Nero não sabia a que horas estava chegando, mas mesmo assim insistiu na viagem, pois precisava comunicar a grande novidade ao seu Chefe Maior. Abrindo uma portinhola atrás de suas costas, ele açoitava o cocheiro com palavras de ânimo para que ele acelerasse a marcha dos cavalos, passando apressadamente por entre vários pontos comerciais e residências luxuosas até chegar numa imensa construção cujo paredão de grande altura e largura se destacava, pois ninguém conseguia enxergar o seu final se se aproximasse pelo portão leste. E foi exatamente nesse portão que os guardas imperiais barraram o avanço do veículo à frente da entrada cerrada.
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Coronel Nero quer conversar com o Daymio. - Disse o cocheiro, entregando o papel de autorização a um deles, enquanto o outro empurrava a cortina da lateral da carroça com sua lança e assim que reconheceu o coronel, fez uma reverência e acenou para seu companheiro que autorizou a abertura do portão. Logo, o conhecido ruído de contrapesos abriram as duas grandes portas de madeira, deixando à mostra o formoso jardim que seguia até a mansão principal. O estalo do chicote fez a carroça mais uma vez ganhar velocidade e assim que chegou à entrada da residência, Nero já abriu sua porta sem mesmo esperar e partiu em direção ao seu destino. Ajeitando o uniforme, ele subiu os degraus com certo vigor por causa de seus exercícios frequentes e alcançou a primeira secretaria. Vendo quem acabara de chegar, os soldados que ali prestavam segurança colocaram-se em formação repentinamente, arrancando susto da secretária que não entendeu a causa de tamanha comoção.
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Coronel Nero, a que devemos a honra? - Perguntou a secretária, com admiração no olhar.
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Preciso falar com o respeitável Daymio. - Respondeu em tom solene.
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No momento ele está recebendo uma comitiva. - Inquietou-se.
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Por favor, diga-lhe que sou EU quem quer lhe falar. - Comandou o patrono.
A secretária engoliu as palavras gostaria de dizer, mas diante da situação simplesmente se levantou da mesa e se perdeu na porta do gabinete. Enquanto esperava, para ocupar sua ansiedade, Nero buscou seu charuto no bolso da jaqueta e começou a acendê-lo. Ele sabia que era proibido naquele recinto, mas mesmo assim decidiu fumar, mesmo sob os olhos fixos dos soldados que não se atreviam a contradizer o conhecido herói de várias batalhas. -
O senhor irá recebê-lo. – Comentou a secretária, retornando da antessala, fechando o cenho quando percebeu a fumaça. Acenando positivamente, Nero apagou o charuto no adubo úmido de uma planta decorativa e adentrou no longo corredor mal iluminado que levava à segunda antessala.
Com passos apressados, ele não parou para apreciar as belas obras de arte e os famosos vasos decorados com fios de ouro que ostentavam o caminho ao Excelentíssimo. Rapidamente dobrando a leve curva que circundava o pátio central, ele se deparou com a segunda guarda que prestou seu respeito com sua chegada. -
O Daymio me aguarda. - Justificou aos soldados quando lhe foi aberta a porta. A claridade invadiu seus olhos, obrigando-o a cerrá-los na mesma hora. Suspirando fundo para conter sua alegria, o coronel entrou na sala e aguardou a comitiva do País da Terra que acabava de se retirar. Nero reconheceu os uniformes na mesma hora. Malditos ninjas. Ele segurou a emoção e tentou transparecer calma até visão normalizar para então buscar a posição do Chefe Maior. Cumprimentando-os durante sua saída, o oficial percorreu seus olhos na grande sala à procura de algum outro ouvinte para a conversa.
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Trago ótimas notícias, meu senhor. - Sussurrou com reverência.
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Não precisa ser tão formal Nero, somos amigos há anos. - Respondeu o Daymio.
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Estamos prontos para os testes em grande escala. - Disse, com um grande sorriso no rosto.
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Mas que ótima notícia! Contudo, não devemos nos esquecer dos que se sacrificaram pela causa. - Entristeceu-se enquanto voltava sua atenção à paisagem arenosa através de sua varanda. Aquele comentário pegou Nero de surpresa. Afinal, para se chegar aos fins, os meios são mais que justificados. Porém, ele começou a se lembrar das dezenas de corajosos voluntários que morreram em seu laboratório até que chegassem à fórmula final. Aproximando-se do Daymio, o coronel deu a volta na grande mesa de reuniões que dividia o gabinete e adentrou na varanda onde foi recebido pela brisa quente característica da capital.
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Terminamos de refinar o selo amaldiçoado. Preciso de sua autorização para o segundo passo... - Comentava respeitosamente quando interrompeu seu discurso por ter quase certeza de ter visto uma sombra na ponta da varanda. "Um ninja?" - Suspeitou, apressando os passos até onde teria visto. Nada. Ninguém. Na certa o nervosismo de seu encontro o fizera ver algumas coisas que não estariam lá.
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Tens minha autorização. Enviarei minha guarda pessoal primeiro. - Confirmou o imperador, ainda fitando o vazio. Para Nero, aquilo era suficiente. Estava feliz porque anos de trabalho agora eclodiram num avanço que não tinha mais volta. O primeiro passo para dissolver a Vila da Areia e as outras Vilas estava dado. O apoio dos outros países estava garantido. Logo, a influência dos ninjas e suas guerras internas estariam no fim. Já estava na hora de igualar as forças. Assim, satisfeito com a confirmação, o oficial prestou uma respeitosa continência, virando-se para a porta de saída, refazendo o caminho de volta até descer nos degraus onde sua carruagem ainda o aguardava. Seu coração palpitava e suas mãos suavam com seu nervosismo.
"Vingarei todos vocês." - Pensou consigo, lembrando-se de Nami e das centenas de pessoas mortas pelas mãos dos ninjas. -
Vamos. Depressa. - Comandou ao cocheiro que estalou seu chicote nas ancas do animal até que ele se perdeu na paisagem na direção do laboratório secreto. O caminho não era longo, porém sinuoso. Várias curvas e vielas depois, a carruagem estacionou a frente de um grande depósito de comida. O portão rangeu e abriu um espaço suficiente para que ele atravessasse a segurança. Seus homens se agruparam e entraram em formação na entrada secreta do laboratório, cumprimentando-o com um sorriso. Logo eles também participariam da vanguarda do exército do País dos Ventos. Acenando positivamente de volta, ele puxou a alavanca do guindaste que segurava um pesado caixote. O objeto desceu suavemente enquanto a parede blindada deslizava para a lateral deixando a mostra alguns poucos degraus, dos quais desceu com pressa enquanto a parede novamente se fechava a suas costas.
CONTINUA...