Filler 9
-Então… Vais embora quando?
A questão de Yuu foi seguida de um lamento doloroso por parte da mesma, à medida que Akari deixava aquela espécie de líquido pegajoso correr-lhe pelas costas. De cada vez que aquela substância tocava numa ferida ainda por sarar, Yuu sentia que se poderia desfazer em milhares de gritos. Mas conteve-se ao máximo: até porque já era tarde, e não convinha incomodar os vizinhos. Ou os pais de Akari, que se encontravam a alguns quartos de distância.
-Amanhã. Mas quando acordar já não estarei por cá. – Respondeu Akari, num tom extremamente meigo e maternal. – Agora, podia ter-se poupado ao trabalho de cortar o cabelo.
-Foi necessário, Akari-san. – Atalhou Yuu de forma acanhada, lutando por ficar indiferente às dores.
-Yuu-san excedeu-se demasiado, isso é certo. Começava a ter esperanças que chegasse à final, ou perto disso. – Começou Akari, rindo-se exageradamente da sua própria brincadeira. – Mas confesso, nunca pensei que conseguisse chegar tão longe. Sem ofensa.
-Eu compreendo, e acredites ou não surpreendi-me a mim própria. Tenho noção que era a mais fraca da última fase.
-Mas saiu-se lindamente. - Elogiou Akari, começando a limpar as costas da rapariga. – Foi pena ter perdido parte da motivação naquele último duelo… Mas vá, conseguiu fazer coisas de que eu nem a imaginava capaz.
-Também não imaginava que tivesse tantas feridas nas costas. – Confessou Yuu, fazendo com que Akari se risse jovialmente. Um momento de silêncio pairou entre as duas jovens enquanto Yuu se debatia sobre a questão que queria colocar a Akari desde que chegara àquela casa. Deveria arriscar? – Akari-san…
-Hmm?
-Durante o exame… Ouvi alguns rumores sobre uma certa organização. ‘Karasuemo’. – Yuu observou a outra kunoichi atentamente, tentando detectar alguma mudança no seu rosto. – Tens alguma informação sobre isso?
-Nunca ouvi falar. – Respondeu Akari num tom distraído mas autêntico. – Talvez devesses perguntar ao meu irmão.
-Tansai-san? Quando é que ele volta?
-Já amanhã. Pelos vistos a missão acabou mais cedo. – Esclareceu Akari enquanto pousava uma espécie de compressa branca sobre o ombro queimado de Yuu. Esta, ao sentir uma superfície gélida em contacto com a pele danificada, deu por si quase completamente relaxada. – Bem, não há muito mais que eu possa fazer para já. Se voltar a sentir dores fale com um dos meus pais, eles saberão o que fazer.
-Akari… Vai a Kumogakure, não é?
-Sim. Temos alguns assuntos pendentes com o seu pai, e infelizmente nem o meu irmão nem os meus pais podem comparecer. Lá sobra para mim novamente. – Levantando-se com uma espécie de salto animado, Akari sorriu perante o que dissera como se tal não a incomodasse minimamente. – Quer que lhe diga alguma coisa por si?
-Não, obrigada. Ah, será que… - Yuu deteve-se, mal acreditando no que estivera prestes a fazer. Akari ficou especada a olhar para ela enquanto ela se debatia entre o concluir ou não o seu pedido. Yuu acabou por esboçar um sorriso embaraçado. – Erm… Deixa estar.
-De certeza?
-Absoluta. – Garantiu-lhe Yuu, tentando soar o mais autêntica e bem-disposta possível.
Akari, que já se encontrava a segurar a porta do quarto, ergueu uma sobrancelha pouco convencida. Mas, decidida a não massacrar mais a já exausta cabeça da outra jovem, ignorou o ligeiro rubor que surgira nas feições de Yuu e deixou um sorriso amistoso cobrir o seu rosto antes de lhe desejar boa noite. Assim que fechou a porta atrás de si, Yuu suspirou. Ter-se-ia deixado cair na cama como costumava fazer, mas calculou que tal apenas serviria para lhe aumentar ainda mais as dores nas costas. Há momentos atrás, a sua intenção fora pedir a Akari que tentasse encontrar Itari mal pudesse, antes de sair de Kumo. Mas não só duvidava que Akari o conseguisse identificar, como também não fazia ideia de porque quereria que ela o encontrasse. Não havia nenhuma mensagem em particular que lhe quisesse entregar, nada que lhe quisesse pedir… Talvez fosse um qualquer capricho que desconhecia a falar mais alto que a sua própria razão, ou uma vontade que até ali conseguira reprimir sem problemas e agora a assolava com uma força incontrolável. Fosse qual fosse a resposta, o que era certo é que tinha de arranjar uma solução para o que sentia ultimamente. Começava a deixar de pensar propriamente quando estava desocupada, e temia que a longo prazo a situação piorasse.
Mais um suspiro. Yuu já não conseguia distinguir com clareza o que lhe passava pela cabeça naquele preciso momento. Sentia uma certa dificuldade em respirar que, no entanto, lhe pareceu estranha e bizarramente agradável, e um pequeno aperto no peito. De momento só lhe ocorria uma coisa para fazer, algo que já não fazia há vários meses. Com movimentos cuidadosos cruzou as pernas sobre os lençóis e deixou ambos os braços caírem sobre elas. Endireitou as costas o melhor que pôde, e com uma inalação profunda fechou os olhos.