[Filler 15 - Haarina Kristea] Traição

Mais uma missão fora completa. Após fazer o check-up geral a Kristea para verificar que estava tudo bem (apesar de esta já lhe ter garantido que sim), Sakura deixou-a retirar-se por aquele dia para que descansasse. Tivera uma missão durante a noite e mal dormira.
Kristian fora buscá-la a casa dos Uchiha. Aproveitaria para falar com ela.
- Hum… Kristian? O que fazes aqui? – perguntou Kristea, assim que o viu, saindo da grande casa dos sannins.
- Bem… Há umas coisas que preciso de te contar. Digamos que é algo… Importante.
- Sobre o quê? – questionou ela, intrigada.
- Sobre nós… E sobre o Leo…
Como já desconfiava, Kristian conhecia mesmo Leo. E iria descobrir como, pelos vistos.
- Claro. É melhor falarmos em casa. Eu faço chá – concordou ela de imediato.
Chegaram a casa em pouco tempo. Kristea enfiou-se na cozinha a preparar o chá, enquanto Kristian se sentava na sala de estar.
Passados cinco minutos, a rapariga pousou o tabuleiro com as chávenas, os bolinhos de canela feitos naquela manhã e o bule de chá em cima da mesa.
- Pronto, podes começar – incitou ela, servindo o chá.
- Bem… Recordas-te daquela conversa que tiveste com Kami-sama?
- Hum… Sim, lembro-me – respondeu, sorvendo um pouco do quente e doce líquido.
- Ele referiu algo como nos completarmos e não estarmos sozinhos. E é verdade. Tu e eu somos uma espécie de yin yang dentro de outro. Tu, com o teu poder do fogo e do vento, eu, com o controlo da terra e da água, somos os gémeos da luz – explicou Kristian, pausando momentaneamente para beber um pouco de chá. – Com certeza que já te chamaram de h’aarina, a filha dos mundos. Eu sou o h’aarin. Um nome que é algo mais do que parece… - dizia ele, parecendo divagar. – Continuando… Não há luz sem escuridão. E existem mais dois gémeos…
- Não me digas que… - interrompeu Kristea, não conseguindo acabar a frase.
- Temo que o que pensas seja a mais pura verdade.
- Conhece-los?
- Sim. Leo e Lia… Dois sujeitos estranhos… Tive a oportunidade (ou o infortúnio) de os conhecer uma vez. Nunca mais esquecerei o que vi – confirmou ele, bebericando um pouco.
Kristea via então concretizar-se a última das profecias da Visão, a traição. Confiara em Leo… E ele não passava do seu inimigo natural? Fora tão ingénua… Leo fora tão educado, tão normal, que o julgara uma boa pessoa. E pensar que, por pouco, os seus lábios não se haviam tocado. Sentia-se traída… Caíra na boca do lobo.
Kristian observava a reacção da irmã com uma certa curiosidade e preocupação a bailar no seu rosto.
- O que é que eu fiz? – perguntava-se ela, sem esperar uma resposta.
- Está tudo bem. Não fizeste nada, não aconteceu nada de grave. Mas podia ter acontecido. Agora que sabes isto, tem cuidado com o que fazes. Não confies nele, não merece a tua confiança nem sequer que te preocupes com ele. Eles não são tão fortes quanto eu sozinhos. Mas o seu poder não tem comparação com o teu actual. Prepara-te para tudo. Inclusive para fugir – retorquiu ele, enfatizando as últimas palavras. Sabia que a irmã detestava deixar algo a meio ou ser completamente inútil numa batalha, mas, por vezes, era o mais correcto a fazer-se.
Kristian acabou de beber o chá e comeu mais um bolinho de canela. Kristea precisava de tempo para digerir aquela informação; era fácil de o perceber.
- Vou dar-te um tempo. Volto daqui a umas horas. Tem juízo, entendido?
Ela anuiu, pousando a chávena. Tinha um irmão compreensivo.
Ele levantou-se, afagou-lhe o cabelo (ao que esta resmungou) e saiu, deixando-a sozinha para que reflectisse.
Pronto, finalmente a Visão que tivera fazia sentido. Aqueles flashes já não rodopiavam na sua cabeça e encontrara a paz. A verdade repousava agora no seu âmago.
Pegou na louça utilizada e lavou-a. Era melhor tratar da roupa antes de se ir deitar para descansar um pouco. Aproveitaria as horas de maior calor para a secar.
Enquanto colocava a roupa lavada no estendal, mil e uma coisas passavam pela sua mente. Uma rajada de vento mais forte cortou a sua linha de pensamento e fez o seu cabelo esvoaçar. Uma presença fez-se sentir do nada e Kristea afastou-se rapidamente.
Leo acariciava o seu longo cabelo da cor do sangue derramado.
- O que fazes aqui? – perguntou ela, encostada a uma árvore, com o seu centro de gravidade baixo, como que para se defender.
Ele apreciava os seus longos fios de cabelo, levemente perfumados com o cheiro de maçã. Ela afastou o cabelo das mãos dele.
Aproximando-se dela, estendeu um braço e tocou-lhe numa das suas faces. A pele dela era tão suave… Passou o outro braço por trás da cintura dela e fê-la acercar-se de si.
Kristea não conseguia reagir. Estava assustada, não o podia negar. O seu inimigo natural… Aquelas acções… Não fazia sentido!
Num segundo, o tempo pareceu parar. Leo beijava-a. Mas ela não conseguia corresponder. Não dava. Era confuso demais, uma simples atracção física… E então tentou afastá-lo.
Apercebendo-se da firmeza do corpo da rapariga, apartou-se.
- Então já sabes… Desculpa. Vejo que não fomos feitos um para o outro. Dois inimigos naturais jamais poderiam ser… - declarou ele, fitando o chão.
- … amantes… - concluiu Kristea.
- Desculpa…
Dizendo isto, esfumou-se. A sua voz esmorecia com a brisa, mostrando a dor que sentia.
Kristea deixou-se escorregar pelo tronco da árvore e sentou-se no chão. O que se passara ali? Como é que tal era possível? Leo beijara-a e… E… Aquilo era tão estranho!
- Kristea? – chamou-a uma voz familiar do interior da casa. – Estás no jardim?
Não obtendo resposta, Ryu espreitou pela porta da sala de estar, que estava aberta. Viu a rapariga sentada, de costas para a árvore e para si.
- É raro ver-te por aqui. Está tudo… - dizia ele, aproximando-se e calando-se assim que a viu.
Fios e fios transparentes de água salgada rolavam pela sua cara, como milhares de diamantes que cintilavam sob a luz do sol. Caíam uma e outra vez na relva, fazendo florescer pequenas flores brancas.
Ryu baixou-se de imediato e emoldurou-lhe as faces com as mãos, tentando perceber o que se passara. Ela colocou as suas próprias mãos sobre as dele.
- O que fiz eu? – soluçava ela, com as incessantes lágrimas a cortarem-lhe a voz.
O anjo demorou apenas um momento para lhe ler a mente. Não gostava de o fazer, principalmente a Kristea, que era como uma filha para si, mas a situação exigia-o:
- Agiste bem, Kris. Fizeste o que devias ter feito – e encostou-a a um ombro para que chorasse à vontade. Desabafar tudo seria mais saudável.
A ninja adormeceu eventualmente, após se acalmar. Ryu pegou nela e levou-se para dentro de casa, pousando-a na cama.
Por vezes, a verdade doía mais do que a omissão, ainda mais do que a mentira. Mas assim se desvendava o passado e se decidia o futuro. Agora tudo começava a ficar claro.