A luta por um propósito...

Os dois Imagawa`s caminhavam lentamente sobre o suave luar. Algumas nuvens escuras, assim devido a ser noite, reuniam-se em volta da Lua com as suas malvadas intenções de cobrirem a sua luz tão bela. Usando as suas mãos como destemidos guerreiros, Sekima criava um escudo bastante eficiente em volta da Lua, lutando para a manter afastada das terríveis vilãs. Rindo-se da sua própria brincadeira infantil, a pequena olhou para trás e procurou o seu pai. Este limitava-se a seguir o passo dela (o que por si só era estranho visto que ele era muito mais rápido) como se fosse uma máquina sem vontade própria, unicamente capaz de imitar um humano. Suspirando de desilusão, a criança voltou a queixar-se de que estava cansada de andar com o seu tom doce e olhos arredondados, mas mais uma vez voltara a ser ignorada pelo homem que mais amava e que, nos últimos tempos, nem sequer parecia ser ele. Virando-se novamente para a frente, não teve outro remédio senão voltar para a sua brincadeira com as mãos, na vã tentativa de abstrair-se da depressão do seu pai e de esperar que assim a viagem passasse mais depressa.
Preso no seu mundo, Katsu pensava e repensava sobre o que acontecera nos últimos tempos. Apesar do desaparecimento de Tsutao, ainda não se sentia completamente dono de si. A morte de Takeshi, apenas “solucionada” graças a Gaina, pesava-lhe na consciência, mas a conversa dos dois antes de terem saído da mansão ajudou-o a acalmar-se o suficiente para não se martirizar em demasia sobre o assunto. Todavia, esse problema era apenas substituído por outro: os planos da sua líder...
“- Preciso que encontres um artifacto muito raro, enterrado numas ruínas de um templo em Cha no Kuni – Falou Gaina, voltando-se friamente para o pedaço de carne que até então se tanto dedicara, obrigando Sekima a gemer de susto e cobrir os olhos com as mãos novamente – Vais ter de falar com uma certa pessoa minha amiga quando lá chegares, ela dar-te-á o resto das indicações. Basta apenas dizeres Gaina Moremane, ele sabe o que eu vou querer.”
Então a sua líder tem até conexões com este tipo de pessoas? O quão longe se estende o poder daquela mulher? Ela é realmente impressionante em qualquer nível. Talvez seja por isso que está tão confiante no seu poder, ao contrário do próprio Katsu que nem sabia o que fazer da sua vida após esta missão. Agora na sua vez de suspirar, olhou em frente, observando a sua filha a gargalhar enquanto participava em mais uma das suas brincadeiras infantis que mais ninguém era capaz de perceber. Deu consigo mesmo a sorrir ao vê-la tão feliz...
- Pelo menos vou ter sempre a Sekima comigo...

- Gaina-sama, posso? – Perguntou uma voz feminina à porta do laboratório da líder da Akatsuki, batendo e aguardando pacientemente pela resposta.
- Podes...
A resposta fora curta e desprovida de emoção, o que indicava que Gaina estava ocupada e consequentemente desinteressada em qualquer outro assunto além do que estava a tratar com as suas mãos ensanguentadas. Mesmo assim, Sasami aventurou-se por entre os mais variados frascos e jaulas, tendo cuidado com o seu passo para não partir nada. Curiosa, esgueirou-se pelas costas da sua líder para ver o que estava a fazer, observando-a a colocar a mão direita sobre uma pasta de carne com um molde humano, deitada sobre uma maca como se tratasse de um paciente.
- Então, Sasami, vieste ver o nascimento do experimento número 3568? – Perguntou a Moremane ao sentir a aproximação da sua subordinada e consequentemente silêncio da mesma. Não apreciava ser observada enquanto trabalhava na criação dos seus humanos, mas já se habituara a este vertente curiosa e intrometida dela.
