Administrador | Konoha
Sexo : Idade : 33 Localização : Jardim à beira-mar plantado Número de Mensagens : 3508
Registo Ninja Nome: Ayame Midori Ryo (dinheiro): 5470 Total de Habilitações: 228,5 | Assunto: [Filler 11 - Haarina Kristea] Leo Qua 3 Set 2008 - 22:21 | |
| O dia estava solarengo. A Primavera havia chegado em todo o seu esplendor. O verde das árvores resplandecia e a Natureza parecia aclamar toda a sua beleza. Kristea decidira visitar o orfanato, ao qual não ia desde há uns meses atrás. Não era longe da vila, ficava apenas a vinte minutos, mas não tivera tempo antes. Fizera um bolo para as crianças. Elas iriam gostar, de certeza. O ambiente na floresta estava tão belo que resolveu ir a caminhar, em vez de correr. Era tão bom sentir a brisa do vento na cara e aproveitar o doce perfume das plantas. Sensivelmente a meio do caminho, o ar ficou subitamente pesado. Estava um silêncio de morte, o que não era normal. Kristea notou numa cor diferente numas árvores mais adiante. Pareciam salpicadas de algo. Correu para chegar mais depressa ao lugar. Sangue cobria aquele local. Haviam corpos esfaqueados e desfeitos por todo o lado. Ela levou a mão que tinha livre à cara, chocada. Quem poderia ter feito aquilo? Alguém a agarrou por trás e prendeu-a. Naquele instante, Kristea desfez-se em folhas. Tinha-se apercebido da hostilidade no ar. - Foste tu que fizeste isto? – perguntou ela, atrás da pessoa, com uma das suas espadas encostadas ao pescoço desta. A lâmina fria de Kansho tocava o pescoço do rapaz. Tinha cabelos escuros, algo compridos. Era moreno e vestia uma camisola clara e umas calças escuras, ambas manchadas de escarlate. Ele bufou: - E se tiver sido? Com uma rapidez enorme, ele voltou-se para trás. Ia espetar-lhe as grandes lâminas que tinha incrustadas nas mãos, mas parou ao vê-la. A sua face permanecia algo escondida pelo cabelo negro. Mas o brilho encarnado nos seus olhos desvanecia visivelmente. - Desculpa – disse ele, recuando. As lâminas retraíram para dentro da pele, dando uma aparência normal às suas mãos. Kristea, apesar de considerar aquela habilidade algo estranha, deixou-se ficar indiferente e questionou-o: - O que é que se passou aqui? - Não sei… Quando dei por mim, estava aqui, encharcado em sangue. Fui eu a fazer isto, de facto… Mas não foi de propósito, eu não faria isto… - Dupla personalidade? - Mais ou menos. Eu fico alterado quando vejo sangue. Ninguém me consegue parar até que… Mate alguém… Ela ficou surpreendida. Ele devia ser um assassino muito perigoso e procurado. - Não tenhas medo de mim. Sei que sou assustador, mas… Não era isso que queria… E consigo repor tudo… - continuou ele. – Podes afastar-te, se tiveres receio. Eu seria incapaz de magoar alguém como tu. Kristea avançou, para o encarar de frente: - Alguém como eu? Ele enfrentou o seu olhar e corou ligeiramente, desviando novamente o olhar. Kristea apercebeu-se da cor rosada das faces dele e sorriu. Embaraçado, voltou a olhar para ela e viu o seu lindo sorriso. O seu ar assustador desapareceu e deixou antever o seu rosto. Ele não era intimidante. Mas não era um humano puro, havia algo nos seus traços que o denunciava. - Eu sou a Kristea. E tu, como te chamas? – apresentou-se ela, sempre com um sorriso na cara. - Leo… - respondeu ele, hesitante. – Não tens medo de mim? - Não! Não vejo porque haveria de ter… - Menos mal… - comentou ele, rindo. O sorriso dele era surpreendente. Parecia totalmente outra pessoa quando sorria. - Bem, tenho que repor isto como estava antes… Afinal, foi por minha culpa que isto aconteceu. - Consegues mesmo fazê-lo? - Sim. À custa de parte da minha energia… - explicou Leo. Depois acrescentou em voz baixa: - Sou um monstro… - Não digas isso, por favor! O olhar de Kristea ficou baço. Não gostava que dissessem tamanhas barbaridades à sua frente. Ao voltar a si, apercebeu-se que tinha que continuar o seu caminho. - Tenho que ir… Tinha já umas coisas para fazer, peço desculpa por não poder ficar para ajudar – disse ela. - Oh, claro. Eu trato disto. Vai fazer o que tens para fazer. - De certeza? - És capaz de confiar em alguém que acabaste de conhecer? Ela sorriu: - Talvez… Bem… Adeus! – e desapareceu numa rajada de folhas. As suas palavras haviam sido levadas pelo vento até si. Leo pensava que assim o era. A sua voz suave, fundida com o movimento do vento… Kristea tinha que se despachar. Perdera bastante tempo na conversa e ainda queria