Kristea sabia que não havia nada que ela pudesse fazer. A sua mãe tinha sido morta à sua frente, sem que ela o pudesse evitar. Agora ali, agarrada ao seu corpo sem vida, não sabia o que havia de fazer. Estava sozinha.
Pousou o corpo da mãe, ficando a olhar para o rosto sereno daquele que lhe dera vida. Era estranho vê-la assim, pensara que aquele dia nunca mais chegaria.
As lágrimas escorriam-lhe pelas faces, incessantes, mostrando a sua dor ao mundo.
Levantou-se e sentou-se no degrau de madeira que ligava ao jardim, recordando bons momentos que passara na companhia da sua mãe, mesmo sem o querer. Os dias felizes que passaram junto do rio, antes de irem para Konoha… A chegada a Konoha, que significava o início da realização do seu maior desejo… O sorriso presente da sua mãe… As recordações ainda a desesperavam mais. Deixou-se cair para a relva, exausta.
Lágrimas vermelhas de dor brotavam, dos seus olhos verde-claros, raiados de sangue. Caiam na relva verde, murchando e secando todas as plantes que encontrasse à sua frente. As lágrimas que retiravam a vida…
- Kris! – chamou alguém. – Kris!
Ela não olhou. Não conseguia mexer-se muito, as suas forças pareciam tê-la abandonado. Sentiu alguém a agarrá-la, a abraçá-la.
- Desculpa. Desculpa, cheguei tarde.
Era Ryu.
- E o que é que tu poderias fazer? Eu vi a minha mãe ser morta à minha frente, sem poder fazer nada… Eu…
- Eu sei. Desculpa…
- Sabes? Como é que sabes? E o que fazes aqui?
Ele desfez o abraço e ela viu a sua cara séria.
- Está na altura de te contar umas coisas que não sabes. E, por favor, não chores mais. A tua mãe não te quer ver assim.
- Tu não sabes como me estou a sentir! Não sabes!
- Sei sim. Mas isso não te vou contar. Olha, não te assustes com o que te vou fazer, eu explico.
Ryu pôs dois dedos sobre a testa dela. Parecia não estar a fazer nada, mas Kristea sentia. Estava energia a entrar dentro do seu corpo. Depois ele tirou os dedos. A energia que lhe dera devia ser suficiente para ela andar.
- Vamos para dentro. Temos muito que falar – disse ele. Quando reparou na expressão de Kristea, que acabara de se levantar, acrescentou: - Não faças perguntas agora. E peço-te uma coisa, não te assustes com o que te vou contar. E mostrar…
Embora curiosa, Kristea ficou receosa com o que ele lhe poderia contar. Limpou as lágrimas do seu rosto e seguiu Ryu para dentro de casa.
- “Certamente alguém notará no que se passou aqui…” – pensava ela, enquanto reparava na destruição da casa.
- Quanto a isso, não te preocupes. Assim que entrei na zona, meti uma barreira do tempo. As pessoas verão esta casa e tudo o mais que se encontrar aqui como estavam antes disto acontecer. No momento em que a retirar, vão saber tudo o que ouviram ou viram do que se passou. Mas não antes… - disse Ryu, sorrindo.
- Mas… Mas tu…
- Sim, consigo ler a tua mente. Eu disse para não te assustares… Eu sei que vai ser uma choque, mas é necessário.
Foram para a grande sala de estar do primeiro andar da casa.
Kristea meteu-se debaixo do kotatsu, gelada após o tempo que passara no exterior. Ryu, por outro lado, preferiu sentar-se fora deste.
- Volto a repetir. Não te assustes, está tudo bem. E podes acreditar em mim, como sei que sempre acreditaste. O que vais ver e ouvir pode ser pouco credível de início. Mas tu vais compreender, tenho a certeza – frisou o ninja.
- Sim, está bem. Podes começar.
Após uma breve troca de olhares, ele começou:
- A tua mãe é descendente dos criadores deste mundo. E o teu pai é descendente dos criadores do mundo onde ele está. Isso faz de ti descendente dos criadores de ambos os mundos, ou seja, a filha dos mundos. Hoje provavelmente ouviste a chamarem-te de “h’aarina”. O seu significado é princesa e deusa, nas línguas antigas. H’aarina é o nome dado à filha dos mundos, a ti.
Kristea estava espantada. Jamais soubera tal coisa. Mas o que mais a intrigava era como ele sabia disso.
- E agora falando sobre mim, que sei que queres saber… - continuou ele. – O meu nome é Ryoutarou, daí o diminutivo Ryu, que julgavas ser o meu nome. Sou o teu protector e talvez futuro treinador, se o aceitares.
- Mas… Mas tu não passas de um genin como eu!
Ryu deu uma gargalhada. Teria ela dito alguma mentira?
- Bem, eu pensei que fosses dizer exactamente isso. E é por isso que te vou mostrar o meu verdadeiro eu.
Dizendo isto, estalou os dedos. Penas braças envolveram-no, como um pequeno tornado, desaparecendo de seguida.
Kristea não conseguia acreditar no que os seus olhos viam. Era o rapaz moreno que a salvara. De olhos claros como os de Ryu e cabelos negros e algo compridos, era visivelmente mais velho e mais alto. Teria cerca de 23 anos. Os seus traços eram belos e masculinos, tinha um corpo talvez um pouco magro, mas que com certeza era forte. No entanto, a sua voz não mudara nada.
