Treino Décimo Segundo
~ Nas urgências ~
“Knock-Knock”.
Ela estremeceu, mesmo adormecida. E novamente o mesmo som. “Knock-Knock-Knock-Knock”.
O som, insistente e barulhento, entoava no seu quarto e não a deixava voltar ao sono. Acabou por entreabrir os olhos para tentar perceber a origem do mesmo.
“Knock-Knock”.
- Ayame! – uma voz fez-se ouvir ao longe, meio abafada por algo.
A kunoichi virou-se para o outro lado e viu o Hikaru na janela, com a sua bata branca por cima das roupas. Bocejou e fechou os olhos, cansada, até que o seu cérebro a espicaçou. Hikaru? Que raios estava ele a fazer ali de madrugada? Agora não a ia deixar dormir? Suspirou e puxou os cobertores para trás, aproximando-se da janela e abrindo-a.
- Já viste as horas? Achas que é hora de vir chatear alguém? – murmurou ela, rabugenta pelo sono.
O ruivo sorriu secamente.
- Tens razão, eu sei, Aya. Desculpa. Mas precisamos de ti – perante a confusão dela, ele continuou. - No hospital. Sou um kage bunshin. O Hikaru não podia deixar as urgências e mandou-me para te vir chamar. Chegou um grupo de uma missão e estão em muito mau estado. Os médicos de serviço esta noite não são suficientes para lidar com todos. E é aí que entras tu. Não vejas isto como um treino ou um teste. Precisamos mesmo de ajuda. Já foram mandados chamar mais alguns médicos e tu foste nomeada por mim. Afinal, sei das tuas capacidades…
- Já entendi – interrompeu-o. Não estava com paciência para ouvir um sermão motivador depois de ser acordada. Se precisavam da ajuda dela, ela iria. Era tudo o que ela precisava de saber. – Podes voltar. O Hikaru está a precisar do chakra que tens contigo. Vou vestir-me e já lá apareço.
O kage bunshin com o aspecto do seu sensei voltou a sorrir e desapareceu numa nuvem de fumo.
Não tardou muito para que Ayame aparecesse no hospital de Konoha, já equipada com a bata que lhe fora atribuída com a sua identificação e com as suas bolsas de pequenos equipamentos pessoais que sabia que não teriam no hospital. As urgências estavam um caos. Médicos corriam de um lado para o outro. Antes que ela se pudesse orientar, alguém a puxou em direcção a uma sala equipada e sem macas. Se não fosse o seu longo cabelo ruivo, não teria reconhecido rapidamente.
- Ficas responsável por esta sala. Estamos a contar contigo – disse Hikaru, saindo com pressa.
De repente, entraram duas macas dentro do compartimento, com dois shinobis inconscientes e ensanguentados e roupas retalhadas. Não houve tempo para troca de informações. Ela tinha que começar a intervir de imediato.
“Dois ninjas. Não sou capaz de dar conta do recado sozinha.” – pensava. Analisou os dois casos. Um aparentava apenas ter cortes, enquanto o outro já deveria estar ferido há várias horas. Era um caso muito grave. Tinha que se focar nele.
Concentrou chakra e, com rápidos selos, fez com que folhas do exterior se acumulassem no chão da salinha e se amontoassem com a forma do seu homúnculo (Bane no Homunkurusu). Seria o seu apoio naquele momento. Repetindo alguns selos e desbloqueando parte do seu chakra ao manipular o seu circuito energético, permitiu que a sua Lif pudesse usar o seu chakra, ordenando-lhe a utilização do toque de cura (Chiyu no tacchi) num dos shinobis. As mãos da pequena Lif brilharam e colocaram-se em cima dos ferimentos mais graves de forma a suturar e cicatrizar os cortes. Ayame sentia o fluxo do seu chakra a dirigir-se para o seu homúnculo enquanto se tentava concentrar para avaliar a situação do shinobi da outra maca.
Enquanto pensava, entrou em modo médico automático. Fez um selo e, focalizando chakra nas suas mãos, começaram a brilhar num tom esverdeado (Shōsen Jutsu), tentando fechar os cortes mais profundos no peito que não aparentavam necessidade de limpeza.
“Este parece estar em pior estado. Já não terá sido ferido recentemente devido ao estado de putrefação de alguns tecidos. Estão infecionados. Não temos tempo para administrar antibióticos. Tenho que arranjar maneira de remover o agente infecioso do sistema dele para permitir a regeneração dos tecidos. Para já, tenho que parar a putrefação e impedir que se alastre. Como posso fazer isto?”
