Decidi dividir este treino em duas partes, estou a contar que a segunda será muito mais pequena.
Era manhã, o dia seguinte após a peculiar conversa entre Sayuri e Kazuya. Katsuo estava na cama. Velhos hábitos não se perdem num dia. Não era por o que aconteceu com a sua avó que Katsuo se ia passar a levantar cedo todos os dias. Kazuya, seu pai, entrou no quarto e, lentamente, aproximou-se da cama de Katsuo, dando um pequeno toque neste.
- Katsuo...? Acho melhor acordares... – disse ele, sussurrando perto do jovem.
Katsuo nem se moveu. O dia em que acordara às 10 da manhã parecia realmente um milagre. Pelos vistos, não voltaria a acontecer.
- A velha vem aí. Se não acordas, eu deixo que ela entre e o faça por ti... - retorquiu Kazuya com um sorriso de malícia, como se tomasse alegria em que o que referiu acontecesse.
Katsuo rapidamente abriu os olhos. Levantou-se com tanta força que, ao retirar os cobertores de cima dele, deu um soco ao seu pai, que ficou no chão agarrado à cara.
- Desculpa... - disse o jovem, com um sorriso igualzinho ao que o seu pai tinha quando lhe falara da velha aparecer. O pedido de desculpas não era sincero. – De certa forma, mereceste – acrescentou num tom mais baixo e com um leve tom irónico.
Assim que o seu pai se levantou do chão, Katsuo apressou-se para se vestir. No entanto, um raio de sol penetrou pela janela e reflectiu em cheio nos olhos do jovem que ainda há pouco acordara, fazendo-o cair no chão.
Nesse momento, Sayuri entrou no quarto. Ao ver Katsuo ainda de ainda de pijama e deitado no chão, apenas lhe parecera uma coisa. O rapaz, puxando a cabeça para cima lentamente, já sabia o que o esperava. O seu pai espreitava, ansioso, a partir da porta do quarto. Assim que Sayuri deu um murro na nuca de Katsuo, um riso alto soltou-se. Era Kazuya.
- Eu avisei-te! Eu disse que a velha... - calou-se de repente.
Katsuo sabia o que o seu pai tinha feito. Proferiu aquela palavra referindo-se a Sayuri. Parecia que as dores que o jovem sentia na nuca foram substituídas por alegria e um sorriso apareceu na cara de Katsuo à medida que este via Sayuri a carregar o braço para o seu pai. Não havia como escapar.
- AAWW! – gritou Kazuya, após um soco na nuca de Sayuri, que o fez comer um pouco do chão.
- Pensei que tinhas aprendido a lição há 20 anos atrás, Kazuya... – declarou Sayuri, relembrando os tempos em que treinava Kazuya e Kaori, mãe de Katsuo.
- Vem ter comigo à floresta. Será lá que treinaremos. Enquanto te preparas, eu chegarei lá. Faz uma corrida até lá; serve de parte do aquecimento antes do treino – disse ela, abandonando a casa.
Assim que Katsuo acabou de se preparar, saiu de casa e olhou para o céu. Era apenas outro dia normal em Konoha.
- Hmpf... – murmurou ele. – A velha pensa mesmo que vou correr até lá...
Reflectiu por momentos e decidiu correr mesmo. Se ia treinar, então iria fazê-lo o melhor possível. Queria evoluir, não pelo seu pai, não pela sua avó, mas parte por ele, parte pela sua mãe, que tentou tirar sempre tempo para o treinar, apesar da vida exigente que tinha como Anbu.
Correu durante 30 minutos, mantendo um ritmo constante, apesar de, por vezes, parecer que ia fraquejar. Nestas alturas, Katsuo lembrava-se da sua mãe, o que lhe dava forças para continuar com o seu ritmo. Finalmente, chegou à floresta.
A sua avó viu o suor que percorria a jovem cara de Katsuo, que estava ofegante. Aquele olhar que ela lhe havia dirigido parecia algo frio.
- Demoraste... Tudo bem, já aqui estás. Para continuar com o aquecimento, faz 50 flexões e depois 100 abdominais – ordenou Sayuri num tom indiferente.
- O quê?! – exclamou Katsuo, um tanto revoltado. – Estou aqui com dificuldade em respirar e já me estás a mandar fazer flexões e abdominais?!
- Não te preocupes, descansa um pouco se quiseres. Temos tempo... Afinal de contas, isto será um treino bem longo...
Katsuo ia falar, mas, de imediato, fechou a boca. Queixar-se era exactamente o que a velha queria. Então sorriu e agradeceu à sua avó pelo tempo disponibilizado num tom sarcástico.
Passado um pouco, após ter descansado, o jovem cerrou os punhos contra a relva com determinação, embora isto fosse apenas o exterior. Por dentro, pensava no porquê de a velha estar a perder as novelas por aquilo.
