─ … E por isso vou mandar-vos para a Aldeia da Semente numa missão. O objectivo é salvar a filha do senhor da Aldeia.
Como exactamente tinha ele ido parar ali? Estava a andar calmamente pela vila quando a Teshiroi aparecera do nada e o arrastara até ao escritório do Kage. O pior é que a rapariga nem ficara lá com ele. Limitou-se a ir embora assim que viu que já lá estava outro rapaz.
Então Kosshi Kaguya iria ser o seu colega nesta missão. Conhecia-o vagamente. Sabia que tinha aquele estranho poder que fazia os ossos dele saírem da pele. Estava a escolher entre o entusiasmo ou a aversão de ver isso quando Denkou esticou o braço com um papel na mão.
─ Têm aqui o mapa. Quero que partam ainda de manhã.
Tinham combinado encontrar-se no portão da vila assim que estivessem preparados para ir. Desde então não tinham falado muito um com o outro. Só uma ou outra vez, para dizer ao outro para fazer uma pausa para descansar ou comer. Não se conheciam muito bem, mas não estavam a fazer qualquer esforço nesse sentido. Tinham aprendido na Academia que os companheiros de equipa deviam ser as pessoas em quem mais confiança se deveria ter. No entanto, também tinham aprendido que enquanto shinobis, não podiam confiar em quase ninguém.
Depois de dois dias desconfiados, ou somente concentrados, pararam quando ao longe avistaram alguns sinais de civilização. Kosshi olhou para o mapa e concluiu que por fim tinham chegado à aldeia. O cerco que a delimitava estava já desgastado pelo tempo infiel. O musgo que dele lentamente se formava dizia aos novos visitantes que não era tratado há algum tempo.
A aldeia estava desprovida de qualquer portão, por isso, os dois shinobis entraram sem licença, porém à cautela. O nevoeiro denso que abraçava cada esquina dificultava o estudo do local. Apesar disso, conseguia-se ver algumas casas. Pelo aspecto estariam abandonadas há bastante tempo.
Um movimento vazio…
Michael ia pegar na sua espada e Kosshi estava já pronto para fazer um osso rasgar-lhe a pele, quando avistaram um belo pássaro negro a sobrevoar uma janela partida de um candeeiro de rua.
O rapaz ruivo viu pelo canto do olho uma aranha solitária a subir em direcção à sua presa pelos estreitos fios de vidro que tinha tecido. Nesse momento, era assim que se sentia quando rodeado daquela densa nebulosidade… como nada mais do que um simples prisioneiro.
À medida que iam avançando lentamente, tornavam-se cada vez mais evidentes os murmúrios de pesar que se faziam ouvir. Ambos pensavam que seria a população escondida pelo medo destes estranhos.
Um toque frágil…
Rapidamente Kosshi deu meia volta sobre o seu corpo, com uma parte do seu osso a sair-lhe da palma da mão.
─ O que foi? ─ Perguntou o rapaz ruivo.
O outro ficou espantado ao que não havia ninguém atrás de si além do seu colega. ─ Não me tocaste?
Michael, confuso, acenou negativamente com a sua cabeça, questionando-se o que havia com Kosshi.
Uma voz rouca…
─ Quem está aí? ─ A pergunta tinha vindo do fundo da rua.
Michael tirou uma kunai da sua bolsa enquanto o outro avançou uns passos. Com a distância encurtada, Kosshi conseguia ver um semblante aproximadamente da sua altura. A cara do homem tinha um ar carregado, enquanto as suas mãos gretadas transportava um grande bastão de madeira.
─ Viemos de Kumo.
Essas simples três palavras do Kaguya bastaram para o homem perder a sua pose ofensiva. Aliviado, pousou o bastão e colocou um tímido sorriso nos lábios.
─ Desculpem, depois do que aconteceu, tenho de ter sempre cuidado. ─ Aproximou dos dois shinobis o suficiente para que qualquer partícula de névoa não interferisse no seu campo de visão. ─ É melhor entrar. Aqui fora não estamos seguros. ─ Com um movimento da mão, pediu que o seguissem.
A casa era bastante pequena, apesar de ter dois andares. Em baixo havia apenas uma única divisão. No canto direito havia uma pequena lareira e em cima dela havia algo que estava coberto por um pano.
Será um espelho?, questionou-se Michael ao tentar espreitar. O homem dirigiu-se aí e sentou-se num dos quatro banco que havia. Apesar do convite, os dois shinobis permaneceram em pé.
─ Agradeço muito que tenham vindo. ─ De seguida serviu três copos com chá e ofereceu dois às suas visitas. ─ A minha filha foi raptada e precisava da vossa ajuda para trazê-la de volta. ─ Fez uma breve pausa para conter as suas emoções.
Quantas noites de angústia não teria passado este homem? Quantos momentos foram aqueles nos quais se questionou se seria um bom pai por decidir esperar por mais pessoas para pode resgatar a sua filha? Quantas vezes não teriam brotado lágrimas dos seus olhos castanhos.
─ Sabem, esta aldeia está quase deserta por causa deles. ─ Depois permitiu-se olhar pela janela fingindo conseguir ver algo através daquele manto húmido que assolava a aldeia. ─ Desde que vieram viver para aquela coisa que desaparecimentos insólitos têm-se dado. Por isso, aos poucos as pessoas foram-se embora.
─ Desculpe perguntar, mas porque não o senhor também?
Usotsuki baixou o olhar, como qualquer homem derrotado, no entanto sorriu perante a sua própria tola ideia. ─ Esta é a minha aldeia natal. Não queria deixar que uns… monstros a tomassem. Não pelo menos sem dar luta.
Claro, pensou Kosshi,
seria como se uma criança não chorasse quando via um brinquedo seu ser-lhe usurpado.─ E, então, onde fica essa casa?
O homem apontou pela pequena janela pela qual tinha olhado há momentos atrás…