- Anteriormente...:
- A sua prioridade é salvar o máximo de vidas possível… Eu darei cobertura.
A imagem seguinte marcou a mente dos três como ferro quente na pele. Eles viram aquelas costas, costas que pareciam mais largas que qualquer outra, costas acostumadas a carregar um peso insuportável, costas embutidas com a responsabilidade de defender a todos. Naquele momento, eles compreenderam o porquê de Azura viver em uma área tão pobre de Kiri, o porquê dele ser tão popular entre os moradores da vila, e o porquê dele ter sido designado para liderar aquele trio de desajustados…
Porque Azura era, acima de tudo, um farol na escuridão.
Alheio a toda essa catástrofe, uma peculiar reunião acontecia muito distante de Kiri. Três figuras, envoltas por volumosos tecidos, debatiam qualquer coisa com extrema seriedade. Seus rostos, banhados por uma luz azul opaca, estavam tão duros e gélidos quanto mármore, e seus corações, iluminados por tormentas obscuras, pulsavam um só objetivo.
Onde estavam? Num grande salão oval, esculpido diretamente na pedra da montanha que foi escavada. Nas laterais, pequenos riachos decorados por cogumelos luminosos brilhavam cintilantes aquela pálida iluminação azulada. No fundo do salão, próximo aos três homens, havia uma pequena escadaria que elevava o piso, e mais no fundo, em simbiose com a própria parede, uma espécie de semente circular gigante saia das pedras, espalhando raízes no chão e ao seu redor, assim como em si mesma.
- O ocaso chegou. - O mais velho, um homem de quase cinquenta anos, falou com uma voz tão grave que parecia vir direto de um fosso profundo. - O flagelo despertou, e a resolução está mais próxima do que nunca. - Ele subiu os três degraus que o separavam do final da sala, e fitou a semente sagrada com um olhar taciturno, quase melancólico, mas que beirava o orgulho.
- A expansão já foi confirmada em vários pontos… - Outro homem falou, adiantando um pé sobre o degrau, mas desistindo de o subir. - Só mais um pouco… E então chegará o momento, meu irmão.
Se fez um silêncio.
- Este mundo não será o mesmo quando o ocaso dessa era chegar!
--x--
- Não é hora para chorar! Se recomponham! A evacuação ainda continua. Devem haver mais pessoas precisando de resgate! vamos, vamos! - Zef foi quem os acordou para a realidade, dando um um tapinha no ombro de Akira enquanto se dirigia para fora daquelas ruínas. Os três se entreolharam, cenho enrugado, engoliram e respiraram fundo, dizendo uns para os outros; “vamos!”
Estavam engajados há algumas horas em diversos resgates, e apesar de estarem se esforçando ao máximo, embalados pelas palavras de sabedoria do seu novo mestre, ainda assim, era impossível salvar a todos… E o rastro de destruição deixado por aquele desastre era grande demais para que uma equipe tão pequena pudesse cobrir… Mas eles seguiram em frente.
Enquanto isso, Azura exercitava sua perícia em batalha. Seus inimigos só tinham a forma, mas estavam longe de serem humanos. Além disso, eles eram muito fortes! Podiam estender os membros, criar estacas, lâminas e até mesmo lançar projéteis de madeira. Eles se pareciam muito com os zetsus brancos, inimigos estes que Azura também combateu na guerra, mas em essência, eram totalmente diferentes. Menos inteligentes, ligeiramente mais agressivos, verdadeiras aberrações que só tinham uma coisa em mente: Alimentar aquela árvore sinistra.
Kiri estava em guerra.
O ruivo já lutava há horas e seus clones já haviam, em sua maioria, desaparecido em meio às dezenas de conflitos que sucederam ao início da batalha. Em contrapartida ele mesmo havia eliminado mais de cem inimigos, mas estava cansado por lutar contra tantos adversários fortes ao mesmo tempo. “Se continuar neste ritmo…” ele pensou, preocupado. Lutava constantemente contra a vontade de destruir e de matar, e quando estava em lutas muito longas, sentia suas forças esvaindo, e seus esforços para manter a calma se tornavam em vão… “Eu preciso evitar o pior cenário a todo custo” afirmou para si, enquanto desviava de uma saraivada de ataques.
Noutro cenário, Ito, Akira e Tatsumi vasculhava os restos de uma casa parcialmente destruída, eles tinham ouvido gritos vindo daquela direção há segundos atrás e apressaram-se para socorrer quem quer que fosse.
-POR AQUI, CABEÇAS DE VENTO! - Akira se apressou para dentro de um cômodo semi intacto, salvo por buracos no teto e escombros no chão.
- Espere por nós, Akiraaa! - Quando Ito e Tatsumi a alcançaram, ficaram completamente confusos ao ver a companheira estática, há poucos metros da porta, olhando para o outro lado da sala com olhos aterrorizados. - O que você está olh-
Tatsumi e Ito também congelaram.
Um dos monstros estava ali, curvado sobre si mesmo, enfiando um de seus dedos pontiagudos de madeira no ombro de um homem de meia idade que estava sentado no chão, de costas para a parede, com as pernas presas por grandes pedaços pedra.
