenas uns picos insignificantes de dor, razão pela qual o rapaz de cabelos negros não deu importância e continuou a realizar o seu exercício, mas a situação foi agravando até forçar Zehel a deixar o seu exercício e a agarrar-se ao pulso.
- Mas que raio se passa agora! - amaldiçoou o rapaz batendo fortemente com a mão no chão, as linhas negras do sela amaldiçoado começaram a espalhar-se pelo braço do kiri-nin.
-- Al...guém... - murmurava uma voz na mente de Zehel que se debatia por manter a sua consciência.
Sem perder um momento o rapaz elevou as suas mãos juntando-as numa série de selos para invocar o Contemplador, não havia tempo a perder, Akira estava mal e não havia ninguém no quarto do palácio de Valeria. Assim que a sombra da cabeça horrorosa surgiu no meio da névoa o invocador gritou logo para ela ir avisar Mira do conhecimento que tinha acabado de adquirir partindo sem despedida, correndo a toda a velocidade em direção a Valeria.
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- O corpo dele entrou em rejeição Mira! - exclamava um pequeno cão negro semelhante a Cereberus saltitando para junto dos pés da mulher loira, a pequena invocação estava perturbada, era ele que supostamente devia ter ficado a guardar o corpo do pai de Zehel. - Desculpa eu quando lá cheguei já ele estava inconsciente e coberto de sangue.
O pequeno animal estava dececionado pela sua falha levando a sua cauda baixa e uma expressão triste.
- Não te preocupes pequeno, não havia nada que tu pudesses ter feito. - declarava Mira reconfortando o pequeno, as feições desta no entanto não mostravam qualquer emoção, a preocupação da mulher pelo seu irmão era, naquele momento, superior a tudo. -Traz o recipiente para "a" guardar-mos. - pedira a mulher ao canino que a acompanhava fazendo o correr para os pisos inferiores do palácio, entretanto Mira dirigia-se a passo acelerado para o quarto de hóspedes do palacete onde Akira estava.
Inconsciente sobre os lençóis tingidos de vermelho jazia Akira, cujas ligaduras do peito se encontravam saturadas em sangue, no centro do peito do homem uma pequena luz azul demonstrava o seu brilho contrastando com o vermelho dos arredores. A bela fêmea acabada de chegar à divisão abriu rapidamente o seu colete enquanto correu em direção ao homem, acendeu sem perder muito mais tempo a vela que se encontrava na cabeceira da cama do homem e retirou de uma bolsa escondida no interior do colete um estojo que possuía instrumentos de cirurgia. Com o braço esquerdo empurrou o homem desmaiado fazendo-o ficar de barriga para cima e com a direita pegava uma tesoura do estojo, com precisão libertou as ligaduras que cobriam o peito do homem deixando a zona do externo ao ar livre.
O fedor de sangue coagulado cobria o quarto por completo, sendo quase impossível a qualquer humano, que não estivesse habituado àquelas situações, aguentar uns minutos ali dentro. As mãos de Mira moviam-se novamente, pegando desta vez uma faca cirúrgica extremamente afiada. No peito de Akira notava-se uma ligeira luz azulada irradiada de dentro do corpo do homem, a pele cobria por completo a fonte de luz e em redor desta feridas profundas abriam-se, com um golpe veloz o mulher de cabelos loiros provocava um corte no externo separando a pele que cobria a luz, a função do instrumento estava feito e com uma forte repulsão a mulher atirou-o contra a parede fazendo que este se espetasse nela, de novo dirigindo-se ao estojo pegou uma pinça e com uma das mãos abriu o corte que tinha feito no externo de Akira revelando uma pedra perfeitamente redonda de cor azulada aproximadamente do tamanho de uma bola de ténis de mesa. Com a pinça envolveu a esfera e arrancou-a da carne de seu irmão. Nesse momento pela abertura da porta entrou o pequeno canino que anteriormente acompanhara a loira trazendo de arrasto um frasco cheio com um líquido gelatinoso. Aproximando a pinça da borda do recipiente Mira deixou a pedra brilhante cair para dentro do liquido fechando de seguida a cápsula.
- Onde está ele! - gritava uma voz dentro do palácio que corria procurando sem cessar a porta que dava para o quarto do pai de Zehel.
- Aqui rapaz! - chamou a tia do kiri-nin indicando-lhe a sua posição, era necessário que o herdeiro de Zetsubõ tivesse conhecimento do que ali se passava... Assim que o rapaz de cabelos negros entrou no quarto deixou a sua Senshi no Ken cair e correu para Akira que ainda se encontrava inconsciente e de peito aberto. Uma mão atingiu-o na cara afastando-o da cama dando espaço a Mira de acabar o trabalho cozendo o peito ao seu irmão. Ainda queixando-se da bochecha o kiri-nin levantou-se encarando a sua tia com um olhar ameaçador aproximando-se da cama e analisando o que ali se estava a passar. Akira na cama cheio de sangue, a sua tia e uma pequena invocação parecida com o cereberus e o recipiente com a pedra azulada.
- Exijo uma explicação! Como me podem escolher para ser o vosso herdeiro se não me contam tudo, o que se passa no mundo! Eu preciso de saber mesmo tudo sem exceções! - gritava o rapaz irritado pelo desconhecimento de tudo o que se passava...
Continua