Daisuke gostava dessa música. Principalmente quando era cantada nas manhãs quando acordavam para começar os afazeres do navio. - O convés hoje é seu. - Comandou o imediato, entregando-lhe o balde e o esfregão. Coisa nada de humilhante, já quer todos eles - até mesmo o capitão. Eles faziam aquilo como um exercício de humildade e cooperação, mas para ele seria sua passagem pelas “aventuras marítimas ilegais”. Assim, pegando seu material de trabalho, o ninja começou a esfregar a superfície de madeira enquanto prestava a atenção nas gaivotas que rondavam a nau. - Trazem boa notícia. - Comemorou num sussurro, pois sabia o que as traziam. Apesar de estar no mar há cerca de uma semana, ele começou a aprender tudo sobre navegação nas horas vagas em que seu discípulo descansava e por isso, sabia que a presença desses pássaros indicava que o litoral estava próximo. Só não esperava que fosse ver o litoral tão cedo.

Foi quando sentiu seu coração bater forte num pressentimento de que alguma coisa estaria para acontecer. Não era difícil observar isso, afinal, conseguia perceber a ansiedade dos tripulantes que não desviavam o olhar do horizonte. Algo aconteceria logo mai. Daisuke estranhava aquilo já que só tinha visto e aprendido os afazeres do mar, mas nada de pirataria. Porém, quando um vento forte trouxe o som de crianças brincando o loiro teve certeza de que aportariam naquela região. - Terra à vista! - Gritou o olheiro no campanário. A tripulação urrou de alegria e todos esperaram o capitão sair de sua cabine para informá-lo que haviam chegado à primeira parada daquela longa viagem. Olhando para os lados, o loiro procurou por seu discípulo e percebeu que este ainda dormia profundamente, quebrado pelo último exercício que haviam feito. Era realmente um molenga, como já esperava. Ensiná-lo nas artes ninja não seria fácil.

- Aprontem-se homens! Hoje será o dia! - Comemorou o capitão, surgindo da escuridão de sua cabine, já uniformizado à caráter. "Só faltou o papagaio." - Pensou o garoto ao ver a cena e abrir um sorriso maroto que logo se desfez ao perceber o olhar penetrante do pirata desdentado. Essa habilidade de observação surpreendia-o cada vez mais, obrigando-o a se esforçar bastante para mudar a postura e não entregar seus pensamentos infantis. Enquanto isso, todos os homens pararam suas funções matinais e desceram os degraus às pressas até as entranhas escuras do navio para buscar seu equipamento de campanha. E não demorou muito para ver o brilho das espadas que refletiam a luz o sol da manhã sob o som das gaivotas esfomeadas. Os homens enfim estavam prontos e seus olhos sedentos por ouro espreitavam o litoral à medida que o navio se aproximava cada vez mais da costa.

Daisuke lembrou que já teve este tipo de ambição. Principalmente porque vivia no conforto de sua mansão. Porém, com o tempo, ele começou a deixar de apreciar o brilho da riqueza, passando a ansiar pelo cansaço do combate. Uma luta que valha à pena. Fazia tempo que ele não nutria esse desejo e em seu íntimo se culpava por ter aceitado a oferta de seu patrão. "Deveria estar lutando." - Pensava enquanto esfregava o assoalho. - Você vai ficar aí, seu amarelo sarnento?! - Reclamou o capitão, invocando-o para o saque. O loiro deu de ombros, mas mesmo assim surpreendeu-se com o pedido. Tinha quase certeza de que onde aportariam não existiria resistência à sua altura. Essa certeza não era arrogância. Ao contrário. Ele queria lutar. Ele queria lutar com alguém a sua altura. E foi com esses pensamentos em sua consciência que o fez apertar o punho contra a vassoura, assustando-o quando a mesma estalou e arrebentou com sua força.

- Não. Estou bem aqui mesmo. - Acenou, segurando sua ansiedade ao buscar uma nova madeira para substituir a que quebrara. O pirata mal pôde conter seu desdém por trás daquela barba fétida. O garoto era petulante e arrogante, pelo menos era o que contava para nutrir ainda mais suas fileiras de invasores, mas como ele não era seu subordinado, Barba de Ferro - como o capitão era chamado - não podia fazer nada, vendo o loiro retornar a esfregar o chão. Nesse momento, a turba ameaçadora se posicionou a beira do lastro quando a embarcação de casco quase plano raspou na areia e interrompeu seu avanço num sofreguidão abrupto. Os piratas mais experientes aproveitaram o impulso para saltar e cair de pé à beira-mar onde a água circundava os joelhos. Seus gritos animalescos ecoaram pela praia e ganharam as areias numa velocidade incrível.

