- Anteriormente:
Azura ia ser executado por matar 12 civís de kiri à sangue frio, resultado na sua primeira transformação do Senninka, acabou fugindo no dia da execução por estar prestes a se descontrolar novamente. Passou a viajar pelo mundo em busco de um objetivo de vida sempre perseguido por agentes secretos de kiri que queriam seu corpo para fazer experimentos, aliando-se à Ayame Midori no país do chá e aprendendo com ela diversos conceitos sobre o que é viver. Cansado de ser perseguido, decidiu então voltar para kiri para encarar o homem que o criou e que o manipulou durante toda a sua vida, motivado pelas palavras de Ayame e certo de que conquistaria a sua liberdade ou morreria tentando...
Filler 38
- Renascido -
O Retorno do Filho Pródigo
Correra durante a madrugada inteira naquela noite de domingo. Atravessou o mar em uma embarcação no entardecer do dia anterior e desde então viajara sem parar. Cruzou o país da água neste meio tempo, um ritmo ininterrupto e infinito, talvez até mesmo uma forma de arte.
Se aquele homem não sentia, não podia sentir, então seu corpo e sua mente haveriam de achar uma forma de expressar o que quer que ele estivesse, ou deveria estar, ou realmente estava, sentindo naquele momento. Seu peito e sua mente, assim como a atérea forma de seus sentimentos eram uma incógnita.
Inclusive para ele mesmo.
Chegada certo momento da madrugada, algumas horas antes de amanhecer, ele parou. Respirava em tragadas profundas de ar, um apelo pelo oxigênio que lhe faltava a muito nos pulmões. Estava na hora de lidar com a verdade, ao invés de simplesmente correr. Caminhara a partir dali, certo de que chegaria ao seu destino, kirigakure, em pouco tempo. Seu corpo estava coberto pelas roupas que ganhara de presente de Ayame, e impregnado naquele cheiro de flor de castanha branca, estavam as palavras que ardiam em chamas no peito, onde deveria existir um coração, do rapaz;
“Vá, e conquiste o seu próprio destino… Eu confio em…”
- Você… - Ele sussurrou para si novamente, fechando sobre o torço a mão monstruosa, consumida pelo senninka…
E ali, naquele momento, dias depois… Ele respondeu a ela dizendo em sua mente as palavras que deveria ter dito antes;
- Eu prometo… - Sussurrou para sí, acompanhado pelo canto dos pássaros que prediziam o nascer do sol, já iminente naquele horário.
Naquela hora da madrugada a neblina cobria a estrada principal que levava viajantes a kiri como uma densa cortina de tecido. O ruivo caminhara por horas até que os grandes portões da vila finalmente estavam próximos, a poucos kilômetros de distância. Seus passos começaram a acelerar a cada metro que se aproximava da entrada da vila e em seu peito, seu coração batia tão forte quanto nunca. Uma chama acendia-se dentro de si a medida que sua chegada tornava-se iminente e em resposta a isto, seu chakra acendia-se com notável vivacidade, chegando a até mesmo garantir ao rapaz uma aura azulada.
E começou a chover.
As gotas de chuva pareciam labaredas de fogo, chama que caia do céu em um cenário azul, frio e hostil. O caminho à frente de si estava invisível, intransponível, uma cortina da mais densa névoa escondia sua passagem para dentro da vila… E Azura se aventurou nesta fumaça de sonhos não realizados. Caminhante das sombras, não demorou até que dois vultos surgissem na frente de si, a alguns metros, prontos para matar e cortar, eles buscavam eliminar quem quer que fosse o invasor. Pobres almas, cortadas pelo fio das próprias lâminas, nao esperavam um oponente tão bem preparado.
E assim como choviam gotas de fogo, passaram a chover lâminas, setas, vidas, almas e morte. Como em uma barricata de vida, eles vieram todos de uma vez. Em gritos e lamúrios, atônitos expectadores da dança em frênesi que Azura propusera. Eles caiam um a um, gota por gota, uma chuva inacabável de mortos sob os pés daquele que um dia fora expulso do próprio lar, e que hoje retornara para expurgar o que havia de mais maligno do ventre de onde viera. Passos firmes, confiantes, ele não deixava-se impedir pelos inimigos que surgiam. Uma luz brilhava em seus olhos, uma sombra do que um dia fora, somado ao que hoje tornara-se e expressa em sua face. Sim, sim! Ele exprassava tudo o que vivera até ali em sua face de mármore. Talvez fosse seu cenho enrugado, ou sua boca arqueada num resumo da raiva que ardia em seu peito, cada passo para dentro da vila era uma nova faísca que nascia de seu coração.
Humilhado desde que abrira os olhos, usado desde que nascera, subestimado ao longo de toda sua curta vida, marginalizado por ser apenas aquilo que nascera para ser, nunca tivera uma escolha de trilhar outro caminho, nunca quis ser o monstro que tornara-se, ou nunca perguntaram-lhe se lhe doía fazer todas as atrocidades que era incubido de fazer, não! Mas naquele dia, naquele fatídico dia, ele morreria.
