Discussão
~ Um sentimento de traição ~
No dia seguinte, ninguém diria que tinha havido semelhante festa em casa do Daimyou ou que as mansões tinham sido sequer habitadas momentaneamente. Parecia um dia normal, como o primeiro dia em que tinham chegado. Poucas famílias tinham permanecido lá à excepção dos Sakuragi e dos Fujishima, estes últimos devido ao convite que tinham feito a Ayame. Não que ela fizesse questão de ir, mas seria de mau tom se faltasse.
Pouco antes da hora combinada, os Fujishima tinham mandado uma escolta para a acompanhar até à mansão deles, um luxo escusado. Ela caminharia sem problemas até lá e sem precisar de guarda-costas. Faria questão de lhes mencionar isso para a viagem de volta.
Aquela hora do chá tornou-se bastante agradável. Apesar de tudo, os Fujishima tinham o seu quê de acolhedores e sabiam como receber uma pessoa. Eram talvez um pouco interesseiros, fazendo perguntas sobre ela e o irmão, nomeadamente sobre a kekkei genkai deles. Estariam a tentar criar alguma vantagem ao estudá-los. Felizmente, Ayame entendeu e não revelou nada de comprometedor, rodeando o assunto sempre que possível.
Ao ir embora, os senhores pediram novamente desculpas pela ausência do neto, que tinha saído bem cedo de manhã e ainda não tinha voltado. Contavam que ele estivesse em casa por aquela hora, mas ele andava numa fase rebelde. Ayame apenas respondia que não tinha mal, que se iriam conhecer eventualmente. Agradeceu a hospitalidade antes de sair e voltou a recusar a escolta. Nada ia acontecer nos metros até à mansão Sakuragi e ela era uma kunoichi acima de tudo.
Ainda caminhava pelo jardim dos Fujishima para se dirigir à rua quando um rosto familiar se cruzou com ela. Pele bastante morena, cabelo preto, cicatriz na sobrancelha; aquele que se mudara para a casa ao lado da sua em Konoha.
- Yuu… - balbuciou ela, surpreendida. De repente, apercebeu-se do porquê da familiaridade do descendente de Kumogakure. Fora por isso que ele a evitara durante toda a festa. Conviviam quase diariamente em Konoha desde que ele se mudara para a vila, nem que fosse para se cumprimentarem. E, no entanto, ela nunca tinha associado… Era impossível. Ela teria sido usada durante todo aquele tempo? A cabeça dela começou a latejar.
O semblante do shinobi intensificou-se, mostrando-se duro e quase inexpressivo. Ele não queria encontra-la; que mau timing. Mas, já que estava ali, estava na hora de ela ouvir algumas verdades.
- Podemos falar?
- Suponho que isso dependa de ti e da tua vontade. Se não fugires – respondeu ela, rispidamente. Não estava mesmo com cabeça para aquilo. Não devia ter respondido assim, mas só queria que ele se afastasse para ela digerir a situação no seu mundo.
Como ela tinha previsto, a resposta dela fora como facas, afiadas e certeiras, e irritou o kumonin. Ele ainda não tinha aceite nem compreendido o facto de ela ser uma Sakuragi. Na sua cabeça, ela era uma Midori, não uma Sakuragi. Era um misto de sentimentos contraditórios.
- Não fui eu que menti – retorquiu Yuu.
- Desculpa?! Quando é que eu menti? – questionou Ayame, irada. Se havia coisa que ela não gostava era de falsidade.
Ele aproximou-se dela e fê-la olhar nos olhos dele, colocando uma das mãos debaixo do queixo dela:
- Quando não me disseste quem eras. Quando me escondeste isso e te intitulaste de Midori.
Ela afastou-lhe o braço, mantendo o olhar fixo nele. Aquelas palavras estavam a irritá-la. Ele, pelo seu lado, sentia algo forte dentro dele a explodir, sentindo-se traído por ter depositado confiança numa pessoa que nem fora capaz de ser directa.
- Eu não menti! Eu sou uma Midori!
- Então que brinco é esse que trazes na orelha?! Porque estás aqui?! – bramiu ele. A sua voz forte entoou nas redondezas. - Se não és uma Sakuragi, não tens nada a fazer aqui!
Ela aproximou-se ainda mais, encurtando a distância entre os olhos deles. Estava irritada e esperava que aquela intimidação o afastasse.
- Eu não sabia de nada! Nada! Fiquei tão surpreendida quanto tu!
- Não acredito em ti! Mentiste e continuas a mentir!
- Eu não sabia! Porque é que é tão difícil de acreditar na minha palavra?! Não tenho razões nenhumas para mentir!
Ayame frustrou com a situação e contornou-o. Ela nunca mentira, nem por um minuto. Se havia quem tivesse mentido (ou, no mínimo, ocultado) era ele. Ele não tinha sido honesto com ela e escondera a verdade sobre ele. Yuu não tinha mostrado sequer o brinco quando ela nunca o escondera. A partir do momento em que o destino dela fora traçado, mais valia aceitá-lo. Yuu partilhara com momentos, treinos com ela. E nunca, nunca lhe falou sobre ser um Fujishima, muito menos o demonstrara. Até começara a considerar a hipótese de ele ter-se mudado para Konoha, mais especificamente, para a casa ao lado de propósito, mas sabia que, tendo em conta a cena que ele estava a fazer, ele não sabia de facto a verdade. Antes que desse meia dúzia de passos, já ele lhe tinha puxado o pulso com força, obrigando-a a encará-lo.
- Porque o fizeste? Porquê?! – exclamava ele, apertando-lhe o pulso. A kunoichi não conseguia entender se ele esperava de facto uma resposta. Ela já lha tinha dado e ele não a tinha aceite. Apenas queria ir embora. A cabeça dela latejava e estava irritada com o facto de alguém não acreditar na palavra dela, especialmente quando essa pessoa não tinha qualquer direito de a confrontar sobre isso.
- Eu ter-te-ia dado tudo! – exclamou Yuu, por fim, puxando-a para ele. Enlaçou-a no seu braço esquerdo e, com a sua outra mão na nuca dela, beijou-a.
O momento foi intenso como um trovão nos lábios dela. Ele procurava-a avidamente e sentia-se o desespero dele. Foi, no entanto, curto. Ayame debatia-se contra a força dele para se soltar do beijo forçado que a apanhara de surpresa, algo que apenas aconteceu no momento em que ele baixou a guarda por um segundo.
A kunoichi levou as mãos aos lábios, quase com vontade de chorar de tanta raiva, e olhando para Yuu, que a fitava com sobressalto a dançar no seu rosto.
Ela afastara-o. O que só podia dizer que ela o rejeitava. Como podia ter sido tão ingénuo? Como podia sentir algo tão forte por aquela da família adversária? E não era recíproco.
Aquele momento tinha sido demais para ela. Nunca conseguira ler tais emoções nele. Aliás, nunca conseguira ler nada dele e ele tinha-a confrontado com tudo de repente. Abanou a cabeça. Tinha que se afastar. E correu. Correu tanto quanto podia até à mansão. Mas ele não a seguiu.
- Spoiler:
Pois. Pois. É isso. Desculpem não estar muito elaborado. Tendo em conta o conteúdo, não dava muito mais que isto
Mas pronto. O Yuu é um idiota que não acredita na minha Ayame :3 E sim, a raiva/ódio dele passou a amor. Afinal, é uma diferença não muito considerável entre os dois
Depende do ponto de vista e da interpretação. E acabou a divagação