- Citação :
"Urgh! Que gosto é esse?!" - Reclamou enquanto tentava mastigar ao crocante no tempero de seu jantar. Nesse momento, ele sentiu um "formigar" em suas pernas e na mão que segurava o sanduíche. Estranhando o que acontecia, apressou-se para pegar o guardanapo e cuspir o que havia mastigado. - Mas que merda é essa! - Gritou ofegante, enquanto tentava tirar o gosto do sanduíche da boca. Nesse momento, os fogos estouraram e a escuridão da sala diminuiu o suficiente para que ele visse pequenos movimentos pelo seu corpo. "Meu Deus!" - Pensou ao levar a mão para a luminária do birô. Daisuke já não conseguia se controlar. "Click" - A luz se acendeu. E num grito descomunal, Toshio parecia se engasgar e arquejar, derrubando-se da cadeira ao rolar pelo chão em desespero. Olhando pela lateral da janela, ele gargalhava o mais baixo que conseguia, vendo o velho maldito de debater levando às mãos ao peito em agonia até parar de se mover.
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Não! - Ele gritou na penumbra de seu quarto. -
Até aqui você me atormenta, velho idiota! - Esbravejou, acordando ofegante de mais um pesadelo de seu passado, Daisuke chutou o cobertor para fora da cama e se sentou para observar suas mãos trêmulas. Um sinal de que seu corpo sentia falta da substância. Espreguiçando-se ao se levantar, ele cambaleou esfregando os olhos até sua escrivaninha e deu um pequeno salto para buscar a chave da cômoda que guardara em segurança na viga mestra do quarto. O trinco estalou rapidamente e a gaveta se abriu para mostrar alguns frascos com líquido de cor púrpura, além de um par de seringas. Todo o processo foi rápido, afinal, a ânsia de se satisfazer era maior que a fome que sentia. Logo, a agulha entrou em seu braço já cheio de marcas de "picadas" anteriores e o jovem sentiu uma sensação de poder indescritível atravessar o seu corpo numa onda de calor incontrolável.
Suas pupilas dilataram e o coração começou a bater mais forte. Sentia-se vivo. Sentia-se bem. -
Vamos começar o dia! - Comemorava enquanto vestia a túnica por cima do uniforme para esconder as marcas de seu braço. Ao sair, ele deu uma última olhada em seu quarto como se desejasse retornar à cama, mas resistiu à tentação e fechou a porta para descer rapidamente os degraus até a porta de saída, onde calçou suas sandálias e abriu a porta corrediça. Acostumados com a penumbra, seus olhos fecharam até que conseguissem se acostumar com os primeiros raios de sol que a manhã trazia, levando embora a fria brisa da madrugada. Daisuke já conseguia ouvir o grasnar das gaivotas e o ruídos das ondas açoitarem o ancoradouro, começando a caminhar com passos apressados pelas vielas até o dojo onde treinava.
O dojo não era um lugar luxuoso. No alto de uma colina rochosa, um pouco distante das cercanias do Buraco, o prédio era feito de pedaços de madeira reciclados que deixava as paredes com uma aparência de um triste mosaico, com o topo vazado por uma grade de metal. O rapaz chegou à entrada rapidamente, ele estava um pouco suado por causa da reação da droga, mas logo tratou de ficar descalço para abrir a porta e entrar no tatame, onde existiam alguns aparelhos de academia que vinha fazendo a manutenção desde que começou a trabalhar para Nero. Não era uma vida gloriosa, mas pelo menos tinha um teto, comida e quanta droga ele quisesse. Porém, até o momento só acompanhara os homens do mafioso nas cobranças aos comerciantes e isso o preocupava: Quando seria chamado para uma missão real? Era a pergunta que lhe passava a cabeça quando começou a treinar.
Sentindo-se com muita energia, ele saltava de um lado a outro, intercalando exercícios e suas manobras até começar a treinar seus golpes nos sacos de pancadas que ecoavam pelo dojo vazio até que em algumas poucas horas já estava ofegante e totalmente suado. Suspirando por ter terminado mais um dia de treino, Daisuke olhou pelas frestas da construção e percebeu que estava quase na hora do almoço. Precisava se apressar. Nesse momento, o jovem sentiu um calafrio percorrer sua espinha até a nuca. "Alguém me observa." - Pensou ao olhar por cima do ombro e ver um dos seguranças pessoais de Nero observando o término de seu treino. -
O que você quer aqui? - Indagou o loiro ao visitante, olhando por cima do ombro. O homem saiu das sombras e se mostrou. Aparentando seus trinta anos, o homem tinha corpo esguio e cabelos longos - presos no alto da cabeça - deixando sua aparência andrógena ainda mais acentuada.
