Preocupação de pai
Variando a sua rotina diária, Aruko acordou com o cheiro do almoço a invadir-lhe o quarto. Espreguiçando-se sonolentamente, levantou-se e enfiou-se na casa de banho. Tivera a sua primeira missão no dia anterior e a adrenalina que sentira ao recebê-la há muito que se evaporara. Depois de quinze longos minutos com a água a embater-lhe no corpo, a morena saiu do chuveiro e vestiu-se rapidamente, antes de se sentar à mesa.
- Levantaste-te tarde, Aruko-chan. – constatou Shinju, colocando-lhe um prato de sushi à frente.
- “Dez horas de sono depois de uma missão é algo sagrado” – recitou imitando fracamente, devido à primeira garfada que colocara na boca, a voz do sensei .
A porta abriu-se dando passagem ao homem de cabelo ligeiramente grisalho. Lançou um sorriso na direcção de ambas antes de sair da cozinha e se encaminhar para o quarto. A rapariga permaneceu a fitar o lugar onde o pai estivera há segundos atrás, franzindo as sobrancelhas, preocupada.
- O que se passa com o pai? – perguntou, virando-se para a mãe que trabalhava concentrada à frente do fogão.
Encolheu os ombros – A idade traz preocupações. – esclareceu, fazendo a filha revirar os olhos.
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- Não estava à espera da tua visita.
- Eu sei. - respondeu sinceramente, entrando na casa que tanto lhe era familiar.
Yoshikazu não mudara nada na decoração apesar da passagem de vinte anos. O cheiro a alfazema atingiu-o suavemente, inebriando-o como sempre acontecia. O homem sentou-se à mesa, observando a mãe distribuir o chá em duas chávenas estendendo-lhe uma delas em seguida. Agradecendo com um sorriso, levou a bebida aos lábios, sem saber como dizer o que o trouxera ali.
- Estás demasiado preocupado, Takuya-kun. Vais acabar por envelhecer antes do tempo. – comentou ela amavelmente.
- Pelo menos um de nós vai envelhecer. – retorquiu com um sorriso fraco.
O silêncio abateu-se sobre ambos, com o moreno a tentar organizar os pensamentos. Os olhos cor de mel perscrutavam-no atentamente, como se soubesse exactamente a batalha interna que travava.
- O que raio se está a passar? – perguntou, fitando-a fixamente.
- Queres que seja sincera ou que te faça sentir melhor? – questionou amavelmente.
- Quero a verdade. – esclareceu ele, com uma expressão ligeiramente receosa.
A mulher sorriu. – A verdade é algo complexo, Takuya-kun. E neste caso… digamos que não ta posso esclarecer.
O homem levantou-se com um misto de irritação e desespero a invadi-lo brutalmente – Posso saber porque é que a Aruko tem direito a essa tua preciosa verdade e eu não?! Não sei o que tens na cabeça, mas ela é apenas uma criança!
- Não tenho nada em mente, excepto o que tenho que fazer hoje. E em resposta à tua pergunta, digamos que percebes o porquê… certo, Takuya-kun?
O bater na porta cortou-lhe os pensamentos, fazendo-o sorrir quando a cabeça da filha trespassou o limiar da porta. Fitava-o atentamente com uma expressão preocupada, que lhe provocou um nó na garganta. Percebes o porquê… certo, Takuya-kun?
- Estás bem, tou-san? – questionou, não tentando esconder o tom de preocupação na voz.
O homem acenou afirmativamente, chamando-a com um gesto da mão, ao que ela atendeu de imediato. Sentou-se ao lado do pai e deixou que a sua cabeça descansasse sobre o seu ombro. A respiração serena da filha era como uma lufada de ar fresco que tornava as preocupações mais fáceis de enfrentar. Fora falar com a mãe com o intuito de dissipar o peso que sem razão aparente se tinha abatido sobre ele, mas o resultado fora um medo inexplicável tomar conta de si. Medo por ela. Sempre ela.
- Aruko-chan, – começou, recebendo um “Hum” como incentivo para continuar. Hesitou, questionando-se interiormente se queria que a sua menina falasse com Yoshikazu. Suspirou, derrotado – a tua avó quer falar contigo amanhã.
- Porque não hoje?
- Bem… ela pareceu-me ligeiramente… preocupada.
- Com o quê? – questionou, fitando-o confusa – E se disseres que é da idade, eu juro que te penduro no telhado.
O homem riu despenteando-lhe o cabelo. – Não te preocupes. Seja qual for a fonte de preocupação dela, garanto-te que não é da idade.
A porta do quarto abriu-se novamente, permitindo que ambos vissem Shinju fitá-los com um sorriso caloroso. – O Atsuko-kun veio chamar-te para um treino. – avisou.
Aruko levantou-se num salto e saiu do quarto a correr – Ittekimasu!
Takuya sorriu abertamente antes do som da porta a bater ecoar pela casa. Deixou-se cair para trás sendo calorosamente apanhado pelo colchão. Sabia que a mulher o observava com a mesma expressão preocupada que a filha demonstrara mas também sabia que um sorriso fraco não a deixaria descansada.
Ao fim de uns minutos de intenso silêncio, o homem decidiu quebrá-lo - Estou a ficar paranóico, não estou? – perguntou, fechando os olhos.
- Podes ter a certeza disso. – respondeu simplesmente a mulher.