[F1] Partida - Tristeza e Esperança
O homem apontou pela pequena janela pela qual tinha olhado há momentos atrás…
Olharam ambos para a janela seguindo o movimento do homem, o denso nevoeiro não os permitia ver a casa dos seus tormentos.
- Não consegue ser um pouco mais específico… com este nevoeiro é impossível ver o quer que seja. – Observou Kosshi, limpando o vidro embaciado com manga da blusa. O velho homem levantou-se da sua cadeira e aproximou-se também ele da janela, colocando-se ao lado do jovem Kaguya. – Este nevoeiro… cada vez está pior, à uns dia não passava de uma leve neblina, mas venham comigo, eu vou-vos guiar até ela. – Dito isto moveu-se em direcção à porta e os ninjas de Kumo seguiram-no em direcção ao nevoeiro.
Um abraço temível…
A atmosfera encontrava-se gelada, fruto das ínfimas gotas de água que os envolviam, um oceano suspenso no ar que inspirava cautela. Após alguns minutos de caminhada por entre as degradadas habitações da vila chegaram a uma colina, uma espécie de monte, o homem parou na sua base fixando o seu olhar na casa que descansava no topo.
- Chegamos, é esta a casa de que vos falei. – Olharam os dois também para a misteriosa residência de ar envelhecido, envolta em altas vedações de ferro ferrugento e largas camadas de vegetação apodrecida, árvores nuas e de aspecto centenário serviam de berço a pássaros de coloração negra e a teias de aranha a ridiculamente grandes.
- Deixo-vos aqui, não me atrevo a por os pés nessa maldita casa, é toda vossa. – As palavras do homem passaram despercebidas aos dois shinobis que ainda se encontravam estupefactos pelo altivo aspecto da casa.
- Para onde foi ele? – Michael ao olhar para o lado apercebeu-se da ausência do homem que havia abandonado o local mal pronunciara as ultimas palavras.
- Não sei, mas se não fazia intenções de ajudar, só fez bem em se ir embora. – Respondeu Kosshi, não dando grande valor à presença do homem.
- Também sentiste? – Disse Michael num tom baixo, temendo que o homem, ainda oculto no nevoeiro os pudesse ouvir.
- Sim, este nevoeiro não é normal… - Respondeu Kosshi num tom semelhante.
Ambos se aproximaram da casa, cautelosamente, temendo que de algum arbusto surgisse algo perigoso, a cada passo o seu coração parecia querer fugir do peito. O rouco pipilar das aves recebia os jovens ao obscuro abraço dos portões da casa, do lado direito uma fonte desprovida de água era enfeitada por espessas camadas de musgo que começavam a corroer a sua pedra de cor cinza. Uma ratazana atravessou-se no seu caminho o que fez com que ambos dessem um salto em reflexo afastando-se desta, Kosshi retirou dos seus ossos de imediato, enquanto Michael atingira a pobre ratazana com uma Kunai, cortando-lhe a cauda. Recuperados do susto, finalmente chegavam à portada, uma porta de madeira negra talhada com enigmáticos padrões de cor dourada recebia os jovens ninjas.
Um reflexo sem espelho…
Entraram cautelosamente para o interior da casa, empurrando a pesada porta que num suspiro solitário se deixou abrir para receber companhia. O hall de entrada era bastante amplo, o chão de azulejo polido estava coberto por uma grossa camada de pó, no tecto encontrava-se um enorme candeeiro, ornamentado com pequenos prismas translúcidos que pareciam reflectir a escassa luz que entrava para o seu interior. A porta atrás de si fechou-se numa pancada seca, os dois ninjas olharam para trás e não encontraram causa aparente para esta se ter fechado, teria sido uma corrente de ar? Todas as janelas pareciam estar fechadas e nem se sentia qualquer brisa a pairar no ar. Michael acercou-se da porta enquanto Kosshi olhava em redor, atento a qualquer movimento.
- Kosshi… temos um problema… - Disse Michael num tom de voz incrédulo.
- Só um? Já não é mau. – Respondeu Kosshi despreocupado.
- Acredita, este é o maior dos nossos problemas.
Voltando-se para trás para confirmar os receios de Michael, Kosshi deparou-se com algo que não estava à espera.
- Como é isto possível? – Kosshi, admirado aproximou-se da porta aberta tentando perceber aquilo que estava a ver.
- Não faço a mínima ideia, quando entramos estava tudo normal.
Do outro lado da porta, onde se esperava que estivesse o assombroso jardim encontrava-se agora um reflexo perfeito da casa, uma nova habitação idêntica aquela onde se encontravam, a única diferença é que estava ao contrário, a esquerda era a direita e a direita a esquerda, parecia que estavam a ver a casa num espelho. Lentamente Kosshi colocou um pé do outro lado da porta, era sólido, não era uma ilusão ou algo irreal, era tão verdadeiro como o local onde estavam, saltando de um lado para o outro Kosshi parecia divertir-se com aquela situação, o desconhecido por vezes fascinava-o.
- Fico contente por te estares a divertir, mas espero que percebas que a única porta que conhecemos já não funciona como saída, ou seja… ESTAMOS AQUI PRESOS! – Kosshi parou de saltitar, Michael tinha razão, estavam ali presos e não sabiam se haveria mais algum porta ou se todas as outras iriam dar ao misterioso reflexo.
- Será um genjutsu? – Pensou Kosshi em voz alta, permitindo a Michael mergulhar no seu raciocínio.
- Não, já experimentei usar o Kai mas nada, é tão real como eu e tu. – Disse Michael.
- Então não temos mais alternativa senão avançar, e ver onde nos leva. – Respondeu Kosshi, voltando à casa inicial onde se encontrava Michael.
- Concordo, não nos podemos esquecer que a nossa missão é encontrar a filha do pobre homem. Vamos!