- Pontual como sempre... Gosto de pessoas assim, dattebayo! – o hokage exclamava ao olhar o relógio e verificar que a Nara chegava no horário previsto.
– E então... Decidiste? – perguntava, curioso.
- Hai. Eu aceito – respondia com firmeza.
- Mas isto é ótimo! Tão ótimo que já tenho aqui em minha mesa uma missão para ti: roubar a receita do Ichiraku Rámen – dizia, estendendo um pergaminho a uma perplexa kunoichi.
- Nani? – perguntava, ainda sem acreditar.
- Isto mesmo, Tora-chan. Tens de obter a fórmula da felicidade do Ichiraku Rámen! – exclamava, com os olhos a brilhar.
– Claro, se não quiseres ir, tudo bem. Neste caso, não serás anbu... – ameaçava, sutilmente.
- NANI?! – exclamava, abismada.
- Mas isto é roubo de informações, e de algo não-crucial! – ela exaltava-se, indignada.
- As missões das vilas nem sempre são bonitinhas e envolvem prender bandidos. Muitas vezes temos que ir contra tudo o que pregamos por um bem maior. Se você não pode entender isso, não pode ser anbu. Gomen... Bem, sempre podes ir para a Academia – o loiro falava calmamente, voltando-se aos seus afazeres.
- Eu não vou cuidar de pirralhos! – exclamava, respirando fundo.
– Posso saber o porquê pelo menos de eu ter que realizar esta missão? – perguntava, resignando-se.
- Testes. Sabemos que você é impetuosa e tem seu próprio código de ética. Mas você serve a Konoha, e tem de se adequar a isto. Se não passar no teste, será designada para a Academia. Caso passe, e nos transmita confiança suficiente, já será uma anbu.- Ainda não confiam plenamente em mim, não é? Às vezes admiro-me comigo mesma ainda estar aqui em Konoha! – ela gritava, revoltada, batendo a porta do escritório na sua saída.
Com as mãos nos bolsos, ela passeava pelo Centro. Com seu chakra Chie ativo, podia perceber movimentações de jounins acompanhando cada movimento seu. “À noite a segurança deve estar ainda pior, logo o melhor horário para conseguir as informações é agora. Muito bem, Hokage-sama, vou trazer o que pediu... mas do MEU jeito sim!” pensava, sorrindo com o canto da boca. A hora do almoço começava a chegar, o que indicava que o famoso Ichiraku Rámen estava começando a lotar. Passando direto, a tokubetsu entrava numa loja de roupas, decidida a provar algumas peças. Com a privacidade que o provador lhe permitia, moldou seu chakra de forma homogênea, e com um selo, criava uma cópia de si. Enquanto o clone seguia provando roupas, a original controlava a reflexão da luz usando uma parcela de chakra e uns poucos selos, ficando invisível sem muita dificuldade:
- Yoshi, primeira parte do plano, foi. Meu kagebunshin deve manter uma parte dos meus vigias longe do Ichiraku. Com minha invisibilidade, ninguém vai me notar, até porque os funcionários vão estar bem ocupados... – pensava ela, deslocando-se rapidamente pelas ruas da vila com velozes shunshin.
Não demorou para estar novamente no estabelecimento de rámen. Como previra, pela hora, estava lotado. Ainda com seu chakra chie, podia perceber mais ou menos o nível de chakra das pessoas, o que levara-a à conclusão de que haviam ao menos uns três jounins bem experientes. Por sorte, nenhum Yamanaka à vista. Esgueirando-se pela cozinha e todo o pessoal que trabalhava, desviou-se com maestria de uma série de obstáculos (humanos ou não) até conseguir ter acesso à porta dos fundos, que dava para a casa do dono. A porta estava trancada, é claro, mas não era um empecilho para a Nara: reunindo chakra de natureza doton, ela executava uns rápidos selos para afundar-se no chão, e depois de outra infusão de chakra da mesma natureza, locomovia-se por baixo do solo, emergindo agora depois da porta. Agachando e pondo as mãos no solo, enviava pequenas descargas de chakra doton para sentir a pressão no solo, mas não havia mais ninguém no lugar, o que lhe permitia voltar a ficar visível para poupar chakra, caso fosse necessário depois.
Munida de luvas e botas descartáveis para evitar que digitais fossem deixadas, além dos cabelos escondidos numa touca e pesadas roupas para que seu DNA não fosse exposto, a konohanin iniciava a expedição na casa. Não demorou muito para encontrar o escritório do dono da loja, e um fundo falso na parede decorada com um grande quadro dele com sua filha. “Tão óbvio...” dizia a si mesma, encontrando rapidamente um cofre. E agora, o que poderia fazer? Não queria arrombar o cofre, queria deixá-lo intacto, mas não dispunha de ferramentas para isto... Então, teve uma idéia: mordendo seu polegar direito, executou uma cadência de velozes selos e adicionando seu próprio chakra, invocava duas corujinhas simpáticas:
- O que estás a fazer, Tora-chan? – perguntava Tsumetai.
- Não tenho tempo para explicar. Preciso que me tragam algo para abrir este cofre... E Netsu, preciso que queime o DNA do meu sangue. E vocês também, não inventem de perder as penas! – disparava Tora.
Tsumetai logo agarrou-se com o cofre, girando devagar para ouvir as combinações certas. Não demorou muito para abrir, e a Nara logo notou que estava na posse da receita. Netsu esperou reunir todo o DNA (sangue e penas) e queimou-os, desaparecendo com sua gêmea a seguir. Afundando-se na terra novamente, viajava com velocidade até sua casa de forma subterrânea.
***
O dia logo amanheceu. Em breve, teria que ver Naruto novamente, e dar alguma satisfação se fez ou não a missão. Tinha decidido que não ia dar o papel da receita original, que iria devolver no dia seguinte. Até lá, ele ficaria selado num de seus makimonos que estava consigo à tira-colo. Chegando com cara fechada, atirou com violência o papel na mesa do kage:
- Satisfeito? Fiz o raio da missão, mesmo indo contra os meus princípios! – sua voz alterava-se.
- Oh... Então realmente colocamos muitas esperanças em alguém que não devíamos... – uma voz ressoava atrás da garota.
- Shikamaru? Nani? Mas... Eu fiz a missão! – ela realmente não estava entendendo.
- Mas você tem senso de justiça. Sabia que era errado, mesmo vindo de ordens superiores. E ainda assim obedeceu. Você terá que conviver com isto, Tora...- Espere, Shikamaru! Olhe só isto! – ele estendia o papel para o estratega.
- Mas... Não é uma receita? – o Nara mais velho estava surpreso.
- Eu completei a missão. Não quer dizer que eu concorde com ela, e por isso a informação está mesmo bem guardada. Irei devolvê-la ainda hoje ao senhor Ichiraku. Eu não vou matar o meu caráter por completo por causa de autoridades.- Isto foi mesmo uma surpresa... Conseguiste a proeza de completar a missão e não ir de encontro aos seus princípios. Realmente és digna de entrar na ANBU, mas temos que trabalhar um pouco mais essa questão das relações de poder. Nem sempre estamos certos, mas também jamais devemos servir a um propósito que não consideremos éticos. É preciso ter muito jogo de cintura para se manter na organização. Estás disposta a isto? – ele perguntava, sério.
- Hai! - dizia, a sorrir e com os olhos a brilhar