As flexões exigiram algum esforço. A partir das 35, o jovem já começava a estremecer um pouco, mas fez as todas as que lhe foram exigidas. Descansou apenas por um minuto e passou de imediato para os abdominais. Nestes não foram muitas as dificuldades que teve, embora, ao chegar aos últimos, o esforço que tinha feito anteriormente começou a afectar o jovem ninja.
Após isto, descansou mais um pouco, até que a sua avó se desencostou da bela árvore onde estava.
- Agora começa o treino a sério! Acabaram as pausas para descanso. Se te saíres bem durante o resto da manhã de treino, talvez te deixe fazer uma pausa para almoçar e retomaremos o treino no inicio da tarde – disse Sayuri, num tom agressivo.
Katsuo limitava-se a ouvir e nada dizia. Mais queixas não sairiam da sua boca.
- Esta parte do treino funcionará da seguinte maneira... – começou a avó do jovem, chamando de novo a atenção deste. - Vou criar uma grande quantidade de kage bushins. Assim que desfizeres os primeiros, crio outros de seguida, o que te deve de dar não muito, mas algum tempo para recuperar o folgo. Quero que os tentes eliminar o mais rápido possivel e que o faças apenas com ninjutsu. Treinarás o teu ninjutsu. Se, por alguma razão, algum kage bushin se aproximar de ti sem que consigas efectuar o endan, treinarás a tua agildade e taijutsu. Por enquanto, não usarás a espada – explicou Sayuri ao seu neto.
Katsuo, após ouvir a explicação da sua avó, manteve a cabeça baixa e sorriu. Assim que a levantou, Sayuri reparou no brilho nos olhos de Katsuo e interpretou-o como determinação.
- Vamos começar. Kage Bushin no jutsu! – gritou Sayuri, criando uma boa quantidade de kage bushins em seu redor.
Katsuo preparou-se. Ergueu a cabeça e os kage bushins começaram o ataque.
- Katon: Endan! – proferiu o jovem, lançando uma bola de fogo que desfez um kage bushin.
Pensou e decidiu guardar o endan para utilizar apenas de vez em quando. Queria poupar chakra. Usou a sua agilidade para se desviar de alguns bushins, lutando corpo a corpo com outros. Ao mesmo tempo que mandava um pontapé a um, já tinha outro por trás pronto a atacar. Levou muito dos bushins, mas tentou sempre resistir e desfazer o máximo de kage bushins que conseguisse.
Assim que apenas restavam 2 kage bushins, a sua avó criava mais alguns, dando sempre trabalho ao jovem, mas o que lhedava algum tempo para recuperar.
-Katon: Endan! – gritou Katsuo, ao ver que tinha a oportunidade de desfazer dois kage bushins de uma vez, visto estarem juntos uns dos outros.
Defendia-se dos kage bushins e contra-atacava com socos e pontapés. Quando se via esgotado, recorria de novo ao Endan.
- Katon: Endan! – gritou mais uma vez Katsuo.
Embora o endan não tenha saído tão poderoso, foi suficiente para desfazer mais um kage bushin. Restavam ainda três e estava quase na hora de almoço. O chakra de katsuo estava esgotado e este estava novamente ofegante.
Um kage bushin iniciou o seu ataque. Katsuo bloqueou os ataques do kage bushin, protegendo o seu corpo com os braços, mas não durou para sempre. Levou um soco, num último esforço para não cair, agarrou a camisola do kage bushin, puxando-se novamente para cima e dando uma cabeçada neste, desfazendo-o. Não tendo onde se agarrar, Katsuo caiu redondo na relva, respirando agressivamente.
- Bem, já chega – disse Sayuri, desfazendo os kage bushins restantes. - Não pensei que fosses eliminar tantos Kage Bushin. Estava mesmo a ver quando os parar antes que te pusessem em estado grave, mas, como conseguiste, tens direito a almoçar.
- Ainda....bem.... – murmurou Katsuo. O simples proferir destas palavras exigiu um esforço enorme por parte do jovem. Estava completamente esgotado.
- Usaste o endan 7 vezes. Podias ter usado mais. No entanto, desembaraçaste-te bem em taijutsu e agilidade. De tarde, teremos de treinar um pouco mais de ninjutsu.
Katsuo tentou levantar-se. Quando se conseguiu por numa posição vertical, uma dor aguda atacou o jovem na parte superior das costas, fazendo este gritar e cair de novo ao chão. Sayuri correu rapidamente para a beira do seu neto e levantou a camisola deste, analisando as costas.
- Parece que exagerei. Vou deixar que descanses um bom bocado. Espero poder continuar de tarde… – pensou Sayuri, preocupada.