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Essa merda não chega nunca. - Apavorava-se Daisuke, impaciente e exausto por todos estes dias de viagem no lombo do camelo. A Prisão de Yokoyama realmente era um local inexpugnável, afinal, ele acreditava que nem mesmo os deuses poderiam caminhar até aquela região tão inóspita. Enjoado desde as primeiras horas do dia, sob o sol do meio-dia, o ninja se inquietava e tinha ânsias de vômito toda vez que desciam em mais uma das inúmeras dunas da trilha. Remédio, suor frio e tédio. Era tudo o que temia. Limpando o suor da testa, ele finalmente alcançou seu cantil e bebeu um grande gole d´água quando seu camelo terminou a subida do último obstáculo arenoso quando teve um vislumbre da prisão onde trabalharia. Construído sob a areia amarelada de uma gigantesca planície, o presídio tinha suas paredes externas altíssimas que formavam um círculo onde dezenas de homens vigiavam o interior e exterior à procura de invasores ou fugitivos. Não conseguia enxergar o seu interior. Apenas via o portão escuro e esculpido com o desenho de dois demônios se digladiando. Aquele parecia ser o único caminho de entrada e saída do local. -
Olá! - Gritou um dos beduínos, tendo o som de sua voz amplificado pela ausência de obstáculos à frente. Não demorou muito até que receberam a autorização para entrar na planície, quando um dos guardas os enviou sinais de luz através de um pequeno holofote preso à murada.
Mais que buraco. Daisuke já estava desanimado, e depois que viu o local, seu desânimo aumentou absurdamente. Debruçando-se sobre seu animal para se segurar na longa descida até a planície, ele esfregou os olhos para ter certeza de que o que via não seria uma miragem. Enganou-se. À medida que a comitiva avançava pela areia comprimida, o paredão se tornava cada vez mais ameaçador.
COMPLEXO PRISIONAL DE YOKOYAMA - Dizia a placa. O ninja pensou naquilo e percebeu que, no meio do nada, aquilo realmente seria uma ótima prisão. Quem seria maluco de enfrentar o deserto? -
Mais uma viagem segura. - Comemorava o beduíno que estranhamente ainda o observava. Daisuke fez uma careta em resposta, mas logo desviou o olhar quando os portões rangeram e se abriram para mostrar o interior da prisão. Foi quando o vento invadiu o complexo com um uivo assustador e desceu pela encosta do maior buraco que Daisuke havia visto. Parecia que todo o presídio fora esculpido na encosta da depressão de onde várias portas gradeadas criavam um mosaico acinzentado.
A entrada para o inferno. Foi o primeiro pensamento que o jovem teve quando atiçou seu camelo para acompanhar a comitiva que seguia pela estreita trilha que descia em espiral até o fundo do complexo. Era uma descida de não menos que duzentos metros. -
Então essa é a prisão de Yokoyama. - Sussurrou, balançando com sua montaria até chegar ao final onde já eram esperados por alguns guardas.
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Muito bem. Tudo em ordem aqui? - Inquiriu o beduíno, retirando seu turbante.
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Sim, senhor Nagasaki. Tudo em ordem. - Reverenciou o primeiro guarda.
A princípio Daisuke estranhou tamanha subserviência dos fiscais com o beduíno intrometido, mas quando este retirou seu manto foi que o jovem começou a perceber que o mesmo sujeito que ele hostilizou era o mesmo que seria seu chefe naquele local. O beduíno era o tal Ushyo Nagasaki.
Isso não é bom. Ele sabia que seu comportamento arredio e pouco sociável poderia prejudicá-lo no momento da escolha de sua função. -
Vamos descarregar. - Comandou aos membros da comitiva. Os homens obedeceram e começavam a descarregar sua bagagem quando o jounin se aproximou de Daisuke que ainda montava. Ele sequer precisou falar. Daisuke desceu de seu camelo e começou a acompanhar os outros na direção da entrada principal. Seu animal reclamou um pouco antes de deixar que o jovem desatasse as rédeas que prendiam sua bagagem, mas logo ele já se dirigia numa escura e estreita passagem cuja grade enferrujada estava escancarada. O corredor era frio e apesar da escuridão, a pouca luz do exterior refletia a marca das ferramentas que talharam essa passagem na sua construção. Era algo claustrofóbico. Descendo por mais alguns metros, o grupo finalmente alcançou o que parecia ser a câmara de descarga. Era um salão iluminado por algumas tochas, onde se podia calcular que a cômoda tinha cerca de vinte metros de largura e mais cinco de altura.
Deixando sua bagagem no canto, o rapaz curioso começou a estranhar o ambiente fechado. Para dizer a verdade, ele estava acostumado com o deserto e suas paisagens típicas. Porém, aquela
dungeon parecia bem opressora. Tanto que já sentia saudade de seu camelo. -
Mas que buraco. - Pensou alto, quando percebeu que a gruta amplificava sua voz, sendo logo ouvido pelos carregadores que gargalharam com o comentário.
Não mentiu. Aquilo realmente era um apanhado de túneis e salões que na penumbra da fraca iluminação poderia enlouquecer qualquer um com o tempo. Sua estadia ali parecia que não tinha começado bem. Foi então que viu um velho ninja descer os degraus no final da sala, aproximando-se enquanto limpava os óculos na manga de seu uniforme. Passando pelos inúmeros barris que armazenavam água, o estranho recolocou o objeto e apertou os olhos para tentar visualizá-lo. Seus olhos quase brancos totalmente fitaram o rapaz de cabelos descoloridos, dando voltas no garoto como se estivesse analisando uma das cargas. -
Perdeu alguma coisa? - Comentou Daisuke. O velho sorriu e acenou positivamente. -
Você dará conta do trabalho. - Concluiu o velho, com sua voz rouca. -
Eu sou Goroshi, o responsável pelas encomendas. - Apresentou-se, estendendo a mão num cumprimento educado. Como já tinha começado com o pé esquerdo com o chefe, o ninja sorriu e estendeu a mão num forte aperto.
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Prazer. Sou Daisuke. - Respondeu.
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Venha comigo. Apresentarei seus aposentos. - Disse, retornando.
Rapidamente Daisuke já estava acompanhando o velho por mais um tortuoso corredor escavado na rocha que se agachou para ultrapassar a última viga até se deparar com uma grande estrutura de metal que se escorava noutro grande salão de estrutura cilíndrica, onde várias guardas zanzavam de um lado a outra nas plataformas. -
Esse é o setor administrativo. - Comentou, iniciando uma pequena subida aos dois primeiros andares, terminando por entrar em outro corredor mais largo onde várias portas pesadas de metal adornavam as paredes.
Esse é o dormitório. E o velho adentrou no corredor que bifurcava em mais três corredores que se estendiam por mais cinquenta metros. Daisuke estava exausto e sua cabeça doía. Talvez pela falta do balanço do camelo. Contudo, comemorou quando finalmente o velho apontou para a última porta do corredor. -
Este é o seu quarto. - Sorriu. -
Café-da-manhã as sete e depois se apresente no setor de mensagens. - Concluiu o velho, acenando e retornando com passos rápidos pelo corredor. Sem aguardar, Daisuke acionou a maçaneta, abrindo a porta pesada que rangeu e ecoou pelo corredor. Decepcionado com o que viu, ele adentrou no estreito recinto sem janelas, onde existia uma cama, uma bancada, uma cama e um sanitário à beira do chuveiro. Aquele dormitório tinha metade do tamanho de seu quarto. -
Seja bem-vindo à Yokoyama. - Disse, deitando-se pesadamente na cama de palha.
CONTINUA...