4 Dias … A neve caia no exterior, cobrindo o solo outrora verde, com um espesso véu branco. As janelas embaciadas pelo ar gelado, impediam qualquer possível vislumbre do que acontecia no interior da casa de pedra. A paisagem estava completamente deserta, excepto a casa de dois pisos que se erguia no meio da planície.
-Dou como iniciada a reunião. – Disse uma voz masculina cuja identidade era ocultada por um capuz. O homem curvou-se e sentou-se num dos 5 cadeirões em cima do altar, fazendo com que os restantes fizessem o mesmo. A sala escura, iluminada apenas por um candelabro de velas preso ao tecto, estava ocupada por cerca de 12 pessoas, dispostas hierarquicamente. Sob um altar, 5 cadeirões arduamente trabalhados estavam ocupados, fazendo com que esses indivíduos ficavam ligeiramente mais altos que os restantes, que, por sua vez sentavam-se em cadeiras mais pequenas divididas por duas filas, frente a frente. Ninguém se arriscava fazer contacto visual, excepto Eles.
-Sabem todos porque foram convocados, e sabem também que temos muito a fazer nos dias que se seguem de maneira a poder prosseguir com isto. Nas próximas noites iremos planear em pormenor, tudo. Para que, desta vez não hajam erros. – Olhou para o indivíduo ao seu lado, acenando ligeiramente com a cabeça num sinal para continuar.
- A partir de informações adquiridas, conseguimos estabelecer varias condições para prosseguirmos com o objectivo – vários dos presentes começaram a falar entre si, calando-se imediatamente quando o homem colocou as mãos no ar – hoje iremos decidir as equipas para a, podemos chamar-lhe de…missão.
O silêncio preenchia a sala enquanto o homem, agora já levantado, distribuía os presentes por grupos de 4. Ninguém se movia, ninguém se olhava, ninguém deixava que a sua respiração soasse mais forçada que a dos outros, pudesse essa talvez mostrar um sinal de fraqueza ou nervosismo. Deixando apenas a voz rouca ecoar pela sala, bebendo cada palavra que ele dizia com uma sede insaciável, tinham de o fazer, era um d’ Eles.
___________________________________________________________________________________
A vila de kirigakure estava estranhamente quente. Via-se crianças a brincar nas ruas, correndo, fazendo com que os seus risos enchessem a vila, transmitindo uma sensação de alegria. As sombras das árvores formavam desenhos na terra morna e haviam-se transformado num refúgio para os mais sonolentos, debaixo das muitas copas encontravam-se então Kaori e Yin. As raparigas estavam deitadas, com as cabeças perto uma da outra. Kaori retirou de um invólucro as cores um gelado laranja, partiu-o em dois e ofereceu uma das partes a Yin.
- Mas a sério... estou morta por começar a usar o jutsu dos corvos… e melhora-lo claro quero conseguir fazer o máximo possível.
-Tens que me mostrar… o meu é um bocado avançado demais para o meu controlo de chakra mas acho que com algum tempo eu consigo faze-lo por completo.
-Claro que consegues! O pobre do Shin é que ficou com um de Taijustu…
-Para ele é o ideal… apesar de achar que para nos não é o melhor, quantos mais taijutsus ele faz o ego dele fica maior, o que não costuma ser bom… - Kaori riu-se.
- É verdade… Yin, diz-me que já viste aquele novo chunnin que está a ajudar na academia… Santo Deus…não me importava que ele me ajudasse também uma vez ou outra.
-Kaori! – a morena riu-se – mas tens razão – finalizou, lançando um olhar atrevido á rapariga.
- Sabes que só digo verdades.
-Que tal ires jantar a minha casa hoje? Iamos já para lá e mostravas-me o jutsu…
-Óptima ideia! – respondeu a loira levantando-se imediatamente.
A amiga fez o mesmo e lado a lado saíram da sombra, deixando com que os raios de sol lhes tocassem suavemente no rosto.
-Mas primeiro, vamos passar pela academia! – disse Kaori, rindo-se e puxando a amiga pelo braço, de rumo ao enorme edifício.