Vendo que tinha sido descoberto, o ninja se aproximou do garoto e sorriu esperando arrancar algum cumprimento do garoto, mas Daisuke estava irredutível. Sinceramente, desde que ele fora recrutado, o loiro tinha certa aversão a todos os quatro ninjas. "O que ele faz aqui?" - Pensava ao se levantar na direção do banheiro, desconfiado se aquilo se tratava de um flerte. Eca. Mas Maru ainda continuava agachado, acompanhando-o com o olhar como se esperasse alguma reação quando, como um tigre emboscando uma presa, ele atacou com os punhos em riste procurando atingi-lo pelas costas. E por alguma razão o rapaz já aguardava por aquilo. Os dois logo entraram num combate onde o magro conseguiu impor sua experiência, mas o ímpeto de Daisuke era muito maior que a experiência, e num movimento inconsequente ele juntou as mãos e aparou a lâmina de Maru que foi obrigado a soltar a lâmina para escapar do próximo golpe do garoto que usou o sangue de suas mãos para cegá-lo.
O sangue cegou Maru temporariamente, dando chance ao nukenin reagir e praticamente enchê-lo de pancada até que jogá-lo contra alguns produtos de limpeza que descansavam no canto do dojo. O ruído e a pancada quase quebraram a parede da fraca estrutura que por um milagre não desabou por inteiro, e quando Hiroshi rangeu os dentes e sentiu seu sangue ferver num momento de fúria, Maru levantou a mão num conhecido sinal de desistência e tentou abrir os olhos com o mesmo sorriso traiçoeiro que ele havia se aproximado anteriormente. A luta havia terminado. -
Um empate, está bem? - Perguntou o magro, tentando esconder sua vergonha por ter perdido o combate com o novato. Exausto, o loiro conseguiu frear seu ímpeto furioso e deixou sua postura agressiva, esperando o que o ninja tinha a dizer.
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Você está pronto. Mestre Nero te chama no casarão. - Concluiu o magro.
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O que ele quer comigo? Alguma missão interessante? - Ansiava o jovem.
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Sei lá garoto! Agora me ajuda aqui! - Reclamava o ninja, tentando limpar o sangue de seu rosto.
Entregando a toalha que trouxera, Daisuke ficou bastante ansioso em saber o que seu chefe queria. Ele estava praticamente na "geladeira" por algumas semanas enquanto ficava à sombra dos outros ninjas que saíam sempre em missões secretas. Ele queria participar. Queria a adrenalina de volta. Queria se sentir vivo novamente sem depender da droga. Mas o que será que ele quer? Ele se perguntava incessantemente até terminar de se arrumar e correr para a mansão do chefão, sempre acompanhado por Maru que não parava de rir com seu rosto de mulher. -
Quer parar com isso? - Reclamou o loiro, quando percebeu que Maru o "estudava". O magro fez uma careta e corou pela indiscrição, deixando-o envergonhado durante a viagem toda até chegarem ao local, na área mais bonita do litoral.
Era uma colina alta que terminava por uma grande falésia que se estendia até as rochas que brilhavam ao sol quase encobertas pela água do mar. Mas isso não se comparava à beleza que era a mansão. Cercada por uma grossa muralha de pedra escura, a mansão tinha estilo japonês medieval, com cerca de três andares adornados com esculturas de dragões em cada viga de sustentação. Um local perfeito para tomar controle de tudo o que acontecia na pequena vila, de onde se podia ver toda a extensão. Logo os grandes portões se abriram num ranger ansioso e os outros três ninjas da guarda pessoal acompanharam os dois até o último andar, onde Nero observava seus navios da varanda. Ajoelhando-se em reverência, os quatro fizeram uma careta quando Daisuke não se ajoelhou. O jovem sempre teve problemas com autoridade e não seria agora que ele respeitaria alguma, mantendo-se de pé arrogantemente. Virando-se para o grupo, Nero estava com seu uniforme militar e olhou para o loiro com um sorriso matreiro no rosto.
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Tenho um lugar perfeito para você começar a trabalhar. - Comentou com certa alegria.
CONTINUA...