- AAAAAARGH!!! - Ele gritava dolorosamente, ao sentir aquele objeto lhe perfurando devagar.
O monstro parecia se divertir e não notou de imediato aquelas crianças.
- Akira… - O primeiro a sair daquele estado de terror foi Tatsumi, que sussurrou as palavras o mais baixo que pode, com medo de ser pego.
- O que nós devemos fazer?- Bem devagar… vamos voltar. - Ito, o mais covarde do grupo, disse entre os dentes, quase cuspindo um choro.
- Mas… Ele vai morrer! - Akira não conseguia tirar os olhos daquela besta, que torturava sua vítima com visível prazer. “Será que se formos pegos, vamos ter o mesmo destino?”
- Nós não podemos fazer nada! - Ito, o loiro, engoliu em seco e lembrou das palavras de Azura.
- Azura-sensei nos mandou evacuar a população, não lutar contra essas aberrações!Aquelas palavras, somado ao medo, quase convenceram Akira de que ele tinha total razão, e que a melhor coisa a se fazer era recuar no momento, até que as oo seu mestre lhe veio a mente. Azura era alguém poderoso e que protegia a todos, inclusive estava fazendo isso neste exato momento… Não podia decepcioná-lo, não ele quem lhes disse para se tornarem shinobis vencendo adversidades.
-Vocês dois. Recuem e se escondam no cômodo anterior… Eu vou atrair essa coisa fora daqui. Aproveitem a distração para remover aquele homem e fugir! - A kunoichi deu um passo a frente, com os joelhos tremendo, e disse sem olhar para trás.
- Tornem-se shinobis poderosos para orgulhar nosso sensei! - E antes que ela se lançasse para frente, sentiu a mão dos seus amigos segurando seus braços, gentilmente. Os dois sorriam, Ito com lágrimas nos olhos, Tatsumi com um brilho decidido no olhar.
- Se você vai fazer isso, então você não fará só. - Eles disseram.
- Juntos!Akira os olhou com surpresa e sentiu-se muito mais corajosa de repente.
- JUNTOS!Os três então se lançaram contra o monstro, cobrindo os metros que os separavam em grande velocidade, cada um com uma kunai em riste.
A criatura já tinha os notado há muito tempo, mas até então não tinha interesse neles. Quando sentiu suas aproximações, virou-se em extrema velocidade e abriu os braços longos e finos, com mãos que parecia compostas por navalhas, de forma ameaçadora.
Quando viu aquilo, Akira sabia que era o seu fim. Ele era forte, ágil e emitia uma sede de sangue sem igual… Por um segundo, aceitou a derrota com honra, pensando em como seria bem lembrada pela família quando soubessem que ela morreu como um shinobi.
E tudo foi muito devagar. O monstro saltou contra eles ameaçadoramente.
No instante em que as mãos da criatura branca iam envolver os três, o teto explodiu em milhares de pequenos fragmentos, em uma enxurrada de poeira e pó em cima do monstro. Os três Gennins foram jogados para trás e bateram as costas na parede com força.
- Akira! Ito! - Tatsumi cospia lufadas de areia e gritava pelos amigos, pois o cômodo inteiro cobriu-se com uma densa nuvem de poeira.
Quando a poeira baixou, Tatsumi pôde ver os amigos próximos de si, também de costas para a parede. À sua frente, parado onde o teto havia explodido há segundos atrás, estava a imagem do seu sensei. Azura estava com suas roupas bastante rasgadas, ferido em diversos locais diferentes, com alguns cortes realmente feios por todo o corpo, mas mantinha sua postura como se nada tivesse acontecido. Seus olhos estavam fixos na criatura que jazia aos seus pés, com uma lâmina de cristal cravada no seu crânio, já morta.
- Vocês três estão vivos? - Ele disse com a voz ofegante, visivelmente cansado.
- H-Hai! - Ito, que até então estava à beira do choro, engoliu em seco e levantou-se como se fosse o mais corajoso da equipe. - Às suas ordens, senhor!
Akira estranhou o comportamento do amigo, pois conhecia muito bem o jovem Ito, e ele nunca foi assim… Olhou para Tatsumi, e ele tinha o mesmo olhar na face… Sim. Eles queriam lutar ao lado de Azura, eles sentiam-se como ela, afinal.
- Sim, senhor! - A kunoichi se levantou, sacando outra kunai.
Azura pareceu cambalear por um instante, como se fosse cair, mas foi segurado pela figura de outra pessoa que surgia na cena, através de um shunshin extremamente rápido. Zef apareceu ao lado do ruivo, impedindo-o de cair e passando seu braço por cima do seu pescoço para servir de apoio.
- Sensei! - Os três gritaram em unisom, indo ajudar o senpai e apoiar o Jounnin.
- Não se preocupem comigo. - Ele disse, inexpressivo, e negou a ajuda de Zef logo que conseguiu equilibrar seu corpo. - Ajudem aquele homem, levem-no daqui a uma unidade médica o mais rápido possível.
- Azura-sensei! - Akira protestou. - E a batalha?
Azura respirou por um segundo, tomando fôlego.
- A batalha acabou. O Mizukage acabou de chegar ao campo de batalha. Os inimigos foram todos dizimados.