[centre]***[/center]
Abriram o portão de ferro pintado de preto e avançaram ate á porta de entrada. A loira parou repentinamente.
-Eu vou a casa buscar o scroll e volto logo. Vou a correr, até já! – disse á medida que se afastava a passo rápido, na direcção oposta.
Yin entrou em casa e avançou até ao quarto onde, apressadamente começou a arrumar pedaços de papel e peças de roupa espalhados pelo chão. De seguida afastou-se e olhou para o cómodo, relativamente satisfeita com o resultado abriu a porta de correr e foi á cozinha. Uma mulher mexia lentamente com uma colher de pau um liquido avermelhado que residia numa taça de porcelana. Sorriu para a filha ao vê-la entrar, no entanto nenhuma palavra foi trocada. Retirou dois copos de um dos diversos armários rectangulares presos á parede, encheu-os com sumo e dirigiu-se, novamente, até ao quarto.
________________________________________________________________________________________
Faltava-lhe o ar. Abriu a boca, tentando produzir algum som minimamente audível para chamar a atenção, mas nada saía. Tudo estava desfocado, tentava procurar alguém mas era como se um nevoeiro a tivesse envolvido. As suas mãos e pernas tremiam, fraquejavam. De boca aberta tentava novamente chamar, gritar, falar, mas nada saía. A sua cabeça doía-lhe e a única coisa que conseguia pensar era no inevitável.
As suas mãos abriram-se involuntariamente e a taça caiu.
_______________________________________________________________________________________
O som da porcelana a bater no chão penetrou por todas as paredes da casa como milhares de facas afiadas, dividindo a taça e dezenas de pequenos pedaços espalhados pelo chão da cozinha.
Yin virou-se bruscamente. Em segundos, diante dos seus olhos, a mulher caia. Os seus cabelos pretos esvoaçavam contrapondo-se ao peso que o corpo fazia, em direcção ao chão, de dentro do kimono saltou um colar que outrora escondido nas roupas. Tudo dentro de si ficou apertado, como se tivesse amarrada a um colete-de-forças. Ao finalmente se conseguir soltar, correu até á mãe, caída no chão, sem se aperceber que lágrimas já lhe corriam sob o rosto.
-Okasan, Okasan!
Dizia desesperadamente, pegou-lhe na cabeça, colocando-a com a face para cima e retirando pequenos pedaços de porcelana que se haviam perfurado a face. Afastou carinhosamente os cabelos pretos que contrastavam com a pele lívida da mulher, sem se aperceber que algumas lágrimas caiam sob a face desta. Desviou o olhar para o chão, não conseguia vê-la, não assim, e não gostaria que ela também a visse naquele estado. Secou as lágrimas, preparava-se para se levantar mas ao fixar o chão a sua atenção foi desviada para um pendente que jazia perto dos cabelos pretos dispersos pelo soalho.
Os olhos da rapariga focaram-se então na pequena peça. O fio de metal, agora partido, estava preso, ao que era aparentemente parte do símbolo de Ying-Yang. A parte do pendente caída no chão de madeira clara brilhava evidenciando o círculo preto isolado no branco malte, fazendo um contraste gritante entre ambos. Levou as mãos á cabeça, esta latejava intensamente. Era uma dor constante como se algum som agudo, alto, estivesse a centímetros dos seus ouvidos. Os seus joelhos fraquejaram e deixou-se cair no chão. Gemeu, gritou, as dores continuavam cada vez mais fortes, encostou a cabeça ás pernas dobradas e fechou os olhos. Escuridão, tudo estava preto, nada mais.
O som dos relâmpagos ecoava violentamente. Acordam-me me. Sinto os pés despidos sob a neve, branca, gelada. O frio arrepia-me; continuo a caminhar. A neve está agora vermelha .O corpo caiu. O homem mau foi se embora…deixou-o para trás. A sua pele está tão fria quanto a neve. Ao lado está um colar, brilhante, vê-se bem, o preto distingue-se do manto branco, mesmo com o nevoeiro. Baixo-me, e pego nele. Falta uma parte, a parte branca que encaixa naquela.
Falta uma parte…