minerador ainda se regia pelos instintos, perdido em pensamentos animalescos de matar o humano à sua frente e deliciar-se com a comida por ele guardada. Nunca pensaria em tais atos se não tivesse a sua perna a latejar de dor (tal dor que era momentaneamente apaziguada pela adrenalina do duelo), faminto, sedento e desesperado por respirar ar puro ou ver a luz do Sol após horas preso sobre os escombros do desabamento.
- Não te distraias, animal! – Vociferou o samurai, acertando na exata palavra para definir o comportamento de Vlad. A sua espada, majestosamente quieta, apontava para a garganta do seu oponente – Nunca irás sair daqui vivo!
Atirou-se em frente numa velocidade estonteante, conseguido superar os reflexos de Vlad. A espada cortou facilmente superficialmente sobre uma das costelas do minerador, deixando um pequeno rasto de sangue deslizar debaixo da camisa totalmente suja; ferida que não era mais grave se anteriormente Vlad não recuara dois passos. Como o ataque não fora tão devastador quanto o samurai pensara, deixou um abertura que o seu oponente ousou aproveitar.
- Konoha Senpu! – Gritou, atingindo o samurai com um pontapé na cabeça, usufruindo-se da sua agilidade para de seguida atingir com uma rasteira, atirando o pesado homem para o chão. Com um grunhido animalesco, as suas garras rasgaram o ar ante a garganta do seu adversário tombado, mas a visão periférica permitira-lhe detetar uma lâmina a erguer-se até à sua cabeça, evitando-a com um rápido Sunshin para fora do seu alcance.
- Nada mal... – Grunhiu o samurai enquanto se levanta, mantendo sempre a sua arma preparada – Para um animal...
Num segundo Sunshin, Vlad ressurgiu perto da sua presa, cravando uma das garras na sua coxa, espirrando sangue e fazendo o samurai soltar um gemido de dor agudo, tão perto das orelhas do minerador que as pôs a vibrar, causando-lhe tonturas. Percebendo que o seu oponente se perturbara, por razões desconhecidas, o samurai não hesitou, atingindo-lhe com uma forte cabeçada na testa, fazendo-o cambalear para trás. A espada rapidamente encontrou o seu destino, estocando em frente e cravando carne do abdómen de Vlad, mais sangue espirrou e uma leve poça formava-se aos pés dos lutadores.
- Finalmente... Acabei contigo... – Tentava articular o samurai a meio de uma respiração ofegante. Os seus olhos, contudo, não expressavam satisfação de alguém que foi vitorioso numa situação de quase morto, eram de espanto. À sua frente, podia ver que Vlad ainda estava de pé e respirava, pelo que, analisando melhor, pode ver ambas as suas garras a intersetarem a espada que lhe cravara o abdómen, impedindo-a de um golpe profundo e fatal – Mas que... Como foste capaz...
O minerador não respondeu, rugindo loucamente e torcendo ambos os seus pulsos, torcendo consigo a espada e, por consequência, os pulsos do seu adversário. O samurai tentou manter a postura, mas a força empregada pelo seu oponente era superior, perdendo controle da sua lâmina quando o cabo lhe escorregou das mãos e embateu no solo. Desarmado, nada pode fazer quando uma potente patada lhe atingiu a barriga, obrigando-a a contorcer o tronco em frente de dores. Ao invés de terminar de imediato com a luta, Vlad ainda fez intenção de golpear a cara do seu oponente com uma joelhada, arremessando o corpo inconsciente para o solo.
Arfava e a sua cara apresentava alguns hematomas derivados das pancadas dadas pelo samurai. Agora com o oponente inconsciente, a sua adrenalina começava a desaparecer a cada segundo que este não lutava, até ao ponto de se aperceber de como o seu corpo estava dorido. E, por final, a perna esmagada pelo carrinho arrebatou-o com uma dor intensa, fazendo-o ajoelhar-se no solo, lacrimejando.