A mulher não respondeu de imediato, preferindo prestar atenção ao trabalho da sua deusa. Reunindo toda a sua concentração no braço apoiado sobre o monte de carne, uma camada de chakra começou a revestí-lo, transferindo por esse processo algum DNA guardado no corpo de Gaina. Com a transferência, a carne foi adquirindo gradualmente tecidos que se transformaram mecanicamente em órgãos e ossos que se uniram para formar um esqueleto. Os ossos, órgãos e restante carne organizaram-se minuciosamente até se assemelharem exatamente a um corpo humano sem vida. De seguida, a loira transferiu ainda mais chakra, revestindo o experimento com as sua camadas de pele e alguns pêlos, concedendo-lhe dois olhos verdes e um cabelo curto castanho. Finalizado o processo, Gaina sorriu, passando a mão suavemente na sua face e contemplado a sua criação.
- A senhora falou com os Imagawa? – Retomou Sasami, satisfeita por ter assistido a outro nascimento da sua deusa. Apesar do processo ser algo grotesco e complicado de se assistir, mesmo para uma pessoa que já vira muita coisa como a Sasami, não conseguia deixar de vê-lo como algo maravilhoso e único, uma habilidade única e realmente merecedora de uma deusa!
- Apenas lhe contei o necessário sobre a missão, eles não precisavam de saber muito mais... És tão lindo 3568, vais ser um homem deveras atraente! – A líder parecia completamente aficionada pela sua própria criação, não cessando de acariciar o semblante daquele monte de carne como se este tivesse vivo e pudesse ouvir os elogios dela.
- Mas, Gaina-sama, não achais que quando ele descobrir o propósito da sua ida a Cha no Kuni que irá perder a lealdade para com você?
- Isso é irrelevante. Se tudo correr como planeado, vou obter algo muito melhor que a lealdade de um mero humano. Apenas preciso que ele siga o plano à risca e prepare tudo para a minha ascensão aos céus. Nessa altura eu serei mais do que imbatível, portanto nem me interessa o que ele decidir fazer... – Respondeu friamente, afastando-se do experimento e aproximando-se de alguns frascos próximos à maca, olhando para os rótulos neles colocados – Agora, onde estava aquela Kekkei Genkai...
- Se me permite a minha ousadia, a senhora tem a certeza de que aquela pirralha insolente é realmente que vós pensais que é?
- Eu consigo conhecer a informação toda de um corpo humano com apenas o toque... Ah! Encontrei! – Anunciou Gaina, animada ao dar com um frasco rotulado por letras que Sasami não conseguiu ler – Eu tenho a certeza que a pequena Sekima é quem eu acho que seja. E não gosto que a trates por “pirralha” à minha frente...
A Akatsuki colocou o braço dobrado à frente da cintura, prestando uma curta vénia à sua lider como forma de desculpas, apressando-se a erguer novamente o tronco para a poder continuar observar no seu trabalho.
- Sasami, partes com um dia de atraso para Cha no Kuni. Não quero que alguma vez te encontres com o Katsu. Mantém-no debaixo de olho e vai me reportando ocasionalmente do que ele faz. Tenta, acima de tudo, mantêm-no do meu lado o tempo suficiente para que faça o seu trabalho. Depois de o fazer, faz com ele o que te bem apetecer.
A subordinada entendeu a ordem, voltando a curvar-se para a frente com outra vénia de respeito e dando um passo para trás, desaparecendo como se nunca passasse de uma sombra. Sozinha novamente, Gaina voltou a cantarolar guturalmente a mesma música de sempre, abrindo o frasco e colocando três dedos esverdeados dentro dele.

Abrindo a porta do estabelecimento com um pequeno pontapé, uma figura encapuçada por um manto castanho, que também lhe cobria todo o corpo, entrou no bar com uma aura de mistério e arrogância. Não sendo possível distinguir-lhe qualquer traço da cara, os outros clientes não olharam com muita animosidade ao intruso no seu habitat, que provavelmente beberia das suas bebidas e tentaria alguma sorte com as suas mulheres. Mesmo assim, sabiam respeitar minimamente as regras do local e, embora relutantes com isso, também sabiam que aquilo não era tudo deles.
