FRACASSO PRINCIPIANTE
Era um dia especial na Vila da Folha. Centenas de pessoas zanzavam pelas ruas sorridentes, enquanto os comerciantes fechavam suas portas mais cedo para não se atrasarem para a cerimônia de seus filhos. Enquanto isso, algumas kunoichis e damas da sociedade se acotovelavam na porta dos salões de beleza, tentando arrumar unhas e cabelos logo na última hora. Seus filhos e netos, por sua vez, já aguardavam no pátio da Academia Ninja, ouvindo as últimas instruções do mestre de cerimonia. O local estava todo elegante e arrumado. Inúmeras bandeirolas em forma de folha balançavam ao vento, amarradas nos postes laterais onde algumas mesas e cadeiras já começavam a serem ocupadas pelos cidadãos.
Naquele momento, nada poderia atrapalhar o maior evento ninja do ano: A formatura dos novos genins. -
Aí vem ele. - Sussurrou o representante da turma. Rapidamente o pequeno grupo de aspirantes a ninja se espalhou pelo pátio, torcendo para não serem alvos de mais uma humilhação do arrogante Uchiha. Noburo Uchiha era seu nome. Vindo de uma família tradicional, o garoto sempre se postou como superior... Um mal de família, talvez. Contudo, por alguma razão, suas brincadeiras pesadas e sua imposição em ser o mais forte tinham um grau de crueldade que incomodava todo o corpo estudantil. Para dizer a verdade, aquela formatura era um verdadeiro alívio aos professores.
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Patético. - Noburo sussurrava ao perceber o afastamento de seus colegas de turma. Mãos nos bolsos da calça, com cabelo raspado nas laterais, deixando apenas um coque preso por uma fita azul, ele caminhava solitário por entre as cadeiras à procura de seu nome.
Noburo... Noburo.. Ele se irritava a cada mesa que se distanciava do palco principal. Como pertencia aos Uchihas, nada mais justo do que sua família possuir o melhor lugar na cerimonia. Contudo, após três ou quatro tentativas, enfim visualizou o local que sentaria. Não era um local ruim, afinal, de lá ele e sua família conseguiriam assistir todo evento sem incômodo, mas isso era pouco para o jovem arredio.
Buscando a etiqueta encostada num belo arranjo de flores, o Uchiha caminhou de volta até a primeira mesa e efetuou a troca dos nomes. -
Ei, você não pode fazer isso! - Condenou uma das formandas que acabara de sentar-se no lugar. O rapaz nem se importou, agarrando-a pelo braço sob protestos da moça, o aspirante a gennin a puxou bruscamente, derrubando-a no tapete com um olhar vermelho e ameaçador. Aquele movimento chamou a atenção de todas as pessoas à volta, mas assim que fitaram aqueles olhos demoníacos, desviaram o olhar, deixando à mingua com olhos alagados numa mistura de raiva e tristeza. Ninguém tinha coragem de agir. A moça então se levantou, e antes de recuar até sua nova mesa, olhou com ódio para o rapaz.
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Um dia... Um dia desses... - Sussurrou a Nara.
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Quando fores melhor que eu, talvez. - Desafiou.
Um ano depois...
Seus olhos vermelhos, entreabertos pelo cansaço, já possuíam os três tomoes de sua orgulhosa linhagem. Ofegante, Noburo tinha sua boca ensanguentada e suas duas mãos já se apoiavam nos joelhos numa posição de flagrante exaustão. À sua volta, recostados no parapeito do ginásio, vários olhos atentos torciam em silêncio pela derrota do garoto. Sua antiga turma da academia, agora genins, assistiam de camarote à tão esperada derrota do arrogante Uchiha, justamente pelas mãos de seu desafeto desde a formatura. E como era doce o sabor daquilo tudo. Noburu nunca tinha sido querido... -
Vou acabar com você, desgraçado. - Sussurrava Yumi Nara.