O silêncio da cidade que ainda dormitava era devastador, mórbido, gutural e ao mesmo tempo sinfônico. Ele caminhara até a praça central, deixando para trás uma pilha de cadáveres e homens natimortos, todos agentes de Amagi, o monstro que criara outro monstro. E o céu se fechou, o sol se escondeu nas núvens, a luz se fora em uma progressão de eventos que pareceram durar uma eternidade, talvez alguns segundos, ou alguns momentos. A chuva o golpeou poderosamente como uma torrente de fatos, a água nunca parecera tão límpida, tão poderosa, tão santa. Lavava sua alma, mas não apagava a fúria que subia-lhe o estômago e fazia arder sua garganta. Ele avistou entre os prédios da vila aquele cuja cobertura pertencia a Amagi, e subiu apressadamente no topo do prédio adjacente, armado da própria raiva e dos seus próprios sonhos, sonhos estes que emergiam aos poucos na sua mente silenciosa.
“AMAGIIII!” Ele gritou, expulsando dos pulmões tudo o que guardara até então. Fazendo queimar o ar que saia da sua boca, inflamado em seu desejo de liberdade. E por alguns segundos, apenas as gotas da tempestade que formara-se sob suas costas fizeram-se ouvir no ar, nem mesmo aqueles que o observavam de longe ousavam respirar, com medo de acabar cedendo a aquele clima opressor que erguia-se do chão, subindo aos céus.
Um relâmpago rasgou os céus no momento seguinte, logo acima da cidade. Um relâmpago silencioso.
E ele surgiu. Começou apenas como uma sombra no horizonte, do alto do seu prédio, mas ele erguia-se aos poucos como uma estátua que sempre estivera ali. Amagi era apenas uma silhueta confundida entre as nuvens de um céu negro. Seus olhos de um azul altivo fitaram azura por momentos, avaliando, ponderando, odiando.
Um trovão desceu dos céus, desta vez destruindo o silêncio com seu grito poderoso, deixando para trás apenas lembranças de um momento grandioso. O flash, a música da natureza, os movimentos. Tudo aconteceu no instante seguinte. Amagi voou em direção a Azura, que por sua vez fez tornar-se apenas um vulto em meio as gotas da tempestade para atacar seu oponente. E desta vez os braços de luz não vieram dos céus, e sim do encontro dos dois shinobis. Faíscas e raios brilharam quando eles se chocaram. E juntos, como um meteoro de luz, eles caíram sobre um prédio próximo. Uma lâmina de luz, raios e chakra atravessara o peito do kirinin e o prendera contra o chão, agonizando em espasmos e lufadas de sangue que subiam-lhe a garganta.
O velho homem se aproximou, intacto e encharcado de suor e chuva.
“Eu sempre soube que o teu fim seria nas minhas mãos.” E ele caminhou até o ruivo, prostrado diante dele, seus olhos o observaram como se perdessem-se em um horizonte. “E pensar que eu queria sua ajuda para conquistar tudo…”
“A ajuda que tu querias tinha como preço a minha vida. Teus sonhos sempre esmagaram a minha existência…” E balbuciou o ruivo, entre dentes cerrados e sangue nos lábios.
“Existência! Tu deves a mim a tua existência!” Respondeu Amagi, gritando e abrindo os braços. “Você não entende?! Nós somos iguais, Azura! Você é o mesmo monstro que eu! Você é apenas um reflexo de mim!”
Ao redor dos dois, observando a aquela luta como corvos esperando para devorar um cadáver, os homens de Amagi enfileiravam-se sobre os prédios. Aves obedientes, seguindo ordens de observar até o fim, naquela manhã pálida…
Azura tossiu mais uma lufada de sangue, que cobriu seu queixo do líquido escarlate. Amagi, seu criador, se aproximou materializando na mão mais uma lâmina de raios.
Um trovão explodiu nas nuvens, fazendo toda aquela escuridão tornar-se luz por um segundo. E a lâmina de raios do velho Amagi desceu sobre Azura.
“Aaaaaaaargh!” E seu grito foi abafado por outro trovão.
Um filete de sangue escorreu pelo braço de Amagi. A mão esquerda de Azura transformara-se em qualquer coisa cinza e gigantesca, e a arma do velho conselheiro de kiri atravessou esta palma. Uma dança de raios queimando em fogo dominava a pele, subindo pela face esquerda do ruivo como quem dominasse seu corpo.
“Você é o verdadeiro monstro aqui, Amagi!”
- Spoiler:
Este filler marca o meu retorno aos fillers solo, e espero que agrade
eu pessoalmente tenho andado bem enferrujado, então estou aceitando críticas e sugestões /0/ enjoy it!