Sem saber para onde eles iriam, Hiroshi se esforçou para olhar por cima de uma grande duna onde enfim conseguiu avistar o alvo da tripulação: Um pequeno vilarejo com cerca de quinhentos habitantes. Logo, gritos de mulheres e o alerta da guarda local foram trazidos pelo vendo ao perceberem que os homens se aproximavam de suas casas. Do barco se conseguia ouvir o silvo de um pequeno sino que começara a bater incessantemente para avisar os desavisados. Não havia honra naquela luta. O loiro sabia muito bem disto e não demorou muito até que os gritos desesperados das mulheres se misturavam aos gritos de dor de seus entes queridos morriam ao tentarem reagir. Um esforço desnecessário. - Hmmm... O que estou perdendo? - Resmungou Lian, ao sair de seu esquife. Enojado, Daisuke nem se importou em responder. Apenas acenou para o horizonte onde as pessoas corriam para o deserto em desespero enquanto suas casas eram incendiadas.

Aquilo pareceu durar uma eternidade. Porém, aos poucos os gritos deram lugar a gargalhadas despojadas e gritos de comemoração. Um sinal que enfim o vilarejo fora tomado. Suspirando com certo alívio, Barba de Ferro comandou seu imediato para trazer alguns barris de rum para levar até o local da invasão e assim festejar com seus asseclas. - Ajude-o, seu amarelão. - Balbuciou ao nukenin, ainda decepcionado pela falta de companheirismo do rapaz. Contudo, mesmo sem qualquer obrigação, resolveu ajudar o imediato que sempre lhe tratara bem. O imediato, de cabeça baixa pelo constrangimento flagrante entre seu capitão e um dos quatro seguranças de Nero, desceu rapidamente os degraus até a adega acompanhada por Hiroshi que logo agarrou o primeiro barril que viu e subiu novamente para enfim descer as tábuas até a margem. Esperando o imediato se juntar a ele, o jovem jogou sua carga no ombro e começou a caminhar até o que restava do vilarejo.

Sinceramente, Daisuke não tinha ideia do que encontraria lá, pois ao longe só conseguia ver as colunas de fumaça dos casebres em chamas. Não demorou muito até ver a primeira vítima da horda. Um homem que segurava uma velha lança de pesca. Seus olhos vidrados no vazio. O cheiro se sangue. - Acostume-se sensei, isso é pouco. - Desenhou Lian, ganhando a frente com muito entusiasmo por causa da parada súbita do rapaz. Aquelas palavras fizeram-no tremer. Afinal, que espécie de vida era essa? Invadir vilarejos e matar os fracos para roubar suas riquezas... De alguma maneira ele não concordava com aquilo. Mas Lian parecia se divertir. Ansioso para buscar sua parte na invasão, mesmo sem ter lutado, ele ofegava com seus pés ligeiros pela areia até alcançar o vilarejo em chamas.

Ah, então o Daisuke não é totalmente maléfico. O Katsu concordaria com ele, não teria graça invadir assim um vilarejo que se calhar nem tinha ninjas para se defender. A cena é que, por ser Imagawa, o Katsu até era capaz de proteger os mais fracos e dar um enxerto de porrada aos piratas .

Gostei desta reflexão final do Daisuke, se ele não concorda com estes assaltos devia pará-los, mas o que é que ele pode fazer? Está em missão e não se pode comprometer com mais nada. Mas eu realmente gostava de vê-lo a tomar uma atitude de herói.

Continua ^^

Um filler para mostrar que o Daisuke não é de toda má pessoa, apesar de que não fez nada para tentar parar tamanha covardia. Mas piratas normalmente são assim, só atacam se tem certeza que podem vencer, se por acaso não tiver a convicção da vitoria preferem se retirar e ir atrás de outra presa. Mas pelo visto Lian é desse tipo de covarde, vejo que ele não puxou o pai já que não imagino o Nero aceitando esse tipo de atrocidade.

Força na Historia!!!