Olhou em frente, vendo a comida pela qual tanto lutara, e rastejou para ela. Com uma das pernas totalmente inutilizável, Vlad teve de abusar da sua força de braços e da perna que lhe sobrava para conseguir rastejar-se até ao alimento. Quando chegou, a sorte divina presenteou-o com algumas ligaduras e equipamentos básicos de curativos. Com os conhecimentos suficientes, Vlad encostou-se à parede e colocou a carne de lado por uns instantes. Abriu o estojo e retirou de lá uma pequena seringa, um líquido que não lhe era estranho mas cujo nome não conseguia lembrar-se e muitas ligaduras. A seringa não lhe seria útil, visto que o seu aspeto dava-lhe de tratamento de doenças e essas eram o menor perigo agora, enquanto que o líquido e as ligaduras se afiguravam o mais interessante. O líquido tinha a mesma função que uma pomada, ajudando a sarar alguns hematomas e até sendo capaz de estancar ligeiras hemorragias, desde que se mantivesse em constante contacto com a pele; função essa das ligaduras. Abanou o pequeno frasco e sentiu o seu peso na mão, calculando que seria suficiente para o seu corpo, abrindo-o e doseando as medidas certas para cima de alguns pedaços de ligaduras. Com extremo cuidado, foi colocando as ligaduras sobre muitos dos seus ferimentos, focando-se mais nas pernas e dorso, sentindo pequenas dores ao apertá-los fortemente. Quando os ferimentos estavam suficientemente tratados, Vlad acabou com o resto do líquido ao despejá-lo sobre as palmas das mãos ensanguentadas, deixando algum transbordar, massajando as zonas doridas da sua cara, sabendo que, sem ligaduras, o líquido não seria tão eficaz.
- Onde é que me fui meter... – Desabafou consigo mesmo, encostando a cabeça contra a parede e suspirando de alívio por ter passado pela parte fácil. Olhou então para a sua perna... – Tu és capaz...
Retirou mais um bocado da ligadura, uma quantidade considerável, e amassou-a até formar uma espécie de lenço denso. Colocou-a na boca e mordeu-o fortemente, agarrando posteriormente o joelho da perna que fora esmagada. O momento seguinte foi de uma dor indescritível, pelo que o lenço foi furiosamente rasgado pelos dentes de Vlad enquanto abafava o seu imponente berro. A perna, pelo menos, foi ao sítio...
Uma hora se passou e Vlad já havia comido tudo o que roubara. O samurai ainda não havia acordado, pelo que o minerador pode calcular que a pancada que lhe dera fora, talvez, exagerada. Nesse momento, as dores na sua perna também foram diminuído, mas esta encontrava-se exausta até ao limite, totalmente inutilizável até um bom dia de descanso. Para piorar a situação, Vlad ainda estava preso na mina desabada, tendo que escapar dela sem um dos seus membros...
Olhou à sua volta, percebendo que um dos postes que sustentava o teto estava tombado, a poucos metros de distância. Rastejando com apenas a força dos braços, Vlad sentou-se à beira dele, tendo uma ideia que talvez pudesse resultar. Descarregou chakra na sua mão para que assim surgisse a sua katana para depois colocar a ponta da lâmina sobre a superfície rugosa da madeira. Estendeu a sua perna, calculando a sua altura, e olhou depois para o poste de madeira. Estimou uma altura idêntica à da sua perna e colocou a katana sobre a exata linha do limite, erguendo-a ao alto.
- Hadan! – Gritou, fazendo a sua katana descer com toda a força que lhe conseguia fornecer, impactando-a com a madeira gasta. A espada fora quase até ao fim, mas o golpe não fora suficiente para cortar o material num só golpe, prendendo a lâmina. Num único gesto de pura força, Vlad desprendeu a sua arma e voltou a erguê-la – HADAN! – E, em mais um golpe vertical, a sua espada trespassou madeira até a sua ponta embater fortemente contra o solo de pedra – Boa! – Uma descarga de chakra fez a sua espada sumir, substituindo-a pelo tronco de madeira recém-cortado com o formato de uma bengala. Ergueu-o à beira do seu corpo e, apoiando-se completamente nele, tentou levantar-se. Não acostumado a usar uma bengala, desequilibrou-se e tombou em frente, fazendo com o que o joelho da sua perna inutilizada batesse contra o solo, levando-o a morder o lábio de dor. Tentou mais uma vez a bengala, conseguindo, ainda que a grande custo, colocar-se totalmente de pé sobre ela.
Mancando com a sua estranha bengala, Vlad aventurou-se nos corredores sinistros da mina desabada...