A figura, desinteressada nos olhares e faces de desprezo que recebia, cuspiu no chão para lhes dar ainda mais razão de desagrado e desceu o lance de escadas que ligava a porta à taverna em si. O local lembrou-lhe imediatamente um daqueles sítios asquerosos que fediam a suor e bebida onde o Imagawa costumava arrastá-lo quase todas as noites para consumir o seu vício da bebida. Suspirando por desejar que a sua ida aquele bar fosse mesmo para beber, olhou à sua volta e procurou o alvo. Haviam ali pessoas dos mais variados feitios, homens, mulheres, homens que pareciam mulheres e vice-versa, piratas reformados devido a incapacidades físicas, ninjas na mesma situação ou que não tinham nada melhor para fazer e a lista apenas continuava. Olhando mais para o fundo, para a mesa ao lado do piano que parecia não ser tocado à anos tendo em conta o bolor que crescia na madeira e as teias que se expandiam pelas suas teclas, vislumbrou o grupo de piratas que tanto procurava. Aproximando-se a eles em passo acelerado, evitou com agilidade a alvoraça do local, desde canecas e compadres bêbados a voar, às empregadas que não tinham mãos a medir ante tanta animação, pedido e ousadia quando sentiam os seus rabos a serem apalpados rudemente. Alheio a tudo isso, sorrindo ao notar como o Imagawa bêbado era mais respeitoso que aqueles imundos, o encapuçado ganhou por fim a atenção de um dos piratas, que depressa avisou o resto do grupo da sua aproximação.
- Ahoy, camarrada! – Cumprimentou o pirata que reparou nele, erguendo o seu braço musculado e peludo e mostrando o seu sorriso amarelo e desdentado, uma das razões, além do seu péssimo hálito, que o aconselhavam a manter a boca fechada – Aprroxima-te, sarrdinha cobarrde! Nós não morrdemos!
Algo relutante em aproximar-se ainda mais daquele fedor podre que vinha da sua boca, o encapuçado não teve outra escolha senão sentar-se com o grupo de piratas. Eram cinco, pelo que pôde contar rapidamente, mas certamente haviam muito mais como eles espalhados pela taverna, ocupados com fosse lá o que tivessem a fazer.
- Então, paixão? Querres experrimentar a vida de pirrata? Ou prreferes lavar o meu “convés” ? – Perguntou um dos que estavam à mesa, um gordo que mal cabia em um único banco, com um barba espigada em volta da boca que apresentava restos de comida, esquecidos ou ignorados pelo próprio pirata – Tens ar de quem nunca apanhou o sabonete!
Enquanto os piratas se matavam a rir com as suas piadas sem graça, o encapuçado apenas suspirava de repulsa. Colocando a mão direita sobre a mesa, dedilhou na sua superfície rugosa com alguma intensidade, transmitindo com eficácia a sua falta de paciência. Os outros pararam de rir-se, apesar de ainda manterem o semblante jocoso, prestando atenção ao intruso no grupo deles.
- Eu vim aqui apenas para negociar sobre um objeto peculiar que vocês encontraram à deriva no outro dia. Tenho aqui a quantia exata que pediram, onde é que está? – Curto e direto, perfeito para negociações com aquele tipo de pessoas.
Os piratas entre-olharam-se, com algumas risadas à mistura, e depois fitaram em conjunto o encapuçado. Perscrutaram-no por alguns segundos, que pareceram uma eternidade, quando um deles, o que mantinha o dedo no nariz constantemente, decidiu falar.
-Oh prrincesa, tivemos a pensar e se calhar vamos querrer mais dinheiro pela tábua... – Rosnou, retirando um nojento macaco do nariz e desviando o olhar para ele, contemplando-o – Parreces tão interessado naquele pedaço de pedrra que decidimos aumentar mais um pouco a rrecompensa por o terrmos encontrrado. Não deve ter prroblema, aposto que tens uns pais muito rricos, oh beleza!
Cerrando o punho e rangendo os dentes com firmeza, o encapuçado tentou controlar-se. Negociar com piratas dava sempre naquela merda, um monte de escumalha fedorenta que não têm onde cair mortos. Tudo bem, já lidou com muitas pessoas assim ao longo da vida. Duas pequenas formas cilíndricas começaram a crescer das suas omoplatas, ganhando forma mesmo por debaixo do pesado manto castanho. Ao ver o olhar surpreso dos piratas quando viram as suas duas armas a ganharem tamanho, Arami desejou poder voltar a ver as suas faces quando acabasse de degolar cada um daqueles mal-cheirosos. No final, apenas a Placa da Alma interessava...