Cara, a minha vida sem sempre foi tão difícil. Era um garoto mimado que tinha tudo que queria na hora que queria porque meus pais acreditavam que compensariam as suas ausências. Na verdade eu até entendo. Acordavam muito cedo para chegarem primeiro ao restaurante, mas bem que eles poderiam contratar uma pessoa de confiança para que eles dessem mais atenção à família e tal. Não estou choramingando. É que vendo como tudo aconteceu e de maneira tão rápida que nem seu qual a próxima surpresa que me acontecerá. E isso tudo começou quando preguei o maior susto da vida de um professor muito idiota, lá na academia ninja. Estava prestes a me formar, por muito milagre e trapaça, claro. Mas sempre o Toshio tentava me pegar e implicava comigo.
Foram quatro anos de luta mental, mas eu era muito mais esperto que ele e com os colegas certos, eu conseguia sempre escapar das punições. As garotas também eram caidinhas por mim... Sim, mas isso não tem nada com o que tentava lhe contar, mas já retornando, o preguei uma pegadinha no professor e o coroa até nesse momento atrapalhou minha diversão... O professor morreu de susto. Viu que merda? Pois é. E logo no dia da formatura! Já viu que azar?! Então, para não ser descoberto, fugi o mais rápido que pude e não me despedi de ninguém. Nunca precisara de ninguém me acolhendo e não ia ser naquele momento que eu iria fraquejar. O problema é que me faltou planejamento, porque enfrentei o deserto com pouca comida e água, mas felizmente me deparei com um oásis maravilhoso que me salvou a vida. Só que não!
Já confortável naquele lugar, mal sabia eu que era o território de uma corja de chacais que vinha matando os mercadores que passavam por ali. Se eu não soubesse lutar direitinho teria morrido. Malditos vira-latas! Mas foi por causa disso que conheci o mercador que me ajudou a recuperar meus ferimentos enquanto viajava para aquele Buraco. Aproveitador idiota. Pois o cara só me ajudou porque havia a recompensa pelas cabeças dos chacais. Findou que ele me deixou na pousada da gorda e foi embora com todo o dinheiro da recompensa. E aí, como eu fiquei?! Ainda ferido e sem dinheiro?! Como paguei pelo quarto no bordel?! Ha, ha, ha, ha! Não pense que vendi meu corpo. Nada disso. Pelo menos minha dignidade está intacta! Aquela gorda é que queria meus serviços, mas em compensação estava passando fome.
Vaguei pelo Buraco por alguns dias, catando comida no lixo e fazendo alguns pequenos trabalhos. Assim consegui me alimentar, e foi numa dessas voltas para a pensão que topei com um gigante que espancava uma das meninas da gorda na janela do primeiro andar. Era o maior homem que já tinha visto! Gigante mesmo! Mas eu dei de ombros, afinal, aquilo não me interessava. Mas quando a puta pulou lá de cima e caiu justamente em cima da minha cabeça, o gigante pensou que eu iria ajudá-la. Pois o cara me deu um tapão no rosto como se mandasse no pedaço. Mas, comigo não! Nenhum homem atinge meu rosto sem ter consequências! Pois enchi o gigante de pancada na frente de todo mundo. Para minha sorte, um agenciador vagabundo - que Jashin o tenha nos espetos - viu tudo e me contratou.
Foi aí que o dinheiro entrou e todo mundo soube do Saru, o lutador clandestino. Foram bons meses. Lutas, mulheres e conforto. Quase decidi em permanecer naquela profissão até que o Nero me alcançou. Vou te contar um segredo: Ele me "convidou" a perder uma luta. Foi mesmo. Juro. O dinheiro ia ser muito bom, além disso, estaríamos a salvo da fúria do chefe. Tudo ficou perfeito. Mas, como toda reviravolta na minha vida, a luta durou um round e no segundo era aquele que iria entregar. Agora pasme... O sujeito foi fazer uma firula e se "auto-nocauteou"! Você acredita nisso?! Acredita?! Pois é. Nero perdeu muito dinheiro e meu agente perdeu a vida. Eu permaneci. Sou um sobrevivente. Custe o que custar. Foi dessa forma que comecei a trabalhar para o chefe. Ou isso, ou morreria.
Não tinha outro jeito. Sou um criminoso mesmo. Assassino de professores idiotas. Mas não me arrependo. Aquele coroa merecia. Mas estou sentindo que estou subindo na organização, principalmente porque fui escalado para cuidar do filho do patrão e ainda por cima ajudei os quatro guardas a tomarem os negócios do concorrente lá na Ilha da Lua. Foi uma missão difícil, mas conseguimos. Agora, com um dos guardas cuidando dos interesses de Nero lá na Ilha da Lua, acredito que exista uma vaga na guarda pessoal do chefe. Aquele afeminado deve estar se divertindo naquela mansão. E aqui estou eu. Conversando com o primeiro amigo que tive aqui no Buraco. Quem diria que estaria contando minha história ao tiozinho do churros.
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Ei?! Você está me ouvindo, velho?! - Assustou-se Daisuke com o ronco do vendedor.
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Ah? O quê? O que você estava dizendo? Algo sobre a academia? - Acordava o Tiozinho.
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Nada, deixa pra lá. Vou pra casa agora. - Reclamou o garoto, voltando a caminhar.
A Depressão, ou Buraco, como era comumente chamado, não mudara em nada desde que partira há cerca de três meses. Já com a pele bronzeada do sol, Daisuke sentiu um pouco de alegria em voltar a algum lugar que chamava de lar. Perigoso, mas ainda era um lar. Além disso, ainda era o Saru, e por isso as pessoas o respeitavam e alguns até lhe dava algum mimo como agradecimento das apostas daquela época. -
Nem parece que estou aqui a quase um ano. - Sussurrou com tranquilidade, pronto para aproveitar algumas semanas de férias que seu chefe o havia agraciado por causa de seus esforços à causa. Terminando seus pensamentos, forçou um pouco a porta de madeira e mais uma vez viu o salão onde as garotas da pensão ainda limpavam. O susto com o barulho da porta chamou a atenção de todas e elas se aproximaram com festa, com beijos e carícias lascivas. "Não posso desejar menos do que isso." - Pensou ao se despedir das garotas para subir.
Estava ansioso para descansar. E apesar da longa viajem, sentiu saudade do mar. Talvez, com o tempo, ele conseguiria comprar seu próprio barco e mudar de vida, mas seus pensamentos foram interrompidos quando percebeu que a porta de seu quarto estava aberta. A princípio pensou em ladrões, ou até mesmo a gorda atrás de suas cuecas, mas não. Empurrando a porta vagarosamente, Daisuke viu seu quarto revirado. As poucas roupas que tinha estavam espalhadas, seus manuscritos de dívidas a pagar, tudo revirado. Verificando que não havia mais ninguém no quarto, enfim ele se tranquilizou e fechou a porta. O objeto rangeu e revelou uma kunai enfiada em seu corpo. Daisuke gelou quando viu o cartaz de "DESAPARECIDO" com o desenho de seu rosto.
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Alguém sabe minha real identidade. - Sussurrou com o coração apertado.
CONTINUA...