Tentou rever o processo de morte celular na sua cabeça, ao mesmo tempo em que injectava chakra lentamente com a palma mística (Shōsen Jutsu) junto da perna. Os músculos do quadricípite estavam arroxeados e com um cheiro pungente, o típico aspecto de morte celular. As células humanas eram mais frágeis que as de plantas devido à presença de celulose nas últimas. Podia tentar aproveitar esta propriedade e endurecer a pele para assim desacelerar a morte celular. Fechou o fluxo de chakra da palma mística, encerrando o jutsu, e fez rápidos selos. Manipulou o seu chakra para o dividir e moldar, sussurrando Hana Kage Bunshin no Jutsu. A Ayame-clone surgiu ao seu lado após um amontoar de pétalas. Não precisaram de trocar nenhuma palavra para saberem o que tinham a fazer. A clone repetiu os selos e libertou o seu fluxo de chakra para iniciar o Shōsen Jutsu. A Ayame original fez novos selos e concentrou chakra com precisão para utilizar o Gaihi. Sabia que ia precisar de se concentrar para utilizar o chakra de forma eficiente nas zonas afectadas. Pousou os seus dedos a 2 centímetros da zona em putrefação e visualizou o seu chakra a amontoar-se naquela zona, envolvendo as paredes celulares com a celulose e cobrindo-as com 3 camadas.
A sua clone rapidamente utilizou a palma mística em cima da zona afectada, procurando enlaçar os tecidos musculares com o seu chakra usando a sua técnica de cura.
“Agora que isto está tratado, está na hora de tratar da infecção. Não se pode alastrar para outros tecidos… E não temos tempo para esperar pela actuação de um antibiótico. O agente deve ser removido… Se eu usar o Gaihi nas paredes celulares do sistema circulatório, talvez consiga evitar que haja transferência do agente para fora da circulação e assim posso mais facilmente procura-lo através de injecção de chakra.”
Entretanto, a sua homúnculo continuava a usar o seu chakra e a manipulá-lo para curar com o toque (Chiyu no tacchi). Uma vez para um corte pouco profundo nas costas, uma vez outra para um corte profundo no peito. Mais uma injecção de chakra e respectivo Chiyu no tacchi para a pele raspada no rosto. Felizmente, Ayame podia confiar na homúnculo para fazer aquele trabalho automático, ainda que estivesse a ser drenada do seu próprio chakra.
A Ayame original respirou fundo. Não gostava de ter que fazer cortes nos seus pacientes, mas era a única hipótese… Olhou para a sua clone, que permanecia concentrada a manipular os tecidos com chakra usando a palma mística. Estalou os dedos e, com uma pequena quantidade de chakra, uma rosa apareceu nas suas mãos (Roiyaru Demon Rōzu). Precisava de anestesiar primeiro. Embebeu a rosa com o seu Keshiekisu (extracto de papoila), pois sabia que os efeitos opiáceos daquela planta iriam proporcionar o estado de insensibilidade à dor que precisava, e espetou a rosa junto do pescoço. Aproveitando o jutsu, concentrou um pouco mais de chakra no mesmo e injectou-o para tentar acelerar os efeitos de analgesia. A rosa entretanto desfez-se em flocos de chakra azul.
Não podia esperar mais do que alguns segundos. Não precisava de selos para aquele jutsus específico. Apenas se concentrou em manipular o seu chakra, tentando visualizar a sua natureza cortante. Chakra azul envolveu as suas mãos e dedos (Chakura no Mesu). Aproximou os seus dedos da área anestesiada e cortou a pele e respectivos músculos até chegar à artéria mais próxima. De imediato, terminou o jutsu e concentrou o seu chakra num único dedo para voltar a usar o Gaihi na artéria. Esforçou-se até sentir que o seu chakra e o seu jutsu tinham percorrido a rede circulatória e retirou o seu dedo do corte que fizera. Iria aproveitá-lo para procurar o agente infecioso com o Saikan Chūshutsu no Jutsu enquanto ainda tinha o efeito da anestesia. Apesar de não ser o objectivo principal daquele jutsu, Ayame esperava que resultasse. Se era capaz de remover veneno, iria procurar a bactéria com isso. Concentrou chakra, manipulando-o para afunilar nos seus dedos, e murmurou o nome do jutsu. Fechou os olhos, tentando controlar a quantidade de estímulos que a distraíam para conseguir concentrar-se. Depois de uns segundos, durante os quais o seu chakra se tinha espalhado pelo sistema circulatório do paciente, conseguiu envolver a bactéria numa bolha de chakra e puxá-lo com o jutsu (Saikan Chūshutsu no Jutsu). Automaticamente, a incisão fechou-se.
A kunoichi suspirou ao colocar aquela bolha de chakra numa solução de ácido para desfazer a bactéria removida. Foi então que se apercebeu do seu cansaço. Tinha sido drenada de uma boa parte do seu chakra.
Antes de descansar, avaliou o trabalho da sua homúnculo. Tinha fechado todos os cortes do shinobi, como era o seu propósito. Agradeceu e fê-la desaparecer.
A Ayame-clone terminara também de fechar todos os cortes do shinobi da outra maca. O paciente estava ainda pálido, mas a ganhar alguma cor. O seu sistema imunitário estava finalmente a funcionar com equilíbrio. Agradeceu também à sua clone e assim cortou com o fluxo de chakra que a drenava externamente, finalizando com os jutsus que ainda perduravam. Agora precisava de dormir para repor energias e chakra, nem que fosse encostada a um canto, onde se deixou ficar até ser encontrada de manhã por Hikaru, o seu sensei.
- Spoiler:
Yeah, a Shibi fez um treino, que milagre! Sorry a quem avaliar. Não o revi... Espero que esteja alguma coisa decente, já que óptima não estará