Cruzando os dedos num rápido selo, a Nara controlava com habilidade seus tentáculos sombrios que rastejavam em velocidade na direção do oponente. Aquela era o último duelo do exame chuunin e o Uchiha sabia que, se fosse derrotado, certamente não subiria de função. Seria realmente uma vergonha para ele e sua família. Saltando lateralmente, ele se esquivava com dificuldade das investidas das sombras, arremessando alguns shurikens contra a moça, forçando-a a interromper seu ataque para recuar num salto mortal. A luta tinha sido muito equilibrada até o momento, mas o raciocínio rápido da garota foi o ponto chave para capturar a sombra do adversário que já caiu de pé paralisado. Suando frio, o Uchiha parecia não acreditar no que acontecera.
A arena ficou em silêncio. Com olhos arregalados, todos os presentes estavam espantados com o que acabara de acontecer.
Como ela conseguiu? - Indignava-se o garoto, sem entender como caíra em sua armadilha. Mas nesse momento, a cópia de Yumi se revelou, ascendendo da sombra do Uchiha lentamente. A Nara tinha utilizado sua cópia escondida na própria sombra, e quando os shurikens cortavam o ar, foi sua chance de acrescer a distância de seu poder a ponto de alcançá-lo. Simples e genial. Noburo tremia tentando resistir ao movimento espelhado da clone mas suas mãos logo buscavam uma kunai em sua mochila presa à cintura, levando-a lentamente na direção de seu pescoço.
O Uchiha estava lacrimejando de ódio, enquanto Yumi se controlava para não realizar o ataque final. E quando a lâmina retirou o primeiro filete de sangue do garoto, o juiz interrompeu a luta. -
Vitória de Yumi Nara! - Gritou. A dúzia de genins comemoraram num só coro. Noburo estava inconsolável. Perdera tudo: Seu orgulho, sua prepotência, seu novo poder. Em cólera ele gritava contra o juiz, tentando culpá-lo pelo seu infortúnio, ele tentava argumentar violentamente à medida que as gargalhadas de chacota começavam. Uma humilhação pública. Olhando para a passarela onde seu pai estava, agora não havia ninguém. Queria matar o juiz, a Nara e a todos que ali estavam. Noburu sabia que seu ódio não podia ser contido. Queria matar todos eles.
Mas ainda não era o momento para isso.
Desativando seu sharingan, Noburo baixou a cabeça para não olhar os parias nos olhos, o ninja retornou suas mãos aos bolsos de suas calças ninja e deu as costas para a arena antes mesmo que os certificados fossem distribuídos. Pela primeira vez o fracasso não só lhe batia a porta, como acabara de arrombar a porcaria toda. -
Preciso de mais poder. - Sussurrava repetidas vezes, lembrando-se dos pergaminhos secretos que sempre ouvira falar em sua família. Estes pergaminhos agora estavam ainda mais longe de seu conhecimento... Fora a condição para que o patriarca do clã autorizasse sua leitura. O segredo de avançar com seu doujutsu estaria atrelado ao seu sucesso em se tornar chuunin.
Mas agora era tarde. Teria que esperar mais um ano para tentar novamente. -
Nunca! - Revoltava-se ao lembrar o quanto tempo esperaria para ter mais poder. Caminhando de volta à sede do clã, o jovem genin não conseguia entender como alguém de um clã inferior pudesse vencê-lo. Para ele, aqueles ninjas eram apenas escória. Formigas a qual ele teria que tomar cuidado para não esmagá-las. Mas sua derrota o fez mudar de opinião.
A escória não poderia ganhar espaço. Então, chegando à porta de casa, ele preferiu evitar a curiosidade de seus pais e da pequena irmã, correndo rapidamente para seu quarto sem desviar o olhar. Trancando-se para ficar sozinho, o Uchiha olhava pela janela tentando apaziguar sua raiva.
CONTINUA...