- Surpreendida? – perguntou ele.
Ela não respondeu, pois o medo apoderava-se dela. O que é que se passava? Aquele não era o Ryu que conhecia. Era uma brincadeira. Ou então uma emboscada preparada por aquele que matara a sua mãe. Só podia ser isso…
Aterrada, tentou fugir. Apesar de tudo, não queria morrer daquela maneira. Usou a velocidade máxima que conseguira, mas ele parou-a ainda antes de ela chegar à porta. Era muito mais veloz que ela.
- O que é que eu te disse? Não precisas de ter medo… Ninguém aqui te vai fazer mal – disse ele.
Kristea puxou de uma kunai da sua bolsa e tentou atacar sem ele se aperceber, mas novamente ele a parou.
- Tu não és o Ryu… Não és… - gritou ela.
Ele ficou algo desapontado:
- Não pensei que reagisses assim comigo…
- Diz-me uma coisa que só o Ryu saberia!
- Tens 16 anos, quase 17, és doida por neve. Adoras a cor azul e a Natureza. O teu maior desejo é ajudar os outros. Desde que sabes que tens um irmão gémeo que gostavas de o conhecer. A tua mãe era a pessoa mais importante na tua vida. Viveste fora de Konoha até aos teus 9 anos, junto de um rio. Sempre fui o teu companheiro de brincadeiras e o teu melhor amigo, a quem sempre confessaste tudo.
- Não dizes nada que outros não saibam!
- Conhecemo-nos no dia em que escorregaste num ribeiro, quando tinhas 3 anos. Estavas à procura do colar de prata que tinha caído lá. Eu ajudei-te a procurá-lo até ser noite, até te ires embora. E encontrei-o. É esse mesmo que trazes ao peito. E pelos vistos não te recordas dele. Uma coisa que me dizias muitas vezes era que adoravas a cor dos meus olhos, que pareciam da cor da água do oceano. Mas tu não te lembras de nada disso…
Kristea apertava a cruz de prata. Como era possível ter-se esquecido do colar, que significava tanto para si quando era mais nova? Fora injusta com Ryu… Não acreditara nela e deixara que os seus sentimentos interferissem.
- Desculpa… Não tinha intenção de magoar os teus sentimentos. Só queria ter a certeza… Podia ser uma emboscada da coisa que matou a minha mãe… Desculpa…
Ele olhou para ela.
- Não faz mal… Ainda estás assustada com o que se passou. E parece que conseguiste ver quem matou a tua mãe.
- Sim, vi… E espero nunca mais o ver, senão corto-o às postas…
Ryoutarou riu-se. Sabia que ela ainda teria alguma hipótese, apesar do seu poder ter sido obrigado a intervir na missão.
- Anda lá, vamos sentar-nos, ainda tenho muito para te contar.
Ela meteu-se de novo debaixo do kotatsu.
- Antes de me sentar, é melhor dizer-te agora uma coisa, senão depois tenho que me levantar. Eu sou um anjo – continuou, mostrando um belo par de asas brancas. – Peço desculpa por te ter dito que ia a uma terra qualquer hoje, quando, na realidade, estive no céu, a tratar de uns assuntos. Não cheguei a tempo de evitar o que aconteceu… Podia tê-lo feito…
Kristea abraçou-o, quase a chorar. E assim se deixou ficar. Nem sequer falou. O pai e o irmão que não conhecia nunca chegariam a ser tão importantes como Ryu e muito menos como a sua mãe.
- Apesar do Ryu ser uma farsa e um ninja em part-time, continuas a ser o meu melhor amigo. A pessoa mais importante para mim neste momento… - acabou por dizer.
- Vá… Continuo a ser eu, não continuo? E a tua mãe há-de ser sempre a pessoa mais importante para ti. E tu sabes isso no teu coração. E agora vamos sentar-nos. Tenho que te apresentar a alguém… E não, não te vão fazer mal – disse ele, sorrindo. – Primeiro, porque eu não deixava e segundo porque… Depois vês.
Ryoutarou fechou as asas, que desapareceram, enquanto Kristea se voltava a sentar. Assim que se pôs confortável, quatro pessoas surgiram.
- “O que é que se passa aqui?” – pensava ela. Aquele dia estava a ter emoções a mais.
- Está tudo bem – tranquilizou-a Ryoutarou.
Eram quatro pessoas que Kristea jamais vira na sua vida. Mas não pareciam humanas, pois emanavam uma força sobre-humana. Eram duas mulheres e dois homens, ainda jovens e espantosamente belos.
A mulher da esquerda vestia umas roupas em tons de verde e castanho, com alguns tons dourados. Os seus longos cabelos lisos tinham várias variações de verde, tal como os seus olhos. A sua pele era escura, como café com leite.
Quem se seguia era um homem de cabelos brancos, olhos azuis como o céu e pele clara. A sua roupa era de tons azuis-claros e brancos, com um leve tom prateado.
Uma outra mulher estava ao seu lado. De pele clara e olhos de um azul profundo, tinha um longo cabelo branco encaracolado. As suas roupas eram em tons de azul e branco, com ligeiros tons verdes.
Por fim, o último homem era moreno, de cabelos da cor de chamas. Os seus olhos de um incrível dourado eram acentuados pelas suas vestes de tons quentes.
Quem seriam aqueles indivíduos? O que quereriam dela?

Muito bom, mais uma vez!

Muito obrigada! ^^