estar com as crianças e voltar antes que anoitecesse. Tivera que deixar Leo sozinho. Será que ele conseguiria mesmo repor o que havia destruído? Todo aquele sangue… Vidas… E ele descontrolado… Só de imaginar aquilo lhe dava arrepios. No entanto, Leo, enquanto estava normal, parecia ser uma óptima pessoa. Algo tímido e reservado, mas confiara-lhe aquele segredo. Não, ele não era nenhum monstro. Acelerou o passo e, em pouco tempo, viu o orfanato à sua frente. Bateu à porta e uma das tutoras abriu-lhe a porta. Era a mais nova delas, Tsubaki. Era poucos anos mais velha que Kristea, por quem nutria um grande afecto. - Kristea-chan! – disse Tsubaki, contente por a ver. Abraçou-a como se não a visse há anos, o que não era verdade. – Vieste ver os miúdos? - Sim. Espero que esteja tudo bem com eles. - Claro! Eles ficarão radiantes por te ver. Vem, entra, que te levo até eles. Tsubaki puxou Kristea para dentro do grande edifício e guiou-a até ao pátio, enquanto conversavam. - Então rapariga, o que tens feito? – perguntava a tutora, curiosa. - Nada de especial. Só que têm acontecidos umas coisas… - Que coisas? Conta, conta! - Bem, encontrei o meu irmão gémeo… Os olhos de Tsubaki cintilaram de alegria: - A sério? Ai, que bom! E a tua mãe, como reagiu? Como está ela? - Ela…- Kristea hesitou. . Ela morreu… Tsubaki soltou um gemido de surpresa. - Desculpa! Foi sem intenção… - Não tem mal – disse Kristea, sorrindo. Tentou mudar o assunto, mostrando-lhe a caixa com o bolo. – Isto é para os miúdos. Fiz esta manhã. - Oh, não era preciso! Bastava a tua presença… A jovem ninja insistiu. - Pronto, está bem. Então vem comigo até à cozinha, por favor. A cozinha era mesmo ali ao lado e emanava um doce odor. - Tsubaki-san! Pode vir ajudar-me com o lanche dos miúdos? – perguntou uma voz vinda da cozinha. Era uma das tutoras mais velhas, Mai. Kristea e Tsubaki aceleraram o passo em direcção à cozinha e entraram. - Sim, claro que posso. Veja, Mai-san, a Kristea-chan veio visitar o orfanato e trouxe um bolo – disse Tsubaki. Mai, rodeada de pratos, travessas, canecas e jarros, voltou-se para trás. Cumprimentou a jovem ninja e agradeceu o bolo. - Posso ajudar aqui na cozinha? – pediu Kristea. - Não, não – respondeu Mai. – Vais é ter com os miúdos, que eles devem ficar felizes por te ver. Eu e a Tsubaki tratamos disto. Vá, podes ir ter com eles. - Eu levo-te ao pátio – disse Tsubaki. – Eles estão lá, a aproveitar o bom tempo. Mai-san, volto já. A ninja e a tutora dirigiram-se para o pátio. Enquanto desciam as escadas que davam a este, já se ouviam as vozes das crianças. Viam as suas sombras, que riam e corriam com os pequenos. Mal acabaram de descer as escadas, sentiram os pequenos olhares pousados em si. - Kristea! – gritaram as crianças, correndo para ela. Abraçavam-se fortemente, mostrando o afecto que sentiam uns pelos outros. - Bem, vou deixar-te aqui com os miúdos e ajudar a Mai-san na cozinha – disse Tsubaki, voltando-se na direcção de onde viera. As crianças bombardeavam Kristea com perguntas e abraços. Tinham muitas saudades dela. - Kristea! Vens brincar connosco? - Não! Eu quero falar com ela! - Eu também! - Vem brincar… - pediu um dos mais pequenos, agarrando na mão da jovem rapariga de cabelos cor-de-sangue. - Que tal falarmos agora e brincarmos depois do lanche? Trouxe um bolo… - sugeriu ela. Os olhos das vinte e três crianças pareciam cintilar ainda mais que doces estrelas. As meninas puxaram Kristea para a relva, onde estava sombra, para que falassem com mais calma. Sentaram-se todos em frente da ninja, obedientes e sossegados. - Vá, agora fala um de cada vez. - Kristea-san, vou entrar na academia ninja no próximo ano! – exclamou um dos mais pequenos. Não teria mais que cinco anos, mas era dotado de capacidades superiores a uma pessoa normal. - Que bom! Então vamos ser colegas! - Sim! Eu vou vencer todos os maus e tornar-me hokage! Kristea sorriu. Dirigiu um olhar para uma árvore ao fundo do jardim e retomou a conversa de seguida. Uma rajada de vento seguiu em direcção à arvore e, ao pousar nesta, mostrou a sua verdadeira forma, Kaze: - Kristea-dono pediu-me para lhe perguntar se deseja juntar-se a ela. Leo surgiu das sombras: -É melhor não. Afinal, eles são só crianças, assustam-se facilmente… - Tu não és assustador! – disse uma voz melodiosa, num tom bem-disposto. Era a voz de Kristea, transmitida através do vento, para que apenas ele a ouvisse. - Prefiro