Filler 16
-Não, não, não. Pára.
Yuu acedeu de imediato ao pedido da mãe. A jovem apenas havia conseguido mencionar que recebera um bilhete do pai há algumas horas antes de a mãe a impedir de falar mais, não lhe permitindo mencionar que já se havia encontrado com ele, falado com ele, e que já descobrira o que ele queria delas.
-Tudo o que tiver a ver com esse... homem. - Hasu agarrava com força o braço da filha enquanto falava, parecendo fazer um grande esforço para não desatar num pranto. - Não quero saber. Independentemente do que seja!
-Bem. Posso ao menos preparar-te o almoço? - Perguntou Yuu finalmente. Não tinha outra escolha que não fosse falar com a mãe mais tarde, quando ela estivesse mais calma. Era frustrante não poder simplesmente tratar de tudo isso agora, mas dificilmente poderia culpar a mãe pela sua reacção. - Ainda tenho alguns minutos antes de começar o meu segundo turno no restaurante.
Hasu anuiu, acenando afirmativamente com a cabeça. Yuu instruiu a mãe a vestir-se e a dirigir-se à cozinha, antes de fechar a porta do quarto atrás de si.
Já na cozinha, a jovem não conseguiu evitar parar de cortar vegetais por breves momentos para suspirar e tentar segurar as lágrimas. A proposta do pai havia sido simples: mudarem-se novamente para casa dele, para que as pudesse ajudar financeiramente. Yuu não era parva. Soube bem, desde o momento em que o ouviu, que Hyun apenas queria salvaguardar a pouca reputação que ainda tinha - talvez restaurar alguma da que perdera. Não havia nas suas palavras qualquer traço de preocupação ou amor, apenas interesse pessoal puro e duro. Se tinha mais algum motivo para além desses, ela não conseguia saber.
Yuu recusou imediatamente. Mas mentiria se dissesse que a proposta do pai lhe desagradava completamente. Desde que haviam saído de casa que ela era a única a trabalhar e a sustentar a casa, enquanto a mãe passava os dias entre a cama e a cozinha. Todas as responsabilidades, monetárias ou não, estavam nos ombros de Yuu. Chegara ao ponto em que lhe era quase impossível não ressentir a mãe... E sentia remorsos a corroerem-na por pensar dessa maneira.
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Hasu finalmente chegou à cozinha, alisando uma madeixa de cabelo louro enquanto caminhava. A mesa de madeira simples tinha já uma malga fumegante em cima. Calculou que Yuu já tivesse saído para trabalhar.
Mais um almoço sozinha, óptimo. A mulher pegou na malga e nos pauzinhos, e dirigiu-se para o antigo sofá que tinham na sala. Já que estava sozinha, não sentia qualquer obrigação de comer na cozinha e sentada numa cadeira dura.
No momento em que ia sentar-se ouviu alguém bater à porta. Sentiu-se imediatamente frustrada. A irresponsável da filha provavelmente esquecera-se de alguma coisa em casa - e das chaves também, já que preferira bater à porta em vez de simplesmente entrar como era costume - e voltara atrás. Para surpresa e choque de Hasu, não era a filha quem estava para lá da soleira da porta. Sentiu o seu coração parar por momentos, e o ar a faltar-lhe aos pulmões.
-Oh. Estás com melhor aspecto do que eu estava à espera. - Hyun falou num tom baixo, arrastado, acompanhado por um sorriso trocista. A ex mulher simplesmente ficou a olhar para ele, sem mudança de reacção nem resposta. - Olha, eu sei que a Yuu já me deu a resposta dela. Mas não posso evitar ficar curioso sobre o que tu terás a dizer.
-Deixa-me em paz, vai-te embora. - A voz de Hasu era quase nada mais que um sussurro, magoado e assustado.
-Eu só... - O homem deteve-se quando viu Hasu a tentar fechar-lhe a porta na cara. Com reflexos quase sobre-humanos estendeu o braço, impedindo a mulher de interpôr aquela barreira entre ambos. Esta não era de todo a resposta que esperava dela. Estava preparado para insultos, repulsa, até para que a mulher lhe batesse. Mas não esperava total surpresa. Talvez... - A Yuu não falou contigo, pois não?
-Sobre?
Então tenho razão, ela não te disse nada. Em parte, Hyun quase ficou aliviado por as duas não terem falado. Sabia que em condições normais, nem ela nem a filha teriam concordado com a proposta dele. Mas talvez pudesse capitalizar esta oportunidade que encontrara. Se Hasu ainda fosse a mesma cabeça quente que ele recordava, e se conseguisse "jogar as cartas certas", seria ela a empurrar Yuu até ele.