ficar ao longe… - insistiu o rapaz. - Pronto, pronto… Mas se depois te quiseres juntar a nós, já sabes – disse a voz, desvanecendo com um suave gracejo, juntamente com a brisa. Leo subiu a um ramo mais alto, ocultado pelas sombras. Porquê? Porquê ela? Aquele sorriso, aqueles olhos verdes, aquela pele clara… O seu cabelo cor-de-sangue denunciava a sua identidade. Sim, era definitivamente ela, lembrava-se perfeitamente dela, daquela noite, quando a observara. Mas porque é que o seu estômago deva um salto sempre que ouvia a voz dela? Porque é que sentia as suas faces enrubescerem sempre que aqueles olhos da cor das folhas primaveris encontravam os seus? A vida dava demasiadas voltas para que ele a compreendesse. Kristea respondia às muitas questões dos pequenos, com um sorriso na cara. Sabia que era observada, mas não pressentia nenhuma malícia na sua presença. As horas voavam sem que Kristea se apercebesse disso. Como adorava aquelas crianças… Quando deu por si, já escurecia. Seria mais sensato que se despedisse e fosse embora. Voltaria noutro dia. - Já vais embora? – perguntou Tsubaki, que guiava alguns dos órfãos para o salão. - Sim… Já está a anoitecer e o meu irmão pode ficar preocupado por eu tardar tanto…. As crianças abraçaram-na, ao ouvir aquelas palavras. - Nee-chan… - chamava uma das mais novas, com lágrimas nos olhos, agarrando a roupa de Kristea. Enternecida pela imagem, Kristea desejava ficar um pouco mais, mas tal não era possível. - Eu prometo que volto. Está bem? Assim que viu que as crianças se haviam acalmado e tinham ido brincar com os outros no salão, despediu-se das tutoras. Saiu do orfanato, ainda com e visão daqueles pequenos a brincar na sua mente. Meteu-se a correr, a caminho de casa. Seria muito mais rápido daquela maneira. Via já a estrada que dava para sua casa quando sentiu uma tontura. Teve que parar. Eram sintomas de que uma Visão a assaltaria. Caiu violentamente, agarrando-se a si mesma com dores. Não queria gritar, não podia. Mas as dores eram insuportáveis. Um grito soltou-se do profundo do seu ser assim que as incontroláveis imagens a invadiram. Dois pássaros… A Lua e o Sol… Sangue… Um olhar azulado… Traição… Desespero… Quando, por fim, as imagens a abandonaram, sentiu com clareza os braços fortes que a rodeavam e abraçavam e as lágrimas quentes que lhe escorriam involuntariamente pelas faces. A sensação de um corpo morno junto do seu fê-la despertar da dormência causada pela Visão. Kristea tentou levantar-se, mas o seu corpo doía-lhe e apenas conseguiu ficar sentada. Precisava de esperar um pouco antes de se levantar. O olhar escuro de Leo, estranhamente assustado e preocupado, encontrou o seu assim que ele se afastou uns centímetros de si. - Estás bem? O que é que se passou? – perguntava-lhe ele, procurando fazê-lo calmamente. - É normal… Isto acontece-me várias vezes… - disse ela. Não podia contar-lhe nada sobre a Visão. - É alguma doença? - Não – respondeu ela, sorrindo. Um momento se passou, parecendo mais uma eternidade. - Tens a certeza que está tudo bem? – insistiu Leo. - Sim, tenho. Só fiquei um pouco tonta… Kristea, surpreendida, interrompeu o que ia dizer quando uma das mãos de Leo lhe tocou numa das faces. Leo não sabia porque o fazia, mas queria senti-la ali, perto de si, saber que estava mesmo tudo bem. Aproximou-se dela, lentamente. Ela não compreendia a situação. Nervosa, viu que o seu coração estava acelerado e reparou que o ar à sua volta tinha ficado mais quente de um momento para o outro. Estavam tão próximos. Era só mais um pouco… - Kristea! – chamou uma voz familiar. Ambos olharam na direcção da voz. O olhar de Leo ficou duro e, murmurando um pedido de desculpas, desapareceu nas sombras. Kristian surgiu do meio do arvoredo. Sentira a irmã em sofrimento. Acercou-se dela e ajudou-a a levantar-se. - Uma visão? – inquiriu ele. Ela confirmou. - Vá, vamos para casa, para descansares. Pelo estado em que estás, viste algo importante… Puseram-se a caminho. Faltava pouco para chegarem a casa. Kristian olhou de relance para a lua. - “Se voltas a tocar-lhe, juro que te mato com as minhas próprias mãos, Leo!” – pensava ele. A lua ainda ia baixa, transmitindo uma ténue luz branca. O som de umas asas a abrirem rasgou o silêncio e duas penas azuis caíram, sob o brilho da lua cheia.
Última edição por Shibiusa em Seg 1 Dez 2008 - 18:27, editado 1 vez(es) |
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